Todos os passos de Jesus relatados nos Evangelhos são paradigmáticos.
São exemplificativos, apenas. Valem, portanto, como poderoso incentivo para nos
levar à acção. É o caso de que aqui se vai falar. Jesus violou o Sábado. Foi um
crime religioso grave. Mas Jesus ousou este crime. E não para Se destacar e ser
admirado, mas para nos incentivar a fazer hoje a mesma coisa. Não há sábado a
violar, mas há muitos outros crimes religiosos que é preciso ousar cometer. Em
nome da Liberdade que Jesus nos trouxe.
20/3/96 –– 1:39
“Hoje é sábado, não te é permitido levar o
catre”. Trata-se da cura do paralítico na piscina de Betsaida. Neste passo os
judeus procuram identificar este Homem que assim se atreve a violar o Sábado de
forma tão descarada: “Quem é o homem que te disse: Toma o teu catre e anda?”.
Mas era um Poder novo que estava irrompendo e por isso “o que tinha sido curado
não sabia quem era, pois Jesus havia-Se afastado, por haver muita gente naquele
local”. Isto é, Jesus curou e andou: este Poder novo não se publicita a si
próprio; são as suas obras que dele dão testemunho. Jesus deixou-o bem claro: é
pelos frutos que se conhece a árvore. E a obra, neste caso como em tudo o que
Jesus fazia, era de conteúdo tão intenso e gritante, que era impossível
calá-la: uma cura milagrosa e uma violação ostensiva da lei. Por outro lado a
obra deste novo Poder nascente, pela sua gratuidade e excelência, confere uma
tal autoridade ao seu Autor, que o ex-paralítico, conhecedor certamente da
transgressão que estava cometendo ao transportar o catre ao sábado, não hesitou
em fazê-lo, como se a obra nele acontecida de repente adquirisse prioridade
absoluta sobre toda a lei. Por isso o miraculado responde com toda a segurança
aos zelosos guardiães da lei: “Aquele que me curou, disse-me: Toma o teu catre
e anda”. Jesus e a Sua obra estão, a partir de agora, para este homem, acima de
toda a lei! E tão grande é o alvoroço da descoberta que, depois de, mais tarde,
ter identificado o Autor da sua cura, ingenuamente, empolgado com o seu herói,
como quem dá a grande notícia da sua vida, “o homem foi dizer aos judeus ter
sido Jesus Quem o curara”. É claro que este pobre não sabia da dificuldade dos
ricos em se converterem à Liberdade. Por isso, julgando estar a anunciar-lhes a
Salvação acabada de chegar, entregou Jesus aos Seus inimigos.
Foi-me dado este alimento no contexto da
Misericórdia de Deus contraposta ao sacrifício que a lei gera, multiplica e
impõe. Os Sinais do início deste texto falam-me do Mistério dos Mistérios, o da
Unidade na Trindade, que será aberto como comporta de imenso rio, no Nono Dia.
Seremos então aí inundados com as insondáveis riquezas da Misericórdia do nosso
Deus. Sim, porque Ele vai ter pena de nós e nesse Dia curará as nossas chagas.
E será o Prodígio tão grande, que todos os pobres, toda a multidão dos que
tiverem sido curados avançará por cima de todas as leis e ingenuamente gritará
que a Salvação chegou. Porventura os guardiães da Lei tentarão afogar este
entusiasmo louco num mar de sangue. Mas muitos deles, por este mesmo sangue,
serão curados e se reunirão à multidão imparável.
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