No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

887 — Paixão


   Fui padre e levei sempre muito a sério aquilo que eu julguei ser a vocação de toda a minha vida. E sempre admirei muito Jesus: Ele foi sempre o meu exclusivo Herói. Abandonei no entanto aquele ministério e a Ordem Franciscana não porque me tivesse arrependido daquele caminho, mas porque me senti chamado a avançar por um outro caminho: a minha vocação implicava, portanto, um horizonte que aquelas instituições me fechavam. A partir daqui o meu caminho passou a ser o que há de mais comum: casamento, família, com todos os problemas que este caminho implica, no meu caso bem dolorosos. E foi aqui que Jesus me apareceu de novo, fora do edifício teológico e de todos os templos. E apaixonei-me por Ele. Literalmente. Como se apaixonam as pessoas entre nós, tal qual. Isso mesmo: Ele deixou de ser uma Doutrina e passou a ser uma Pessoa. E nunca mais até hoje esta paixão desapareceu ou sequer enfraqueceu. Dela falam todas estas páginas, mas ouça-se, por agora, esta:
   Já uma vez nestas páginas ficou dito que, mesmo esmagado contra o solo por um peso qualquer, eu haveria de continuar a escrever, ainda que levasse uma hora a desenhar uma única palavra! E sinto neste momento que Jesus, num irreprimível impulso, me está perguntando que palavra haveria eu de escrever. E eu não teria dúvidas de que seria esta: Amo-Te. E para que os eventuais transeuntes ficassem bem esclarecidos, eu haveria de tentar escrever ainda Jesus: Amo-Te, Jesus!

   E estaria assim não só proclamando a paixão máxima de toda a minha vida, mas estaria acreditando que com esta proclamação eu poderia abrir aos corações de uma imensa multidão as Fontes da verdadeira Vida e da Felicidade plena. De facto, Jesus é toda a Plenitude de Deus dada a conhecer aos homens. É por Ele que chegamos ao Pai e ao Espírito. E é por Ele que conhecemos o Mistério de todas as coisas e a Tragédia do Pecado na sua origem e na sua dimensão. E é ao abrir-nos assim os olhos para o Mistério do Universo criado e para o Mistério da Iniquidade, que Ele nos mostra o Prodígio máximo da Sua descida á nossa Carne: Maria!

   Já certamente reparastes, meus irmãos, que nesta Profecia Jesus Se vai unindo gradualmente à Senhora de Nazaré, a ponto de Ela O substituir no diálogo do Céu comigo e, em mim, com todos nós. Vede se por este facto Jesus não mostrou claramente que também Ela é Palavra pura de Deus. Vede se assim Jesus não mostrou que a Sua Mãe vive no Seio de Deus e desse modo pode ser Expressão de toda a Plenitude da Trindade Santíssima!

   Nada, pois, nos é dado conhecer de Deus e de todos os Mistérios do Universo, a não ser por Jesus. Desde Abraão, é por Ele que Deus fala sempre ao Seu Povo. Desde a Incarnação, contudo, Ele pode falar-nos com toda a Sua Carne – podemos, pois, captar Deus e unir-nos a Ele com todos os nossos sentidos. (Dl 28, 6/5/04)

        Ficava particularmente feliz se lessem o texto 35 (Março 2010), mais ainda se o ouvissem…

domingo, 30 de dezembro de 2012

886 — Sofrimento de Amor


   Todos sofremos. Julgo mesmo que posso acrescentar, sem grande margem de erro: muito. Todos sofremos muito. Se não concordamos, talvez esteja na hora de verificarmos que a maior parte de nós não fala do muito que sofre, a não ser, talvez, aos mais íntimos amigos. Se de repente desatássemos a falar publicamente da crueldade que atinge a nossa dor escondida, deixaríamos o mundo boquiaberto e, muito provavelmente, muito mais solidário. Sabemos como o sofrimento chega a misturar-se com o mais inocente, forte e puro amor. Trata-se, porventura, do maior enigma da nossa existência. Aqui Jesus prefere chamar-lhe Mistério e ocupa com este tema inúmeras páginas. Esta, por exemplo:
   Este Sinal (5:10) pede-me que proclame o Mandamento de Jesus. E quando eu desejo saber qual é o Mandamento que agora devo proclamar, dentro de mim forma-se esta resposta: “Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”. E quando eu quero saber o que devo acrescentar, uma vez que aquele é o Mandamento conhecido e, na ânsia de ser esclarecido pergunto porque não falam os meus Amigos do Céu comigo, muito rapidamente senti formar-se esta resposta: “Porque te amamos”.

   Pode então o Amor exigir que se coloquem as pessoas que amamos em situações dolorosas. E de repente uma Luz muito intensa me fez ver o óbvio: Jesus foi colocado pelo Pai numa situação extremamente dolorosa e o próprio Jesus me trouxe a mim para este doloroso Deserto! E não podemos duvidar de que tanto Jesus como eu próprio fomos objecto de um imenso Amor.

   Parece, pois, que o autêntico Amor, por mais estranho que nos pareça, faz sofrer necessariamente. Mas o mais estranho é que o Amor não nos faz sofrer apenas a nós que amamos: ele provoca o sofrimento também naqueles a quem entregamos este nosso doloroso Amor! Diremos então que não há Amor verdadeiro sem sofrimento. Com o Amor recebemos o sofrimento, e ao amarmos transmitimos o sofrimento! Não podemos, pois, amar como Jesus amou, se não transportarmos e não transmitirmos este fluxo do sofrimento. Veja-se se o sofrimento não foi transmitido por Jesus aos Apóstolos e depois por estes, em cadeia, a milhares de mártires. E quando esta cadeia foi quebrada, aí deixou de se ver nos cristãos o Amor! Foi aí que nasceu a Igreja como Instituição, fazendo parar este fluxo de sangue porque, como máquina que é, obstruiu no seu corpo as veias e as artérias do Amor!

   Insondável Mistério, este! Como todos os Mistérios, aliás. Insondável, mas não impenetrável. E, como todos os Mistérios, à medida que nele se avança, se multiplicam as surpresas. E também neste Mistério, como em todos os outros, nunca são desagradáveis as surpresas: o avanço nos Mistérios só faz desabrochar o Amor e com ele a nossa felicidade. Trazendo, pois, o Amor sempre consigo o sofrimento, ele traz consigo sempre maior felicidade!

   Como se pode isto explicar? Não pode: se nenhum Mistério é explicável, muito menos este. Mas pode sentir-se. De tal maneira, que pode chegar a desejar-se ardentemente o sofrimento. O mundo não pode entender isto e chama masoquistas a estes que desejam o sofrimento. Mas é justamente este um dos grandes sinais da autenticidade do nosso Amor: o desprezo e a perseguição do mundo. É que o Reino do Amor nada tem a ver com o reino em que vivemos…
...
   O sofrimento está presente em cada um de nós desde a nossa concepção no útero materno. Porque nós nascemos todos na Cidade, que é tudo o que há de mais contrário à nossa natureza. O nosso incomensurável poder e a nossa imensa grandeza de Imagens de Deus são, a partir do próprio momento da nossa concepção, como que esmagados, para serem violentamente reduzidos às dimensões de uma existência puramente animal. É, pois, impossível sentir-se alguém realizado em toda a plenitude do seu ser aqui neste mundo. É impossível, dentro das fronteiras deste mundo, alguém ser feliz.

   Não é possível, portanto, mesmo empregando em máximo grau todas as capacidades da nossa carne, viver sem dor neste mundo; pelo contrário, quanto mais a obra das nossas mãos se desenvolve, mais matéria morta acumula sobre nós e maior asfixia provoca na nossa Alma. Não vale portanto a pena enganarmo-nos: o sofrimento fará sempre parte da nossa vida. Podemos é dar-lhe uma direcção nova. E então, em vez de nos esmagar, ele poderá tornar-se uma tremenda força libertadora. E é quando esta viragem acontece em nós que o sofrimento se torna a fonte de uma invencível Alegria! 
                                       Veja também o texto 75 (Maio 2010)

 

sábado, 29 de dezembro de 2012

885 — Idolatria


   Sabemos que há igrejas que acusam outras de idolatria por fazerem imagens de Jesus, de Maria, de Santos e terem perante elas um comportamento que ronda a adoração, atitude devida a Deus, exclusivamente. Mas aqui Jesus parece não ligar importância a essa questão, a não ser para apontar mais um factor - muitas vezes apenas um pretexto, e bem ridículo - de divisão, tão dolorosa, na Sua Igreja. Passou então a revelar a natureza e a dimensão da verdadeira Idolatria, o que me deixou verdadeiramente espantado. Eis uma das muitas passagens do Seu Ensinamento sobre este tema:

   As instituições, talhadas pela vontade rebelde do homem para substituir o Espírito na condução do Povo do Senhor são, de facto, os grandes ídolos a quem confiamos o governo das nossas vidas, esperando que estas máquinas, inventadas e construídas com as capacidades da nossa Carne, nos salvem do sofrimento e nos conduzam à felicidade por que sempre a nossa Alma anseia.

   Ídolos não são só os arranha-céus, os computadores, as naves e os telescópios espaciais; é também uma doutrina, um governo, uma instituição – tudo igualmente obra das nossas capacidades puramente carnais, supostamente autonomizadas frente a Deus. Por isso o Diabo se apega ferozmente a todas estas obras que até agora conseguiu manter escondidas na sua perversão. Fará, pois, tudo quanto puder para evitar o seu desmascaramento. (Dl 28, 27/4/04)

  Se toda a obra humana continuamente levanta ídolos, a terra está toda coberta de trevas. Por todo o mundo os homens se prostram perante a sua própria obra e a adoram: com ela ocupam todo o tempo, com ela se deslumbram e nela confiam para os libertar da dor e os conduzir a um qualquer paraíso de delícias. Não é então Satanás, de facto, o príncipe deste mundo, que o segue no louco projecto de dispensar e suplantar Deus? Não perdeu o homem, na verdade, toda a lucidez?

  Nunca, como agora, me esteve diante dos olhos, tão nítida e abrangente, a visão da terra como um único templo povoado de ídolos. As Escrituras não exageram quando dizem que não há na terra um único justo. E Jesus chama a atenção para a mais perfeita evidência quando diz que o Seu Reino não é deste mundo. Não se pode, de facto, assemelhar a nada daquilo que vemos neste mundo o Reino dos Céus a que Jesus nos veio chamar. Tudo aqui tem a marca da Rebeldia contra Deus, seja obra material, seja construção do espírito humano, como sejam leis e doutrinas e instituições. E todas estas coisas nós as veneramos como autênticos ídolos, atribuindo-lhes invariavelmente e com crescente euforia todo o poder sobre as nossas vidas.

   E eu fui chamado a dar testemunho daquilo que vejo e a deixá-lo gravado com toda a exactidão que eu puder. Dir-se-á que esta é uma visão generalizante e redutora e que por isso não corresponde à efectiva realidade verificável: há muita gente que se dirige ao Deus verdadeiro de coração sincero e há entre nós verdadeiros santos. Mas eu posso dar o meu próprio testemunho: já antes da minha conversão eu elevava a Deus orações sinceras; no entanto gastava todas as minhas forças na edificação da Cidade e era dela que eu esperava em verdade a salvação. E quantos santos não morreram sem se terem apercebido desta universal Idolatria! (ibidem, 28/4/04)

Particularmente sugestivos, e para muitos até chocantes, são também os textos 115 (Junho 2010) e 244 (Novembro 2010)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

884 — O Sistema


   Quando as pessoas têm que enfrentar os problemas mais graves da vida, muitas vezes ouve-se dizer: A culpa é do Sistema. Sentimos todos vagamente que estamos enquadrados por uma ordem ou estrutura, edificada por nós e que dirige, controla e condiciona as nossas vidas, como uma máquina em que todas as peças têm que funcionar, bem afinadas, nos respectivos lugares. Sentimo-nos normalmente impotentes para nos libertarmos desta ordem que mutila a nossa natureza e por isso a julgamos uma fatalidade. Jesus não; Ele veio para eliminar simplesmente das nossas vidas este poder opressor a que, incompreensivelmente, nos agarramos como a um Ídolo. Veja-se, a este propósito, a mensagem seguinte:

 
   No enorme Dia do Regresso de Jesus, os Seus discípulos partilharão sensações e não ideias. Se num encontro as pessoas comunicarem sensações, a vida circula; se debaterem ideias, em breve a vida se verá estagnar e resfriar.

   Seja qual for a sensação, é sempre nela que vem Deus. Mesmo que seja uma sensação de impotência, ou de frieza, ou de vazio: se ela for partilhada, está já sendo irrigada pela Seiva da Vida. E nós precisamos desesperadamente de viver. De facto, o Sistema em que vivemos só pode manter-se por ser formado de elementos mortos; se eles fossem vivos, desagregariam toda a construção. Por isso é que nenhum sistema admite a surpresa. Por isso é que nenhum organismo vivo permite ser sistematizado, sob pena de morrer. Num sistema, todos os elementos têm que estar quietos no seu lugar, como as pedras numa parede; se cada pedra desatasse a viver, a expandir-se para as direcções mais inesperadas, seria obviamente a derrocada de toda a parede. Por isso é que os sistemas só admitem ser lavados ou pintados de outras cores, ou simplesmente substituídos por outros sistemas quando as pessoas já não suportam mais viver encaixadas neles.

   Dir-se-á que aquilo que eu estou a escrever são justamente apenas ideias. Mas não são; são sensações negativas que procuram a causa ou o eventual sentido do seu mal-estar. Eu sinto na minha vida o peso do Sistema, de tal maneira que estou empenhando todas as minhas forças para desobstruir as fontes da Vida, de modo a que o Sistema simplesmente desapareça. Há muito tempo que procuro o caminho da minha e da nossa comum Libertação. Cheguei a pensar, como toda a gente que conhecia, que o próprio Sistema nos conduziria à Liberdade, se o soubéssemos aperfeiçoar; depois deste meu encontro com Jesus reconheci em todo o sistema ou instituição um autêntico ídolo, portanto um deus fabricado pelas nossas mãos, de quem, insensatamente, esperamos a nossa salvação. Agora só quero encontrar o Deus Vivo. (Dl 28, 27/4/04)

                                         Veja também os textos 36(Março 2010) e 125 (Junho 2010)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

883 — O Saber


   O Mistério que celebramos no Natal é porventura a Impossibilidade maior, a Loucura maior que possamos conceber. Nada há aqui de racional. O Criador das galáxias não poderia nunca estar contido naquele Menino esperneando numa manjedoura, pequenino e frágil como todos os nossos meninos, recém-nascido de uma mãe como todas as nossas mães. O Mundo de que nos vem falar este Menino não tem mesmo nada a ver com este que edificámos. Ora ouça-se:
   A força das coisas do Céu está em serem sempre Mistério. E o Mistério, ao ver-se, não fica visto, mas transforma em Mistério aquilo que se viu, de tal sorte que o seu poder aumenta, o seu colorido se multiplica, o seu fascínio se intensifica até à “felicidade insuportável”.

   Não, não é com explicações que vos levo lá, meus irmãos. Quando muito, podem estas palavras tornar-se instrumento do Espírito para vos tocar o coração, despertando-o para ouvir e para ver. As minhas palavras são só uma tentativa frágil e desajeitada de revelar o que eu próprio ouço, vejo e capto, enfim, com os cinco sentidos.


   Deus não cansa nunca. Quando ouvimos dizer de alguém que se afastou d’Ele, cansado, é porque não chegou nunca a conhecer o Coração de Deus, nem nunca se envolveu neste conhecimento com o seu coração; quis conhecer, quando muito, com a cabeça e a cabeça só sabe moldar tudo em instrumento para a sua própria utilidade. A cabeça sempre pretendeu encaixar Deus nos seus próprios limites e, se o conseguiu, transformou-O num deus privado, estéril; se o não conseguiu, cansou-se d’Ele e rejeitou-O.

   Foi isto que fez a Igreja a partir do momento em que fechou a Deus o seu coração e procurou compreendê-Lo com a cabeça. Por isso O transformou em leis, em dogmas, em Doutrina, enfim. É um sacrilégio horroroso tentar compreender Deus. (Dl 28, 22/4/04)

...

   Quando apresento a alguém que se diz cristão alguma coisa vista neste convívio com Jesus, é frequente ouvir esta resposta: Sim, isso eu já sabia. E eu fico como que congelado por dentro. Como posso derrubar a fortaleza do Saber, onde o Diabo encerrou as pessoas?

   A Razão, deusa deste mundo é, de facto, a grande arma assassina de Satanás. Ela rodeou os Mistérios de altas muralhas e solidificou-os em proposições doutrinárias: quem as estudou e fixou na sua memória sabe, obviamente, tudo o que há a saber acerca do Mistério; toda a novidade, pois, só pode vir da investigação dos sábios que, uma vez descoberta, logo é delimitada e modelada segundo a conveniência e o lugar do Sistema em que se vai encaixar daí em diante. E torna-se, portanto, só mais uma coisa que é preciso saber. Não é difícil meter mais este dado na memória. Depois, é só encaixá-lo na memória da generalidade das pessoas, segundo a prudência dos doutrinadores.

   Quando nos apaixonamos não é nada assim: qualquer movimento do nosso apaixonado é uma novidade e ele nunca faz dois movimentos iguais!… (ibidem, 23/4/04)

 

                                           Veja também o texto 107 (junho 2010)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

882 — Dois mundos


   Comemorámos a noite passada o Nascimento de Jesus. É por isto que existe Natal e por nenhuma outra coisa mais. Porque este Menino iniciou a maior revolução de toda a História da Humanidade. Lido de novo, agora com olhos descondicionados, aquilo que d’Ele ficou escrito e que muitos de nós sabemos de cor, dá isto: Este mundo que, praticamente desde que existimos, começámos a levantar com tanta canseira e tanta dor, está todo assente sobre uma trágia Mentira e portanto quanto mais o desenvolvemos, mais infelizes nos faz; o Mundo que Eu vos venho anunciar - disse este Menino mais tarde, quando andava pelos seus trinta anos - não tem nada a ver com este. Absolutamente nada. Portanto este mundo deverá simplesmente desaparecer. Radicalismo? Fundamentalismo? Para Jesus, não é; é simplesmente a Sua Revolução, que nunca parou de se realizar e que falta só manifestar-se, quando menos esperarmos. Dela fala a mensagem seguinte:

    A estrada que nesta Profecia Jesus vem rasgando é tão contrária aos mais respeitáveis caminhos deste mundo, que se tornou para mim a principal fonte de dois sentimentos: a dúvida e a certeza; a confiança e a desconfiança; a descrença e a fé. A dúvida, a desconfiança e a descrença chegaram a atingir tal radicalidade, que ergueram no meu coração a pergunta se não serei eu o próprio Anticristo, a mais subtil e mortífera ofensiva do próprio Dragão para levar a cabo a definitiva desagregação da Igreja de Jesus e, com ele, da Ordem divina que tão laboriosamente e dolorosamente Deus veio tentando estabelecer neste mundo.

   Efectivamente esta Profecia desagrega completamente a Igreja e este mundo. Duma e doutro não fica, de facto, pedra sobre pedra: esta Igreja é para ser desmontada até às suas fundações; este mundo, a que aqui muitas vezes se chama a Cidade ou a Civilização, é simplesmente para desaparecer de toda a superfície da terra. E é este precisamente o fundamento da minha certeza, da minha confiança e da minha Fé. Na verdade, não me sai do espírito a declaração de Jesus, proferida no mais solene momento da Sua vida: “O Meu Reino não é deste mundo”! E todas as palavras e atitudes do nosso Mestre conduziram a esta tão estranha declaração. Pouco antes, dissera Ele aos Apóstolos: “Vós não sois do mundo”. E ouçam-se agora com atenção as Suas palavras quando diz que Satanás é justamente “o príncipe deste mundo”!

   Julgo que não se pode ser mais claro: este mundo é, portanto, um reino diabólico. E julgo também que ninguém poderá ter dúvidas de que “este mundo” é a obra humana edificada e estabelecida como Sistema universal à superfície de toda a terra. Está hoje à vista e publicamente reconhecido e proclamado que toda a obra humana confluiu neste Sistema único que cada vez mais ostensivamente se arvora em Alternativa à Natureza.

   Por isso sempre de novo a minha Fé se reergue sobre a minha dúvida… (Dl 28, 21/4/04)

                        Veja também os testos 493 (Agosto 2011) e 813 (junho 2012)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

881 — Carne e Espírito


   Está escrito que Deus formou o Homem do “Pó da Terra” e lhe insuflou pelas narinas o “Sopro da Vida”. E estas duas componentes fizeram uma unidade tal que, sem uma delas, simplesmente o Homem não existe. Nestes Diálogos chama-se geralmente ao Pó da Terra Carne e ao Sopro da Vida Espírito e é aqui muito insistente a busca da Unidade humana perdida. Por exemplo na seguinte mensagem:
   Escrevo porque sou inesgotável. Escrevo porque Deus precisa de que alguém dê perante o mundo este testemunho: nós somos Vida e somos imortais! Habituados como estamos a ver que a nossa carne acaba por ir parar ao cemitério e ali se desfaz até ficarem apenas os nossos “restos mortais” durante mais alguns anos, mesmo o nosso espírito foi arrastado nesta morte. Assim, mesmo admitindo que continuamos vivendo “em espírito” ou “como espíritos”, julgamos que há-de ser um tipo de vida bem desinteressante, sem o colorido e sem os contrastes da vida na carne. De qualquer modo, parece não nos seduzir muito essa vida de puro “espírito”. É muito difícil concebermo-nos sem carne. Por isso, mesmo aqueles que dizem crer numa vida para lá da morte, conservam sempre um certo desconforto perante a perspectiva da ausência da carne. E se muitos parecem aspirar à vida de puro espírito como a vida verdadeira e definitiva, isso não se deve a um impulso harmonioso do seu ser, mas a uma persistente doutrinação, que vai abafando e emudecendo as ânsias naturais da nossa “Anima” – da nossa Alma. Não será a doutrina da reencarnação, por exemplo, uma manifestação irreprimível desta natural fome e sede da nossa Carne, desta consciência inapagável da indivisível unidade de Pó da Terra e Sopro da Vida, de Carne e Espírito, no nosso ser?

   Cada vez mais intensamente Jesus e Maria me estão conduzindo à Re-Incarnação. É necessário, de facto, que o nosso Espírito, rejeitado pelo Pecado, volte à nossa Carne solitária, confrangedoramente cega e desnorteada. Quando aceitamos Jesus, é esta caminhada que Ele nos pede que façamos: que deixemos o Espírito progressivamente tomar conta, de novo, da nossa Carne. Não uma carne qualquer, descartável, mas a nossa Carne das origens, que Ele purificará e transubstanciará em Carne de Deus. Imortal, obviamente!


   É preciso que o nosso Espírito volte a incarnar na nossa Carne. É preciso que o Diabo pare de nos dividir em dois – matéria de um lado e espírito do outro!

   Uma Luz fortíssima me ilumina agora a diabólica estratégia do príncipe das Trevas: autonomizando o nosso Barro frente ao Sopro da Vida, ele pretendeu vingar-se do Criador até à destruição pura do Homem, o Enlevo máximo de Deus! Esta Luz começou a alastrar na vigília, mostrando-nos que a nossa redução à Carne haveria de trazer consigo também o desprezo pelo Espírito até à negação da sua existência em nós – ou haveria de nos reduzir a “espíritos”, fazendo da nossa Carne um invólucro efémero, de usar e deitar fora, segundo a conveniência do processo purificador do “espírito”, cuja meta final seria uma vida beatífica nas alturas, sem carne. A libertação do Homem consistiria assim em libertar-se definitivamente da carne!

   Ora Satanás sabia que, se isto acontecesse, aquela empolgante Criatura feita à imagem e semelhança do seu Criador deixaria simplesmente de ser Homem! E seria, supostamente, um eterno súbdito seu. Mas está escrito que até a Carne dos obstinados rebeldes ressuscitará. Para a ignomínia, obviamente! (cfr Dn 12, 2).


   A Incarnação, em que Jesus tanto tem insistido nestes Diálogos, entendo-a agora a uma Luz nova: ela é uma verdadeira Re-Incarnação! O Verbo, a Segunda Pessoa da Trindade Altíssima, descendo à nossa Carne, nela derramou, em toda a Sua Plenitude, o Sopro da Vida, o Espírito de Deus. Mas esta foi a segunda vez que o Sopro da Vida entrou no nosso Barro, para refazer o Homem como Unidade Vivente que o Pecado desfizera. Na verdade, o Pecado fizera da esplêndida Criatura do Sexto Dia “um verme e não um Homem”, justamente aquilo em que Jesus Se tornou, para nos vir buscar ao mais fundo da nossa degradação. Vejo agora, a esta Luz nova, a tragédia do Pecado: ele desfez o Homem! E, assim desfeito, ele só poderia desfazer tudo aquilo em que tocasse. A História mostra que foi assim! Desfeita, pois, a Incarnação Primordial do Espírito no Barro, só uma Nova Incarnação poderia refazer o Homem. Mas desta vez a nova Descida de Deus à Carne deveria ser desejada; se o for, suplantará substancialmente a Incarnação inicial. (Dl 28, 20/4/04)

domingo, 23 de dezembro de 2012

880 — A Alma, exclusivamente


Para que se veja que o Mistério da nossa Alma nunca mais acaba:

   Continuo, pois, envolvido na Paz do Céu, a sondar a minha Alma, à espera de Deus e das coisas que Ele desejar gravadas para alimento das gerações. E este Silêncio interior nunca é inexpressivo: há sempre pelo menos um “clima” que, se eu estiver bem atento, me vai falar. É o caso deste momento. Ainda nada mais me disse do que isto: Não te canses de escrever! Porque eu tinha uma interrogação dentro de mim – é obviamente dentro de mim que eu tenho que encontrar a resposta. Mesmo quando dirigimos uma pergunta a alguém de carne e osso fora de nós, se repararmos bem, a sua resposta é imediatamente filtrada pela nossa Alma, que a entende sempre à sua individualíssima maneira.

   Pode assim dizer-se que cada um ouve sempre e só a sua Alam. Assim se compreende que, de um mesmo discurso, cada uma das mil pessoas que o ouviram faça dele uma apreciação diferente, quantas vezes até contraditória. Esta absoluta unicidade da nossa Alma tem sido uma das mais marcantes revelações desta Profecia. De tal maneira que chegou a esta afirmação certamente estranha para todos os ouvidos, escandalosa mesmo para muitos: durante toda a nossa vida é exclusivamente com a nossa Alma que nos devemos preocupar! Ou esta outra: é exclusivamente na sua Alma que cada um encontrará Deus. Daqui decorre ainda esta outra inesperada afirmação desta Profecia: as palavras que escrevo, bem como as próprias palavras da Bíblia não revelam Deus; só alimentam e estimulam o crescimento de Deus que Se está revelando na nossa Alma!


   Continuo nesta viagem solitária seguindo apenas os comandos interiores do meu ser. Ninguém me diz se vou bem…

   Mas advirto agora mesmo em que ninguém, afinal, me poderia dizer se vou bem ou mal. De facto, que pessoa seria essa? Quem poderia eu encontrar neste mundo capaz de me garantir se estou seguindo o caminho da Luz ou o das Trevas? Só se alguém de carne e osso fosse Deus, diante de mim, e como tal eu O reconhecesse. Porque garantir a alguém a rectidão do caminho que segue, só Deus o pode fazer; todos os homens sem excepção estão distorcidos na sua visão, muitos deles inteiramente cegos. Só mesmo Deus me pode guiar na minha permanente escolha entre o Bem e o Mal.

   Eu tenho, por isso, de ter acesso, por qualquer via, à Voz de Deus. Mas seja qual for a via, será sempre dentro de mim que a ouvirei. Se o verdadeiro Templo de Deus na terra é o coração dos homens, porque haveria Deus de me aparecer fora, se O tenho dentro de mim? (Dl 28, 17/04/04)

                               Veja também o texto 11 (Março 2010)

sábado, 22 de dezembro de 2012

879 — A Alma humana


   Uma das mais espantosas revelações de Jesus nesta Profecia é a nossa Alma. Os excertos que se seguem levantam só o véu deste impressionante Mistério.
   Continuo muito atento à minha Alma: só dela me pode vir o auxílio. Em tempos mais recuados votar-me assim para dentro de mim equivalia quase a um suicídio: voltar-me mais ainda para dentro seria entrar numa voragem que me sugaria para um fundo assustador, donde admitia não mais regressar. Por isso esperava a luz do dia cheio de ansiedade, para logo me embrenhar nas minhas múltiplas actividades e assim esconjurar o medo. A solução, ou pelo menos o alívio para estes estados depressivos estava sempre fora de mim.

   Agora insisto em varrer todo o horizonte da minha Alma com o olhar do coração tenso e atento, à procura de todas as respostas. Agora sei que só aqui as encontrarei. A minha Alma tornou-se-me um território virgem de que não conheço o limite e que vou percorrendo num permanente alvoroço, porque desde que o descobri nunca mais se lhe esgotaram as surpresas. De tal maneira que um dia, como se tivesse chegado ao cimo de uma mais alta montanha e daí tivesse contemplado o horizonte a toda a volta, eu exclamei: a minha Alma vem de Deus! Ela é Filha de Deus!  

   E nunca mais tive medo de olhar para dentro de mim!


   Este permanente olhar para dentro de nós é que nos garante sempre a autenticidade do nosso caminho, ao confirmar-nos a todo o momento a unicidade do nosso Carisma: se cada um seguir exclusivamente a voz da sua Alma, nunca haverá o perigo de se deixar “industrializar”, isto é, tornar peça de uma qualquer engrenagem ou produto uniformizado de uma série talhada à medida e à vontade dos proprietários da máquina.

   É também este olhar para dentro que nos revela a nossa grandeza divina: ele acaba sempre por nos revelar uma Alma que, sendo exclusivamente nossa, se nos apresenta sem limites e por isso um dia de repente a reconhecemos como Imagem e depois como Filha do mesmo Deus. É esta Dimensão inabarcável, verdadeiramente divina, que a une intimamente a todas as outras Almas e faz com Deus e em Deus UM SÓ SER! (Dl 27, 4/4/04)

                              Veja também os textos 39 a 41 (Março 2010)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

878 — A Diversidade


   Nós uniformizamos; a Natureza diversifica. Nós produzimos em série, milhares de seres iguais; na Natureza não há dois seres iguais. Aqui Jesus é implacável no desmascaramento do medonho Edifício que levantámos e a que chamamos Civilização. As mensagens que se seguem focam mais um aspecto, para Jesus nuclear, da nossa Libertação: é preciso deixar todos os seres serem o que são por natureza.

    Anuncia a Diversidade! – assim falam mais uma vez os Sinais, como numa obsessão. Como se a Diversidade fosse a Lei suprema para o Tempo Novo do Regresso de Jesus. Como se a Mensagem de Unidade que Ele nos deixou na Sua última refeição entre nós fosse só a meta final da purificação da Sua Igreja e viesse por acréscimo; como se toda a atenção devesse ser posta no próprio percurso e este consistisse na Diversidade, tal como o atleta, cuja atenção deve estar sempre colocada na própria corrida, pois sabe que da correcta gestão das suas forças durante o percurso depende a vitória, que é todo o desejo do seu coração.

   Este princípio da Diversidade radica, como é óbvio, no incontornável Dom da Liberdade. Tão importante é deixar as pessoas livres de seguirem o imperativo do seu próprio Carisma, que por esta causa Se sujeitou o próprio Deus ao risco de que fosse introduzido na Sua Criação o sofrimento! Nada, pois, deverá impedir que as pessoas sigam cada uma o seu rumo. É preciso que todas as criaturas possam voltar à natureza em que foram criadas, como Amor, isto é, fontes permanentes de surpresa.

   Será esta naturalmente a causa primeira da Grande Tribulação: deixar cada coisa e sobretudo cada pessoa ser o que ela é por natureza é a mais mortífera das atitudes para o Sistema que nos rege. Significa retirar ao homem todo o controle sobre a Vida, significa pedir-lhe que abandone e deixe cair simplesmente toda a sua colossal Construção, que justamente pretendia ser uma alternativa à Natureza. Foi por isto que a Igreja dos primeiros séculos foi ferozmente perseguida. Definitivamente, os cristãos não seguiam uma religião como as outras, frente ás quais os romanos sempre haviam sido tão tolerantes e respeitadores; ao pretenderem que tudo voltasse à Natureza, eles minavam todos os fundamentos do Império. Tal como em breve vai de novo acontecer. Definitivamente. (Dl 27, 28/3/04)


   É manifestamente difícil reencontrarmos a Fonte pura do nosso ser. À medida que avançamos no caminho da nossa conversão, somos possuídos de uma sensação demolidora: nós estamos irreconhecíveis! Já nada resta da nossa verdadeira natureza!

   Não é um exagero profético o que acabo de escrever. Consideramos de facto muitas vezes a linguagem dos Profetas hiperbólica, isto é, propositadamente exagerada como artifício literário destinado a impressionar, para deste modo libertar os corações. Mas os pobres Profetas, sendo aqueles de entre nós que mais se aproximam da Verdade, ao falarem a sua voz resulta pouco mais do que um débil murmúrio ou um desajeitado desenho da realidade que contemplam. É mesmo uma informe ruína aquilo que eles vêem quando o comparam com o Sonho de Deus a nosso respeito, que eles, mesmo assim, só vislumbram. Por isso quando falam do Amor de Deus à nossa Carne não admira que lhe chamem louco. (ibidem, 29/3/04)

                                                                 Veja também  o texto 46 (Abril 2010)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

877 — A Fé


   Um dia, no mais solene momento da Sua vida histórica, Jesus disse: “O Meu Reino não é deste mundo”. Tão claro! O Reino de Jesus é de Outro Mundo! Quando Jesus diz “este mundo”, refere-Se a este que nós desenhámos e construímos como alternativa à Natureza, ao Mundo criado por Deus. Costumamos chamar-lhe Civilização. É um mundo que sempre avança até onde nós achamos possível, em cada momento. É o mundo do possível, porque é nosso e nós é que sabemos as possibilidades que temos. Não é, claramente, o mundo de Jesus; só quando as coisas começam a ser impossíveis, ou ilógicas, ou absurdas é que começamos a mover-nos no Reino de Jesus. Só aí entra a Fé; para viver no mundo do possível não é necessária Fé nenhuma. Estes Diálogos assentam todos na Fé. Ora ouça-se:

 

   Eu creio em tudo aquilo que escrevo. E, mais do que isso, creio em tudo aquilo que vislumbro ou adivinho e ainda não escrevi ou nunca escreverei. As nossas possibilidades são tão ilimitadas como as de Deus: nós somos Seus Filhos naturais!

   Se, obviamente, aceitarmos sê-lo. E creio em que o podemos ser já neste mundo. Ainda antes da nossa morte carnal. Tal qual como Jesus era o Filho de Deus em todo o tempo da Sua vida na Carne, mesmo na morte e no sepulcro. Nós podemos tornar-nos, já aqui, tão Deus como Deus Se tornou, aqui, Homem! Por isso podemos seguir, na Carne, o exacto Caminho de Jesus. Por isso podemos ter, já aqui, o mesmo Poder de Jesus. Foi para que acreditássemos nesta Verdade que Ele nos garantiu que nós haveríamos de ser capazes de fazer milagres maiores do que aqueles que Lhe vimos fazer a Ele próprio.

   Eu creio, pois, em que se aproxima a passos largos um tempo histórico nunca vivido pelos homens desde o princípio do mundo. É isto que milhões de bocas pedem todos os dias ao Pai do Céu quando pronunciam as palavras do Pai-Nosso: Pai, que o Teu Nome seja santificado. Que o Teu Reino venha até nós. Que a Tua Vontade seja feita aqui na terra como ela é feita no Céu.

   É possível que aqui seja o absoluto Reino de Deus! É possível que, aqui, a Vontade do nosso Pai se faça com toda a precisão com que ela se faz no próprio Céu! É possível que, aqui, o Nome do nosso Pai seja santificado, isto é, pronunciado como o Nome do nosso verdadeiro Pai que nos ama e a Quem nós amamos como Filhos felizes. E vou acrescentar, sem medo: é possível, aqui já, pronunciar o Nome do nosso Pai com maior amor do que aquele com que o pronunciam os Anjos no Céu, porque eles não são Seus Filhos e nós somos!
 


   Eu creio no Poder absoluto do Espírito de Deus sobre todo o Ser. Sei que o Espírito não tem poder nenhum sobre as escolhas do Livre Arbítrio dos homens e esta Loucura do Amor de Deus esmaga-me de espanto o coração. Mas sei também que, desde que esta escolha livre do homem se efective, logo o ser que dela resultou entra no absoluto domínio do Espírito. Porque todo o ser, mesmo o ser mau, é o Espírito que o conserva na existência. Assim, todo o mal permanece doendo no Corpo de Deus até que a escolha dos homens Lhe permita transformá-lo em Bem. E Deus não desistirá até que isso aconteça: Ele há-de encontrar meios para, sem violar a Liberdade do homem, o levar a reconhecer o Mal como Mal e a querer que ele seja eliminado do seu ser. E nesse dia não imaginamos sequer o Milagre que o Espírito fará ao transformar em Bem todo o Mal acumulado ao longo dos milénios de Cegueira dos homens!

   É este o Milagre maior da Historia da Humanidade que a minha Fé me diz estar para acontecer dentro de muito pouco tempo: em progressão vertiginosa, as pessoas, atónitas, vão reconhecer o gigantesco Embuste em que viveram ao longo de milénios! Os olhos fechados no Paraíso vão abrir-se! (Dl 27, 26/3/04)

São muitas, aqui, as mensagens em que o tema é a Fé. Recomendo o texto 155 (Agosto 2010)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

876 — Jesus, o homem


   Durante muito temo a Teologia ensinou que Jesus possuiu, durante toda a Sua vida histórica, a chamada “visão beatífica”, isto é, Ele tinha de Si próprio a visão de Deus: soube desde o princípio quem era, qual era a Sua missão e tudo o que Lhe haveria de acontecer ao longo dos Seus 33 anos de vida. Não é este o Jesus que aparece nestes Diálogos. Aqui Jesus revela-Se como um homem igualzinho a todos nós, descobrindo-Se a Si e à Sua vocação gradualmente, como acontece connosco; apenas foi coerente com aquilo que descobriu. É isto que a mensagem seguinte revela.
   Deus não entrou no reino do Diabo disfarçado de homem; Ele nasceu no seu reino como homem verdadeiro, como nascem todos os homens. Nasceu aqui este Homem e viveu a vida normal de todos os homens; apenas não deixou que o Seu Carisma fosse neutralizado, como acontece com quase todos nós. Assim, Ele passou por todas as fases de uma natural maturação da Sua própria personalidade, atento sempre ao que em Si e à sua volta estava acontecendo. Como todos os homens, precisou de tempo para Se certificar das descobertas que ia fazendo, numa viagem sem descanso até às causas de todas as coisas, até à Origem das duas realidades incontornáveis em que se resume e em que decorre a nossa vida: o Bem e o Mal. Uma viagem solitária, é verdade. Mas não porque a não quisesse partilhar com ninguém; é que, todas as vezes que queria partilhar com outros as descobertas que ia fazendo, invariavelmente Lhas consideravam loucas, ou belas mas sem possibilidade de realização prática. Cada vez, por isso, Se voltava mais para dentro de Si, acumulando aí a Verdade descoberta, até ao insuportável.

   Este mundo tornou-se-Lhe então como que a carcaça férrea de uma bomba. E quando não foi mais possível manter encerrado na carcaça deste mundo o Fluxo que vinha, ininterrupto, de dentro, a Verdade explodiu. A vida pública de Jesus era inevitável. Porque fingida era a Carcaça. Este mundo, reino de Satanás, revelou-se então todo falso. Jesus foi sempre Verdade que cresceu cercada e silenciada pela Mentira. Até que a Mentira não teve mais poder para manter enterrada a Verdade. E a Verdade foi vista nesse tempo em todo o seu esplendor.

   Mas diabos e homens fizeram sempre tudo o que quiseram. E quiseram e conseguiram refazer na Carcaça o rombo provocado pela Explosão. Até hoje. Mas nós já vimos a Verdade. Por isso agora, quando Ela explodir de novo, ninguém A vai de novo sepultar.

                                Veja também o texto 83 (Maio 2010)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

875 — O Deserto


   Tem, na Bíblia, uma importância decisiva o Deserto. Ele precede sempre os grandes momentos. Depois da épica libertação dos judeus do Egipto, quando todos esperavam avançar logo para a Terra Prometida, Yahveh conduziu-os para o Deserto, onde os fez passar quarenta anos. Quarenta! É muito ano. A chegada do Messias começa no Deserto, onde João, o Baptista, preparava os corações para O receberem. O próprio Messias viveu anónimo entre os anónimos durante trinta anos e, imediatamente antes de iniciar o anúncio do Reino Novo, passou quarenta dias no Deserto. Também aqui, nestes “Diálogos…”, é importantíssimo o Deserto. É bom conhecê-lo, porque ele não é bem o que se pensa. Ora ouçam:
   Sempre vivendo num interminável Deserto, continuamente esmagado pela Aridez, a minha vida foi-se enchendo de Deus! É como se este fosse exactamente o caminho directo para o Seio de Deus! Não é que a Solidão e a “Abominação da Desolação” tenham acabado: eu estou agora reduzido ao mais estreito carreiro em que já alguma vez vivi e o meu coração continua mirrado de sede, cansado desta longa espera.

   Mas sinto agora que foi este exactamente o Caminho de Deus entre nós. E, mais do que isso, sinto que Ele o está seguindo de novo, em mim. Conforme testemunham estas páginas, pedi-Lhe muito que me deixasse seguir os Seus passos, pôr o pé nas Suas exactas pegadas. E Ele fez mais do que isso: levou-me a percorrer territórios do Mistério que nem Ele próprio tinha percorrido durante a Sua vida terrena. Não é que os não tivesse sonhado, mas nunca chegou a exprimir os Seus Sonhos! Porque a Hora não tinha chegado.

   Mas agora chegou. E o Rio do Seu Coração pôde, enfim, correr, livre, por todos os vales do Deserto. E sinto Jesus muito, muito feliz: levanta os braços, estende-os de horizonte a horizonte, e roda no meio da Devastação, como se já a estivesse vendo coberta da Criação original, mais bela que nunca! E assim roda como uma criança feliz, sorvendo o ar puro de que está cheio de novo o céu. E olha as estrelas, embevecido: Ele vai poder finalmente oferecer ao Pai a Surpresa que Lhe vai transformar definitivamente aquela Lágrima enorme numa gigantesca Lágrima de Alegria: a Terra será agora o Berço imaculado dos Seus Filhos e o Novo Éden ultrapassará o dos Seus Sonhos! (Dl 27, 10/3/04)

                                Veja também os textos 71(Abril 2010) e 168(Agosto 2010)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

874 — O Paraíso


   Parece haver em nós uma qualquer incontornável reminiscência de uma felicidade perfeita aqui mesmo onde vivemos. Chamamos-lhe Paraíso. E, teimosamente, todos os nossos sonhos continuam vislumbrando e desenhando cenários harmoniosos em que vivamos, libertos de toda a dor, um dia… Ora esse Jardim de Delícias que sempre colocamos num futuro muito longínquo, sempre inatingível em tempo útil é, aqui nestes Diálogos, uma realidade prestes a nascer, como num espantoso Parto. É esta a perspectiva dos textos seguintes.
   Não duvido de que Jesus é a verdadeira e perfeita Paz. E sei também que fora d’Ele a Paz não é possível. Ele é a Harmonia total entre Deus e a Sua Criação. E, vindo à nossa Carne para a resgatar da escravidão, Ele fez dela uma Unidade tão perfeita com Deus, que a levou ao Seu próprio Seio, para daí a fazer gerar da verdadeira Carne de Deus! A Paz que Jesus nos trouxe é da mesma natureza da que existe entre as Pessoas da Trindade Santíssima.

   Eu creio nesta Paz perfeita, realizada aqui mesmo, neste nosso actual Vale de Lágrimas. Porque Deus fez a Terra para ser o Berço do Homem, um Berço fofo e tranquilo. E assim será, porque Deus nunca abandona um Sonho Seu; antes o faz crescer sempre, porque n’Ele tudo é Vida. E se alguém se atrever a tocar no Seu Sonho com mãos sujas ou assassinas, aí entra em acção a Sua terrível Vingança e Ele ultrapassa-Se a Si mesmo e amplia o Sonho para onde não estava sequer previsto na Sua Omnisciência!

   Julgo que eu próprio não entendo o que estou escrevendo, mas sei que é a Verdade. E a minha capacidade de ver deve-se ao encandeamento provocado pela intensidade desta Luz. Só sei que aqui na Terra será o que nem sequer estava previsto ser, no Plano original de Deus. Porque nós ousámos tocar o Seu Sonho com mãos sujas e assassinas! E de tal maneira desabará sobre nós a Vingança de Deus, que nós próprios, os de mãos sujas e assassinas, rendidos a este Ciúme ardente de Deus por nós, Lhe pediremos que nos deixe participar na realização deste Paraíso imprevisto!

   Eu anunciarei, sim, com todas as minhas capacidades, este imprevisto Sonho de Deus, porque o Corpo de Jesus já inundou a nossa Carne, célula com célula. Só falta que o Espírito desça e fecunde as células. (Dl 27, 9/3/04)
   Quero o Céu aqui. Não quero ir para o Céu; quero que o Céu venha até mim. Quero ser inundado, saturado de Céu. Assim como estou. Nesta carne que me condiciona até ao ridículo. Quero que os nossos próprios olhos carnais vejam a Capacidade de amar que Deus tem e que de facto mostrou na maneira como nos amou.

   Quero a minha carne já aqui na terra transubstanciada em Carne de um verdadeiro Filho de Deus! Ninguém me venha dizer que a terra terá que ser fatalmente este Vale de Lágrimas para todo o sempre. Ninguém me venha dizer que a restauração do Paraíso aqui, aquele Paraíso que nos está prometido, muito mais belo que o primeiro, só acontecerá no Fim dos Tempos, no Fim de todos os Fins: eu vejo o nascimento deste indescritível Paraíso aqui ainda antes do fim da minha vida da carne! Recuso-me a aceitar que esta experiência nunca será para o nosso tempo, para a minha geração: a Surpresa que aí vem é a maior de todos os tempos! (ibidem, 25/2/04)

                Veja também o particularmente esclarecedor texto 155 (Agosto 2010)

domingo, 16 de dezembro de 2012

873 — Pedro


   Chamou Jesus um dia o Seu apóstolo Pedro à parte e entregou-lhe a missão de apascentar o Seu Rabanho. A mais nenhum dos apóstolos entregou Jesus expressamente esta missão: a missão dos outros também, no entanto, era muito clara: serem Apóstolos – uma palavra que significa Enviados, isto é, eles deveriam ir por todo o mundo transmitir aquilo que tinham visto e ouvido do seu Mestre. Mais nenhuma missão específica entregou Jesus a ninguém. Em todos os Profetas actuais volta Jesus a referir muitas vezes o Seu Pedro. Sobre ele faz Jesus nestes Diálogos uma revelação inesperada e importantíssima, de que falaremos oportunamente.
   Porque me aparece tão raras vezes o Sinal da Igreja? Porque ela não é tão importante assim? Para, justamente por esta via, a realçar mais ainda? Porque ela não é a preocupação imediata de Jesus?

   De facto, quantas vezes refere o próprio Jesus a Sua Igreja, no Evangelho? Que me recorde, só uma, aquela em que Ele afirma solenemente que ela será edificada sobre Pedro. Quase sempre Se dirige às pessoas todas, indiscriminadamente, procurando atingir-lhes os corações, despertando-os para a Fé, mostrando, com gestos e palavras, o quanto Deus nos ama e o quanto nos afastámos do Seu Amor.

   Sim, Jesus parece não Se preocupar muito com a Igreja. Como se ela fosse uma realidade que haveria de chegar por acréscimo. Dá vontade até de pensar que Ele antevia a pesadona máquina institucional em que ela haveria de se tornar, asfixiando o Espírito e estraçalhando o Seu Corpo. Foi por isso que Ele, dessa única vez que a ela Se refere, a fundou sobre Pedro, o mais ingénuo, o mais arrebatado, o menos institucional, o menos certinho de todos os Apóstolos, mas o de mais viva e espontânea Fé: sobre Pedro nunca poderia ser fundada uma fria máquina institucional! Chamou Jesus a Simão a Pedra, ou o Rochedo, não por ele ser de uma frieza granítica, mas justamente o contrário: por ter um coração muito vivo, muito sensível, capaz das maiores loucuras de Amor. A firmeza da Rocha estava na ingenuidade infantil da sua Fé!

   É esta Fé que importa a Jesus. É este Amor incondicional que une a Si os Seus discípulos. É esta paixão que importa despertar nos corações, um a um. E, se assim acontecer, não será mais possível desunir aqueles que assim se amarrarem ao seu Mestre e Redentor: a Igreja virá por acréscimo! (Dl 27, 5/3/04)

                             Veja também o texto 623 (Dezembro, 2011)

sábado, 15 de dezembro de 2012

872 — A Derrocada


   Ninguém tem dúvidas de que levantámos uma obra espectacular, a que costumamos chamar Civilização. Mas é também hoje cada vez mais generalizada a sensação de que este portentoso Edifício não tem segurança nos alicerces e pode ruir, qual Torre de Babel. Esta derrocada é, nesta Profecia, não uma hipótese longínqua, mas uma certeza. Sem prazo, mas muito mais próxima do que julgamos. É, no entanto, com muita alegria que enfrenta essa perspectiva.

    Recordo a Profecia de Joel, quando aí o Senhor solenemente diz: “Depois disto acontecerá que derramarei o Meu Espírito sobre toda a Carne” (Jl 3, 1).

   Sabemos que quando a Escritura se refere à “carne” não entende só o que em nós é físico e agarrável, mas também todas as faculdades inerentes ao corpo físico e que os animais também possuem, algumas em grau muito superior ao homem. Aquilo que no homem é claramente superior aos animais, e a que vulgarmente chamamos inteligência, ou mente, ou espírito, são ainda faculdades bem carnais, se as confrontarmos com o Poder do Sopro da Vida ou Espírito de Deus, que pelo Pecado rejeitámos. É no entanto também verdade que permanece em nós a noção da nossa grandeza original, como no coração do filho rebelde permanece a memória da casa paterna que abandonou, particularmente da sua infância tranquila e feliz.

   Só esta esfumada memória do Amor que nos envolvia e trespassava na nossa Casa original estabelece ainda uma ligação com o Espírito de Deus que, em contrapartida, mesmo excluído do nosso projecto rebelde e escorraçado da nossa vida, nunca nos abandonou, para que não deixássemos simplesmente de ser homens. É esta memória longínqua da nossa grandeza e dignidade de Imagens de Deus que tem, apesar de tudo, potencializado as nossas capacidades carnais, a ponto de termos conseguido edificar a obra verdadeiramente espectacular a que chamamos Civilização.

   É claro que este fantástico Ídolo da nossa presunção tem pés de barro e agora entendo melhor porquê: ele assenta todo sobre a Carne, sobre o Pó da Terra, sobre o Barro que Deus havia seleccionado para a criação do Homem, mas que só foi Homem quando ficou indivisivelmente unido ao Seu Espírito; separado do Espírito de Deus, o Barro morre obviamente como Homem! Toda a construção que a partir do Barro levantar, estará fatalmente destinada à ruína, tanto mais espalhafatosa e trágica quanto mais pesar sobre esta frágil base de barro.

   Aproxima-se o tempo desta gigantesca Derrocada. E Deus, que ama este Barro como Corpo Seu, teve que assistir impotente a todo o desenrolar deste tresloucado projecto da Sua criatura amada até à paixão. Por isso agora, mais que nunca na História, Deus vai derramar de novo o Seu Espírito sobre esta Carne resfriada, até a penetrar totalmente, para que, quando a Derrocada acontecer, ela aceite morrer e assim desça ao Seio de Deus, para daí renascer! (Dl 27, 1/3/04)

 Veja também o texto 271 (Dezembro 2010)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

871 — Carisma e Doutrina


   Ao longo da História verificamos que de tempos a tempos surgem movimentos fortíssimos, normalmente desencadeados pelo Carisma de um homem. Não muito tempo depois vem a Instituição e transforma o Carisma em Doutrina, de que se apropria, passando a controlar o movimento e retirando assim, progressivamente, toda a força ao próprio Carisma. Toda a Doutrina é, portanto, obra talhada à medida e compreensão de um qualquer poder deste mundo e portanto perversa. Foi isto que aprendi na Escola do Mestre Jesus, conforme se pode ver da mensagem seguinte:
  Todos os grandes Carismas da nossa História nós os esterilizámos. Conseguimos mesmo transformar em estátua fria e imóvel o maior Carisma de toda a História – o de Jesus. Exactamente da mesma maneira como transformámos a Natureza viva nos imóveis da nossa Cidade.

   Os Carismas morrem quando os transformamos em doutrinas. Vede se as doutrinas não são Vida cortada da Fonte, talhada à medida do alcance da nossa inteligência, geometrizada, mecanizada, balizada por ritos, normas, leis e dogmas. Vede se uma doutrina não é feita de material roubado aos Carismas para se tornar obra nossa. Vede se as doutrinas não são os mais poderosos e tirânicos ídolos da nossa Civilização!

   A Vinda de Jesus acabará com todos os ídolos; todas as doutrinas vão desaparecer. Em primeiro lugar, obviamente, a “doutrina cristã”. A Fonte única estará doravante no coração de cada um, e mais ninguém lhe dirá o que deverá fazer. Será este o efeito demolidor da Infusão do Espírito! (Dl 27, 26/2/04)

                          Veja também os textos 37 (Março 2010) e 57 (Abril 2010)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

870 — Recomeço


   Desde o início desta escrita quer fui confrontado com uma tão permanente e tão radical Novidade, que a cada página que escrevia mais o espanto me crescia. E não demorou muito até que, sem dar conta, me vi perante a perspectiva, não de uma mudança, mesmo que profunda, mas de um verdadeiro Recomeço. A expressão que Jesus usava era Tudo Novo! E ficou isto gravado em textos como este:
   Deus nunca admitiria uma Criação remendada, desfigurada por cicatrizes múltiplas: o Esplendor que Ele viu diante dos Seus Olhos ao Sétimo Dia, depois de toda a Obra estar consumada, nunca será superior àquele que os Seus Olhos contemplarão na Consumação dos Séculos.

   Tudo no Princípio foi criado, aliás, com o dinamismo da Vida: quando dizemos que Deus completou a Sua Obra, não estamos a afirmar que tudo ficou imobilizado na sua máxima perfeição; estamos a falar apenas da Sementeira de Todas as Surpresas! Foi a partir daí que tudo ficou pronto para surpreender continuamente, porque ficaram estabelecidas para sempre as Rotas da Harmonia: o Caos estava definitivamente encerrado no Abismo, cumprindo, também ele, doravante, a missão de surpreender harmoniosamente a própria Harmonia! Só quando tudo assim estava disposto para que a Paz fosse universal e a Felicidade fosse perfeita e segura em toda a Criação, é que Deus, finalmente, descansou.

   Mas o Pecado veio rasgar uma enorme ferida na Harmonia. E esta situação Deus não a tinha previsto. Não sei mesmo se Se lembrou da possibilidade de ela poder vir a acontecer quando, dominado pela ânsia ingénua e louca de dar a alguém fora de Si a Felicidade de que estava possuído, criou Anjos e Homens inteiramente livres. Não, Ele não Se lembrou por certo dessa terrível possibilidade, nessa Hora louca do Amor. Por isso ninguém pode calcular de forma nenhuma a Dor de Deus ao ser de repente colocado perante a Traição, de todo inesperada, das Suas criaturas.

   Por isso, se eu tivesse uma voz que se ouvisse na última estrela do Universo e nas mais longínquas profundezas do Abismo, eu haveria de gritar para o âmago de todas as criaturas a Vingança de Deus: aqui mesmo, aqui no lugar da Chaga e da Dor, será Tudo Novo e a nossa Felicidade ultrapassará a de outrora! (Dl 27, 19/2/04, às 5:17 horas)

  

   Este surpreendente carinho que Jesus nesta Profecia sempre manifestou para com a nossa carne está testificando a insistente mensagem dos últimos dias: o Paraíso é para ser restaurado aqui, onde ele já foi e onde agora é o Vale das nossas Lágrimas!

   E é também esta inesperada ternura de Jesus pela nossa carne assim diminuída e desfigurada como ela se encontra que melhor revela não suportar Ele curá-la deixando-a cheia de cicatrizes, conforme Ele mesmo esta noite nos mostrou. Por isso é preciso que a Carne morra. Mas não como podridão que se rejeita, mas como uma semente que se guarda e acarinha até à hora de ser semeada para que, morrendo, possa libertar na nova planta todas as potencialidades nela escondidas.

   É que – recordemos todos com muita atenção! – Deus nunca deita simplesmente nada fora daquilo que um dia Lhe saiu das Mãos amorosas e criadoras. Por isso é esta mesma carne de cada um de nós, purificada e condensada em semente – e não uma outra qualquer carne avulsa! – que, de novo regressada à Unidade com o Sopro da Vida, ressurgirá, inteiramente livre e imaculada aqui mesmo, à vista dos próprios olhos carnais! (ibidem, às 10:47:37)

                                   Veja também os textos 19 (Março 2010) e 490 (Julho 2011)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

869 — O Prazer


   Quando falamos em prazer, entendemos geralmente o prazer físico, sensual. E é neste sentido, salvo raras excepções, que ele é assumido aqui, nesta escrita. Do mesmo modo, em vez da mais vulgar expressão com que se pretendem designar as duas mais imediatas e consensuais componentes do ser humano – corpo e alma – aqui prefere-se, na maior parte dos casos, a designação carne e espírito. Porventura a maior das surpresas que Jesus nestes Diálogos me fez foi a atenção que Ele, desde muito cedo, começou a dar à componente material, física do ser humano – à Carne. Os dois excertos seguintes são só um aperitivo…
 
   Ao falarmos da Incarnação sempre acentuamos a descida de Deus às nossas dores; nunca ouvi que Ele tivesse assumido os nossos prazeres. É claro que o prazer da nossa Carne é nenhum, se o compararmos com o inebriante prazer em que viveríamos se não tivéssemos pecado. É já, pois, doloroso para Deus reduzir-se ao prazer sumido e efémero que nos resta. Mas é prazer, apesar de tudo, e Deus assumiu-nos por completo ao incarnar – também obviamente todo o prazer que na nossa pequenez e deficiência podemos gozar.

   A insistência com que nesta Mensagem Jesus fala do nosso prazer e o assume em toda a amplitude e intensidade possível à nossa Carne atinge as raias do escândalo. Sempre os Santos falaram da felicidade que nos dá o contacto com Jesus. Mas não conheço nenhum que fale na felicidade que nós próprios Lhe podemos proporcionar partilhando com Ele o prazer da nossa Carne; o que mais ouvimos da boca dos Santos é a insistência na renúncia aos prazeres da Carne. E não os podemos censurar por isso: eles fundam-se no facto indesmentível de que Deus renunciou a toda a Sua imensa, imperturbável felicidade, para Se vir meter na nossa indescritível miséria. E também é verdade que a nossa rebelião se manifesta no gozo desenfreado de todo o prazer que no meio das nossas trevas conseguimos reunir. Foi ainda o exemplo do próprio Jesus entregando o Seu corpo à tortura que levou os Santos a proclamarem a renúncia ao prazer. Assim, compreensivelmente, a assunção do nosso prazer ficou ofuscada pelo espectáculo da Renúncia de Deus à Sua imensa Felicidade, por nosso amor.

   Mas agora o Espírito precederá e acompanhará o Regresso de Jesus para nos recordar tudo quanto Ele já revelara e para nos conduzir à Verdade total. (Dl 27, 7/2/04)


   É deveras significativo que Jesus me tenha dado o prazer da carne como Sinal da sua Presença. É esta uma situação diametralmente oposta àquela que se chegou a proclamar no passado, em que o prazer sensual era considerado essencialmente diabólico e só era tolerado, porque inevitável, no acto de procriar, sendo então visto como uma espécie de castigo, em que por uns instantes nos teríamos que sujeitar ao impulso demoníaco para obtermos o dom dos filhos.

   Isto chegou a proclamá-lo a Igreja! Como deixou Jesus que isto acontecesse? Pobre Mestre! Ele teve que deixar acontecer já tanta coisa perversa na Sua Igreja! A tortura e a morte violenta em Seu Nome, por exemplo. A instituição, por exemplo, porventura o pecado basilar da Igreja. A Apostasia galopante, enfim, que está atingindo o auge no nosso tempo!

   Jesus não pode interferir, como sabemos, nas escolhas da Liberdade humana. Só àqueles que O receberem sem condições e O amarem de coração enamorado Ele pode comunicar a força da Sua Vida, a largura da Sua Liberdade, as profundezas do Seu Amor. Só a estes Ele pode dar a felicidade da Carne como sinal da Sua Presença. De uma Presença total, obviamente, vibrando de prazer no nosso corpo, em toda a medida possível à Carne em cada momento. Tão desviados andámos nós desta tão terna proximidade do nosso Deus, que agora proclamá-la assim na sua simplicidade, na sua nudez, constitui o maior dos escândalos.

   Será por isso esta certamente a mais violenta expressão da Viragem que o Regresso de Jesus virá operar no meio de nós. Tão violenta, que até muitos crentes recuarão de medo, dominados por uma dolorosa dúvida. Mas, passado o primeiro embate, todos os discípulos de Jesus se irão recordar da promessa do seu Mestre de que, agora, os fundamentos da Terra serão abalados. (Dl 27, 9/2/04)

                   Veja também os textos 18 (Março 2010), 152 e 153 (Agosto 2010)