No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

quarta-feira, 31 de março de 2010

41 — O Ídolo Global

14/9/00 — 4:20

Por estes Sinais Jesus insiste no Seu pedido para que escreva, que o Espírito me assistirá. Mas eu aqui declaro que não tenho nada dentro de mim para exprimir, a não ser isto mesmo: a sensação de que todas as fontes estão esgotadas.

É este um típico processo de actuação do Demónio. O objectivo dele é cortar toda a ligação com Deus: se nos conseguir convencer de que Deus se esgotou, que já disse tudo o que tinha a dizer, terá feito avançar o seu reino de trevas sobre mais uma Alma: A partir daqui, tudo se lhe torna fácil: divide-nos de nós mesmos, bloqueando dentro de nós toda a nossa intimidade e manipulando-nos depois com toda a sorte de estímulos do seu reino, uma vez que estamos privados do nosso comando interior. Esta é a verdadeira despersonalização. A Cidade é toda feita por autómatos: o seu fruto só pode ser a desertificação. Repare-se: os nossos ídolos passam a ser as obras das nossas mãos! Mesmo quando os ídolos são pessoas: também as pessoas, na Civilização, são produtos; elas foram modeladas - nós dizemos educadas! - segundo objectivos e planos elaborados por nós, estes também já, naturalmente, ditados pelo Ídolo Global, todo levantado por nós e que passou a ditar-nos, tiranicamente, as suas leis. Somos assim inteiramente comandados a partir de fora, por um Ídolo de facto impressionante pelo seu gigantismo e por ter sido feito por nós, mas mudo e de pés de barro. E é por Isto que somos comandados. Não somos as mais tristes e as mais dignas de pena entre todas as criaturas?

É preciso, portanto, nunca desistir de esperar à porta da nossa Alma. É de lá que temos que receber todas as ordens, através do nosso coração, esta Palpitação Primordial que no início despertou a vida no nosso ser ainda em formação e que, a partir daí, sempre nos revelou únicos, fazendo desabrochar, no tempo oportuno, o nosso carisma específico, misteriosamente encerrado na nossa Alma.

Isto é, importa orar sempre, sem nunca desfalecer, porque estamos perante o nosso próprio Mistério que, como todos os Mistérios, é inesgotável: ele é uma Semente de Deus!

Mas vede: que atenção lhe damos, ao nosso próprio Mistério? Não passamos todas as nossas horas numa louca correria, sempre condicionados e arrastados pelo fluxo mecânico de uma Ordem que nós próprios fomos levantando e que agora, gigantesca e cega, nos esmaga? Vede o que conseguiu o alto senhor e administrador deste Monstro: agora as nossas orações são sempre pela conservação e pelo êxito do nosso grotesco Ídolo. E Deus, na nossa Alma, espera, desde sempre. Não temos para Ele um minuto? Nem uma hora, com Ele, estaremos vigilantes?

São 6:49!

terça-feira, 30 de março de 2010

40 — Antes que as leis naturais nos destruam

12/6/08           — 11:15:17

Todo o comportamento do homem até hoje nos conduz à convicção de que ele não parará enquanto a Ruína que andou amontoando desde há tantos milhares de anos lhe não cair em cima, esmagando-o. É esta a natureza da Tragédia que os nossos sábios estão continuamente anunciando e de que já todos nós temos um estranho pressentimento. Consiste ela na rotura do equilíbrio que as próprias leis inexoráveis da Natureza, agredidas pelo homem, acabarão por provocar. Isto é, estas leis da Harmonia possuem, apesar de imutáveis, uma larga margem de flexibilidade e tolerância frente às agressões, tentando recompor sucessivamente o equilíbrio. O meu coração pede-me que chame antes, a esta tolerância, Paciência, palavra que vem de “patior”, verbo latino que significa sofrer. Gentes, vede: o Criador deu às próprias leis inflexíveis da Natureza a capacidade de perdoar, sofrendo a injustiça antes que a sua justiça entre em acção! Mas só até um limite a partir do qual elas não suportam mais a agressão, sob pena de se destruírem a si próprias como leis. Dirigem-se então directamente ao agressor, pulverizando-o! Elas não são dotadas do Livre Arbítrio; são automáticas!

Ah, se vísseis as minhas lágrimas, neste momento, lá, na sua origem, na Força que as faz jorrar! Deus fez tudo firme e definitivo e fez tudo por Amor. Nenhum Lúcifer, nenhum poder infernal poderá nunca nada contra a Harmonia que Deus sonhou. Porque Ele ultrapassará os Seus próprios Limites para manter intacto e ampliar o Seu Sonho. Por isso eu creio em que o Espírito descerá antes que as leis naturais nos destruam!

segunda-feira, 29 de março de 2010

39 — Eu creio em mim

16/8/00 — 4:13 — Rossão

Não há nenhum homem como eu, nenhum Profeta como eu, nenhum Filho de Deus como eu! Ninguém é como eu. Ninguém está como eu. Sou verdadeiramente único em todo o Universo. Por isso a minha Alma tem que ser uma surpresa contínua para os meus semelhantes. Por isso a minha Alma tem que ser inesgotável. Por isso eu creio em mim. Por isso eu espero tudo de mim. Por isso eu posso amar com um amor puro e absoluto, sem mistura, sem mancha de maldade.

Foi isto que Jesus fez de mim: segregou-me da Uniformidade, trouxe-me para esta Solidão e mostrou-me a mim próprio. Começou por me apontar o meu edifício antigo e com isso me fez nascer no peito um veemente desejo de me desfazer todo. Lembro-me muito bem: eu só queria ser nada. Tudo o que eu era tinha sido feito por mim e deveria simplesmente desaparecer, porque era uma construção ridícula, talhada segundo o modelo que me era posto diante dos olhos, alterada segundo a moda do momento. Eu era só como uma veste vestida num manequim de gesso. Por aquele caminho eu nunca mais me encontrava, nunca mais saberia quem sou.

Depois o Mestre pediu-me que O deixasse reconstruir-me, porque o nada a que de repente me vi reduzido era mesmo nada, não tinha nada mesmo, portanto não tinha também possibilidade nenhuma de se construir a si próprio. E eu deixei o Mestre fazer o que me pedia. Teve que usar de muita paciência, porque eu insistia em conservar trastes velhos, eu estava ainda agarrado a méritos que acumulara, eu não era capaz de me abandonar simplesmente nas Mãos do Artista a Quem, de coração alvoroçado, me tinha entregue.

Como de uma semente, vi-me então surgir eu, eu todo diferente daquilo que julgava ser. De carcaça vazia por dentro e sempre aos encontrões para arranjar espaço e poiso fora, tornei-me um Acontecimento permanente, aberto a um território sem barreiras, sem nenhum limite de tempo nem espaço. Soube então que era de Raça divina e que portanto possuía todos os Atributos de Deus. Sabia, da construção teológica que eu tinha assimilado, que sentir-se assim e proclamar-se assim era uma heresia monstra. Mas tudo, afinal, nesta caminhada em direcção ao meu Ser divino, eram heresias que eu ia derrubando e ultrapassando, uma a uma, de coração feliz. Até que perdi por completo a noção de heresia e diante de mim só ficou o Mistério e dentro de mim um coração inocente disposto a segui-lo, sem sequer saber de etapas nem metas, porque todo o Território diante dos meus olhos está aberto, sem que eu vislumbre qualquer limite.

Só conheço agora um limite, e pesado: é o da minha antiga carne, que Jesus me pediu que conservasse, para nela poder proclamar que a Salvação chegou!

São 6:15!

38 — Fastidiosas repetições?

15/8/00          — 15:36:47

Aqui, à sombra destas árvores, onde já coisas tão grandes me foram reveladas, sou subitamente possuído de uma sensação estranha: ninguém vai conseguir ler tantas páginas, porque elas são preenchidas com meia dúzia de novidades, apenas; o resto são repetições fastidiosas, que levarão as pessoas a uma progressiva desmotivação. E esta sensação volta depois de eu ter afirmado várias vezes que não há aqui uma única repetição!

Que desolador é este estado de Alma! E logo hoje, no dia em que celebramos o triunfo pleno da nossa Mãe!

— Preciso que me ampares, Mestre. Mais uma vez dou as voltas todas que posso ao meu coração e não encontro lá nenhum indício de ter feito alguma coisa errada. Explica-me esta situação, Mestre!

— Há alguma possibilidade de o Mistério de Deus se ter esgotado?

— Não, nenhuma.

— Há alguma possibilidade de se ter esgotado o Mistério da tua Alma?

—Também não, não há a mínima possibilidade: ela é uma Semente de Deus!

— Em que circunstâncias é que te repetirias então?

— Passarei a repetir-me a partir do momento em que não seja Deus ou a minha Alma aquilo que eu revelo.

— E onde encontras Deus?

— Na minha Alma.

— E onde encontras a tua Alma?

— Dentro de mim, não sei onde.

— E como fazes para ouvir Deus na tua Alma?

— Procuro quanto posso desligar-me de todas as outras vozes e tudo aquilo que neste Silêncio por qualquer via vem ter comigo assumo-o como Voz de Deus e registo-o.

— Voz de Deus porquê?

— Porque Ele me ama muito.

— O Céu é amar. Achas que o Céu é feito de fastidiosas repetições?

quinta-feira, 25 de março de 2010

37 — Os homens do Dogma

30/5/99          — 10:48:35

Através do Sacrifício de Jesus, incarnou o Espírito e o Pai. Cada Pessoa da Trindade incarnou por via diferente. Porque cada Pessoa da Trindade é distinta da Outra. Mas Deus não incarnou três vezes: incarnou uma só vez porque Deus é Um só e o Mesmo.

Não sei que palavras hei-de usar para me aproximar deste Mistério. Jesus quer, no entanto, que o exprima com a linguagem que tenho. E sempre, enquanto existir neste mundo uma célula corruptível num corpo humano, Deus utilizará a linguagem da carne. Porque Deus estará sempre onde nós nos encontramos.

Este foi o Milagre que Jesus fez perante os Olhos do Pai e do Espírito: Ele tornou sedutora para Deus a célula mais degradada da natureza humana. Agora Deus ama a nossa carne como Corpo Seu, esteja ela no estado em que estiver.

Não posso, portanto, exprimir o que vou vendo no Mistério dos Mistérios, a não ser através da linguagem rude da minha carne degradada. Por isso é de ter pena dos nossos homens da Lei quando eles se põem a definir conteúdos para as palavras, como se o mais pequeno Mistério de Deus presente na Criação fosse delimitável no seu conteúdo e, mais ainda, pudesse ser expresso em quaisquer palavras humanas.

Que nunca mais isto aconteça na Igreja! − quer Jesus que eu proclame com toda a clareza que as minhas palavras puderem. Aliás não haverá mais homens da Lei, porque deixará de haver Lei. Haverá, de agora em diante, só a Luz iluminando confidencialmente cada coração. Assim, o conhecimento que teremos dos Mistérios de Deus será o conhecimento que adquirem um do outro os corações enamorados. Não se aflijam, por isso, os zelosos guardiães da “pureza da Fé”: o Espírito fará, com leveza e alegria, o que vós continuamente desfazeis de semblantes pesados e tristes ao pretenderdes encaixotar e ordenar nos armazéns das vossas doutrinas a Vida que o Amor apaixonado de Deus fez florir até hoje nos corações que apesar da vossa sanha destruidora conseguiram seguir Jesus. Largai, por favor, os erros dos outros e debruçai-vos sobre os vossos, pedindo ao Senhor da Luz que vo-los ilumine para os verdes com os Seus Olhos. Vereis que nunca mais vos atrevereis a condenar ninguém. Aprendereis a esperar pelos frutos de todas as plantas que à vossa volta nascerem, as boas e as más, conforme o nosso Mestre nos ensinou. Quando for a hora da ceifa − uma hora que nunca sereis vós a determinar mas sempre o Pai − vereis o erro ser queimado sem saberdes como.

36 − O maior Sonhador da História

26/5/99
                    − 9:04:28

Jesus tem-me levado a viver, uma a uma, todas as Suas experiências enquanto pisou a terra como homem de carne corruptível. A última é a percepção do Seu Reino como situado inteiramente no território do Impossível. Ora isto tem uma consequência natural: ao mesmo tempo que a vida neste mundo se torna insuportável, os nossos sonhos tornam-se cada vez mais ousados, mais loucos, mais impossíveis.

Aos olhos do mundo tornamo-nos, por isso, pessoas sem préstimo e portanto inofensivas ou, se os nossos sonhos arrastarem multidões, pessoas perigosas. Somos sempre, de qualquer modo, pessoas incómodas: no primeiro caso, porque estorvamos; no segundo, porque ameaçamos o Sistema.

E sempre o mundo tem conseguido neutralizar os sonhadores: ou marginaliza-os e serve-se deles como bobos, ou absorve-os e coloca-os ao serviço da Engrenagem. Conseguiu fazer isto do maior Sonhador da História! Jesus serve hoje para dar respeitabilidade ao reino de Satanás.

Enternece-me a ingenuidade de Jesus. Ele sonhou tão alto quanto um homem pode sonhar e viveu coerentemente o Seu Sonho até ao fim.

Como uma criança, Deus acreditou em nós!

Mas nós traímos a Fé com que o nosso próprio Criador Se nos entregou! Conseguimos fazer isto, gentes, e não creio que alguém encontre explicação para semelhante maldade. Mas creio em que, se um dia dermos conta do nosso Pecado, será impossível mantê-lo.

Actualmente ninguém vê onde está o Pecado. Passo pela Cidade e grandes e pequenos, sãos e doentes, a todos vejo gastarem todas as suas forças na conservação e ampliação do seu Pecado. De facto, ninguém mais espera de Deus o Bem; todos, pelo contrário, confiam na obra humana e se ela continuamente os desilude, é nela ainda que confiam para vencer a sua desilusão. Quanto mais dispensamos Deus, mais cegos nos tornamos. Assim, a nossa Torre acabará por ruir, esmagando-nos. É horrorosa esta visão. Atacados de progressiva cegueira, os homens estão construindo um monstro ao qual se entregam como seu senhor e rei. É, portanto, lógico que sofram cada vez mais, comandados por esta criatura feita de peças mortas. Mas não são já capazes de ver a perversão do monstro e portanto nem sequer pensam em desmontá-lo; antes, numa atitude de quem perdeu toda a lucidez, tentam aperfeiçoá-lo. É claro: uma vez que nasceu monstro, quanto mais perfeito monstro, mais perfeitamente esmaga, mais vasta e funda é a dor que causa.

Jesus está de novo, em mim, sonhando o fim do Monstro.

terça-feira, 23 de março de 2010

35 – Vozes da Natureza

6/5/99            – 19:38:31
A relação que Deus quer que tenhamos com Ele é uma relação de amor apaixonado. Enquanto este estado se não verificar, não existe verdadeira relação com Deus. Deus é Amor em todo o Seu Ser e em toda a Sua Expressão; qualquer relação com Ele não pode, portanto, ser outra que não seja uma relação de amor, amor sem mistura, amor apenas. E não existe amor mais ou menos, amor morno, amor frio; o amor é sempre a máxima vida, é sempre apaixonado. Todas as criaturas amam apaixonadamente o seu Criador. Amar apaixonadamente é estar ligado de uma forma tão estreita ao ser amado, que tudo o que é de um se repercute no outro como se passasse para ele através do canal da vida; cortado esse canal, morrem os dois.

É assim que a flor ama apaixonadamente Deus. Ela ama-O em toda a sua capacidade de amar. Escancara, da forma mais perfeita que pode, tudo quanto d’Ele recebeu. É como se dissesse: vede como o meu Senhor é bom! E no esplendor da sua beleza ela diz a quem passa que se sente muito feliz por ser criatura de um Criador assim. Ela ama o seu Amado com autêntica, imanchada paixão. E Deus não pode senão sentir uma ardente ternura por este pequenino ser que não sabe o que mais há-de fazer para anunciar a todo o mundo a Delicadeza apaixonada do Artista que a fez.

Mas não é só a flor, no espectáculo do seu colorido, que está proclamando a sua inocente paixão. Olhemos, por exemplo, para seres muito mais discretos que a flor. Para uma gota de orvalho, por exemplo. Para a folha da ervinha, por exemplo, em que a gota poisou. Não parecem amantes eles os dois? Não estão ambas, folhinha e gota, falando muito alto d’Aquele que os uniu em tão natural harmonia? Não estão estes dois pequenininhos seres manifestando todo o reconhecimento que podem a Quem visivelmente os fez tão felizes? E não há-de Deus olhar embevecido estes Seus dois tão frágeis pequeninos assim a exibirem, sem nenhuma reserva, tudo quanto d’Ele receberam?

Mas se quiserdes podemos contemplar qualquer coisa de grandes dimensões. Um penedo daqueles grandes, por exemplo. Uma árvore daquelas enormes. Uma montanha inteira, muito alta e alongada. O nosso Planeta Azul todo. Uma galáxia inteira, que nos dizem que existe e tem uma dimensão que esmaga a nossa capacidade de entender. Vede se não estão todos estes gigantes falando aos berros da omnipotência do seu Dono e Senhor. Vede se não gostam d’Ele quanto podem gostar. Vede se não Lhe obedecem como amantes. E vede que incendiado amor Deus não sentirá por todos eles!

segunda-feira, 22 de março de 2010

34 – A Terceira Pessoa

                    – 9:00:03

Aparece-me muito realçado nesta imagem o Espírito como o Senhor do Nono Dia. Neste Dia longo o Espírito estará, mais livre que nunca, em todo o ser e em todo o movimento sobre a terra. Comandará sobretudo com uma segurança nova o crescimento da Igreja.

– Meu querido Senhor Espírito Santo, gostava que falasses Tu comigo hoje um pouco…

– E que queres tu conversar Comigo?

– Não sei; só Te queria sentir como Pessoa bem distinta e concreta…

– Não Me sentes assim habitualmente?

– Sinto. Distingo-Te bem do Pai e do Filho e sinto até, ao meu nível, o Amor que a Eles Te une. Mas vejo-Te sempre grande e instantâneo, com um poder e uma eficácia que, não a podendo eu exprimir, sempre me arranca dos olhos um rio de lágrimas. E vejo-Te ao mesmo tempo a própria Leveza e Delicadeza, tornadas Pessoa em Ti. Por isso queria agora sentir-Te ainda mais como o meu Amigo Omnipotente. Queria sentir ainda mais o milagre de seres tão gigantesco e poderes falar comigo como um Companheiro que há longo tempo me acompanha com o ardor e a delicadeza de um apaixonado.

– Tens-Me sentido assim, como um Apaixonado?

– Sim, um Apaixonado muito especial: terrível de força, de Coração aceso num fogo que suplanta em ardor todos os vulcões juntos, mas ao mesmo tempo tão próximo de mim, tão pequenino e frágil, que Te vejo numa só das minhas células, em cada um dos meus leves suspiros. Por isso queria perguntar-Te: como podes ser estes dois extremos numa só Pessoa?

– Eu sou a Unidade de todos os seres.

– Por isso possuis a força necessária para fazer rolar uma galáxia inteira no seu lugar?

– Isso, Meu pequenino.

– E para a arrancar do Abismo?

– É claro.

– E para a conservar viva durante todo o tempo da sua existência?

– Pois…

– E por seres a Unidade manténs em segurança e harmonia o voo de todas as aves?

– Sim.

– E o veludo de todos os lírios?

– Sim, Meu amor.

– E o movimento de cada átomo no corpo de todas os seres?

– Pois, filhinho.

– E proteges os pequeninos com a mesma força com que fazes rolar os grandes?

– Sim. Com a mesma força.

– Então é pela Tua Força que todos os grãos de pó suspensos podem vogar em segurança?

– É. É pela Minha Força.

33 – A um sinal do Pai

21/5/99 – 2:41

Os meus Sinais pedem-me que volte ao Mistério da Unidade. Mas preciso de que uma dura casca se quebre, para saborear este fruto. Dir-se-ia que, mais que uma casca, Satanás lhe construiu à volta uma muralha, para que ninguém tenha acesso a ele. Não, o príncipe deste mundo não pode permitir que no seu reino se volte a comer o fruto da Unidade, que ele baniu para bem longe e aí aprisionou. Pois se o seu reino se funda na Divisão, como pode ele permitir o regresso da Unidade?

Mas eu vou com o meu Mestre até ao mais longínquo campo de morte deste reino de Trevas. E levanta-se neste momento uma fúria dentro de mim: quero andar aqui até pôr tudo à mostra! Sinto que o meu Companheiro me está guiando até ao antro de Satanás e eu só Lhe vou murmurando ao ouvido que apresse o passo: é aí que o Divisor tem aprisionada a Unidade. É preciso deixá-la jorrar de novo em direcção à sede dos corações. E assim vai ser feito! – diz-me esta fúria indomável dentro do peito. Porque Jesus já não aguenta mais aquela Lágrima gigantesca rolando muito lenta pela face do Pai e o Espírito – ah, o Espírito o que mais deseja é ver aquela Mão levantar-se para Lhe dar o Sinal: a Eficácia do Espírito paralisará de espanto o Céu e o Inferno! A própria Rainha que, sentada no Seu posto de comando, O transportará no Coração, ficará surpreendida com o avanço fulminante dos Seus Exércitos!

É inevitável: choro convulsivamente. A terra verá o que nunca viu. Este é o Dia do Espírito e Ele é toda a Força e toda a Delicadeza do Universo. Completamente irresistível! Fatal! Ah, aquela Mão que nunca mais se levanta! – diz Ele concentrado na expressão do Rosto do Pai. Olha então ao mesmo tempo o Filho e diz: sossega, Meu Amor, Eu vou fazer da longa Dor Tua e dos Teus irmãos o Firmamento da Nova Criação! E pairando a toda a volta da Esfera Azul, murmura: Meus pequeninos de todos os tempos, vou finalmente mostrar-vos o vosso Pai! Vou trazer-vos de volta a vossa Mãe!

E Satanás nem saberá onde se há-de meter. Mas a Rainha sabe muito bem o lugar que lhe está destinado por mil anos. E ele obedecerá à Rainha com a docilidade de uma pedra que se desprendeu do alto de uma torre e não pode já parar antes de embater com o solo.

Por esse tempo a Igreja estará nascendo. E ninguém entenderá como se possa falar de desunião neste Novo Ser.

São 5:08!

sexta-feira, 19 de março de 2010

32 − O Grande Hipócrita

11:39:46

O Dragão cercando o Profeta! − é esta a espectacular imagem numérica do fim da vigília. É esta a mais coerente das reacções do “pai da Mentira” ao que acabara de ficar escrito: se muitos leitores aqui chegarem e o não tiverem visto antes, naquele texto certamente acabarão por ver em Satanás o Grande Hipócrita de toda a nossa História. E nós sabemos a fama com que ficaram os fariseus, aqueles a quem, particularmente, Jesus chamou hipócritas. Alarmado com esta perspectiva, ele não pode senão cercar o Profeta que tal coisa dele revela, para que, se possível, não saia aqui do papel aquele texto.

Mas o texto até nem diz nada de novo. Jesus já o havia dito e não poderia ter sido mais claro: ao chamar a Satanás “pai da Mentira” outra coisa Ele não lhe chamou senão o primeiro e o maior hipócrita de toda a História. Uma hipocrisia que faz dele “assassino desde o princípio”. Portanto, um assassino impune, se até hoje não parou de assassinar. Tal tem sido a eficácia da hipocrisia com que ele tem governado este mundo!

É espantoso como nunca ninguém viu isto! É espantoso como a Serpente antiga se conseguiu camuflar e esconder tão bem até hoje! Ah, quando a Raiva de Deus se incendiar contra ela! Ah, quando o Espírito desencadear a Hora marcada em que a Mulher lhe esmagará a cabeça!

31 – O mandante do assassínio de Jesus

12/4/08 – 4:56

− E agora mesmo, Maria, 5:26! O mesmo Dragão apontando Jesus e depois a Sua Testemunha!

− O Dragão, outra vez! O Dragão! Queres falar dele?

− É um pedido dos Sinais; não posso senão profetizar acerca dele.

− E como o vês, agora?

− Como aquele que nunca largou Jesus e que se manifestou logo no início da Sua vida pública, no Deserto, tentando desviar do Seu Caminho o Messias.

− E onde mais o vês durante os três anos em que o Messias Se revelou?

− Nas perseguições que logo Jesus passou a sofrer. Na Sua própria terra natal, Nazaré! E com tal violência, que logo O quiseram matar! E durante todo o percurso público do Messias, bloqueando sempre os corações dos Seus ouvintes frente à Mensagem que anunciava, assanhando mesmo os corações de muitos contra Ele, a ponto de efectivamente O terem levado à morte.

− Parece, então, que mais pôde Satanás do que o Filho de Deus!

− É verdade! A sua vitória foi completa!

− Mas hoje toda a gente conhece Jesus e dele, Satanás, cada vez mais gente diz que nem sequer existe!

− Que importa conhecerem Jesus, se já ninguém O segue? Ele mesmo, pelo contrário, quanto mais se esconde, mais exclusiva e impunemente governa toda a terra!

− Mais uma vez, portanto, a vitória é de Satanás e é completa!?

− Impressionante! Ele conseguiu sufocar o ímpeto do Espírito não muito tempo depois daquele primeiro Pentecostes!

− Conseguiu então montar o mesmo bloqueio à volta dos corações!?

− Sem sombra de dúvida!

− Mas assanhar na mesma proporção os corações contra Jesus, isso parece não o ter ele conseguido!?

− Não tem sido necessário: o seu reinado tem sido de tal maneira absorvente, que vai conseguindo esterilizar com espantosa facilidade a Voz do Filho de Deus em todos os movimentos proféticos ao longo da História, inclusivamente o especialíssimo fenómeno profético actual!

− E como consegue ele tão espectaculares resultados?

− Através de uma refinadíssima Hipocrisia: uma vez conseguida a adesão dos chefes religiosos ao seu Projecto, ele mandou gravar e difundir a Palavra de Deus através de todos os meios de comunicação que inventou e que agora estão atingindo o apogeu da sua milagrosa eficácia. Deste modo banalizou totalmente a Voz de Deus e ao mesmo tempo tomou o ar de evangelizador universal, tecendo assim uma vistosa capa de respeitabilidade e até de santidade. Estava assim subvertida a Verdade e canonizada a Mentira.

− Vai ser então agora muito difícil fazê-lo chegar ao ponto de ter que arreganhar os dentes e de assanhar os corações dos seus seguidores!?

− Parece, de facto, uma tarefa impossível desmascarar tão densa e refinada Hipocrisia. Mas vê como me pula o coração: basta que, a um aceno do Pai, o Espírito desencadeie a Hora!

São 6:46!!!

30 − O “Assassino desde o princípio”

                    − 11:44:33

Pouso nos Mistérios como a abelha pousa na flor, colho o néctar que posso naquele momento, colho mais néctar noutras flores e volto à primeira flor mais tarde e sempre mais néctar aí encontro.

Quantas vezes já poisei no Mistério da Culpa, que tanto sofrimento causou! E no entanto sempre a ele volto, certo de aí fazer uma nova descoberta. Nunca como esta noite vi com tamanha clareza o motivo por que não fomos já completamente esmagados pelo nosso Pecado! Tenho dito sempre que Quem assim tem evitado a nossa destruição é o próprio Deus, que segura com a Sua Mão omnipotente, sobre as nossas cabeças, o peso da Iniquidade acumulada pelo Pecado. E é esta a Verdade. Mas para além da Sua Misericórdia, que olha para nós e se enternece com a nossa cegueira e fragilidade, vi hoje que está actuando a Sua Justiça: a Culpa não é só nossa! Seria, portanto, injusto que suportássemos sozinhos um peso que alguém, mais culpado do que nós, colocou sobre as nossas costas. Mais ainda quando esse Culpado foi a origem da nossa Desgraça e continua sendo o gestor universal e impune desta verdadeira fábrica de sofrimento. Era, pois, urgente que ele fosse descoberto e escancarado diante dos nossos olhos em toda a Verdade da sua perversão e do seu ódio. Era necessário ter diante dos nossos olhos, em toda a sua nudez, o “pai da Mentira”, o “Assassino” que desde o princípio se vem alimentando com a nossa Dor.

29 – O Culpado Original

11/4/08 – 8:16


− Como vês, Maria, não estou conseguindo concentrar-me no nosso diálogo…

− Por algum motivo em particular?

− Poderia ir à procura e talvez encontrasse vários motivos. Mas nenhum deles explicaria certamente a situação… Vês a dificuldade que estou tendo para encontrar a expressão adequada…? É um clima confuso…um novelo de que não consigo sair…

− Isso não te aponta uma possibilidade de explicação?

− Sim, estou desde o início pensando numa intervenção de Satanás. Mas não queria culpá-lo sem motivo…

− E achas que ele pode ter algum motivo para actuar sobre ti, neste momento?

− Sim, vejo um motivo muito forte: o facto de eu ontem o ter apontado claramente como o Culpado Original.

− E isso representa para ele uma ofensa especialmente grave?

− Imagino que sim… Ele parece ter posto todo o seu empenho em que nunca se chegasse a descobrir e a revelar esta Verdade.

− E tu não duvidas de que transmitiste a Verdade ao fazeres aquela afirmação?

− Estranhamente, foi dos momentos em que com maior segurança escrevi o que ficou escrito.

− Então deve ter sido terrível para Lúcifer, esse momento!?

− Sim, deve ter sido terrível para ele ver-se desmascarado justamente naquilo que ele com mais empenho tentou esconder.

− Mas não sabe já toda a gente que ele é o Rebelde original?

− Sim, mas quem fala da sua culpa quando contempla a Desgraça que assola o mundo? A Doutrina sempre nos falou só da nossa culpa.

− E não tem razão a Doutrina? Que interesse pode ter para nós a culpa dos outros? Não pertence exclusivamente a Deus julgar Satanás?

− Parece muito certo o que dizes. Mas Satanás não é alguém que nada tenha a ver connosco: ele é o nosso rei!

− É?

− Ninguém o diria, de facto! Vês como é chocante ouvir alguém dizer que todo o mundo é governado por um rei e que esse rei é o Diabo em pessoa?

− E é?

− Um rei usurpador, é certo. Mas é ele que governa, de facto, este mundo.

− Um mundo todo construído por nós!

− É verdade! Toda a terra é habitada por um povo de escravos cegamente servindo este rei! Jesus foi muito claro: ele é “o príncipe deste mundo”.

− Não estás assim a desculpabilizar-nos a nós, perigosamente?

− Não; o perigo está todo em não conhecermos a Verdade total. Perigosas são as Trevas.

− Achas então necessário e justo conhecermos o rei que nos governa!?

− Absolutamente necessário. Inteiramente justo. Não foi ele a Falsidade em pessoa quando Te abordou no Paraíso, ainda tu eras Eva?

− Mas a nossa culpa, Salomão! Achas que Deus nos deixaria sofrer o que sofremos, se não fosse bem pesada a nossa culpa?

− Já teríamos sido destruídos pela Dor, se a culpa fosse inteiramente nossa! Mas é tempo de vermos o Culpado Original!

São 10:26!?

28 − O tenebroso Projecto e o seu autor

                     − 12:08:21

Os amigos de Deus seguem, obviamente, o Seu Caminho, uma vez que o viram como o único que nos salva desta estranha Cegueira em que juntos avançamos para a Catástrofe.

Só uma estranha Cegueira universal poderá, de facto, explicar esta insistência histórica num Projecto que não só nunca eliminou das nossas vidas a Dor, mas sempre a tem multiplicado sem descanso nem alívio. Sabemos como os chamados benefícios da Civilização, esses mesmos, se nos dão por momentos a ilusão de algum alívio na Dor, logo subtilmente criam novos focos de doenças que não tardam em manifestar-se, ou potencializam e multiplicam as hipóteses de acidentes e desgraças súbitas, não falando já nas sofisticadas armas de destruição instantânea, indiscriminada e maciça! A par destes males bem patentes, é preciso não esquecer os tão acarinhados e propagandeados “valores do espírito”, sejam sociais, culturais, científicos, morais ou religiosos, com que a Civilização mascarou de dignidade e respeitabilidade a perversão intrínseca do seu tenebroso Projecto, e que são os responsáveis por esta indecifrável sensação de insegurança geral, de angústia galopante, de verdadeiro beco sem saída. Ora o Pecado Original responsável por esta absurda situação surgiu no coração não do Homem, mas de Lúcifer! Nunca será demais recordar esta Verdade, com luminosa clareza expressa no primeiro livro da Bíblia: o Homem não é o autor do Projecto sacrílego e louco de enfrentar e destronar Deus: ele apenas foi aliciado e acabou por assumir a ambição de Lúcifer. É culpado, obviamente, de todo o seu Sofrimento. Mas o príncipe deste Mundo da Desgraça não é ele; é Lúcifer!

quarta-feira, 17 de março de 2010

27 – O Pecado Original não é o de Eva

10/4/08 – 6:26


– Maria, traz-me do Céu uma sensibilidade muito apurada, para que o Demónio nunca se me esconda.

– E parece-te que ele se aproxima sem ser visto?

– Passo às vezes por momentos e situações típicas da sua forma de agir, sem me lembrar de que é ele o seu autor.

– E reagirias de forma diferente se tivesses a percepção da sua presença malfeitora?

– Julgo que viveria em maior Segurança e Paz se sempre o identificasse: não sabermos o que se passa, não identificarmos a causa das coisas, não podermos atribuir a ninguém a responsabilidade daquilo que nos acontece, lança-nos sempre numa maior desorientação e angústia.

– É isso que está acontecendo contigo neste momento?

– Nebulosamente embora, traz-me preocupado nos últimos tempos a sensação de que estou arrumando o Céu num qualquer canto da minha vida, passando as horas enredado na lida diária sem me lembrar de Vós, sem sentir a Vossa afeição.

– E, assim arrumado, como é que fica o Céu? Sem força, vazio?

– Sim, a minha sensação é novamente a de que estou sobrecarregando esta escrita com coisas sem interesse, de que me estou repetindo, de que ninguém chegará ao fim de uma leitura tão maçuda e tão longa…

– E é isso que tu achas típico de uma intervenção satânica?

– Só pode ser: se Deus me escolheu como Profeta conhecendo as minhas deficiências e a minha maneira de escrever – se, portanto, até na forma esta escrita é o que é por expressa vontade e Escolha de Deus, tudo quanto tente desvalorizar e lançar suspeitas sobre estes Diálogos só pode vir do Arqui-inimigo de Deus.

– Continuas então considerando o antigo Mensageiro da Luz, o grande anjo Lúcifer como o primeiro e o maior Inimigo de Deus!?

– Assim fui levado a ver, ao longo desta caminhada no Deserto: o Pecado teve nele a sua origem e é o seu Projecto que está sendo executado sobre a Criação, mesmo por aqueles que já abriram os olhos, por não terem alternativa num mundo em que ele é rei incontestado.

– E não estás assim desculpabilizando-nos a nós homens?

– Eu sempre insisti na nossa culpa: nós tínhamos a liberdade e o poder de descobrir e rejeitar a manhosa insinuação da Serpente. Nós deixámo-nos claramente levar pela ambição. Mas o Pecado Original não é o nosso. Por isso sempre pudemos inverter esta desgraçada marcha para a Morte; se até hoje o não fizemos, foi porque a ambição e o orgulho se mantiveram no nosso coração.

– Mas tu já viste a Mentira em que embarcámos. Porque te deixa Deus sujeito assim às tropelias de Satanás?

– Porque continuo a viver neste mundo que é dele, servindo-me dos benefícios da sua Civilização. E porque também aqui e assim viveu o próprio Deus. E eu agora sou um amigo de Deus.

São 8:36!?

26 − Satanás sobe à montanha

24/5/99          − 8:44:29
Satanás está subindo agora à mais alta montanha deste mundo. De vez em quando pára e olha a toda a volta: o horizonte que avista é invariavelmente seu.

Tudo tem a marca do homem conforme o príncipe deste mundo o concebeu: dividido dentro de si e dividindo a terra com divisórias cada vez mais geométricas e mais sólidas. Sistematicamente, todas as veias e artérias do corpo da Terra foram cortadas e agora cada uma das parcelas, depois da tentativa frustrada de se bastar a si mesma, criou, ela própria, canais de comunicação feitos da mesma matéria do seu corpo sintético, sem veias já, nem artérias. Não é, portanto, já sangue vivo o que estes canais transportam, mas também uma linfa sintética que mais e mais esteriliza e endurece os vários órgãos.

Satanás faz um sorriso duro, de ódio satisfeito, e avança mais uns passos em direcção ao cume. Observa de novo: tudo quanto avista é seu ainda. O último século foi o seu verdadeiro século de ouro! A Cidade estendeu-se aos mais longínquos povos, às mais perdidas ilhas. Mercê justamente dos canais de comunicação lançados em todas as direcções neste século, as últimas regiões do Reino que usurpou foram atingidas com a linfa venenosa. Dentro em breve, se possível este século ainda, toda a terra docilmente o servirá, porque as últimas palpitações de Fé no antigo Rei terão de todo parado.

Mas lembrado de repente do seu original brilho de Lúcifer, Satanás treme de raiva todas as vezes que à sua monstruosa consciência ocorre o pensamento de que Deus prometeu voltar. É que, se da primeira vez O matou e conseguiu posteriormente esterilizar o alvoroço provocado pela Sua Ressurreição, desta vez tem as entranhas roídas de um medo cruel: se a Cruz do Calvário surgir agora multiplicada em todas as cruzes que ele levantou ao longo destes dois mil anos e se todos estes corpos assim torturados ressuscitarem ao mesmo tempo, como poderá ele travar a Avalanche de Vida que surgirá de todos os sepulcros em que enterrou as suas vítimas?

Satanás pára ali e não se atreve a subir ao topo da montanha: tem medo de ver, por trás daquele horizonte além, surgir a toda a volta da esfera terrestre aquela multidão de ressuscitados como o Exército Celeste comandado pelo seu irredutível inimigo, o Superanjo Miguel…

Não!! Satanás acaba de soltar um urro medonho. Recordou-se de repente do Olhar irado de Yahveh, logo depois do Pecado, no Paraíso, apontando a Mulher: Ela te esmagará a cabeça − dissera Ele − e por mais que tentes rodar no pó a cabeça para Lhe morderes no calcanhar, não o conseguirás!

Se Miguel vier desta vez às ordens desta Mulher, Satanás sabe-se perdido!

segunda-feira, 15 de março de 2010

25 – Rótulos

                    – 10:16:38

Escrevo em estado de decomposição – assim me vejo, nesta fase. Mas misteriosamente amo este próprio estado a que progressivamente me venho reduzindo e de que não vejo o termo. E creio saber porque me acontece esta afeição absurda: é que Deus vai aqui comigo! E de tal maneira Se identifica com este processo de morte que, ao permanecer eu no amor a Jesus, vim dar a esta inexplicável afeição à própria Morte!

Mas eu declaro muitas vezes que sofro muito neste Caminho, que tenho receio de não aguentar, de desistir. Como é então? Amo o próprio sofrimento? Sou masoquista? Não sei. Eu não ligo nada a rótulos, a não ser por lhes ter uma profunda aversão. Os rótulos são uma das salientes características da Civilização. Os rótulos, como as casas, são uma espécie de caixotes onde ela, por comodidade derivada da sua impotência, mete as pessoas, catalogando-as como conjuntos de peças em armazém. É mais um dos processos que Satanás inventou para uniformizar, dividir, e assim mutilar as pessoas, quantas vezes até à esterilização plena.

Não há rótulos, para Deus. Não há esquizofrénicos, nem esquizofrenia. Não há masoquistas, nem masoquismo. Como não há ateus, nem ateísmo. Como não há cristãos, nem cristianismo. Há pessoas. Cada uma tão diferente e tão única que, quando a contempla, não vê mais ninguém. Se a vê doente, é sempre uma doença única, que não conhece de mais lado nenhum, que não vê em mais ninguém. Nunca lhe diz Estás esquizofrénico! És um masoquista! És um ateu! És um cristão! Só lhe pergunta: Sentes-te doente? Queres curar-te? Se o paciente responde que sim, que quer ser curado, Deus como que lhe põe diante um espelho para ele se ver a si próprio apenas e põe-Se a curá-lo de modo que ele possa acompanhar par e passo a sua própria cura. Há-de reconhecer então que mais ninguém tem uma doença igual à sua, porque vê Deus seguir processos tão estranhos, tão únicos, que verificará ser também para Deus o seu caso um caso único, diferente de todos os outros que possam existir sobre a terra. E isto há-de enchê-lo de uma inexplicável, invencível ternura por um Médico assim!

Por isso também eu não sei se sou masoquista, nem me está isso a interessar patavina. Interessa-me exclusivamente agora contemplar, com toda a atenção que posso, o trabalho que Deus está realizando em mim, para me curar completamente. E tão querido Ele é a trabalhar, tão delicado, tão terno, que eu deixo-o fazer tudo o que Ele achar bem. Por exemplo levar-me agora pelo túnel da morte.

24 – Dar a vida por si mesmo

1/4/99 – 3:08

– Mãezinha, já que eu não consigo sair daqui, vem Tu aqui onde eu estou.

– Diz onde estás, filhinho.

– Num lugar onde já nem sequer há fome nem sede.

– É então um lugar de morte!?

– O lugar parece de pura morte, mas eu não estou completamente morto, porque tenho consciência dele. Eu vivo-o! Eu vivo este estado de morte!

– E como é viver a morte?

– É ter uma fome insaciável e uma sede ardente e não ter sequer energia para sentir o que se tem. É sentir desinteresse por aquilo que nos interessa acima de tudo. É sentir-se imortal e ver-se moribundo.

– É a primeira vez que vives um estado assim?

– É. A desolação e a secura são permanentes desde que vim para o Deserto, entrecortadas apenas pela sensação da Presença do Teu Filho formando em mim um coração novo. Mas agora pareço estar a viver aquele momento em que o grão, sabendo já da espiga que vai dar, vive precisamente o caminho inverso desse milagre: o definhar, o murchar, o morrer.

– É isso o que toda a mãe sente numa gravidez, Meu filhinho.

– Ai eu acho que isto é pior, Mãe! Há-de ser pior!

– Sim? Porquê?

– Porque a mãe sente-se murchar e como que desfazer-se para dar a vida ao seu bebé, mas sabe que depois do parto volta ao normal, recuperando as energias todas; o que eu sinto é que vou desaparecer mesmo! É como se a uma mãe o bebé lhe estivesse consumindo as energias todas, até que, ao nascer, a deixasse morta.

– Está bem, filhinho. Mas olha: essa gravidez que te está levando à morte é uma gravidez desejada?

– Muito! Desde que ela aconteceu, vivo totalmente condicionado pelo ser novo que está crescendo em mim, a ponto de a maior felicidade da minha vida presente consistir justamente em dá-la toda, até à morte, ao bebé que vai nascer.

– Mas assim não vives para veres o bebé diante dos teus olhos…

– Viverei e verei muito mais do que isso: o bebé sou eu outra vez! Mas agora sou definitivo, imortal!

– Diz-Me só outra coisa, Meu pequerrucho: tu deste a tua vida por ti mesmo e por mais ninguém, não foi?

– Foi. Só por mim mesmo importa dar a vida. Mas se eu assim renascer, serei todo Luz para os outros, pelo caminho que segui, pelo amor que, agora sim, posso esbanjar por todos os corações. À imagem de Deus.

São 5:35!

23 – O poder sedutor da Impotência

                   – 19:14:01

Não sou capaz de nada, a esta hora do dia. Mas de escrever, sinto-me capaz!

É uma sensação nova esta. Que a fragilidade atrai Jesus de forma especial já Ele no-lo havia dito de várias maneiras. E já a mim me deu a sentir, várias vezes, a Sua Ternura perante a minha pequenez e incapacidade. Mas agora é outra ainda a zona do Mistério da Ternura que o meu Amigo me está mostrando: ao sentir-me impelido a escrever justamente quando de modo nenhum posso confiar nas minhas forças, Jesus leva-me a participar na Sua paixão pela Fragilidade! Embora certamente só um pouquinho, conheço agora a natureza do poder sedutor da Impotência. Mas esse pouquinho enche inteiramente o meu pequenino coração. É pura surpresa.

– Queres vir Tu agora, Mãezinha, celebrar comigo esta nova Luz nascida da minha fragilidade?

– Achas importante tentar mostrar essa Luz a todos os teus irmãos?

– Então não acho? Quanto mais não seja para não entenderem mal o nosso Jesus quando Ele declara aos Seus Profetas que a nulidade deles O atrai.

– Como entendem as pessoas aquela afirmação do Meu Filho e teu Mestre?

– Entendem-na certamente como uma humilhação do Profeta por parte de Jesus que aparece aos seus olhos como um Senhor distante, talvez até prepotente.

– Também te apareceu a ti assim?

– Parecia-me assim, às vezes. Mas nunca admiti aquela atitude, da parte de Jesus: eu sabia que não era para entender assim!

– Diz então como a entendes agora.

– Como Amor puro. Como uma Ternura tal, que a não consigo exprimir de modo nenhum.

– Vamos ver então se ao menos apontamos aquilo que não podemos descrever: quando alguém se sente seduzido, sente-se superior àquilo ou àquele que o seduz?

– Não: se é seduzido, é porque é arrastado. Parece exactamente o contrário: quem seduz é que tem a força.

– A incapacidade, a fragilidade, a impotência, a nulidade podem ser mais fortes que o nosso Jesus?

– Podem.

– Podem???

– Podem: Ele veio para o meio de nós à procura da nossa extrema pequenez; quando a encontra, pura, é como se encontrasse, enfim, a Sua Noiva!

– Vinda de onde? Como ias tu dizer?

– Vinda do Deserto: Ele tinha metido os pés ao caminho, em direcção ao âmago do Deserto e enfrentara até a morte para a encontrar. Agora, quando a encontra em alguém, assim pura, fica louco de alegria!

22 – Ouvir Deus no lixo

                    – 9:47:20
O que Jesus me disse esta noite parece ter características de pura dedução racional. Se assim fosse, Ele estaria dirigindo-se à razão e estaria falando comigo e com todos quantos lessem estas palavras pela via racional! Seria esta, portanto, uma das formas que Ele elegeria para contactar connosco.

E só agora de repente dou conta deste facto: eu, que me tenho referido ao Racionalismo como a grande peste do nosso tempo, estaria transmitindo a Voz de Deus e recebendo o Seu Ensinamento justamente através da via racional!

– Vem antes conversar comigo em diálogo, Mestre, que julgo assim poderes explicar-nos melhor estas coisas…

– Diz-Me: eras só razão, na vigília?

– Eu avançava penosamente, à procura das palavras mais adequadas, mas havia em mim o entusiasmo próprio de uma descoberta progressiva.

– Qual era essa descoberta?

– Tu não podes falar com aqueles a quem não deste a visão ou a audição interiores de forma menos nítida do que com todos os outros que sinceramente Te procuram.

– Porquê?

– Porque Tu nos amas a todos por igual.

– Então pode a via racional ser uma das vias que Eu escolho para falar de forma nítida com determinada pessoa!?

– Pois pode, Mestre!

– Como? O Racionalismo não é uma peste?

– Eu tenho escrito que é. Tão grande, que levou a Tua própria Igreja à Apostasia generalizada. Por isso está hoje implantada na terra a “abominação da desolação” de que fala o profeta Daniel.

– E duvidas agora do que escreveste?

– Não: mais límpida se está tornando em mim agora esta Verdade.

– Eu usei então hoje contigo a via dos Meus inimigos?

– Acho que sim, Mestre!

– Como? Por uma via pestilenta pretendo Eu chegar aos corações das pessoas?

– É verdade, Mestre! Se alguém está enterrado na podridão, só passando pela podridão conseguirás chegar até ele.

– Eu não estou dentro do seu coração?

– Pois, Mestre, mas se o seu coração está já, ele próprio, atingido de doença pestilenta…

– Uso a podridão para eliminar a podridão?

– Não sei se entendo a Tua Loucura, mas acho que sim: o Teu cuidado com a nossa Liberdade é tão grande que, se alguém livremente se reduzir à podridão, para não o violentares serves-Te do próprio lixo em que ele se meteu para lhe possibilitares ser ele mesmo a sair dali e assim não se sentir inferiorizado ou humilhado.

– Falei com ele claramente?

– Mais nitidamente não poderia ser: falaste a própria linguagem a que ele se reduziu!

21 – Tem que haver um outro ouvido

19/3/99 – 4:35


Desde ontem ao deitar que os meus Sinais me pedem que proclame a Presença de Deus.

É este um Mistério que desde o início da minha conversão fortemente me seduziu: Deus está presente e muito vivo na minha vida. Não uma presença distante ou opressiva, de senhor frente ao seu escravo, mas uma Presença de companheiro e amigo. Ele nunca intimida ou humilha. Sobretudo nunca empurra ou força. Não constrange. Não mete medo nunca. E é nesta proximidade que se nos revela a verdadeira natureza de Deus: Ele é Amor. E é por sua vez a partir daqui que chegamos à experiência daquilo que sempre nos ensinaram serem os atributos distintivos de Deus: a Omnipotência, a Omnisciência, a Eternidade… Até estes atributos, portanto, que nos faziam de Deus um Ser distante e impassível, se tornam, sem perderem nada da sua força, apenas facetas do Amor.

Mas se assim presente e vivo está Deus na nossa vida, não faz sentido que não possamos contactar com Ele de uma forma igualmente real e viva; doutra sorte continuaria Ele bem distante, o único activo e nós inteiramente passivos, o único a amar e nós só a sermos amados, sem nenhuma possibilidade, portanto, de O surpreendermos, retribuindo-Lhe activamente o Seu Amor. Nenhum companheirismo ou verdadeira amizade poderia haver numa relação em que nós só recebêssemos e nada pudéssemos dar.

É, pois, natural que se possa contactar com Deus como um Companheiro e Amigo. Que se possa ouvi-Lo, vê-Lo, tocá-Lo, falar com Ele. E é obviamente necessário ao amor que também nós sintamos que Ele nos ouve, nos vê, nos toca, nos responde. Não é concebível o companheirismo e a amizade a não ser numa relação assim.

Mas é sabido como só a alguns, muito raros, Deus Se tem deixado ouvir e ver de forma clara e distinta, de modo a poderem transcrever palavras ditadas por Ele, mesmo que as não entendam, de forma a poderem descrever mesmo os traços do Seu Rosto ou o corte e a cor das Suas vestes. Não vêem, é claro, com os olhos da cara, não ouvem com ouvidos físicos. Mas vêem e ouvem distintamente, como nós todos ouvimos e vemos distintamente em sonhos.

Mas não é esta a via normal de contracto entre Deus e nós. Tem, no entanto, de haver outra, sob pena de termos que admitir que Deus discrimina os Seus filhos no Seu Amor e isso sabemos que não pode ser: Deus ama-nos a todos com a mesma loucura. Foi esta outra via que Deus escolheu para mim até hoje. E não posso duvidar: eu tenho visto e ouvido e tocado Deus com toda a nitidez e precisão!

São 6:57!

domingo, 14 de março de 2010

20 – Esqueci-me da Quaresma

                   – 9:55:15

Só perante o reconhecimento que é verdadeiro jejum todo o peso que estou suportando é que me lembrei de que estamos na Quaresma.

Acaba o meu Companheiro de me levar ao meu querido profeta Vassula, a duas frases em que Ele pede a mesma coisa: que se unifique a data da Páscoa. Ele quer, portanto, que toda a Sua Igreja celebre a Páscoa ao mesmo tempo. Mas numa delas há um misterioso aviso: “Quando vós um dia o quiserdes, será já demasiado tarde” (27/11/96). Será que, assim como a Quaresma é para mim uma surpresa, também na celebração da Páscoa Ele vai querer Tudo Novo?

19 – Jesus não nos veio remendar

18/3/99 – 5:27

Mais uma vez e de forma mais intensa agora, tudo me puxa para desistir. Pelo menos que suspenda a escrita, que já nada de novo pode dizer. E se não acabo com as vigílias, em breve lhe vou sentir os efeitos perniciosos na saúde.

Mas qualquer jejum fragiliza o corpo. E toda a nossa estrutura invisível, desde o pensamento às sensações, parece estar-se desconstruindo. Para o discípulo de Jesus, no entanto, há em tudo isto uma profunda coerência: o caminho que segue é o do grão de trigo que espera morrer para germinar e o Reino a que se dirige nada tem a ver com o deste mundo. Tudo, pois, tem necessariamente que ser posto em causa, de tal forma que todo o nosso ser, de vez em quando, se alarma com as proporções que a mudança parece tomar. Jesus não nos veio remendar; Ele quer mesmo Tudo Novo!

É preciso, portanto, que toda a construção velha caia. É preciso ouvir de novo Jesus. Ele é muito claro: não é possível entrar no Seu reino sem nascer de novo. Ora isto implica ter morrido antes e ninguém quer tirar esta conclusão tão clara das palavras que sabe de cor, ninguém quer ouvir Jesus. Pôr-se inteiramente em causa, desde o bem-estar do corpo até às convicções que formam toda a nossa segurança interior, é coisa que resistimos em fazer até que a nossa soberba dura.

É preciso, de facto, entregamo-nos ao Desconhecido para seguirmos Jesus. Todo o nosso cálculo terá que ser posto de lado e de coração ingénuo temos que passar a confiar inteiramente na Mão que nos guia. É natural que haja sustos. Mas a Mão é firme. E a Voz, essa, é de uma ternura insuperável quando, nos momentos de mais forte abalo, a ouvirmos dizer: Não tenhas medo!

São 7:41.

18 – O jejum é um tesouro só nosso

17/3/99 – 2:27

Quase Se me visualizou o meu Companheiro a abraçar-me prologadamente! Senti de forma muito intensa que Ele Se enterneceu e todo o Seu corpo tremia ao dar-me aquele abraço por eu me ter levantado a esta hora, tão perto ainda da hora a que me tinha deitado. Esta mesma ternura emocionada está expressa na imagem numérica que ostenta o meu nome.

Estão-me custando, de facto, muito estas vigílias, mas eu apego-me a elas como a um tesouro: vivo nelas a solidão de milénios do nosso Deus e mais do que em qualquer outra altura do dia sou conduzido aos mais fundos abismos da nossa Alma, onde tenho encontrado, por sua vez, todos os Mistérios da nossa existência e todo o Mistério de Deus.

Por isso me tento levantar sempre que acordo, seja a que horas for, e escrevo ajoelhado, dobrado sobre a cama, numa atitude não pensada, inteiramente intuitiva e para a qual, por isso, não encontro razões. Sinto só vagamente que se parece com a atitude de Jesus no Getsémani, dobrado sobre Si mesmo, numa Solidão extrema e numa prostração total perante a Vontade do Pai. Normalmente só dormito depois de encerrar a escrita, o que me reduz o sono profundo quase sempre a muito poucas horas.

São, também por este motivo, as vigílias, um dos enormes tesouros do meu doce Amigo do Deserto. São o jejum especial que Ele me deu a viver. E, como todos os jejuns, também este tem por finalidade prolongar no nosso corpo o Sacrifício do nosso Redentor, tornando-o assim vivo e perpétuo. O jejum é, deste modo, o meio mais eficaz para nos sentirmos unidos ao nosso Deus na Sua Incarnação. De facto, ao vir ter connosco a toda a situação em que seja possível encontramo-nos, também Ele renunciou, de forma brutal, a todo o Prazer e Glória do Céu. Nada fazemos, pois, de especial, quando tentamos acompanhá-Lo no Seu tão doloroso Caminho.

Tem, portanto, o jejum, esta característica muito própria: é expressão de um amor muito vivo ao nosso Irmão Deus. Daí que haja muitas formas de jejum, tantas quantas as pessoas, porque também cada pessoa é única na sua maneira de amar. Completamente excluído está, deste modo, qualquer tipo de jejum prescrito à maneira de lei, praticado em forma de rito, porque o rito colectiviza aquilo que é, neste caso, a mais confidencial expressão de amor. Por isso o jejum é um tesouro só nosso, que nos mantém vigilantes e unidos ao nosso Redentor num amor sempre vivo.

São 3:44!

sexta-feira, 12 de março de 2010

17 — Os malefícios da Civilização

                    —  9:11:03

As contínuas referências que faço à minha aridez interior são, aos olhos dos nossos homens de ciência, a mais clara prova de que me alimento espiritualmente de uma autêntica quimera: o meu Céu falha-me exactamente porque não existe — sentenciam eles. Dura, é claro, só enquanto a minha fértil imaginação está activa; quando ela se cansa, é obvio que todo este Céu inventado desaparece também — assim explicam eles. E tem tanta lógica esta sua explicação, que eu próprio, também por formação e profissão um intelectual, às vezes dou comigo arrastado neste fluxo racional que tudo explica porque nada vê.

Entretanto também às vezes tento dar explicações. Neste caso, por exemplo, digo que a minha aridez se deve ao facto de eu viver num autêntico Deserto, onde tudo foi devastado. Mas esta minha explicação nenhum intelectual a aceita, sobretudo se eu afirmar que a terra está assim devastada porque toda ela hoje está coberta pela Civilização. Aqui perco todo o interesse para eles, até como caso curioso: eles estão convencidos de que todos os problemas sobre a terra se devem ao facto de a Civilização não cobrir ainda vastas regiões do planeta, de se encontrar ainda muita gente privada dos benefícios da Civilização. É que foi justamente a Civilização que os criou e os alimenta; sem ela, eles não existiriam sequer.

Não encontramos hoje na terra nada que não tenha sido criado pela Civilização. Até o Céu foi por ela criado, conforme a nossa Mãe me levou a escrever hoje, na vigília. É também isto que Jesus quer dizer quando afirma, em muitos Profetas antigos e actuais, que o próprio Santuário de Deus está sendo devastado. A nossa Alma é, efectivamente, o Santuário de Deus levantado na terra. É aí que se encontra, junto de nós, o Céu. É, pois, para aí que se dirige todo o exército de Satanás: é preciso fazer do Céu uma instituição igual a todas as outras instituições, que são máquinas de triturar gente.

É bem verdade que o Céu é o território mais difícil de transformar em pura instituição: é aí que se aninham os sonhos mais puros e insistentes do coração humano e os sonhos sempre foram muito difíceis de controlar, até pelo gigantesco anjo das Trevas. Por isso tem ele feito tudo quanto pode para atafulhar o nosso coração de visões deslumbrantes levantadas diante dos olhos da cara. E são hoje estupendos os seus milagres. As frustrações que eles provocam também lhe servem: contribuem eficazmente para destruir os sonhos bons, provocando pesadelos. E segreda-nos, através dos nossos sábios, que os pesadelos se evitam aperfeiçoando as instituições. Também o Céu, obviamente.

16 — Está o Céu em vias de extinção?

20/7/00 — 5:58

— Mãezinha, protege-me. É tão frágil o fio da minha vida neste Deserto…

— E que querias que Eu te fizesse, Meu pequenino?

— Que não deixasses desaparecer de mim a sedução do Céu.

— Já não te seduz, o Céu?

— Agora Tu sabes que a minha vida depende toda do Céu: nenhuma força deste mundo me consegue já prender o coração. Mas também o Céu parece ficar todo vazio dentro de mim, às vezes. Vês que até o Teu Encanto parece estar agora desaparecendo?

— Não sou já Maria, a tua Amiga e Enamorada?

— Tu encantavas-me da mesma maneira sempre: como Mãe, como Rainha, como Guerreira, como Irmã, como Amiga, como Enamorada. Mas não vês que no meu coração só há lugar agora para a mágoa de me parecer tudo devastado, até o Céu?

— Não está o Céu, o próprio Céu, há muito tempo devastado nos corações das pessoas, Meu pequenino?

— É verdade: já nada esperam do Céu as pessoas.

— Diz mais uma vez o que fizeram do Céu.

— Fizeram dele uma imagem da terra. Transformaram-no numa instituição como as deste mundo, onde os homens têm tudo previsto e catalogado e o que não têm dominado esperam vir a dominá-lo em breve.

— Tem ainda o Céu algum encanto?

— Não. Nenhum. O Céu tornou-se uma instituição pesadona, incómoda, que os seus milhentos funcionários continuam a querer impor às pessoas como necessária.

— As pessoas já não consideram o Céu nem sequer necessário?

— Muitos já o dispensam completamente; outros consideram-no como uma componente da vida, tão necessária apenas como as instituições comerciais ou políticas.

— Está em vias de extinção, o Céu?

— Talvez não, porque muitos precisam dele ainda, para dar respeitabilidade e credibilidade aos caminhos que seguem.

— E querias tu, Meu pequenino, acabar o teu percurso entre os teus irmãos sem lhes teres assumido o desencanto da única coisa que os poderia seduzir e encantar?

— É que no meio desta devastação tenho medo de que também a Tua sedução enfraqueça e acabe por se extinguir. Os meus sentimentos parecem também todos secos, Mãe! Exactamente como a terra que atravesso.

— Observa com atenção os Sinais, Meu filhinho. Não está escrito que nos tempos do Fim Eu serei levada para longe, para que o Meu Filho possa regressar vitorioso?

— Então volta depressa, Mamã. Volta para cada um conforme o seu coração precisar. Mas vem ser o nosso invencível Encanto.

São 7:47!

15 — Ouvir Deus no meio do estrondo

                    — 8:50:03

Aqui na confeitaria há muito barulho neste momento: são as vozes das pessoas a tentar sobrepor-se ao rádio, em alto volume de som. E é neste ambiente que eu estou tentando sintonizar a Voz de Deus.

Mais uma vez na vigília o Mestre me disse que é no estrondo de Babilónia que Ele me quer, para que aí, onde todo o tempo só o barulho circundante nos suga a atenção, a Sua Voz desça e mesmo aí os ouvidos assim massacrados a possam ouvir. E é tão importante esta missão que o Mestre assim me entrega, que resiste a todos os meus pedidos para que me dê a locução interior, para que, enfim, de qualquer forma, me deixe ouvir, bem nítidas, pelo menos algumas palavras pronunciadas directamente pela sua própria Voz, com o seu timbre, de modo a que eu a possa identificar claramente.

Mas não: Ele nunca satisfez este meu pedido. E eu sei quanto Lhe custa resistir assim aos meus queixumes. É, portanto, vital para Ele esta minha inserção inteira no reboliço ensurdecedor da Cidade da Confusão que com tanto suor e sangue levantámos do chão. Ele quer-me igualzinho aos meus irmãos que aqui se arrastam como podem. E quis tomar como exemplo o espectáculo que estou preparando na escola. É um espectáculo complexo ao nível do cenário, dos adereços, dos figurinos, da iluminação, da encenação em geral. E porque são muitas as personagens, quase todas deuses gregos. Tenho, por isso, muita dificuldade em fazer ouvir a minha voz de encenador, ainda mais porque estamos na ponta final de um ano lectivo, sobrecarregado de exames: a prioridade absoluta dos jovens é, em especial nesta fase, divertirem-se o mais que podem, para descomprimir. E, porque se juntam todos, é nos ensaios, sempre chatos, que o fazem. Eu reajo sem nenhuma consideração especial: é urgente fazer as coisas e por isso denuncio-lhes na hora o mau comportamento, ajo com rudeza, agrido perante a avassaladora agressão que aquilo tudo representa para mim.

Ora, conforme o testemunho que aqui tantas vezes tenho dado, já nenhuma obra típica da Cidade me seduz, mesmo a expressão dramática, para que eu sinto uma especial propensão. No entanto, porque ainda daqui Jesus me não retirou, dedico-me àquela tortura com quantas forças me restam, até contribuindo decisivamente para que o tema da peça se centrasse no coração, apresentando-o como o único centro do ser humano. Mas os jovens, embora concordando, parece estarem-se nas tintas para a mensagem e por isso a expressividade tem de ser construída “a martelo”. Não sei que frutos dará este sofrimento. Sei que os dará. E sei que Jesus, agora, me quer aqui.

14 — Deus e as nossas mesquinhas preocupações

19/7/00 — 6:01

— Jesus, deixa-Te ouvir! É tão difícil isolar-Te das vozes da Cidade que me assediam todo o tempo…

— Já Me ouves, agora?

— Sim, à maneira costumada, acreditando neste diálogo que passei a ter Contigo. Mas eu continuo suspirando pela verdadeira locução interior…Não o consigo evitar… Tu hás-de entender: sabes como é difícil acreditar em que, no meio de tantas e tão discrepantes vozes, é a Tua genuína Voz que acaba por ficar escrita, se ela consta apenas do que cai no bocadinho de Silêncio que sempre acaba por se fazer dentro de mim.

— Diz quais são as vozes da Cidade que agora mais te enchem o espírito.

— São as vozes das minhas preocupações com o espectáculo que dentro de dois dias tenho que levar à cena com os meus alunos: são muitas e não me querem largar.

— E porque estavas evitando falar delas?

— Porque achava que ia sobrecarregar esta Profecia com mais um caso particular…

— Não é tudo o que escreves o relato de um caso particular?

— De facto, eu só escrevo as coisas que me tocam a mim particularmente, mesmo os grandes Tesouros do Mistério de Deus que nos tens revelado…

— E que característica adquirem as palavras que escreves relatando só assim o que tu próprio vives?

— Elas não são nunca palavras ocas, são sempre palavras vivas.

— Viveste ainda há pouco a preocupação de chegares ao nosso Silêncio?

— Isso vivi. E de forma dura: eu lutava por Te encontrar, como se tivesse que atravessar um grande emaranhado de arbustos e silvas numa passagem estreita.

— E custa-te acreditar em que, num caso destes, Eu estou pertinho de ti? Consegues imaginar-Me alheio — teu problema, se ele é justamente encontrar-Me?

— Não, dada a forma como sei que me amas, isso não seria, de facto, possível. Mas é justamente por isso que eu achava natural que a Tua Voz irrompesse, bem distinta, dentro de mim. Eu peço-To tantas vezes…

— E julgas que não te dou o que Me pedes?

— Eu sei que me satisfazes todos os meus desejos bons a um nível que eu não posso calcular  o nível da surpresa. Mas às vezes vou-me abaixo…

— Houve já algum problema teu que Eu tivesse desprezado?

— Isso nunca: tu queres sempre que eu Te fale dos meus problemas concretos.

— Qual é o teu problema concreto neste momento?

— É que me deitei muito tarde, tenho que me levantar às oito e queria descansar ainda um pouco…

— E achas que eu vivo esse teu problema?

— Vives, certamente.

— E não é ao cerne da Cidade que tanto desejas acompanhar-Me? Não é ao fundo da surdez de milénios que queres chegar Comigo?

São 7:37!

13 — Faltas ocultas

18/7/00 — 5:46

— Revela-me, Mestre, as minhas faltas ocultas.

— Lembras-te de alguma que te tenha já revelado?

— Todas as vezes que, inesperadamente, me levas a desmascarar o Demónio, também em mim estava ele escondido, sem que eu tivesse dado pela sua presença.

— E a simples presença do Demónio é uma falta tua?

— Pois é, Mestre: revela que eu tinha em mim um território que lhe pertencia.

— Mas se o não tinhas reconhecido, como podes disso ser culpado?

— Sou sempre culpado por toda a escuridão que em mim exista. Também pelo meu pecado os meus olhos ficaram diminuídos na sua visão, de modo a não distinguirem claramente o Bem do Mal. É que sempre também eu fui comendo do fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal, construindo assim, com todos os outros meus semelhantes, a Cidade, onde baralhamos, ao sabor da nossa conveniência, as noções de Bem e de Mal.

— Mas tu não te sentes já inteiramente curado por Mim?

— Desde que voltamos para Ti os olhos e o nosso coração se prendeu ao Teu, logo nesse instante o Teu Amor nos perdoa todas as faltas e com louca paixão nos vem buscar ao estado em que nos encontramos para fazermos o caminho de retorno à Casa do Pai. E é assim caminhando que lentamente vamos vendo toda a miséria a que nos havíamos reduzido.

— E, mesmo já perdoado, continuas a ter culpa dessa miséria?

— É evidente: se eu acumulei a miséria por minha culpa, todas as vezes que no caminho de retorno me encontro com ela, eu vejo a minha culpa nas suas consequências.

— Uma culpa de que já estás lavado?

— Sim, mas exclusivamente pelo Teu Amor; eu continuo, ao longo do caminho a Teu lado, a encontrar-me com ela para ir tomando consciência da estragação em que participei e da ferida que fiz no Teu Corpo.

— Mas desse modo o Meu Perdão não se torna opressivo, enquanto continuamente te põe diante dos olhos a tua miséria?

— Não: somos nós que, ao passarmos a ver com os Teus Olhos, queremos distinguir até à perfeição o Bem do Mal. As nossas faltas tornam-se então, elas próprias, Luz que, rasgando as nossas trevas, iluminam o Vale da Morte em que eu com todos os meus semelhantes vivemos.

— As tuas culpas já não te oprimem?

— Não: são uma energia nova que me impele com muita força para o Teu Coração e para o coração de todos os meus semelhantes. É o Dom do Discernimento que está sendo derramado pelo Espírito em mim.

São 7:21.

12 — Ouvir Deus de forma perfeita

9:48:03

Mais uma vez, contra aquilo que eu esperava e a nossa lógica suporia, Jesus voltou ao Seu Ensinamento sobre o ouvido da Fé. E fê-lo, mais uma vez, de forma chocante para as nossas categorias intelectuais: eu acabara de dizer que “não pode ser outra coisa senão Palavra de Deus ouvida de forma perfeita” aquilo que me “cai” no espírito num clima de muitas vezes tão dura espera pela Voz de Deus. E foi justamente um versículo bíblico que não existe na Bíblia que me caiu no espírito! Não importa que tenha sido antes ou depois de eu ter feito aquela afirmação: para Deus, como é sabido, tudo está presente ao mesmo tempo.

E é aqui que a nossa lógica não consegue chegar: como pode ser “Palavra de Deus ouvida de forma perfeita” uma palavra que me leva a um perfeito vazio, que parece, portanto, inteiramente oca, porventura até falsa, mentirosa? Que perfeição é esta, na forma de ouvir?

Manifestamente, a Palavra de Deus tem uma amplitude que reduz as nossas palavras humanas a simples garatujas, se são escritas, ou a um quase imperceptível piar, se são faladas. Se a Palavra de Deus, conforme diz o Salmo, “fende os rochedos”, que valem as nossas palavras perante tamanho poder?

E o que é a Perfeição, aos Olhos de Deus? Claramente, Ele considera perfeita em nós uma atitude que aos nossos olhos é a imagem da pura imperfeição a todos os níveis: ouvir um versículo que não existe é simplesmente não ouvir! Ora, para Deus, isto pode ser ouvir de forma perfeita!

Que amplitude tem, então, a Palavra de Deus? Também eu nada sei, mas sinto que posso agora responder assim: a Palavra de Deus é a própria Expressão do Amor; quando eu me ponho diante d’Ele numa espera louca pela Sua Voz, tudo aquilo que eu receber em resposta não pode ser outra coisa senão Expressão do próprio Amor — portanto autêntica Palavra de Deus. Seja o que for. Mesmo que contrarie a nossa mais elementar lógica.

E em que consiste, para Deus, a Perfeição? Sinto também agora que ela consiste na entrega de tudo quanto temos em cada momento ao Amor do nosso Deus, mesmo que só nos reste para oferecer o puro vazio. A Perfeição é amar!

11 — Ouvir Deus falar para além da Bíblia

17/7/00 — 2:35

“Hebreus cinco, dezanove”. Ouço assim. Não importa por que via eu recebi aquela citação; importa é que eu esteja orando.

E eu orava. Repetia mais uma vez a Jesus aquilo que Lhe digo todas as noites, no início da vigília: que me concentre na minha Alma, que lá espero encontrá-Lo, que gosto muito d’Ele, que nunca permita que eu Lhe fuja. A própria situação em que me encontro, se é sincera, é já oração. E é sincera: que sentido poderia ter eu levantar-me da cama a qualquer hora da noite, por frio e calor, ajoelhar e pôr-me de caneta suspensa sobre uma folha de papel toda disponível para receber palavras, fechado neste quarto, sem ninguém que me veja ou me ouça  que sentido poderia ter tudo isto, a não ser que um Amigo me tenha conquistado o coração, a ponto de o ter deixado louco? E não é uma loucura assim a mais pura oração?

Não admira, pois, que tudo quanto se passa comigo neste tempo inicial das vigílias, por vezes longo, em que nada mais acontece senão uma teimosa secura povoada de pensamentos esvoaçantes, inúteis, Deus o tenha aproveitado integralmente para revelar os mais inesperados Tesouros. Toda a palavra que me cai no espírito em resposta a esta tão louca forma de esperar, não pode, portanto, ser outra coisa senão Palavra de Deus ouvida de forma perfeita. Perfeito, de facto, é aquilo que eu faço para corresponder ao Amor de Deus com todas as capacidades que tenho em cada momento. Vou, pois, ao local que o meu seguro e fiel ouvido captou, na certeza de que lá encontrarei um precioso tesouro.

Está assim escrito em
Hb 5,19

— Porque me fizeste isto, Jesus? O capítulo 5 da Carta aos Hebreus só tem catorze versículos! Há tanto tempo que isto não me acontecia…Julguei que já me tivesses ensinado tudo o que pretendias ensinar por este processo tão estranho e que não voltarias mais a ele…

— Não acabaste de afirmar que o teu ouvido é seguro e fiel?

— Sim… Fizeste de propósito?

— Eu faço tudo de propósito, não sabes já disso? Nada acontece na Minha união contigo que não seja especialmente escolhido para ti.

— E que me queres dizer de especial hoje?

— Que o teu ouvido é seguro e fiel.

— Ouvindo desta maneira?

— Não lhe tens chamado o ouvido da Fé?

— Sim. E…?

— E não consiste a Fé em entregar o coração àquilo que a razão não vê?

— Vejo mais e melhor sendo assim conduzido a um versículo que não está escrito?

— Não é isso claro?

— De facto, ir além do que está escrito é ampliar a Tua Mensagem…

— Já leste o último versículo do capítulo cinco?

— Já. Diz que às crianças não se lhes pode dar comida sólida, porque ainda não a suportariam, mas aos adultos sim, porque já têm “os sentidos exercitados para distinguir o bem do mal”.

— Diz-Me: não te pareceu já um mal acrescentar à Bíblia fosse o que fosse?

— Sim, foi isso que me ensinaram em jovem.

— E lembras-te de que processo usei para mudar a visão dos teus olhos?

— Foi justamente este: levar-me a passagens da Bíblia que não existiam.

— Ouviste mal?

— Nesse caso ouvi bem: captei a Tua Vontade de que a Tua Voz fosse ampliada.

— E distingues agora, neste caso, o bem do mal?

— Sim, vejo agora que considerar a Bíblia um produto acabado, é amordaçar-Te e emudecer-Te e Tu és o Deus Vivo.

— Reconheces então agora a exactidão do ouvido da Fé?

São 4:54!

10 — O que é orar?

18:34:32

Pôr-me diante de um papel em branco, de caneta em punho, suspenso, à escuta do tumulto da minha Alma, é o meu modo mais frequente de orar. Se não escrever, mais facilmente me distraio…

Tudo o que desce ao papel é, pois, genuína oração, seja quando relato acontecimentos, seja quando dialogo, seja quando apenas contemplo, seja quando me queixo ou agradeço. Só orando posso anunciar Deus; só orando posso dar testemunho do Seu Mistério. Ficou a minha oração quase toda escrita, até hoje. Mas se agora mesmo Jesus me pedisse que suspendesse a escrita para passar a anunciá-Lo de viva voz pelas ruas do mundo, esta seria só uma maneira diferente de orar: falando às pessoas, eu deveria apenas tornar audível o Acontecimento que está ocorrendo dentro de mim, como agora o torno legível. Toda a pregação é vazia se o pregador, ao falar, não estiver orando. De facto, todo o anúncio só tem consistência se o anunciador puder testemunhar o que ele próprio vive. E que outra coisa é estar vivendo o Mistério de Deus senão estar orando?

É verdade que Jesus Se retirava muitas vezes da Sua pregação para um qualquer lugar solitário, para orar, segundo está escrito no Evangelho. Mas isso era só uma forma de descansar da oração profética na oração contemplativa. Quando Jesus Se retirava, era só para Se recolher no Seio do Pai, para, em confidência tranquila com Ele, passar de novo os olhos pelo testemunho público, muitas vezes turbulento, que antes acontecera, perante as multidões, como depois de uma batalha o general passa em revista, perante o seu rei, tudo o que por amor e fidelidade ao seu reino passara.

Anunciar é orar perante testemunhas. Testemunhar é orar em público. Foi certamente por causa da minha tartamudez que Jesus me chamou a escrever primeiro o que devo anunciar depois, de viva voz; assim Ele me poupará muitas palavras, mais tarde. Assim as pessoas poderão depois ler o que eu não vou conseguir dizer no tumulto da Batalha: bastará, nessa altura, que eu abra em silêncio estes Diálogos e aponte com o dedo, apenas, aquilo que me ficar retido na garganta, por causa da minha deficiência, ou da minha emoção. Assim, ajudadas, talvez, por um leve gesto, por uma frágil expressão, por uma muda atitude, as palavras escritas agora, na tranquilidade do Grande Silêncio, mais facilmente se tornem depois pão vivo, que todos os esfomeados possam comer com verdadeira felicidade. Mas tanto agora a escrita como depois o meu gesto mudo ou a minha palavra insegura serão a mesma oração. Se o não forem, eu estarei negando o meu Mestre, como Pedro. Nessa hora, porém, eu sei que o meu Mestre me virá levantar da infeliz queda, tornando-a feliz ao fazer dela uma oração regada de lágrimas.

9 — Direitos e deveres

             — 10:14:03


Se eu fizesse a Jesus a pergunta directa Devem os Teus discípulos deixar de trabalhar na Cidade?, a resposta seria certamente um olhar magoado, por eu me revelar naquela pergunta como mau discípulo. De facto, neste momento eu tenho já obrigação de conhecer suficientemente o Coração do meu Amigo para saber que no Seu Reino não há deveres. Quando eu pergunto se devo ou não devo fazer isto ou aquilo, estou a mover-me claramente num mundo de leis humanas, um mundo que está inteiramente excluído da Igreja de Jesus agora prestes a nascer.

Deveres implicam igualmente direitos e no Reino do Príncipe Jesus há apenas aqueles que amam. Quem ama não tem deveres nem direitos; tem na sua mais funda intimidade o Princípio da Vida, que a partir daí propulsiona por todo o ser a Seiva do Amor, fazendo desabrochar à superfície as vivas e variadas cores do Amor. Quem ama está sempre certo naquilo que faz. Nele só estão erradas as manchas com que o desfiguraram aqueles que não amam. Como na flor tudo está certo: o ter aquela forma, aquelas cores, aquele tempo de se abrir; erradas estão as pétalas amachucadas pela mão do homem. Se a flor falasse, não diria, com azedume, que tem o direito de conservar as pétalas intactas e que o homem tinha o dever de lhe não fazer aquela ferida; se a flor falasse, diria só que não entendeu porque lhe fizeram mal, se ela só se recorda de ter feito tudo certo.

Quem ama avança sempre indefeso para onde encontra espaço e sujeita-se a todos os imprevistos, justamente porque não conhece direitos nem deveres. Ele acha que apenas assim, sendo em cada momento aquilo que do seu interior jorra, está fazendo sempre e só o Bem. Ele sabe que nunca jorrará da sua Alma a vontade de ocupar o espaço que uma outra flor já ocupou; se não tiver espaço para abrir em nenhuma direcção para onde se volte, ficará feliz à mesma por ter feito tudo quanto com a sua energia interior conseguiu fazer. Será porventura encontrado reduzido a dois braços abraçando o caule de uma outra flor. E quem assim o encontrar há-de porventura ficar ali horas esquecidas contemplando o prodígio. Um prodígio de Amor, apenas, é claro, porque o Amor puro é Surpresa pura.

No mundo dos direitos e deveres não há surpresas, a não ser as amargas surpresas do Mal.

É preciso ouvir agora as palavras que há vinte séculos vimos repetindo: Jesus é o Cordeiro de Deus, O que tira o Pecado do mundo. Um cordeiro indefeso e inocente: não tem armas nem garras, avança ingenuamente para o meio dos lobos e fica mudo quando o ferem. É este Seu comportamento que tira o Pecado do mundo. Tirará também do mundo a consequência do Pecado: a Civilização. Como se fará isso, nem Ele sabe; apenas avança ingenuamente, sem medo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

8 — Descanso e preguiça

16/7/00 — 2:55


— Hoje, Mestre, o meu desejo é que me conduzas inteiramente à Tua Vontade: eu, como vês, não tenho nada dentro de mim que possa escolher.

— Que tens então dentro de ti?

— Uma paisagem sem cor. Uma espécie de preguiça, em que o corpo está mole e também os sentimentos estão todos indiferentes.

— Nenhum sentimento se realça?

— Apenas o desejo de que, por qualquer via, me tires daqui e me ponhas a caminhar, me dês movimento…

— E não querias ficar só assim, descansando?

— O estado em que me encontro não é de descanso; é de pura quebra de todas as energias.

— No descanso autêntico não há quebra de energias?

— Não: elas continuam fortes e vivas; apenas cessaram a sua acção para fora.

— Descansar é ter as energias voltadas para dentro?

— É. É um viver só para si, como quem contempla e se compraz no seu próprio ser.

— Quando dormes estás descansando?

— Sim, quando nada perturba o meu sono.

— E as tuas energias continuam actuantes, enquanto dormes?

— Continuam. Igualmente vivas e poderosas.

— Voltadas para si mesmas?

— Sim, recompondo e fortalecendo a harmonia entre si mesmas.

— Na preguiça não acontece esse renovamento interior?

— Não: na preguiça há um qualquer desmoronamento, uma lenta desagregação…

— No descanso continua havendo construção?

— Nitidamente. Uma construção harmoniosa.

— Por isso caracterizaste a tua situação inicial como paisagem sem cor?

— Sim: onde o brilho das cores murcha, ou mesmo toda a cor desaparece, é porque está acontecendo uma morte.

— A Preguiça é um estado de morte?

— É. É pelo menos o brilho das cores da vida que está desaparecendo.

— Foi por isso que Me pediste ajuda?

— Foi: se não Te tivesse a Ti, a minha vida entraria numa desagregação porventura lenta, mas irreparável.

— Tem outra vez cor, agora, a tua paisagem?

— Posso não notar ainda o avivar-se das cores, à superfície. Mas sinto já o tumulto da vida ondeando dentro de mim: mais tarde, inesperadamente, as cores vão avivar-se com toda a certeza.

— Isso quer dizer que estás verdadeiramente descansando, agora?

— Sim. Pode o corpo estar cansando-se, mas a harmonia está regressando.

— Diz outra vez então o que é a preguiça.

— É o princípio de uma desistência em viver.

— O contrário do preguiçoso é aquele que trabalha muito?

— É aquele que vive muito.

— Viver muito não é necessariamente trabalhar muito?

— Não. O activismo desenfreado da Cidade é mesmo sinal de desagregação, de morte.

— Onde está, então, o verdadeiro Descanso?

— Em ti, Fonte de toda a Vida.

São 4:37.