Se
Deus é Pai e nos ama, porque não acabou já com toda a nossa dor, já que é
omnipotente? É esta uma questão muito nossa, de todos os dias. Era também uma
questão minha e coloquei-a a Jesus, o Mestre. Eis a Sua resposta. Pertinente,
mas sempre aberta a novas perguntas, como sempre, é claro.
8/3/96 – 1:36
– Que está aqui a fazer o Demónio, Mestre?
– O mesmo de sempre: destruir a ligação
entre a criatura e o Criador e, uma vez destruída, impedir que ela se
restabeleça.
– E porque o deixas fazer isto?
– Pelo mesmo motivo por que o deixo, a ele e
a vós, fabricar a gigantesca chaga que cobre a terra.
– E não sabias Tu que isto ia acontecer?…
Desculpa, Jesus. Porque me deixaste escrever esta pergunta?
– Para ficar escrita a resposta: Eu vim para
responder a todas as perguntas do coração humano. Eu vim para religar a Deus
toda a criatura e lavar da terra toda a dor. Só não respondo às perguntas que
não vêm do coração.
– Responde então, Mestre, se for do Teu
agrado; é esta uma pergunta que a nossa dor eleva ao Céu tantas vezes! Se Tu
sabias da nossa Desgraça, porque a não evitaste?
– A vossa Desgraça dói infinitamente mais ao
vosso Deus do que a vós próprios.
– Porque a não evitaste, Senhor Omnisciente
e Bom?
– Porque vos quisemos à Nossa Imagem e
Semelhança! Nunca entendereis o tamanho do Amor do vosso Deus nesse Momento
Supremo da Criação.
– O meu coração não entende ainda:
precisamente porque nesse Momento Supremo nos amaste acima de toda a
explicação, não podias ter evitado a Dor?
– Não!!!
A sensação foi tremenda: pareceu-me estarem
presentes em Jesus as Três Pessoas da Trindade soltando aquele Não! como um
espantoso grito! Mas eu atrevo-me a insistir, porque sinto que o Mestre não Se
foi embora, sinto que Ele quer continuar esta aula.
– Porque não evitou Deus a Dor do Homem,
querido Mestre?
– Porque Deus é Amor.
– Por isso mesmo, Mestre: porque consentiu o
Amor neste mar de sofrimento que se vem sempre alargando desde que o Homem
pecou a primeira vez?
– Não entendes ainda? Não entendeis todos
vós, Meus filhos? Nós criámo-vos à Nossa Imagem.
– Justamente: Tu não pecas nem sofres.
Manda-me parar, Jesus: eu sinto que Te estou a fazer sofrer com estas
perguntas, com esta insistência…
– Acabas de afirmar que Eu sofro.
– Pois…
– Ouve bem: Deus não pode pecar, porque o
faria contra Si Mesmo. Mas criou Alguém tão a
Si semelhante, tão livre, tão independente, tão como Deus, que constituiu nesse Momento Supremo a Possibilidade de ser rejeitado pela portentosa Criatura que formara. Não entendestes ainda o ponto a que chegou o Amor do vosso Deus?
Si semelhante, tão livre, tão independente, tão como Deus, que constituiu nesse Momento Supremo a Possibilidade de ser rejeitado pela portentosa Criatura que formara. Não entendestes ainda o ponto a que chegou o Amor do vosso Deus?
– Não, certamente que não, meu Senhor!
Acabaste ainda agora de dizer que o Amor com que Deus nos ama suplanta toda a
capacidade de entender do coração humano.
– Bastaria a Deus que O amásseis com todas
as forças, com todo o entendimento do vosso coração em cada momento.
– Será sempre tão pequenino o nosso amor…
– Se Mo derdes todo, Eu elevo-o à dimensão
de Deus.
– Meu pobre Jesus, meu doce Mestre, como
deves estar cansado de ensinar entendimentos tão duros! Se eu Te pudesse
ajudar… Eu sei um pouco do que isso é: também eu, como professor, me canso de
repetir coisas que na semana seguinte já esqueceram de novo. Se esta
experiência Te servir… Não sei que mais possa fazer para que Tu descanses um
pouco da Tua Solidão. Olha, Mestre, eu vou onde Tu quiseres…. Não fiques aí assim
sentado com esse ar de desânimo no Teu Rosto humano. Eleva então o meu
pequenino amor à Tua dimensão e envia-me a anunciá-lo a toda a criatura.
– Jejuarias hoje, por Mim?
– Sentiste o choque, no meu coração, perante
esta Tua pergunta? Vês como me custa tanto desprender-me de mim? É claro que
jejuo, Mestre, se Tu mo pedes.
Jesus calou-Se, como se tivesse ido embora,
como se tivesse receio de que eu Lhe pedisse para reconsiderar o pedido que me
fez e Ele fosse tentado a ceder, por pena de mim. Que querido é o nosso Deus!
Sei já qual é o jejum que Ele quer: o que mais me custa – não tomar o
pequeno-almoço e não beber vinho à refeição.
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