No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

1298 — Companheiro


   Jesus foi desde muito cedo para mim o Herói, o Mestre, o Senhor. Mas, ao contrário da Teologia, que à partida diz que Ele é Deus, a mim, onde Ele mais claramente Se me revelou Deus foi na última fase da minha evolução, quando Ele Se me deu a conhecer como Amigo e Companheiro desta nossa vida vulgar, a que Ele chama Deserto.

2/9/96 10:31:17

   Na imagem dos segundos Jesus está-me dando a Sua luminosa Paz. E enternece-me a frequência com que ultimamente o meu Companheiro assim através deste código me vem dar alento para continuar. De facto, está-me custando muito caminhar assim nesta aridez e nesta escuridão onde às vezes nem sequer estrelas há para me orientar. Escolheu o Mestre para mim este caminho para, entre outras coisas – está-mo dizendo Ele agora – reconstruir em mim os contactos com o Invisível. É, na verdade, o Espírito que me deve comandar inteiramente, a partir de dentro. Nenhuma outra central de comando deve permanecer em mim. E um forte impulso me está dizendo – confirmado neste preciso momento com um suspiro! – que Jesus assim me está fazendo imagem e símbolo da Igreja renascida: nenhum poder institucional, visível, deverá tomar o lugar do Poder Interior, invisível, do Espírito, na Igreja de Deus sobre a terra.

   Por isso esta via tão estranha por onde o Senhor me conduz: nada vejo, nada ouço, nenhuma imagem, nenhuma palavra me é dirigida, nem sequer com a nitidez dos sonhos; e no entanto caminho sempre, apenas guiado por uma permanente tensão interior que, por não ver nem ouvir, se agarra com quanta capacidade tem, ao mais imperceptível Sinal de Presença de Deus! Por isso às vezes me canso. E nestas alturas duvido e uma vez ou outra dou comigo no chão, inteiramente prostrado e dorido, sem caminho nem consolo diante de mim. É nestas alturas que se aproxima então de mim este Amigo do Deserto, que eu aprendi a respeitar inteiramente e às cegas, porque nunca gostei de caminhos já andados, para trás nunca houve caminho para mim, e este Companheiro é, de facto, inexcedível no amor: respeita-me também inteiramente e às cegas! Sabendo, de facto, que eu não quero outra coisa senão segui-Lo, não me desvia nem me deixa parar na Sua Rota senão o tempo estritamente necessário, apesar da minha permanente tensão e do meu sofrimento; põe-me só a Mão no ombro, como se me dissesse: Eu sei o que estás sentindo... Não tenhas medo que vais aguentar. Eu amo-te muito.

   É incrível, a Mão d’Ele: parece conter em si a energia toda do Universo! E ao sentirmos esta Mão no nosso ombro, Ele faz delicadamente descer esta energia toda ao nosso coração em forma de Ternura. Então sentimo-nos capazes de amar as criaturas todas, da célula mais pequenina à maior das galáxias e sentimos este Amor como Poder que nenhuma força poderá vencer!

terça-feira, 29 de abril de 2014

1297 — Fidelidade


   Empolga-me a Fidelidade de Deus. Ele é seguro: o que diz, havemos sempre de o ver cumprido, no tempo oportuno. Jesus veio mostrar-nos isso mesmo: em tudo quanto disse e fez durante o Seu percurso histórico mostrou sempre uma segurança e uma coerência admiráveis. Por isso Ele foi sempre o meu Herói; quando me encontrei com Ele pessoalmente, despertou em mim uma verdadeira paixão. Sei agora que o Seu Caminho é seguro e que não há outro que valha a pena seguir.

2/9/96 4:05

   Ah, Mestre, se eu não soubesse da Tua Fidelidade, há muito Te teria abandonado! É tão difícil o Caminho por onde me meteste... Já Te disse que vou, vou sempre, até onde Tu fores, e por favor não me poupes: utiliza as minhas forças todas, até ao último alento. Tu sabes que és o meu Herói, um Herói tão estranho, tão herói, que ficámos só os dois! Ninguém mais veio connosco. Há-de haver gente muito Tua amiga, mais amiga do que eu, não é possível que mais ninguém se tenha deixado assim encantar com um Coração deste tamanho. Mas onde estão eles? Porque não nos juntas todos, os Teus apaixonados? Porque és tão ciumento? Tens medo de que cada um se distraia com os outros se nos juntares todos? É necessário este caminho de solidão para cada um de nós, porque cada um é especial para Ti? Mas há-de haver um Dia em que nos juntas, não há-de? Meu Herói, meu Herói, quando é esse Dia? Não, não alteres o Teu Plano a meu respeito por causa dos meus pedidos: se desejas ser o meu exclusivo Guia e Companheiro até à hora do Grande Encontro, é com mais amor ainda que eu permanecerei nesta solidão Contigo. Não deixes então que eu retarde o Teu passo, emaranhado em qualquer complicação deste mundo. Eu sei que voltaremos a ele, a este mundo, a todas as complicações, a todos os enredos, mas para os desfazer com Fogo, com Luz, com Vento Cidónico, com Água, com Ternura. Sei que Tu cumprirás todas as Promessas que me tens feito, todas as Profecias que me fizeste aqui registar. Mas olha: eu queria que este meu saber fosse feito de fogo que me ardesse no coração. Aumenta a minha Fé, Companheiro! Aviva a minha Esperança! De vez em quando, pelo menos, deixa-me entrever o Amor que há-de vir: basta que O vislumbre para O sentir em toda a capacidade do meu ser trôpego – isso eu já sei, porque me deste a provar uma vez ou outra... Olha: não me queres responder nada? Estás aí tão calado...

   Queria que não esquecesses a tua Mãe. Olha-A aqui!

   Eu queria vê-La melhor, Jesus. Não podes fazer que eu saia a Ela na pureza de Coração?

   Gostava também que te lembrasses mais vezes do teu Anjo, Simão, e falasses com ele.

   Então abre-me mais o Mistério da Comunicação dos Santos: tem-nos sido tão silenciado...

   Vamos? Olha o teu Pai observando-nos. Sente o Meu Espírito agindo em ti.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

1296 — Quando chegar a Hora


   Todas as tentativas que fiz para divulgar a longa Profecia que escrevo resultaram até hoje infrutíferas. E fará no próximo mês de Setembro vinte anos que a iniciei! Eu não entendia, no início, este comportamento do verdadeiro Autor desta Escrita, ficava magoado e confundido; com o tempo, fui entendendo: esta tão vasta e abrangente Mensagem de Deus para o nosso tempo só será lida de forma generalizada e ansiosa, como terá necessariamente de acontecer com a Palavra Viva de Deus, quando chegar a Hora, que só Ele determina, mas que eu sinto agora estar para muito breve.

1/9/96 2:21

   Setembro enche-me de expectativa. Foi há dois anos neste mês que comecei a registar as Maravilhas do Senhor em mim. Não podia nessa altura imaginar a montanha de folhas que iria escrever. Entendi quase logo desde o princípio que o que escrevia era “para dar” e entendi que deveria proceder à divulgação imediata dos Diálogos iniciais. Mas as primeiras tentativas resultaram numa dolorosa decepção. No entanto eu agi sempre na Fé de que estava cumprindo a Vontade do Senhor. Como se compreende então este fracasso? Agora, à distância, vejo que tudo quanto o meu Guia fez, o fez bem feito! Eu não sabia, nem sei ainda dos Seus Caminhos, mas sei hoje que os sigo fielmente. Creio firmemente, portanto, em que, se nenhuma ordem me for dada em contrário, porventura corrigindo a minha audição, eu devo divulgar agora, de forma mais vasta, a Mensagem que escrevi, desde o início. Está sendo, pois, isso, uma preocupação permanente em mim. Uma preocupação serena: eu sei da urgência do meu Mestre, mas sinto-O sempre com uma Tensão harmoniosa.

   E se for outro fracasso? Às vezes, tenho medo: se desta vez os Escritos não desencadearem uma generalizada aceitação, ao menos entre os pobres, que farei? E vejo-me de antemão prostrado: desta vez um fracasso iria deixar-me sem mais nenhuma saída, na mais negra solidão. Mas ocupa no meu espírito um fugaz momento apenas esta dolorosa visão. O Mestre nunca me desiludiu. Tenho é dificuldade em entendê-Lo, por vezes, na própria hora dos acontecimentos, porque Ele é A Surpresa. Mas verifico depois que tudo no Seu Plano tem a lógica do Amor e que por isso nada do que executo nesta Fé sincera de que estou executando o Seu Desejo é fracasso; antes tudo manifesta a admirável estratégia deste inultrapassável Arquitecto do Amor! Foi, por exemplo, necessário que tivesse mostrado no início os Diálogos justamente a quem os mostrei: para além da vacina que assim recebi contra futuras rejeições, vislumbro já outras misteriosas potencialidades naquilo que foi feito e se o Olhar eterno de Deus não executar estas que vislumbro, é porque, mais uma vez, quão longe está o céu da terra, tão longe está a Visão de Deus da minha curtíssima e enevoada visão. Assim também agora: foi isto que ouvi, é isto que vou executar, na Fé em que, também agora, o Plano de Deus estará a ser inexoravelmente cumprido, independentemente dos resultados que os nossos olhos observem.

domingo, 27 de abril de 2014

1295 — A Bíblia como Referência


   Geralmente, ao escolher alguém como Seu Profeta, Jesus fá-lo mergulhar na Sua Palavra gravada na Bíblia. Depois, progressivamente, torna-Se Ele próprio directamente a Fonte que alimenta o Profeta e o seu anúncio. Mas ao longo do tempo, através da Noite das Dúvidas que os Profetas experimentam, a Bíblia é sempre a Referência orientadora.

30/8/96 9:50

   Não consigo passar muito tempo sem uma Palavra da Escritura: para além de me alimentar, a Escritura é o Grande Sinal a apontar-me o Caminho, a permanente Referência que me não deixa afastar da rota por vias irreversíveis, uma Luz que sempre me reorienta no meio das trevas em que caminho.

   Acende-me a Tua Luz, Mestre, que tenho fome e preciso de me sentir no Teu Caminho... Ouvi “Efésios quatro, nove... Paralipómenos... Génesis.” Que é isto, Jesus?

   Um grande desespero de Satanás.

   Mas Tu mesmo do desespero do Teu Inimigo Te podes servir, se quiseres, para fazer brilhar a Tua Luz.

   Então vamos à primeira citação.

   Efésios, quatro, nove? Mas já lá me levaste tantas vezes... Já sei: é a da descida aos infernos...

   Transcreve.

   Que quer dizer ‘subiu’, senão que também desceu às regiões inferiores da terra?

   Nada mais te diz esta palavra, além daquilo que já viste?

   Apenas me fez descer ao coração um grande entusiasmo: Tu desceste às “regiões inferiores da terra”. Nada há, na Criação, onde Tu não tivesses estado.

   Não estava Eu já em toda a Criação?

   Certamente, mas nos Infernos...

   Que têm os Infernos?

   São a morada dos mortos. São o reino da Besta.

   E Eu não estava antes no reino da Besta?

   Sim, mas só como Espírito, sustentando-o na existência, porque nada volta ao Nada depois de ter saído das Vossas Mãos, Deus Trino, Criador.

   E agora, depois da Minha descida aos Infernos, como estou Eu no reino da Besta?

   Como Deus incarnado. Tu és a Semente da Ressurreição no próprio Antro da Besta.

   Explica “Semente da Ressurreição”.

   A Semente da Ressurreição é o Teu Corpo entregue na Cruz.

   Avança, avança por onde estás vendo.

   Só o Teu Corpo é, no Inferno em que vivemos, hoje e sempre, Semente de Ressurreição: se os Teus discípulos não forem Corpo Teu entregue, Tu permanecerás amarrado, inactivo, neste mundo, que a Besta transformou no seu Antro. Não haverá Ressurreição da Carne se a Igreja se não fizer grão morrendo para que germine em caule e espiga... Como Tu. A Tua Igreja tem que ser, hoje, sempre de novo, o Teu Corpo descido aos Infernos, às “regiões inferiores da terra”, às próprias entranhas do Mal. Se a Igreja se recusar, hoje, a sofrer o Teu sofrimento, não poderá haver Ressurreição da Carne!

   E terei Eu uma Igreja, hoje, que queira ser o Meu Corpo na Cruz?

   Vais ter, Jesus, vais ter! A Tua Ternura vai conquistar muitos corações, que, assim vencidos, nada Te negarão. E se nem dez justos houvesse na nossa Sodoma, com os dois ou três que restassem Tu encherias a Terra de Luz e de verde, por mil anos! Mas, com três ou com três biliões, desta vez haverá aqui uma Nova Terra. E, sobre ela, um Novo Céu! Isto está-o o meu coração gritando, muito forte.

   Olha: não queres ir agora à segunda citação?

   Mas foi só “Paralipómenos...” Depois ouvi “Treze...”.

   Paralipómenos treze, vinte, por exemplo.

   Por exemplo?

   Sim. Podia ser outro versículo. Todos eles são Luz da mesma Luz.

   Então vou destacar:

                                                       Par...
 

 
   Vá, não te admires desta falha. É assim a Via da Fé: ao sentir a escuridão, deseja e agarra-se mais à Luz. É no segundo. Segundo livro dos Paralipómenos.

   – Bem hajas, Mestre:

                                                         II Par 13, 20

 



 
   
E está escrito como segue:

 e Efron, assim como os lugares delas dependentes. No tempo de Abia, Jeroboão não se estabeleceu”.

 
Que faço com este texto, Jesus? Esta citação não poderia ser mais aleatória!...

   Eu avisei que era só um exemplo.

   – Mas disseste que este versículo continha uma grande Luz!

   – E contém. Abre-o.

   – Fui ver o contexto... Este versículo é justamente aquele que resume o reinado de Abia, que permaneceu fiel à herança de David em Judá, enquanto Jeroboão se afastou da Lei do Senhor através da idolatria, que estendeu às dez tribos de Israel por ele levadas à separação de Judá e assim à divisão do Povo de Deus. Este versículo diz que, enquanto Abia reinou, Jeroboão não conseguiu ter paz, não conseguiu “restabelecer-se”. Mas não entendo, Mestre, o que me estás querendo dizer com este versículo...

   – A tribo de Judá não é só uma tribo do Meu Povo?

   – É.

   – Não foi a única que se manteve fiel?

   – Foi.

   – E mesmo assim não fugiu ao Meu Amor, tantas vezes?

   – Fugiu.

   – Quem Me permaneceu inteiramente fiel?

   – Não sei. Talvez ninguém.

   – E abandonei Eu o Meu Povo?

   – Nunca. Tu descerás aos Infernos, sempre que necessário, para o salvar!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

1294 — Solidão


   Jesus morreu sem que nem sequer os Apóstolos O tivessem entendido. Reunia multidões, é certo, mas sabia que as Suas palavras eram retorcidas para servirem os objectivos deles todos, e nunca os Seus. Pobre Jesus! Que imensa Solidão Ele passou durante toda-toda a Sua vida!

30/8/96 2:30

   Estou tão frio, tão só, Mestre.... Fui eu que Te fugi, ou está para acontecer qualquer coisa de decisivo? Responde, Companheiro. Onde estás?

   Mais do que nunca, no teu coração.

   Então porque não és forte...?

   Eu sou forte, em ti. Eu sou toda a tua Força.

   Então porque Te não sinto? Tu sabes que eu não tenho mais ninguém. Meteste-me nuns caminhos tão únicos, que me parece ter andado assim sozinho desde nascença. Vês que até agora ninguém me seguiu? Tu ao menos tinhas a Tua Mãe, os Apóstolos...

   E uma grande Solidão, dentro de Mim!

   Como??

   Sabes o que é andar com amigos que Me não compreendem?

   Mas andavam Contigo, interessavam-se pelo que dizias e fazias, estavam atentos aos Teus ensinamentos, punham-Te questões... Tinhas ao menos um Pedro que intuía a Tua missão, que era capaz de puxar pela espada para Te defender.

   E de Me negar, ao fim de três anos de declarações de amor.

   Pobre Jesus!... Está bem, mas olha: Tu, apesar de tudo, tinhas uma vida cheia: tinhas multidões ouvindo-Te e os seus chefes odiando-Te... Eu nem isso tenho.

   E onde estavam as multidões na Minha hora de morrer? Eu só via os homens da lei, em multidão, e o seu ódio.

   Pois foi, Jesus. Mas olha: Tu tinhas ao menos o João, a Madalena, com a sua ternura... Eu só tenho o Snupi.

   E julgas maior a satisfação que Me davam eles, do que a ti te dá o Snupi?

    Não era, Mestre? Tanto sofrias Tu? Mas sempre tinhas a Tua Mãe para Te receber os desabafos e para Te encorajar.

   E não viste como Ela Me procurou no templo, sem ter entendido? E como Me olhava, apreensiva, no redemoinho das multidões, sem entender?

   Mas tinhas sempre o Teu Pai.

   Não Me tens Tu a Mim? E julgas que Eu próprio entendi sempre os desígnios do Meu Pai?

   Não entendeste sempre o que o Teu Pai queria de Ti?

   Não entendes tu o que Eu quero de ti?

   Ah! Também tu duvidavas dos processos, dos caminhos?

   Ah, Meu querido companheiro, entende ao menos tu a Minha Incarnação.

   Eu sou ainda um dos Teus apóstolos actuais que Te não entende, como naquele tempo?

   Tu és o Meu Pedro, que Me não entende ainda.

   E Te vai ainda negar? Ah, isso não o permitas, Mestre! Olha, vem cá, Jesus, senta-Te aqui só um momento e diz-me: Tu sentiste-Te sempre assim sozinho durante toda a Tua vida na terra, toda-toda?

   Não tens tu, apesar de tudo, amigos sinceros?

   Poucos. E tenho os meus irmãos, as minhas filhas...

   Entendem eles o caminho que levas?

   Mal. Respeitam, mas interrogam-se....

   Porque não confidencias com eles tudo o que se passa contigo?

   Não estão verdadeiramente interessados. Consideram estas coisas assunto privado. Não teriam tempo, nem paciência, para me ouvir.

    Então tu que fazes?

   Venho ter Contigo.

   E daquilo que conversamos, só daquilo que tens escrito quantas páginas são?

   Mais de três mil.

   E sabes quantas páginas escrevi Eu, desde aquele tempo até hoje, páginas que ainda ninguém entendeu?

   A Tua solidão continua?

   É agora muito maior! Quantos Judas Me estão traindo hoje! Quantos Pedros até hoje me negaram! E já um deles se prepara, não só para Me negar, mas para Me trair sem arrependimento!...

   Vês a frieza com que eu escrevo estas coisas, Mestre? Eu não deveria chorar, à vista do que me dizes? Porque permaneço assim indiferente às chagas do Teu Coração?

   A tua hora vai chegar, não tarda. Mas por enquanto é ainda Deserto, não vês? Foste tu que quiseste vir Comigo, lembras-te?

   Sim, Jesus, é claro que lembro. E renovo agora, com mais entusiasmo ainda, o meu desejo de ir até ao fim Contigo. Mas que queres? Sinto às vezes tanta necessidade de desabafar... Não podes tornar-Te Tu ao menos mais real, mais vivo?

quarta-feira, 23 de abril de 2014

1293 — O Coração e a Luz


   As nossas palavras têm tantos significados quantas as pessoas, no momento de as usarem. Por isso é que não é possível definir nenhum pensamento, nenhuma ideia, nenhum sentimento, muito menos meter Jesus em definições dogmáticas. Veja-se, por exemplo, como Luz, aqui, significa Sangue.

29/8/96 4:50

   Hoje os meus Sinais apontam com muita insistência para Ti, Jesus. Queres dizer-me alguma coisa nova de Ti próprio?

   Regista os Sinais.

   Além daquele acima, vi 5:05 e 5:15. E estás-me sugerindo que olhe de novo as horas.

   Diz o que te aconteceu perante aquela Minha sugestão.

   Duvidei: e se não aparece um 5? Depois fiquei magoado com a minha falta de Fé. A Tua Voz também é tão débil, meu Senhor... Porque fizeste cessar até aqueles impulsos fortíssimos dentro de mim?

   Olha agora as horas.

   5:58! És tão querido, Jesus!

   Que vês nestes Sinais?

   A Tua Presença aqui, junto com a Tua Mãe.

   E como interpretas os outros Sinais?

   Dizem-me que fale do Teu Coração, da Tua Luz.

   O Meu Coração e a Minha Luz são a mesma coisa?

   Sinto que sim. Senti um ardor instantâneo com a resposta à tua pergunta.

   Um ardor bom?

   Sim. De afeição. De amor.

   E o amor é uma resposta afirmativa?

   É. É a mais segura das Tuas respostas a dizer que sim.

   Então explica como é que Coração e Luz são a mesma coisa.

   É difícil: nós aqui só conhecemos o coração de carne...

   Que faz ele, o coração de carne?

   Vibra de tal maneira, que bombeia  para todo o corpo o sangue.

   Para quê?

   Para que às partes mais remotas do corpo chegue o alimento necessário.

   Escreve então agora o que estás vendo.

   Coração e Luz estão tão intimamente ligados como coração e sangue: é a Luz que, vinda do Coração, alimenta de Luz todas as nossas células, até que elas se tornem todas luminosas.

terça-feira, 22 de abril de 2014

1292 — Sede perfeitos!


   Assim nos pede Jesus. Portanto, é possível sermos perfeitos. Mas…o que é ser perfeito? Não cometer erro nenhum? Não ter defeito nenhum? Se assim fosse, ninguém conseguiria ser perfeito, como é óbvio…

28/8/96 0:46

   Deitei-me às 11:06 e desta vez foi, dizia eu noutros tempos, um fenómeno puramente biológico que me fez acordar: eu tinha tomado um carioca de café depois do jantar. Mas agora eu digo que foi aquele 6 numa e noutra imagem que me fez acordar. Isto é, eu estou agora vendo todas as coisas inseridas num todo universal. Nenhum fenómeno biológico age automaticamente: não é o café que me não deixa dormir tranquilo; foi a minha vontade que, sabendo já que o café tem aquele efeito, se quisesse poderia ter evitado tomá-lo. Mas a minha vontade, por sua vez, sendo livre, está sujeita a estímulos sedutores para o bem e para o mal. Neste caso escolheu o mal e assim se inseriu na esfera de domínio do “príncipe deste mundo”. E não se diga que neste caso se trata de uma coisa leve, sem importância: é com passos leves, sem importância, que se percorre o caminho da Vida ou da Morte.

   Por isso Deus nos quer perfeitos. Se nos contentarmos com a mediocridade, com o lusco-fusco, com o mais-ou-menos, não é aí que indefinidamente permaneceremos, mas fatalmente nos estamos dirigindo para as trevas, o reino da Besta. Desistir da perfeição é começar a definhar. Nenhuma queda, no entanto, nos deve angustiar, nenhuma incapacidade nos deve deixar frustrados: ninguém como Deus conhece as nossas limitações; o que Ele quer ver em nós é só, depois de cada queda, uma maior nostalgia da meta, uma maior sede de chegar – Ele fará o resto. Por isso Ele ama com especial ternura os pecadores que reconhecem o seu pecado: reconhecê-lo é já ter nostalgia e sede de voltar e este simples facto provoca uma grande alegria no Céu. Ter saudade da casa do Pai, ter sede de lá voltar – isto basta para que o Sopro da Vida se ponha, feliz, a reanimar-nos todas as células!

   Gentes todas da terra, eu peço-vos em nome do Senhor: não permaneçais no vosso pecado, fechando o coração. Por mais vergonhoso que seja o vosso pecado, se deixardes Deus cuidar do vosso coração, Ele liga tanto a esse vosso vergonhoso pecado como ao meu pecado de ter tomado aquele café antes de deitar, isto é, nada; fica, pelo contrário, feliz, porque, quanto maior é a nossa podridão, mais entusiasmo Lhe dá transformá-la na Sua Luz! Não vos esqueçais, gentes, povos todos da terra: Ele só quer que nós desejemos ser curados! E o que mais Lhe custa, o que mais dói no Seu coração de Artista, é que nós deixemos de desejar, isto é, desistamos de ser perfeitos. É como se O obrigássemos a abandonar a obra antes daquele toque final que lhe daria toda a beleza. E Ele pára efectivamente a obra sempre que nós deixamos de desejar – tão grande é o respeito que Ele tem pela nossa Liberdade!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

1291 — A última Ceia


   Antes de Se entregar à morte, com se fosse um testamento, Jesus orou: “Pai, que todos sejam Um, como Nós”. E no entanto tem sido este soleníssimo momento da vida do nosso Mestre ocasião de conflito e divisão entre nós, que nos dizemos Seus discípulos. Este verdadeiro crime cometemo-lo todos nós ao fazermos de Jesus uma Doutrina, coisa monstruosa, que tudo divide e mata (ver texto anterior).

27/8/96 5:44

   Acordei com estas palavras repetindo-se incessantemente depois de, em sonho, as ter visto escritas nas costas da T-shirt de alguém: “Fazei isto em memória de Mim”. E a hora registada acima logo a li assim: “Anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha”. São, como sabemos, dois excertos que se referem ao mesmo acontecimento: a Ceia do Senhor.

   Mas a Tua Ceia, Jesus, ainda a não vivo, é Mistério que me está ainda fechado. Ensinaram-me coisas sobre ele, mas, como Tu ontem me disseste, os Teus Mistérios não se ensinam, nem se aprendem: só são revelados quando se tornam acontecimento vivo no coração. Deixa-me viver a Tua Ceia, Jesus!

   O que é que, da Minha Ceia, sentes já como acontecimento em ti?

    Apenas que ela encerra um tremendo e fascinante Mistério Teu.

   Quem ou o quê te levou a esse conhecimento?

   A sedução que há dois mil anos este Mistério exerce na Tua Igreja e o facto de o teres revelado em ocasião soleníssima: escolheste a festa da Páscoa para o revelar e foi o último que revelaste antes de morrer. Como se toda a Tua vida se tivesse dirigido para esta Hora.

   Que aconteceu, na Minha última Ceia?

   Varias coisas, certamente muito estranhas para os Teus discípulos.

   Refere algumas.

   O lavares-lhes os pés; a denúncia da traição de Judas; a predição da negação de Pedro; a revelação do Teu Mandamento Novo; a promessa da vinda do Espírito Santo; a revelação do Mistério da Unidade... Estou a ver no Evangelho de João e verifico que, estranhamente, ele não fala daquilo que sempre é visto como o cerne da Tua Ceia: as Tuas palavras pronunciadas sobre o pão e sobre o vinho, respectivamente “Isto é o Meu corpo” e “Isto é o Meu sangue”.

   Verificas este facto pela primeira vez!?

   Sim. Se a teologia me chamou a atenção para isto, eu estava distraído com certeza: eu não tinha reparado.

   E criou-se assim em ti um problema!?

   Não sei se é problema, mas estou achando muito estranho: se aquelas Tuas palavras são assim tão importantes, porque não as refere João?

   Por outro lado, João refere coisas que os outros evangelistas não referem...

   Sim. Muitas. É mesmo, de longe, o mais extenso relato da Última Ceia.

   Em vez daquelas palavras, de que fala João?                      

   Do Amor. Creio que tudo o que diz se pode resumir na revelação do Amor de Deus em Ti.

   Vê se nas palavras de João algumas se referem mais directamente àquelas que pronunciei sobre o pão e sobre o vinho.

   “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”: está aqui a referência ao Teu Corpo entregue, ao Teu Sangue derramado para a vida do mundo.

   Escolhe ainda outra palavra que vejas relacionada com a entrega do Meu Corpo e do Meu Sangue no pão e no vinho.

   Não consigo, Mestre: indirectamente são todas, mas directamente não vi mais nenhuma. João fala muito é da Palavra que Tu nos deste e que une no Amor...

   Escreve, escreve então agora essa expressão que mesmo agora te ocorreu ao espírito.

   “A Palavra fez-se carne e habitou entre nós”.

   Quem era Eu, para o Meu João?

   Palavra

   O Meu Corpo também?

   Sim: é Palavra feita carne.

   O Meu Sangue também?

   Também... Ah, Mestre, Tu és em verdade o único Mestre! Conduziste-me ao capítulo seis do mesmo Evangelho de João onde, mais claro do que qualquer outra parte, nos apareces Tu, o Verbo que era no Princípio, feito Pão que desce do Céu para a vida do mundo: carne, que “é, em verdade, uma comida”; sangue que “é, em verdade, uma bebida”! Tu és um espanto, meu Senhor!

domingo, 20 de abril de 2014

1290 — O Mistério


   Todos os seres, por mais pequeninos que sejam, encerram um mistério. Eles são Mistério. Não porque sejma inigma impenetrável, mas porque são Vida inesgotável, sempre aberta ao nosso olhar e sempre surpreendendo-nos. Reduzir os Mistérios a uma Doutrina é um crime inominável.

26/8/96 15:40:41

   Combinei assim com o meu Mestre: se aparecer nos algarismos do relógio um 4, seja em que posição for, eu passarei a escrever. Estou cansado e tenho que fazer. Mas o Senhor está sempre primeiro: vou escrever, embora não faça a mínima ideia do que Ele quer que eu escreva.

   Fala, Mestre. Que Mistério falta ainda revelar?

   Falta revelar os Mistérios todos.

   Como assim? O que já revelaste não é nada?

   Não. Não há sobre a terra nem um justo, nem um sequer.

   Sim. E...?

   E até para os justos os Meus Mistérios permanecerão sempre Mistérios.

   Que nos tens revelado então até agora?

   Os Meus Mistérios.

   Não entendo,  Mestre.

   Revelar-vos os Meus Mistérios é só dar-vos a sede de neles viver.

   Só viveremos nos Teus Mistérios quando morrermos e formos inteiramente purificados?

   Só vivereis inteiramente nos Mistérios do vosso Deus quando ressuscitardes em corpo imortal.          

   Ninguém vive então ainda no Teu Insondável Mistério a não ser a Tua e nossa Mãe?

   Ninguém vive ainda em Mim como a Minha Mãe.

   Então os anjos, criaturas apenas espirituais, nunca viverão inteiramente no Teu Mistério?                                                        

   Os anjos são e serão sempre felizes na sua total natureza e capacidade.

   Nós suplantaremos os anjos quando ressuscitarmos?                                          

No Céu ninguém suplanta ninguém: cada um é inteiramente feliz segundo a sua natureza. Também o Homem purificado e tornado imortal no seu ser uno só viverá o Mistério como ser humano e nunca como Deus. Mas será sempre inteiramente feliz.

   Olha, Jesus: porque me guiaste para aqui, esta tarde?

   Não sentias o Mistério de Deus esgotado em ti?

   Sentia, de facto.. Mas sabia que não estava esgotado. Só não sabia que nada ainda nos está revelado do Mistério de Deus. É que isto é muito difícil de admitir. Então toda a Escritura, todos os Dons que até agora deste à humanidade, o que são?

   Nada comparado com a Imensidão que vos está prometida. Nunca sistematizeis a Revelação, como se ela fosse uma riqueza de que Deus já Se desfez, uma riqueza, portanto, que não mais vos poderá surpreender porque já a conheceis.

   Fazemos isso quando reduzimos a Revelação a proposições doutrinárias, a leis, a dogmas?

   É justamente isso o que tendes feito. Todos. Todas as igrejas!

   Então a Revelação nunca pode ser uma doutrina que se aprenda!?

   Não. Toda a Revelação é sempre Amor de Deus acontecendo no coração de cada um. Ninguém pode ensinar a Revelação; pode é, cada um, dar testemunho do Mistério de Deus que no seu coração se revela.

   Ah! É como se, em cada coração, a Revelação começasse do princípio?

Sim. Nunca julgueis ninguém.