Sabemos como a Igreja chegou a perseguir e mesmo a matar no meio de
indescritíveis torturas muitas pessoas, a quem chamava hereges, por
alegadamente terem violado qualquer definição dogmática por si estabelecida
como doutrina supostamente baseada na Bíblia. Foi também sob a acusação de
blasfemo e herege que Jesus foi perseguido e torturado até à morte. E foi ainda
como seita herética que a primitiva Igreja foi perseguida pelos poderes
religiosos. Também nestes Diálogos há várias heresias face à teologia oficial. É
este o tema da mensagem seguinte:
Sabia já com o coração que Deus sofre com o nosso sofrimento, sempre,
enquanto houver sofrimento. E se a Teologia me objectar que isto é uma heresia,
que o sofrimento é contrário à Natureza de Deus, eu admito-o logo, sem hesitar:
é verdade, é uma heresia o que tenho escrito, o sofrimento é um absurdo em
Deus. Mas Deus ama contra a Sua Natureza, ama até ao absurdo! – assim respondo
eu à Teologia, também sem hesitar. E acrescento agora que Ele amará assim, com
a Sua Natureza sempre violentada, até que, no Fim de Todos os Tempos, todo o
Universo tenha renascido sem mancha de sofrimento! Esta é a Segunda Criação,
marcada pela morte do Homem como criatura e pelo seu Nascimento como Filho de
Deus! E será assim, pelo Amor poderoso dos incontáveis Filhos de Deus, que toda
a Primeira Criação renascerá sem mancha de dor.
Por isso também os Filhos de Deus sofrerão, até que o Universo renasça e
só descansarão ao Sétimo Dia desta Nova Criação. Quanto àqueles que não tiverem
aceitado renascer Filhos, permanecerão criaturas, habitando eternamente o
Abismo. Mas também eles, depois do Fim Último, deixarão de sofrer. (Dl 29, 10/2/05)
…
São incontáveis as heresias gravadas nesta escrita, se as entendermos
como desvios da Teologia oficial. É sempre neste sentido que é aqui assumida a
palavra heresia. É assim que se chama à Cruz a “Heresia Máxima”, por constituir
o que se pode conceber de mais contrário à natureza e ao conceito teológico de
Deus: que Deus Se tenha feito homem, verdadeiro, não fingido, tenha levado uma
vulgaríssima vida de homem, executando a vulgaríssima profissão de carpinteiro,
e tenha sido morto como um marginal e malfeitor às mãos da Sua própria criatura
– isto não podia de maneira nenhuma ser admitido pela Teologia institucional do
povo judaico, o Povo eleito de Deus. Admitir tal coisa era, obviamente, uma
hedionda heresia. Não foi, pois, a Teologia que acabou por aceitar, rendida de
espanto, este comportamento de Deus; foi o Coração. E a Heresia hedionda, sacrílega
frente ao mais tolerante conceito teológico de Deus tornou-se, pela via do
Coração iluminado pelo Espírito, a mais luminosa Expressão da Essência de Deus
– o Amor. E logo a Teologia tradicional se apressou a tentar harmonizar o
conceito tradicional com este verdadeiro absurdo teológico. E conseguiu
elaborar um novo sistema teológico cheio de subtilezas racionais. Fixou-o em
dogmas nucleares e desdobrou-o em inumeráveis normas morais, sociais,
jurídicas, litúrgicas. E assim se refez do terrível abalo da Cruz.
Agora, quando Jesus regressar, o choque com a Teologia será porventura
maior. Agora, segundo as palavras de Jesus, os próprios fundamentos da terra
serão abalados. Para nunca mais voltarem à segurança antiga. (ibidem, 11/2/05)