21/1/96 – 1:36
– Jesus, meu Mestre bom e sábio, vê a que
estado estou reduzido, vê até onde me conduziu a Tua Mão! Tinha razão a Tua
amiga santa Teresa: se é assim que tratas os Teus amigos, que admira que tenhas
tão poucos! Se ao menos falasses uns momentos comigo… Que cruz é esta, Mestre,
que acho tão desproporcionada em relação ao meu pecado? Que prazeres tenho eu
nesta vida? Tenho o do estômago, é certo, mas também acho que é o único. E esse
mesmo, quantas vezes Te pedi já que mo tirasses? Vês-me de coração agarrado a
alguma coisa mais neste mundo? Vês? Se vês, diz-me aonde, a quê, para eu Te
poder pedir que me desamarres. Algum prazer do espírito? Talvez a vaidade
ainda? Talvez o querer tornar-me célebre à Tua custa? Sim, é possível, mas Tu
sabes bem do medo que me invade sempre que penso que isso possa vir a
acontecer. Deixa que fique aqui registada a oração que Te dirigi ontem: se eu
quiser ser célebre, troca-me as voltas e faz com que eu seja só uma célebre
seta apontando sempre o Teu Coração! Só uma seta, Jesus, uma seta luminosa em
que as pessoas reparem, mas só para desviarem depois de mim os olhos na
direcção que eu aponte. Não sei que possa fazer mais, meu querido Companheiro,
poucas mais forças tenho do que as bastantes para Te fazer este pedido:
desamarra-me do resto da Cidade a que estou ainda colado; só Tu sabes quanto é
o resto e quanto estou colado e só Tu sabes a forma e o tempo de me descolar.
Aqui estou, pois, nas Tuas Mãos. Não sei porque não me abrasaste ainda o
coração, mas melhor do que ninguém Tu sabes que esse é o único desejo da minha
vida. Olha-me para o coração, Jesus, espreita todos os recantos escuros que
ainda para aqui devo ter, observa tudo com atenção: vês lá algum amor, além de
Ti? Mesmo agora, mesmo ainda assim bruto como estou, vê se já não és Tu o único
Amor que lá tenho.
– É, sim, é o único Amor que lá tens.
– Ah! Falaste! Então diz-me: porque não o
incendiaste já?
– Porque te amo muito.
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