Um
dia alguém, membro de um dos muitos grupos em que dividimos a Igreja com que
Jesus sonhou e fundou sobre a Fé de Pedro, disse-me que a sua “congregação” não
aceitava a Trindade em Deus, porque é uma coisa totalmente irracional e absurda:
ou bem que é Um, ou bem que é Três. E eu respondi-lhe: É por isso mesmo que eu
creio; para admitir o que é racional e lógico não é preciso fé nenhuma. O Mistério
da Altíssima Trindade é, de facto, o Mistério dos Mistérios. Mas, como todos os
Mistérios, também este nos está completamente aberto, seduzindo-nos
irresistivelmente. E podemos, é claro, avançar por ele dentro, contanto que o
façamos conduzidos pela Mão do Mestre Jesus. Tiremos então as sandálias, porque
a terra que vamos pisar é santa…
5/3/96
– 1:31 – 1:33
Não me recordo de ter visto no mostrador
aqueles algarismos. Penso que os não vi mesmo: eles foram-me dados pelo ouvido!
E eram tão insistentes que, ao olhar o relógio, uns minutos depois, já acordado,
não fixei a imagem que vi, mas aquelas, que se repetiam, alternadas, dentro de
mim. Mas o mais estranho é que, pela
imagem que vi depois, aqueles algarismos devem ter correspondido à hora
objectiva do relógio! São, pois, Sinais a que o Senhor quer dar uma importância
especial, que desconheço ainda. Eles falam-me da Luz e do Mistério da Altíssima
Trindade.
– Diz-me o que me queres com estes Sinais,
Mestre.
– Que te fixes na Luz.
– Como posso fixar-me na Luz sem ficar
encandeado?
– Eu protejo os teus olhos.
– E a Trindade? Que me queres com o Sinal 3?
– Que proclames que a Luz é Três.
– Mas já toda a gente sabe.
– Não com o coração.
– Dá-me, então, Mestre, um coração puro,
para que veja o que queres mostrar.
– Que estás sentindo?
– Que me queres falar da Autonomia de cada
uma dasTrês Pessoas em Deus.
– Desde o início deste nosso Encontro, não
te lembras?
– Sim. Insistias muito na Distinção das Três Pessoas Divinas.
– Quero agora que consideres a Sua
Autonomia.
– No sentido de Independência?
– Há, em cada uma das Três Pessoas, uma total Independência em relação às
outras.
Foi irresistível o impulso interior para
escrever e sublinhar total,
tendo-se-me bloqueado todas as outras formulações, perante a minha surpresa.
Devo dizer ainda que no coração tenho a frieza costumada e a sensação é que só
a cabeça funciona. Mas, assim mesmo, continuo perguntando perante um Mestre que
desta vez me parece até impaciente…
– Independência total, Mestre?
– Total.
– Mas isso é inaudito!
– Mas é a Verdade: sem esta Total
Independência, não poderia haver Amor Total em Deus!
– Deus não poderia ser AMOR?
– Sim. Deus não seria AMOR.
– Que quer dizer, então, Independência,
Mestre? Nós aqui temos os conceitos todos baralhados e distorcidos…
– Diz então tu devagarinho, a ver se
endireitamos o que o Pecado entorta em vós: o que é a independência?
– É não ter que dar contas a ninguém dos
nossos actos.
– É agir sem que o outro tenha interferido
no movimento de cada um?
– É. Acho que é. É tão difícil definir
coisas… Estou até estranhando que me queiras assim definindo…
– Eu só quero atingir corações; se para isso
for necessário definir… Não te importas?
– Não, Mestre, não me importo: toma o meu
cérebro, que para a Cidade ele já trabalhou demais!
– Diz então: só no agir, no mover-se, se
nota a independência?
– Acho que é. Mas agora reparo: não há ser
que não seja ao mesmo tempo acção, movimento. As próprias pedras, sabemo-lo nós
até pela nossa ciência, são feitas e subsistem mercê do impressionante
movimento dos seus átomos.
– Em Deus também é assim.
– Assim…como, Mestre?
– O Ser de Deus é Movimento.
– Mas não me querias falar de Independência,
em Deus?
– É disso que estou falando.
– Não entendo.
– Só se é independente porque se vive.
– Sim. E…?
– E cada uma das Pessoas da Trindade é Viva
em Si.
– O Seu “Movimento” não depende de nenhuma
das Outras Duas?
– Não.
– Mestre, eu tenho uma pergunta a fazer-Te,
Tu sabes…
– Faz.
– Na Tua Paixão e Morte, onde esteve a Tua
Independência?
– A Minha Independência, ainda aí, foi
total. Lembra: “A Minha vida ninguém Ma tira; sou Eu que a dou”
– Mas o Teu Pedido ao Pai, no Getsémani…?
– Só pode pedir quem é livre!
– Estás identificando Independência com
Liberdade!?
– Estou. Recorda a criação do Homem.
– Criaste-o independente!?
– O Dom da Liberdade que lhe oferecemos
constituiu-o em independência total face
a Nós, seu Deus.
– Até nisso ele deveria ser Vossa Imagem?
– Sobretudo nisso.
– É por isso que Tu dizes que o Pai governa
tudo, menos a nossa Liberdade?
– Sim. Como acontece no seio da Trindade:
nenhuma das Três Pessoas governa as Outras.
– E por isso pode amar!?
– Sim, Salomão, por isso Deus é AMOR.
– Ah! Amar é todo o Movimento de Deus!?
– Sim. Toda a acção, em Deus, é Amor
– Deus ama-Se e ama porque é Três totalmente
independentes Uns dos Outros?
– Sim, Salomão. Eu conheço os teus receios.
Não tenhas medo, escreve. É preciso ir à raiz da verdadeira Independência que
perdestes. É preciso que, à Nossa Imagem, volteis a ser totalmente independentes uns dos outros e totalmente independentes de Nós, vosso Deus, para poderdes voltar a
amar.
– Jesus! O que dizes é tremendo.
– E fascinante. Como todo o Mistério.
– Então o Pecado consistiu e consiste na
perda da Independência!?
– Sim. O Pecado é a única escravidão que
existe.
– Então converter-se não é voltar a depender
de Ti?
– Não; é voltar a ser independente, em Mim.
– Então fala-me agora da Unidade, Mestre.
Tem que ser, senão…
– Foi de Unidade que estivemos falando até
agora.
– És um espanto, Mestre! Eu já estou vendo:
só sendo independente se pode amar e só o Amor une.
– Sede um só, em Mim. Une a Minha Igreja,
Salomão!
– Então sê um só comigo, Mestre!
Sem comentários:
Enviar um comentário