No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

1380 — As Duas Testemunhas


   A partir do texto 1303, as mensagens são retiradas do oitavo volume destes “Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo”.
Contactos:229010551 (fixo) ou 933327594 (telemóvel);  mail: salomaomorgado@hotmail.com

14/12/96 10:22

   Meu Deus, que coisas escrevo! À medida que conheço outros Profetas do nosso tempo, abala-me a dúvida relativamente àquilo que há tanto tempo já venho afirmando: que a Vassula e eu somos as Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse para testemunharem como ali vem escrito a Vinda do Senhor. Mas mais uma vez um impulso interior forte, como torrente de Paz, me reconfirma o que sempre me tem revelado: o Espírito nos juntou naquele Agosto, um mês que verifiquei depois ser também importantíssimo no chamamento da Vassula e o paralelismo permanente que depois me tem aparecido sempre como uma límpida evidência, um pela via da visão e audição interior, outro pela pura via da Fé. Não sei que possa fazer: a cada dúvida que ponho, uma nova onda de Verdade a submerge e a arrasa, desimpedindo o leito do Rio do Espírito. É espantosa esta via da Fé: ela vê e arrasa todos os obstáculos como um tornado ou dissolve-os com o suave ardor da Ternura.

    E todos os outros Profetas que vêm testemunhando e anunciando o Regresso do Senhor e que são seguramente já uma multidão?

   Diz-mo Tu, Jesus: quem são eles?

   São tão grandes e tão pequenos como tu e a Vassula. Mas cada um tem a sua missão na Minha Igreja. A vós os dois chamei Eu para serdes as Minhas Testemunhas que estavam profetizadas no Apocalipse e não vos cabe mérito nenhum por isso.

domingo, 10 de agosto de 2014

1379 — O Diabo existe, é poderosíssimo e estúpido


13/12/96 8:54

   O Diabo é estúpido. Não tem a mínima capacidade para se fazer feliz: inexoravelmente, com precisão milimétrica, ele vai construindo a sua própria derrota e sustentando no seu lombo de monstro a retumbante Vitória do Amor!

   Acho que Deus ainda um dia vai ter pena dele. E quando acabar a dor da Humanidade e todo o Universo estiver pacificado, também o Diabo vai poder ser feliz, porque não poderá mais ser O Divisor. Nada, de facto, nesse tempo estará dividido. E Satanás comandará então as titânicas forças do Abismo, agora felizes por saberem que estarão eternamente lançando os alicerces de novas galáxias onde a vida brotará sem dor.

 

sábado, 9 de agosto de 2014

1378 — O misterioso poder da Ternura


12/12/96 8:55

   Os Sinais da vigília de hoje são os mesmos que me despertaram, no início deste novo encontro com o nosso Deus que eu dizia já conhecer, para o Mistério da Sua Presença e abençoaram aquela vigília, ao assinalarem-lhe duas horas certinhas de duração. De facto, a vigília fala, toda ela, da Ternura de Deus e progressivamente, nos últimos tempos, se tem levantado em mim uma ânsia e uma esperança de que seja ainda possível que Deus recolha a Si a Sua Mão da Ira e estenda sobre a terra a Sua Mão da Ternura. Já não tenho agora medo de que fiquemos sem saber quanto fizemos doer ao Coração do nosso Pai: ao sermos tocados pela Sua Ternura, havemos de sentir tanta pena do que Lhe fizemos, que será essa pena, somente essa, o Fogo que nos purificará. E não deixará de ser um Fogo devorador, porque tamanha será a Ternura, que nos dará, na mesma proporção, a visão do tamanho do nosso pecado. E isso bastará para que comecemos a desmontar, com louca alegria, pedra a pedra, a Construção que as nossas mãos levantaram! Por isso olho ultimamente muito para o Rosto do nosso Pai, a ver se Lhe vejo diluir-se aquela nuvem carregada no Olhar… Ao mesmo tempo sobe por mim acima uma Fé muito quente em que Ele voltará atrás na Sua Decisão de purificar arrasando. Acho, nesses momentos, que Ele vai desarmar os Seus Exércitos que estavam já prontos para avançar e, desarmados, vai fazê-los descer à terra na mesma, mas agora cada anjo com as duas mãos disponíveis para acariciar!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

1377 — Oração


12/12/96 1:53

   Senhor dos Mundos, meu querido Criador, eu Te dou graças porque me visitaste e assumiste a minha pequenez e incapacidade. Eu agradeço-Te muito, quanto posso, com toda a alma, com todo o coração, com todas as forças que tenho, o teres-Te feito deficiência em mim para que, mesmo incapazes como estamos, Te entendêssemos. Em nome da pequenez e da deficiência que a todos nos une quantos cirandamos aqui no Teu Planeta Azul, deixa-me ser voz até daqueles que Te não conhecem ou Te desprezam, para Te dizer que, embora continuamente fazendo asneiras, cá bem no fundo do nosso coração Te amamos e temos saudades dos Teus Braços fortes e do Teu Olhar tranquilo. Em nome do sofrimento que a todos nos une, deixa-me falar-Te desta impotência que sentimos quando, nos fugidios momentos de lucidez que a nossa soberba nos deixa, reconhecemos que tudo quanto nos sai das mãos só aumenta a nossa dor. Em atenção a esses fugazes momentos, deixa que a Tua Omnipotência actue e arranja maneira de nos salvar, porque Tu sabes tudo. Olha: este Natal deixa-nos conhecer o tamanho da Tua Ternura ao contemplarmos-Te Bebé em tudo igualzinho aos nossos bebés, assim frágil, assim indefeso: eu acho que será impossível não se partirem os nossos corações de pedra. Pode ser que não seja preciso o fogo… Manifesta-nos a Tua Ternura, querido Deus: talvez baste…

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

1376 — Chegar à Lógica de Deus com a nossa


6/12/96 2:32

   Por momentos tentei lembrar-me do que escrevi ontem, não fosse Jesus querer continuar o mesmo tema: não consigo lembrar-me de nada. Sucede-me isto muitas vezes, o que me leva a duas conclusões: que estas palavras não estão circunscritas a nenhum tempo determinado e que a Lógica de Deus não é a nossa.

   E neste momento se me tornou sensível um desejo grande de entrar definitivamente na Lógica de Deus! A nossa é a mecânica lógica da Morte; a de Deus é a da Surpresa, da Vida, do Amor. Por isso me interrogo porque é que vou agora menos à Bíblia, porque rezo agora menos as palavras do profeta Vassula, porque me monopoliza o próprio Jesus agora a atenção e dialogo menos com o Pai, com o Espírito Santo e sobretudo com a nossa Mãe. Não faço nada para que seja assim: registo apenas o que acontece em cada momento dentro de mim. E acredito em que vem de Deus o que sucessivamente me vem do coração, porque o clima em que escrevo é sempre de oração. E nunca Deus permitiria que, procurando-O sinceramente, fôssemos ter com Satanás. Mesmo que os nossos desejos e pedidos sejam bem terrenos, Ele ouve-os, recebe-os, dá-lhes a volta e serve-se deles para nos curar dos apegos terrenos que nos sejam nocivos.

   Porque dizes assim? Há apegos terrenos bons? – interveio Jesus, de surpresa.

   Agora até acho que sim, Mestre. Pelo menos provisoriamente bons. Como andar de muletas, sendo mau em si, pode ser provisoriamente bom. Massacraram-nos tanto, Mestre, com o desapego dos bens terrenos, que nos distorceram a visão do Teu Amor. Tu ensinaste-me que não és assim, que o nosso Pai do Céu tem a paciência de um coração louco de ternura.

   Não é exigente, o Pai? Não disse Eu que, se o teu olho te escandalizasse, devias arrancá-lo, se a tua mão fosse para ti ocasião de escândalo, devias cortá-la?

   Como Te hei-de responder, Mestre? Agora atrapalhaste-me. Mas eu sei que escrevi a Verdade e que aquelas Tuas palavras também são o caminho límpido da Verdade. E cá está: é a Tua Lógica que não é igual à nossa.

   Não queres, mesmo assim, tentar explicar com a tua lógica?

   A minha lógica é, neste caso, provisoriamente boa?

   Acabas de explicar, não vês?

   Ah! A minha lógica, sendo má, não é desta vez obstáculo, não é escândalo à proclamação da Tua Mensagem! Se ela me escandalizasse, isto é, se me impedisse de chegar a Ti, deveria arrancá-la, sem contemplações.

   E conseguirias?

   Atrapalhaste-me outra vez, Mestre: se por um lado me mandas arrancar tudo quanto me escandaliza, por outro ensinas-me que por mim mesmo nada posso fazer! Decididamente, para a nossa lógica, o Teu Evangelho está cheio de contradições.

   Tenta ver se a tua lógica resolve esta.

   Não…não estou sendo capaz…

   Então resolve-a com a Minha Lógica.

   E como faço isso?

   Não faças nada; deixa só que Eu te ame nessa tua fragilidade.

   Ah, Mestre! És tão querido! Já entendi: arrancar o que nos escandaliza é reconhecermo-nos impotentes, despertando assim no Teu Coração a Ternura, essa Força omnipotente de Deus que todo o obstáculo remove, que tudo lava…

   Escreve então agora, Meu Profeta, o que nos últimos dias tens sentido sobre a Ternura de Deus.

   Que ela poderá substituir o Fogo, agora, quando vieres.

   De que maneira?

   À maneira daquele pai da Tua conhecida parábola do filho pródigo.

   Mas nessa parábola o filho regressou, arrependido.

   Pois foi, Mestre. Mas sinto tamanha a Ternura que estás fazendo descer à terra, que a vejo como dilúvio!

   Sim. E…?

   E tão grande está sendo já o espanto e a alegria nos corações que Te vão recebendo, que a Ternura de Deus será notícia! Tão espectacular notícia será, que todos os meios de comunicação serão obrigados a difundi-la por todo o planeta, mobilizando assim ao Teu serviço todo o império de Satanás. Então todo o mundo verá a Salvação do nosso Deus! E até os mais renitentes terão saudades da Casa da sua infância! Ah, Mestre! Vês como tremo de emoção ao pensar que Tu, com a Tua magistral Mão omnipotente, Te servirás de todas as obras das nossas mãos – dos nossos jornais, dos nossos livros, das nossas rádios, das nossas televisões, dos nossos computadores – para nos entrares em casa, à hora do almoço, ou do jantar, ou pela noite dentro, oferecendo-nos a irresistível Ternura do Teu e nosso Pai do Céu, da Tua e nossa encantadora Mãe. Vai ser este o monumental estoiro que Satanás vai dar, não vai? Vê se evitas o Fogo, Pantocrator! Pede à Tua Mãe, ao Teu Pai que primeiro venham, nas Asas grandes do Espírito, encharcar a terra da Sua Ternura. Pode ser que, Jesus, pode ser…

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

1375 — Silêncio tenso


5/12/96 2:05

   Já há muito tempo me parece terem cessado aquelas revelações mais ousadas, que põem em causa, como abalo sísmico, os mais sólidos fundamentos do edifício doutrinal milenário das igrejas todas. E parece ter-me concentrado o Mestre agora na pura contemplação dos Seus Desejos, numa muito mais íntima, subtil Presença Sua transformando-me o ser e o agir. Com uma certa pena minha devo aqui confessar-Lhe a Ele e a todos vós, meus irmãos que comigo caminhais em busca da Intimidade do nosso Deus. É que havia naquele rebentar de muros algo de empolgante, que agora desapareceu. Havia em mim o entusiasmo da criança, ou do adolescente a quem o pai tivesse pedido que desmantelasse a velha casa no dia da mudança para a casa nova. A instalação na nova morada tem toda a emoção do edificar da nova intimidade, mas a criança está vivendo ainda os dias da precedente agitação que lhe encheram as pequenas medidas dos olhos e do coração.

   Mas agora é silêncio e o coração, tenso à espera de nova surpresa, cresce. Estamos avançando para o interior da nossa nova morada, estamos entrando na nova Intimidade, até que ela se torne forte, fiel, harmoniosa; depois, a partir dessa nova segurança, virão novas aventuras, mais empolgantes que as anteriores. Mas a criança de nada sabe ainda; apenas, aninhada no colo da mãe, debruçada nos joelhos do pai, ouve, muito atenta, contar como vai ser. E sonha, de olhar distante, brilhando muito…

   Mestre, mostra-me agora, neste silêncio que precede a Tua Vinda, as Ânsias grandes do Teu Coração. Mostra-mas como Tu costumas fazer: transferindo-as para o meu coração e levando-o a vivê-las até à medida máxima das suas paredes de carne, até que todas as suas medidas sejam ultrapassadas e ele tenha que se alargar, estonteado de emoção, em batidas cada vez mais robustas. Dá-me um coração grande e forte como o Teu. Eu sei que não pode ser, mas também sei que Tu és o Deus do que não pode ser! E nunca ninguém soube onde é que a Tua Loucura pode chegar. Eu gosto muito de Ti. Amen.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

1374 — Que fiz eu?


4/12/96 9:39

   A Plenitude de Deus vai regressar à terra! – assim me gritam aqueles algarismos, me vêm desde há dias gritando. E eu não sei que resposta dê a esta Voz.

   Que queres que faça, Mestre?

   É preciso que Me ames. Quem tudo faz é o Amor.

   Mas nós consideramos isso que nos dizes teórico. E consideramos que amar é fazer coisas, coisas visíveis, concretas.

   Como se desenvolveu o Meu Amor em ti? Que coisas concretas fizeste?

   Foste tu que fizeste todas as coisas concretas – reconheço eu agora de surpresa: foste Tu que me desviaste, naquele Agosto, para a casa onde conheci a Vassula, em Faro, foste Tu que me puseste nas mãos, naquelas férias no Rossão, os seus Escritos, foste Tu que me fizeste girar sobre mim mesmo, ao longo da rua e me fizeste parar para me pedires que reconstruísse a Tua Igreja, naquele início de Setembro em que também me levaste à fixação destes Diálogos, foste Tu que alteraste, enfim, o meu comportamento geral em relação à minha família, em relação à minha profissão, em relação às plantas, em relação aos animais, foste Tu que alteraste tudo o que foi alterado no meu coração!

   E foi muito o que foi alterado?

   Creio que me viraste para o lado oposto.

   E que foi necessário fazeres tu, concretamente, para que tudo isso acontecesse?

   Acho que apenas desejei que acontecesse e tenho a consciência feliz de que até este desejo foste Tu que mo deste.

   E desejas que Eu venha trazer de novo à terra a Plenitude de Deus?

   Tu sabes que desejo.

   E podes dizer-Me porquê?

   Porque me fizeste ver já que nada nem ninguém mais pode curar as chagas da Humanidade e com isto me deste um luminoso Conhecimento da minha indignidade e da minha impotência total para curar seja o que for. Assim, a única coisa que sinto poder fazer e desejar é pedir-Te que nos venhas curar todos os aleijões e chagas.

   E o que é que há de teórico no teu desejo e no teu pedido?

   Como? Teórico? O que é que há de teórico num desejo e num pedido?… Acho que nada. Os desejos e os pedidos nunca são teóricos!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

1373 — Deficiência fecunda


4/12/96 1:10

   Jesus, meu omnipotente Amigo, afasta daqui o Divisor, que se está servindo do meu compreensível sono para me dividir de Ti. Serve-Te Tu do mesmo sono para me unires mais a Ti e assim glorificares o Pai que está nos Céus!

   Como poderá o sono unir-te a Mim?

   Eu poderia dar algumas respostas, mas surpreende-me, Mestre. Eu creio na Tua inesgotável Riqueza. Eu creio em que, vivendo em Ti, todos os momentos da nossa vida serão momentos novos e toda a rotina e todo o tédio desaparecerão.

   Acabas de dar a Minha resposta, não notaste?

   Esclarece-me, Mestre, que o sono não me deixou ver ainda bem…

   Não acabas de proclamar a tua Fé na Vida?

   Na Vida?

   O que é serem novos todos os momentos?

   Ah! A rotina e o tédio significam paragem da vida. Serem novos todos os momentos é viver em intensidade máxima!

   Continuas dando a resposta que Me pediste.

   Foi o meu sono que me fez, nas Tuas Mãos, proclamar a minha Fé na Vida?

   Não foi o sono que te deu sede de estares vivo?

   Pois foi.

   E não te levou ele, mais uma vez, à Fé em que Eu sou a Fonte da Vida?

   Levou.

   E não estás proclamando, devido justamente ao teu sono, que Eu sou Aquele-que-Une?

   Sim, Mestre: estou vendo e anunciando que Tu vieste e virás para unir tudo o que o Diabo separou e unindo farás circular de novo a Vida onde era Morte.

    Dás-Me mais coisas mortas para Eu transformar em Vida, Profeta querido do Meu Coração?

   Ficas feliz sempre que Te oferecemos a nossa deficiência e a nossa incapacidade?

   Mas não foi justamente para isso que Eu vim à terra?

   Toda a Tua alegria é curar-nos?

   O mundo continua cheio de dores apenas porque Mas não oferece.

   Ah, se mas deixasses oferecer-Tas eu todas!

   Gostei muito da tua oração de ontem à noite.

   Ah! Aquela em que, ao meditar os Mistérios Dolorosos do Rosário, eu ia dizendo à Tua e nossa Mãe que Te pedisse para juntares as nossas dores aos sucessivos momentos da Tua Paixão: ao Teu Getsémani as nossas angústias e a nossa solidão, à Tua flagelação o sofrimento de todos os torturados e doentes do corpo e assim por diante?

   Escreve, escreve o que Me pediste no terceiro Mistério através da Minha Mãe.

   Para mim o terceiro Mistério é talvez o mais denso da Tua Paixão. Ele fixa aquela imensa noite em que Te gozaram no pretório de Pilatos, em que Te torturaram o corpo e achincalharam a alma, em que emporcalharam sadicamente a Tua inocência, em que brincaram e se divertiram com os Teus mais fundos sentimentos, aqueles justamente em nome dos quais estavas morrendo… Meu querido Rei das Galáxias, não posso deixar de Te ver ali com um farrapo às costas, uma cana na mão, uma coroa de espinhos na cabeça e, de olhos vendados, recebendo bofetadas, ouvindo, no meio de grande galhofa, pedirem-Te que adivinhasses quem Te batia! Então peço à Mãezinha, meu querido Rei dos Mundos coroado de espinhos, que Te fale daquela que é talvez a maior e mais universal das nossas dores: o sermos achincalhados nos nossos sentimentos, o andarmos neste mundo com tudo o que de mais belo e fundo sentimos recalcado e escondido no abismo da nossa alma, porque nos gozam se o damos a conhecer! E queria muito que este imenso mar de sofrimento Tu o levasses agora Contigo para aquele pretório e o juntasses à Tua Dor. Talvez não fosse necessário o dilúvio de fogo, não? Eu creio em Ti, Pantocrator!

domingo, 3 de agosto de 2014

1372 — O ouvido do cego


29/11/96 1:40

   – Surpreende-me, Jesus! Mostra-me, mais uma vez, o quanto me amas! Se não é tempo ainda de ouvir distintamente a Tua Voz, continua lançando os fundamentos da Tua Igreja em mim, através do ouvido do costume, o ouvido do tacto, fazendo assim da minha Fé um rochedo vasto e inamovível.

   Diz que vantagens tem esse teu ouvido, o do tacto, como tu lhe chamaste.

   É como o tactear do cego: é mais lento, mas mais seguro; não avança sem se certificar da solidez do caminho que pisa e da natureza das coisas em que toca. Está menos sujeito a enganar-se, porque nunca é a aparência das coisas que se lhe impõe: se topar com um jarro com líquido dentro, nunca dirá que é vinho, sem o provar. Vá, Mestre, continua. Porque estás assim de tão poucas falas hoje?

   Porque quero que me apalpes. Não é do tacto que estamos falando?

   É do ouvido, Mestre. Do ouvido do tacto.

   Terá que ser, pois, um ouvido com mãos, com corpo….

   Sim, Mestre. Continua.

   Toca-Me, então.

   Ah, Mestre… Como faço isso?

   Como se toca? Não é com as mãos, com o corpo?

   Sim, mas como faço, se Te não vejo?

   Faz como o cego. Como faz o cego?

   – Apalpa. Mas apalpo como, onde, se não sei onde estás? Eu tenho que me encontrar, de qualquer forma, com o Teu Corpo! Ah, Mestre, que penosa está sendo esta escrita!… Eu não Te estou a entender: não terias que Te materializar para eu Te poder tocar?

   Estamos a falar do ouvido. O tacto de que falamos é o tacto do ouvido.

   Sim, Mestre. Mas então, pior! Como tacteio com o ouvido?

   Não será o que vens fazendo desde o princípio deste texto?

   Talvez… Mas o que eu sinto é só que faço esforço para construir o texto e que por isso a cabeça me está ficando levemente dorida.

   A dor vê-se? Ouve-se?

   Não. A dor sente-se.

   Como se apreendem as coisas pelo tacto?

   Sentindo-as.

   Sente-Me. A Palavra que Eu sou é feita de Carne e Sangue. Tem Corpo. É um Corpo!

      A sensação é indescritível: ao mesmo tempo que a leve dor de cabeça me desaparecia por completo, foi como se o Corpo de Jesus se tivesse, devagarinho, metido no meu. Imagine-se um outro corpo, de estatura sensivelmente igual ao nosso aproximando-se de nós, de lado, e que ao tocar no nosso não pára, mas continua avançando para dentro até se configurar inteiramente connosco! Eu disse que a sensação é indescritível: o que ficou escrito nada revela, certamente, do que aconteceu. Devo acrescentar que era um ardor gostoso o que eu sentia ao meter-se o Corpo de Jesus no meu.

sábado, 2 de agosto de 2014

1371 — A torre imponente e a frágil árvore


26/11/96 14:53:45

   Passo sempre, depois do almoço, pelo local onde o Mestre me pediu que reconstruísse a Sua Igreja. Entre mim e o Mosteiro, a árvore ou árvores que no verão se encheram de folhagem quase encobrindo por completo a alta torre, estão despindo-se e vejo-as agora reduzidas a meia dúzia de varas levantando-se em posições anárquicas, frágeis, franzinas, quase ridículas. E enterneço-me. Parece um recém-nascido a quem tiraram a roupa, para ir tomar banho: meio informe ainda, bracitos e pernas agitando-se em movimentos descoordenados. Enfim, vejo ali tudo, menos força, poder, robustez. Exactamente o que vejo na torre. No entanto, quando vier a próxima Primavera, eu sei que a torre ficará igualzinha: forte, rígida, com aquelas formas geométricas que não encontro em parte nenhuma na Natureza. Mas já não a verei ali, do meu sítio, do lugar exacto em que Deus me disse, frente à visão daquela torre que, nas suas ameias, mais me parecia uma coroa de rei recortada sobre o azul do horizonte: “Reconstrói a Minha Igreja”. Como se me dissesse: Aquilo que estás a ver é uma ruína. Sim, porque na Primavera próxima, ali do meu sítio, o que eu verei é um tufo de verdura elevando-se para o céu, numa fúria tal, que me não deixará ver nem uma das linhas geométricas da torre. E estará adquirindo aquela fúria verde a forma e o Encanto da Harmonia Viva!

   É claro que vejo ali a Igreja-Bebé absorvendo toda a minha atenção, uma capacidade que a outra, a da torre, terá perdido irremediavelmente, para mim. E estará aqui todo o seu poder: Ela será um ser vivo que inteiramente me subjugará com o seu Encanto. E assim, aquela imagem numérica que no dia dos meus anos me fez sofrer, o 12, transformou-se em símbolo de algo que falta ao Evangelho de Marcos: a Igreja, Testemunha da Luz para todos os povos. E a outra imagem daquele mesmo dia, o 18, lá está também como a outra Realidade que veio depois da Ascensão e que não está ainda no Evangelho de Marcos: Maria, a Mulher vestida de Luz e protótipo da Igreja.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

1370 — Um presente de aniversário


24/11/96 4:00

(Jesus havia-me dito: “Lê Marcos dezoito, doze”. Ora o Evangelho de Marcos só tem 16 capítulos!)

   Faço hoje 56 anos. E começo esta celebração de forma estranha: perplexo, confuso, decepcionado. Apetece-me chorar. E pergunto: que prenda de aniversário será esta, este ano? O Mestre já me habituou a receber d’Ele uma prenda, neste dia, e eu estou à espera. Também já sei que as prendas d’Ele podem ser do mais estranho que há. Por agora só tenho à minha frente alguns elementos desconexos: aquela citação do final do dia de ontem, os algarismos a que há pouco acordei, um vago sonho e um coração triste da frieza que sente. Que faço com isto? Se está aqui a prenda do meu Amigo e Companheiro desta viagem pelo Deserto, então deve ser especialmente bela e preciosa, porque é completa surpresa: nada disto que referi pode ser, de forma alguma, uma prenda de um amigo. De facto, a primeira coisa que pôs diante de mim é das maiores decepções que o Mestre até agora me proporcionou; a segunda, embora os algarismos sejam expressivos em si, não sei como a hei-de interpretar; a terceira deixou-me também frustrado, porque do sonho só retenho que, num concurso qualquer, me metiam pena os desclassificados e todos os que não chegaram ao primeiro lugar; a quarta, a da frieza de coração, sendo habitual, não é de modo nenhum um clima que um amigo proporcione em dia de aniversário. Para cúmulo, só me apetece largar o relato destas coisas, enfiar-me na cama, desistir de tudo e tentar dormir.

   Quanto mais fácil não era, de facto, largar tudo isto, eliminar de uma vez por todas estas preocupações que eu próprio criei! Tão fácil! Bastava um acto de vontade para que logo desaparecesse tanto sofrimento, o de agora e o de há tantos anos! Mas não. Mesmo que este sofrimento se multiplicasse por mil, eu não largaria o meu Amigo. E isto quer dizer exactamente o que está sugerindo: que largar o sofrimento seria largar o meu Amigo. E eu não O largo, prontos! Pode Ele fazer-me citações em falso quantas vezes quiser, pode continuar a falar-me, até ao fim da vida, só por sinais mudos, como os algarismos, pode mandar-me sempre sonhos que mais e mais acentuem a minha impotência, pode reduzir-me o coração a uma pedra de gelo: largá-Lo é que eu não largo. Se o Diabo julgou que, montando este diabólico cerco ao meu coração, conseguiria algum dia asfixiar nele o meu Amigo, vai ver os seus exércitos, um a um, morrer de fome e de peste, porque terá que manter o cerco até ao fim da minha vida!

   Choro. Choro muito. Assim inicia a celebração do meu aniversário. Não sei ainda qual é a prenda do meu Amigo. Mas surpreender, Ele já me surpreendeu com este rio de lágrimas a sair de um coração que eu afirmei estar gelado.

   Mestre, vem cá: diz-me o que andas a fazer comigo.

   Jesus apertou-me muito contra Si e eu senti-me, por um breve instante, desfalecer n’Ele. Agora Ele diz, com muita serenidade, como quem fala para um amigo, inteiramente seguro da sua afeição:

   Queria só que continuasses o Evangelho de Marcos, até ao versículo doze do capítulo dezoito, porque o Marcos termina na Minha Ascensão e o Meu Evangelho não terminou aí. É o que querem dizer os Meus Sinais, quando acordaste: Escreve, pela força do Espírito. Escreve que, no meu Reino, os primeiros são os desclassificados deste mundo.