No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

sábado, 31 de agosto de 2013

1084 — Vassula


   Vassula foi o primeiro Profeta do nosso tempo que conheci e a sua Profecia (“A Verdadeira Vida em Deus”) me fascinou e a ela me prendeu para sempre. Ainda hoje um dos seus livros me acompanha em permanência, Ora, no inicio de Novembro de 1995 o Vaticano emitiu uma “Notificação” falando da Vassula como se ela fosse um perigo para a Igreja. Logo que disto tive conhecimento, escrevi nestes Diálogos: “Estou abalado pela notícia: a Congregação da Doutrina da Fé condenou a Vassula! Não sei ainda os termos exactos da “notificação”, nem é necessário que os saiba: não há termos exactos: um dos Departamentos da Igreja Católica emitiu um juízo negativo sobre a Vassula, carregando-o de toda a sua autoridade de órgão “oficial” do Governo da Igreja. E agora? Como faço, como faremos nós cristãos para continuarmos a ser fiéis a Jesus e à nossa Fé que proclama a Igreja Rochedo inabalável contra a qual as portas do Inferno não prevalecerão?”. A resposta, lapidar, dá-no-la o próprio Jesus. Ora ouça-se:

15/11/95 3:48

   A resposta do próprio Jesus à “notificação” do Vaticano é a mais clara prova de que Vassula é um autêntico Profeta de Deus. Pela denúncia frontal: “A tua missão não estará cumprida senão quando Eu lhes permitir que te crucifiquem”. E mais claramente ainda: “Tu foste entregue por um dos teus aos Romanos, a fim de que eles te condenem e sejas crucificada”. De facto a identidade do falso profeta está na sua recusa a denunciar, em dizer que “tudo vai bem”. Encobrir a podridão é precisamente a tarefa de Satanás. Ora, contra ventos e marés, Jesus proclama na Vassula a Verdade, por vezes brutalmente crua, correndo o risco de ficar de novo sozinho e de Se levar de novo à crucifixão na pessoa do Seu Profeta. Foi por certo esta denúncia que levou agora a esta condenação da Vassula por parte da própria Igreja de Jesus, uma vez que os guardiães da “Doutrina da Fé”  não encontrarão certamente nada neste Profeta que não saia, límpido, da Escritura e da Tradição. Nada encontrarão que vá contra a “sã Doutrina” ou não conduza a uma Fé viva no Senhor. Jesus diz claramente que se tratou de uma condenação de conveniência, como a do “romano” Pilatos perante a pressão dos “ortodoxos”. Como poderia Jesus manter oculta semelhante podridão na Sua Igreja? Porque a conveniência é esta: eles só, teólogos e doutores da lei, querem comandar o processo de União, como se fossem os proprietários da Igreja; eles não admitem a Profecia, porque esta vem do Espírito e lhes foge ao controle. No entanto é a Profecia que deve comandar sempre a Igreja de Jesus e “até este momento, eles não conseguiram ainda compreender que esta Mensagem vem de Mim” diz Jesus, a desculpá-los, como outrora na Cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”.

   E é justamente aqui que está a outra grande prova da autenticidade desta Profecia, a prova maior de todas, porque nela se cumpre o Mandamento Novo trazido pelo próprio Jesus. Repare-se no extremo cuidado com que o Mestre procura suscitar a compreensão e a Fé do Seu Profeta. Ele, melhor do que ninguém, sabe que “isso irá parecer ilógico a muitos”. Diz Jesus, de repente: “Vassiliki, olha bem para os Meus Olhos…”. E Vassula: “Olhei para Ele”. Então o Mestre, como nos grandes momentos, como quando da confissão de Pedro, avança pela via afectiva em direcção ao coração do Seu Profeta: “Vais prometer-Me, se Me amas, que lhes perdoas a todos”! Jesus sabe que é precisamente aqui que Vassula mostrará ser Sua verdadeira discípula!

   Querido Mestre! Como Ele é sábio e bom! E exímio estratega: Ele pede à Vassula que guarde o Seu “silêncio”; o contrário seria fazer exactamente o jogo de Satanás – o que ele pretende é enredar, ele é o rei do chiqueiro e da confusão! O discípulo de Jesus não precisa  nunca de se explicar para se defender: as suas obras serão a própria Luz que suscitará por toda a parte “testemunhas” impossíveis de calar. E se elas se calassem, até as pedras falariam! Por isso não morrerá o testemunho do Profeta naqueles que de verdade receberam a Luz: “Os fiéis permanecerão fiéis”.

   Pedi muito à Senhora, já ontem, que fosse dizer à Vassula que tem em mim um irmão firme.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

1083 — Que eles sejam Um


   Foi à despedida dos nossos olhos carnais que Jesus nos deixou as bem conhecidas palavras: Pai, que todos sejam Um. E logo a seguir avançou para a morte que conhecemos. Mas, a não ser nos primeiríssimos tempos, nunca a Sua própria Igreja foi “um só coração e uma só alma”. A mensagem seguinte tenta mostrar porquê.

13/11/95 8:42:18

Acabo de abrir “ao calha” o livro que tenho à frente, e ouço isto: “Cada esforço, cada passo em frente, feito pela União, é três vezes abençoado: pelo Pai, por Mim mesmo e pelo Espírito Santo(…). Não há ninguém que tenha rezado, se tenha sacrificado e tenha jejuado por causa do Reino de Deus, que não tenha sido ouvido, ou a quem se não tenha dado cem vezes mais, no tempo presente e no mundo futuro e que não tenha igualmente herdado a Vida Eterna”.

   E anda dentro de mim esta associação nova, trazida pela Senhora: a União realiza-se através do Dom da Cruz. Mas a Cruz não aconteceu há dois mil anos; a Cruz tem que estar continuamente levantada no Gólgota, com Jesus nela, sangrando, coroado de espinhos, agonizando no meio da Dor. Nada em Jesus foi. Ele permanece vivo em tudo o que disse e fez: Ele diz e faz em cada momento da História. Ele é o Verbo sempre vivo e activo. Continuam hoje três cruzes no Gólgota, porque a Dor da Humanidade não desapareceu – antes se intensificou. É preciso que olhemos de novo e sempre a nossa Dor ali sobre o monte: a de Jesus em todo o inocente que como Ele a oferece ao Pai, a do bom ladrão em todo aquele que nela descobre a porta do regresso ao paraíso, a do mau ladrão em todo aquele que a não aceita, que dela culpa todos os outros, excepto a si próprio, que a carrega porque não há remédio, praguejando contra o Céu e contra os seus semelhantes transformados todos em inimigos. É esta última a mais horrível das dores, porque é só um rio de fel queimando tudo quanto é natureza e dividindo o próprio coração de todos os outros corações. A outra Dor, aquela que franqueia  a porta que dá para a vereda de retorno ao Paraíso e aquela que a está já percorrendo forma um rio de sangue quente e vivo que por onde passa cura, ressuscita e une num só corpo a Humanidade, a partir do Coração de Deus pulsando, vigoroso, sem descanso, esta Linfa da Vida que alastra…

   Não, meus amigos teólogos, a Unidade não será nunca conseguida por vós sentados em cadeirões discutindo pontos de doutrina. Vinde todos beber da Linfa deste Rio, vinde trazer o vosso coração para ser curado do vosso pecado da insensibilidade e da soberba e da traição ao vosso Mestre, de cuja cadeira O espoliastes em vosso proveito. Deixai os cadeirões e os livros. Não façais mais conferências para gente selecta, dizei aos vossos alunos na universidade que estais pondo em causa tudo o que lhes tendes ensinado. Se virdes a universidade começar a ceder, a abrir brechas, a ruir, faculdade após faculdade, departamento após departamento, e se perante este espectáculo o vosso coração se alegrar, contra todo o bom senso e toda a lógica, isso será um Sinal de que o Mestre estará regressando à Sua Cátedra e de que a Disciplina estará sendo de novo restabelecida e ensinada. Então ver-vos-eis no meio da multidão ouvindo, encantados, da boca do Mestre, a Absoluta Novidade, que nunca tínheis visto nos vossos antigos livros, e vereis o ignorante ao vosso lado, de sorriso rasgado, mais do que o vosso, sorvendo as Palavras do Carpinteiro como quem tudo entende! Ah, quão longe terá ficado então a universidade, feita pura ruína!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

1082 — Quando tudo falha



   Jesus nunca disse que o Seu Caminho seria agradável ou fácil; o que sempre prometeu foi a nossa Libertação para uma Nova Terra e para um Novo Céu. E foi o Único que até hoje nunca falhou; nós é que sempre até hoje nos recusámos a seguir o Seu Caminho.

11/11/95 11:21

   Não te canses de escrever! ouço eu o Céu dizer-me, carinhosamente, a todo o momento. Dá testemunho, sê o mártir da Luz! – é o que me dizem aqueles algarismos. Então eu escrevo, creio que mesmo morto continuarei a escrever: é preciso que o mundo saiba o que se passa no meu coração! Porquê? Que tem o meu coração de tão importante para o mundo? Foi mesmo agora que o Senhor mo disse, acompanhado de uma carícia da Mãe: o meu coração é o lugar onde poderão vir buscar alimento para a sua Fé todos aqueles que gostariam de acreditar, mas que nunca nada viram. Ao descrever sempre a minha paisagem interior, esteja ela como estiver em cada momento, ela será força para todos aqueles que se sentirem desalentados na busca da Face do Senhor. Relatando tudo o que no meu mundo interior se passa, eu estou iluminando os estranhíssimos Caminhos do Senhor e estou dizendo que a santidade não é só para místicos ou frades. A minha biografia faz o resto:  eu sou frade, eu sou padre, eu sou leigo, eu sou casado, eu sou pai, eu sou um profissional da Cidade, eu sou mesmo um divorciado! O meu coração revela um ordinaríssimo caminho de conversão e de busca do Senhor: não há espectaculares Sinais vindos do céu, não há chocantes reviravoltas, não há arrebatamentos  místicos, não há vozes vindas do Céu que eu tenha captado distintamente, não há uma única visão de uma única Personagem celeste! Eu sou talvez o mais opaco e rude espírito que existe à face da terra. Depois eu fui sempre um bom cristão: nem sequer tenho a vantagem de ter sofrido o marcante abalo de uma espectacular conversão.

   Eu só tenho os meus Sinais! Sinais débeis, falíveis, inteiramente subjectivos: ninguém os vê senão eu e o seu significado sou eu que lho atribuo e ninguém me garante a autenticidade da minha interpretação. Por isso transporto sempre comigo a carga das minhas dúvidas, dos meus sustos, das minhas perplexidades, dos meus pelo menos aparentes fracassos. Sou assim atirado aos baldões através do negrume da Noite e do Deserto quantas vezes para situações-limite! Esta que atravesso agora, por exemplo, em que o próprio Céu me chegou a cansar e a enjoar. É uma situação  terrível esta, em que não há mais saída: ou eu curo e me salta do rochedo de novo a torrente da Vida, ou continua em mim esgotando-se a vida até ao fim do fim e eu morro irremediavelmente. Numa situação destas, nem os Sinais funcionam – até dos Sinais desconfio, até os Sinais cansam e enjoam! A que me posso eu, pois, agarrar? Aos Sinais. Sempre e só de novo aos Sinais! Não vejo outra hipótese de continuar vivendo. Por mais falíveis que possam parecer os Sinais. Por mais subjectivos que possam parecer as interpretações dos Sinais: Deus não exige de nós nada para além daquilo que em cada momento o nosso ser pode dar. Esta é toda a Objectividade que Deus quer de nós. Objectivo, para Ele, é aquilo que em cada  momento nós somos. Ele não está à espera de nada. Nada Lhe podemos dar, a não ser a nossa vontade de O encontrar. As vias por que O procuramos são-Lhe todas muito queridas, Ele leva-as todas a sério.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

1081 — Getsémani


   Uma das maiores provas para a minha fé foram, sobretudo no início, as fases, às vezes bem longas, em que não sentia a Presença do meu apaixonado Amigo Jesus. Mas Ele mesmo, por processos vários, insistentemente me pedia que continuasse a escrever. Veja-se aqui o que, numa dessas situações, me saía do bico da caneta.

10/11/95 – 10:45

   Nos últimos dias escrever passou a torturar-me: em vez de um avanço exaltante pelo Mistério de Deus, tornou-se um peso que me força, me oprime e mais me seca. Escrevo muito devagar e o discurso não me sai fluente. Mas a maior tortura vem-me de eu não ouvir o Céu e por isso me parecer tudo o que escrevo como trabalho do meu próprio esforço apenas, construção só minha. No entanto é obsessiva a presença do 4 e a Voz do Senhor através da Vassula a dizer-me permanentemente que não me canse de escrever. Então escrevo. E logo a voz da razão me objecta: E que sentido tem uma escrita forçada, que Deus é este que assim tortura os Seus filhos? Boa pergunta, meus senhores sábios e prudentes. Tão boa, que vos aconselho a fazerem-na ao próprio Jesus quando O encontrardes no Jardim das Oliveiras suando sangue. Tenho a impressão de que Ele vos dará uma corrida a vós e ao vosso discurso da razão e da prudência, como se em vós falasse o próprio Satanás. Sei mesmo cá dentro que não foi só no Getsémani que a vossa voz sensata chegou a Jesus: em vários momentos da Sua vida Ele teve que vos despachar com a mesma expressão enérgica e dolorida quando, à Sua queixa de que não tinha onde reclinar a cabeça vós Lhe fostes com a vossa conversa melada e mole da prudência e da bondade de Deus. Definitivamente, vós não sabeis nada das coisas do Pai, o vosso espírito é, de cima abaixo, uma construção artificial, que o Pai não conhece. Mas se algum de vós ficar escondido atrás de um qualquer rochedo espreitando o Mestre, vai certamente ouvi-Lo gemer estas palavras: Estais a dormir? Nem uma hora conseguistes vigiar Comigo? Pai, não é mesmo possível evitar tamanha dor? Não? Não, Paizinho?

terça-feira, 27 de agosto de 2013

1080 — Provações


   Os Profetas – e qualquer pessoa que se apaixone por Jesus – são sujeitos a provas muito duras, para que a sua Fé adquira a omnipotência de Deus. É que eles, na verdade, falam sempre de coisas que não são deste mundo e que, portanto, só a Fé pode ver…


7/11/95 18:35:18

   Faz-me perfeito, Mãe! Parece-me que estou cada vez mais imperfeito: vejo menos, ouço menos, sinto menos, cada vez menos, muito menos… Onde está a alegria que inundava o meu coração o ano passado por esta época? Para onde se sumiu a vibração tão intensa do Céu em mim?

   Sentes-te culpado dessa situação?

   Não, Mãe. Fiz tudo quanto pude. Não sei fazer mais nada. É bem verdade que perco o contacto com o Céu com alarmante facilidade. Mas já desesperei  de remediar  este mal e nem sequer disto me sinto culpado: sofro com isto, atribuo-o à frieza do meu coração que não sei como me veio nem como fazer desaparecer.

   Sentes-te abandonado pelo Céu?

   Tanto e tantas vezes! Tão abandonado, que tudo quanto escrevo me parece exprimir sempre as mesmas mãos, os mesmos pés, os mesmos dentes cravados nos mesmos sítios na escarpa do monte, para não cair e não morrer. Só a Certeza de que o Tesouro está lá em cima, só a Esperança de que alguém me venha valer me mantém teimoso olhando ainda de olhos mortiços a escarpa à procura de novo ponto de apoio para subir mais um centímetro.

   E tens encontrado o apoio que procuras?

   Tenho sim, Mãe, tenho. Não sei porque não pegas em mim, não me tiras daqui e pronto; sei só que tem que ser assim, é assim que o Teu Jesus e meu Mestre quer. Mas dentro de mim há um sítio do tamanho da pontinha de uma agulha, luminoso, que capta o Teu Olhar ansioso, o Teu Sorriso confiante, o Teu Gesto acariciando levemente, imperceptivelmente. E são estes os meus pontos de apoio. Todo o meu apoio és Tu. Mas tremem-me já de cansaço braços e pernas, dói-me o corpo todo, ouço mal, vejo pior, diria que estou por tudo. Só me quero manter agarrado à escarpa, se possível andando, nem que seja um metro por dia. Nem sequer vejo nada para cima, não vejo a meta, não sei se vou no caminho certo. Estou andando completamente às cegas. Olha, Mãe: não entendo, por exemplo, o sentido e a utilidade e a lógica deste texto que estou neste momento a escrever. Uma tremenda sensação de ridículo, Mãe! Eu deveria chorar, mas nem isso consigo fazer: nem sequer lágrimas tenho, no coração! Explica-me isto, Mãe!

   Consegues imaginar-Me explicando alguma coisa naquela tarde diante do Meu Filho gritando que vai morrer abandonado?

   Pronto, Mãe, acabaste de explicar tudo. Mantém-me então nesta minha cruz até tudo estar consumado. E não me deixes escrever asneiras, Mãezinha!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

1079 — Sistematizações


   É frequente ouvir-se chamar a esta Ordem construída por nós ao longo dos milénios desde o Primeiro Pecado, o Sistema. Sistematizar seria, portanto, manipular uma determinada realidade viva, de modo a que ela encaixe o mais rigorosa e eficazmente possível no Sistema. Tornar-se-á então uma realidade morta, uma peça da Engrenagem como todas as outras peças. Por isso diz assim Jesus:

2/11/95 10:10:12

Sistematizar é pecado! Reordenar à nossa maneira o que saiu das Mãos de Deus ordenado de outra maneira é, de novo, o Pecado Original! Não, meus irmãos sensatos, todos vós amigos meus e da objectividade e do realismo: o que Deus uniu, não separe o homem! Procurai a união concebida pelo Pai do Céu, até a saboreardes: garanto-vos que toda a tentativa de tirar do sítio uma única ervinha ali colocada por Deus vos parecerá um horroroso pecado. Reconhecereis que a Unidade está no Mandamento do Amor e o Amor consiste em deixar estar no sítio aquilo  tudo que Deus lá colocou e em ajudá-Lo a pôr no sítio aquilo que nós tirámos do sítio com as nossas horrorosas sistematizações. Mais vos queria dizer hoje, meus queridos amigos sistematizadores: as vossas sistematizações pretendem ensinar os outros e está escrito que só há um Mestre – Jesus. Por isso não tenhais medo de abandonar na biblioteca todos os vossos livros, todos eles cheios de enfadonhas sistematizações; vinde também vós respirar o ar puro da paisagem concebida por Deus, Esse mesmo Deus que dizeis servir: ficareis espantados com a frieza dos pedregulhos que deixastes nas estantes, com o lixo que tudo aquilo representa e pedireis a Jesus, talvez até um pouco precipitadamente, que faça descer fogo do céu e reduza a cinzas aquilo tudo! É que vereis com espanto o vosso coração dessistematizar-se e vereis os estragos que andáveis fazendo no coração dos outros. Ficareis então sabendo que a “Beleza sempre antiga e sempre nova” que descobristes foi semeada pelo Céu nas Asas do Vento e o Vento, na maior surpresa das vossas vidas, vê-Lo-eis como o Grande Ordenador do Universo!

domingo, 25 de agosto de 2013

1078 — Ser nada


   Nada de grande pode acontecer na História sem um grande sofrimento prévio. A coisa maior que nos pode acontecer é encontrar Deus com o coração. A nossa reacção é imediata: queremos ser nada. E mesmo que ninguém entenda porquê, nós entendemos muito bem: nós quisemos ser tudo sem Deus; agora queremos ser nada, para que Deus volte a ser Tudo em nós. Entramos então num caminho difícil mas exaltante…

30/10/95 8:58:48

   Interpreto estes algarismos como Sinais de que devo continuar dialogando com a Senhora. Jesus está presente, a dizer que são d’Ele as Palavras trazidas pela Senhora.

   Olha, Mãe, porque me não deixaste dormir mais, depois do fim da vigília?

   Não te deixei dormir mais, Eu?

   Eu pedia-Te que me deixasses dormir.

   E Eu não te deixei dormir?

   Eu não dormi – este é o facto.

   Já imaginaste um filho a pedir à mãe que o deixe dormir e a mãe a impedir que durma?

   Já. Antes da hora das prendas, no Natal, por exemplo. Antes da chegada de alguém muito querido, o pai por exemplo, para que esteja desperto à hora a que ele vier.

   Sentes que o mesmo se passa, no teu caso?

   Sinto, Mãe. Eu sei com o coração que algum objectivo tem esta insónia a seguir à vigília.

   Deixas-me dar-te um xi-coração muito apertado, Meu filhinho?

   Se deixo?! Ando a pedir-Te isso há tanto tempo…

   Somos muito maus, Nós, aqui no Céu, não somos?

   Ah, sim! Exigis tanto…

   E tu? Achas mal? Queres desistir?

   Nem por sombras!

   Por que forma sentes a Nossa exigência?

   As vigílias, as insónias, a escrita, o desinteresse pelas coisas da Cidade, a secura. Sobretudo esta horrível secura.

   Qual o efeito da secura?

   Com o coração seco, fixo a atenção em qualquer coisa que tenha à frente.

   Dá, dá esse exemplo.

   Por exemplo nas formas do corpo de uma mulher.

   E outra consequência da secura é…

   Agarrar-me mais ainda ao Céu.

   Mais algum efeito da secura?

   Sim. Hesitações, dúvidas, desânimos momentâneos.

   Mais algum efeito ainda?

   Vários ainda, talvez.

   Tenta encontrar outro.

   Não estás a ser muito cerebral, Mãe? Não Te julgava neste papel. E isto depois desta insónia… Não tens pena da minha cabeça?

   Eu gosto muito, muito de ti. Diz. Diz outra consequência da secura.

   Nervos, más disposições, no trato com as pessoas.

   E é tudo?

   Falta uma! Falta uma e acho que é a mais importante!

   Ah sim?

   Sim, Mãe! E sinto agora que foi esta a razão da Tua insistência! Tu és mesmo o Teu Filho chapadinho, a ensinar! Posso dar-Te um xi-coração muito apertado?

   Havemos de dar um xi-coração que nunca mais esqueças.

   “Nós”?

   “Nós”, meu filhinho, escreve, não tenhas receio. Está na hora de dizeres qual é o outro efeito da secura, não?, esse tal mais importante.

   A consciência da nossa nulidade.

   Revê agora todos os efeitos que registaste anteriormente. Que te dizem eles agora?

   Que sou muito frágil. Que sou impotência pura, sozinho.

   Somos muito maus, Nós, aqui no Céu, não somos?

   Ah, Mãe, não sei que hei-de dizer. Só me apetece mesmo dar-Te um abraço tão, tão apertado… Então é isso: estiveste a explicar-me o porquê dos Caminhos do Pai!?

   Estive. Há alguns mauzões na terra a quem o Céu resolve explicar os Caminhos do Pai.

   Que Te faço, Mãe? Conseguiste abalar-me todo nesta secura.

   Com quê?

   Não sei. Com um gostoso “fluido”, suave e forte.

  “Piegas”?

  Acho que sim. Bendita pieguice!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

1077 — O fim da Utopia


   Temos sempre muitas saudades do Paraíso, mesmo que o não admitamos publicamente. Desejamos muito um novo Paraíso, depressa. Mas sempre nos disseram que isso era uma utopia. E explicaram-nos que utopia é essa coisa muito linda de que temos muita fome e sede, mas que sempre segue lá longe à nossa frente. Isto é: por mais que andemos, nunca a veremos realizada. Se Jesus pensasse assim, teria entregado a vida daquela maneira para quê?

28/10/95 9:03:13

   A Utopia pode realizar-se: é só substituir, na Igreja, a Lei pela Profecia!

   Não é possível! é o grito unânime de todas as bocas e eu já com um pé levantado também, prestes a passar para o lado da multidão, deixando o Mestre sozinho no meio. Então Ele faz sinal para que todos nos sentemos, como fez naquele tempo aos cinco mil homens sem contar mulheres e crianças, uns esfomeados, outros apenas curiosos. E ouço-O falar assim:

   – Eu disse-vos uma vez que sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Todos vós ouvistes, tendes estas Minhas palavras escritas por todo o lado, ouvi-las pronunciar todos os dias, mas muito poucos de vós as têm levado a sério: pensais que é só maneira de falar, que é só figura de estilo. Também os Meus próprios discípulos as não entenderam, na altura em que as pronunciei. Mas quando Me viram morto, esvaído em sangue naquela Cruz, retalhou-se-lhes o coração de pena, de dor da Minha Dor e de dor da Minha ausência. Ainda não tinham entendido, mas sentiram um terrível vazio, como uma insuportável fome: eles precisavam desesperadamente daquele Corpo andando, fazendo gestos, expressões, tomando atitudes, falando. Então deixavam cair as cabeças nos ombros uns dos outros e choravam, choravam muito. Mas não tinham ainda entendido aquela estranha ausência que não era uma simples pena ou saudade, porque os devorava, como se aquele Corpo que fora a enterrar fosse toda a sua vida e nada mais sobre a terra houvesse que os pudesse saciar. “Vou pescar” – dizia o Meu Pedro, mas era só para ver se disfarçava esta fome que o devorava todo. Passada aquela noite, e a outra, apareci-lhes ressuscitado com aquele mesmo corpo, que eles viam aparecer e desaparecer, passar através de paredes, e um enorme alvoroço se apoderou deles, mas não tinham entendido ainda. Apareci a dois dos Meus discípulos disfarçado de corpo carnal e eles confessaram sentir o coração ardendo enquanto lhes falava, como alguém sôfrego que está sendo saciado de saboroso alimento, mas só ao partir do pão Me reconheceram, sem contudo terem entendido. Durante quarenta dias era este Meu Corpo assim vivo que lhes saciava o horroroso vazio anterior. E era aquele um alimento tão estranho, tão novo, que ninguém o entenderia, ninguém o poderia receber, só aqueles que também tinham sentido o vácuo anterior, aquela necessidade absoluta do Corpo desaparecido. Por isso a nova Surpresa que lhes estava inundando a todos o coração: esta mesma fome deste Corpo Vivo unia-os a todos num só. E este único sentir, como se fosse um só coração num corpo só, ainda mais se intensificava pelo facto de eles se sentirem únicos sobre a terra: ninguém mais entenderia “aquilo” a não ser que tivesse conhecido o Mestre que morrera e tivesse como eles sentido aquela tão funda, tão inexplicável fome. Ao fim destes quarenta dias subi ao Céu à vista deles, mas antes tinha-lhes dito que voltava em breve, duma forma outra vez diferente, duma terceira forma, outra vez nova, numa forma de Presença mais viva ainda, tão viva, tão concreta, que eles não mais teriam saudades das Presenças anteriores, a ponto de essa nova Realidade iluminar as Presenças anteriores de tal forma que entenderiam, só agora, o seu pleno significado. Subi ao Céu e eles ficaram olhando, uma mancha de saudade no coração, sem terem entendido ainda. Mas esta mesma saudade, que não se comparava já à antiga fome, continuava unindo-os fortemente. Pouco tempo assim viveram, suspensos da Minha Promessa, a grande, a Minha maior Promessa. Ao cabo de dez dias voltei. Com uma violência tal, que eles agora não entendiam por ser demasiado intensa a Luz! Só sabiam uma coisa: Eu, tal como Me tinham conhecido, em Corpo agindo e falando, estava agora dentro deles. Agia dentro deles! Falava dentro deles! Nem queriam acreditar! Eu estava vivo, mais vivo que nunca! Em corpo! E este era o maior assombro: Eu continuava falando e agindo! Eu continuava ensinando, quer explicando o que antes dissera, quer revelando mesmo coisas novas, que antes não chegara a dizer. E havia um dado novo nesta Minha Presença: Eu estava com cada um como se fosse único. E isso era nova Surpresa e mais um factor de União: eles corriam uns para os outros a contar as maravilhas que em cada um deles Eu operava. E – Surpresa das Surpresas: Eu era o mesmo, na imensa diversidade que alastrava. Ninguém se lembrou de fazer leis para organizar a imensa Força que de Mim se desprendia: a Minha Força nascia organizada.

   São 11:31:58. E sei, por estes algarismos, que o Mestre terminou o Seu discurso perante nós-multidão, que nos fomos sentando e estamos agora em absoluto silêncio. Somos uma multidão imensa e parece que não queremos descolar o rabo do chão. Por isso eu acredito que a Utopia Se vai realizar.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

1076 — Maria, a Senhora


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   Diz a extraordinária história de amor bíblica Cântico dos Cânticos que a Noiva, a protagonista, é “terrível como um exército em ordem de batalha”. E não é certamente por ter ao Seu dispor armas de guerra do género das nossas máquinas de matar: a Enamorada deste Cântico é frágil, indefesa, ingénua. Onde está então a Sua força terrível?

26/10/95 10:20:29

   É nítido que me estou agarrando quanto posso a estes frágeis, ridículos Sinais dos algarismos, a ponto de procurar até os fugidios algarismos dos segundos. Mas escrevo todos estes Sinais com maiúscula! Também se e quando me ridicularizarem, me achincalharem até depois ao vivo, já nada me dirão de novo e aqui estarei, firme como o tronco e a raiz de uma árvore centenária, pronto para enfrentar todas as tempestades, todas as tropelias de Satanás! É isto que me está dizendo a Voz terna e repousante da minha Rainha, mais sábia e poderosa que todo o Inferno junto e disposto em ordem de batalha, possuído de toda a raiva e de todo o ódio que as Trevas tenham a capacidade de parir! Ela, a minha Pequenina, é também a Força toda da minha Fé. Ela é o último Dom do meu Deus, o maior até agora, se é que, entre os Dons de Deus, há algum menor. Minha Pequenina, minha Pobrezinha Virgem de Nazaré! Como Ela é poderosa! Era Ela que faltava à minha Fé! Ela é assim, na Sua Pequenez e na Sua Pobreza, o segredo de toda a Força! Não há montanha, não há avalanche, não há cordilheira, não há avalanche de avalanches, não há espectros, não há monstros colocados por Satanás no nosso caminho para o Amor que Ela não desfaça com um gesto suave, com um sorriso leve! A um imperceptível aceno da Sua Fronte serena, Miguel, esta portentosa criatura feita de Luz e do Sopro de Deus, fará avançar todo o exército celeste desencadeando a batalha de Armagedon(Ap. 19, 11ss), a do Dia Último, mas também esta agora, esta de que se ouve já o rumor ao longe, a do Nono Dia.

   É uma Ordem d’Ela que vai desencadear a Grande Batalha, cujo fim é a Vitória do Cordeiro e a inexorável derrota da Besta. Ela será a grande Revelação do Nono Dia. Como Rainha. Como Primícias e Protótipo de todos os que vão ressuscitar em corpo imortal. Como Mãe da Igreja. Como Ternura para toda a Humanidade!

   Ah, a Grandeza desta Pequenina! Ah, a Riqueza desta Pobrezinha! Ah, a Força desta Fragilidade!

   A Senhora é a grande revelação de hoje ao meu coração.

   Jesus, meu querido teimoso, Tu venceste.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

1076 — Maria, a Mãe


   Maria é uma das maiores revelações de Jesus, nesta Hora do Seu Regresso, mesmo para aqueles que julgam já A conhecer muito bem. Falar com Ela como Mãe acabada de descobrir é uma sensação única.

26/10/95 3:56

  Esta foi a hora a que acordei, mas eram 4:16 quando me levantei. O 6 estou-o considerando agora como simpatia da Mãe a avisar-me de que o Demónio aqui está e é o autor desta barreira que no meu caminho foi colocada para me impedir o acesso ao Coração. Ao Coração de Deus através  do meu coração. Mas ele é de opinião diferente: ele diz-me que não existe, que só eu sou o culpado desta total aridez, porque me pus a querer ser santo à bruta. Que estas vigílias assim, a reduzir-me o tempo de descanso a duas, três, quatro horas por noite, que a violência que sobre mim faço para escrever não poderiam conduzir a outro resultado senão a este. Trata-se de puro esgotamento de energias – diz ele, que até nem existe e que se me tornou, isso sim, pura voz da Razão. E eu fico deste modo sem argumento nenhum para rebater a minha própria razão. Aliás estou-me nas tintas para os argumentos: caído diante da gigantesca barreira que me puseram à frente, todo o resto das minhas forças o concentro na descoberta de uma qualquer hipótese de avançar. Uma delas é esta, creio mesmo que a única:

Senhora, vem dar alento a este coração bloqueado. Vem acabar com a ditadura da Razão em mim, na Igreja do Teu e meu Jesus, no mundo todo, que se tornou propriedade de Satanás, desta Inexistência, desta absoluta Ausência. Vem substituir este Vazio pela Tua Ternura feita das poderosas ondas de Amor de que Tu és feita, meu Milagre da Beleza. Vem encher estas minhas próprias palavras de Calor e de Seiva, porque elas são mais o que querem ser do que o que são, elas são só uma seca ânsia, porque de todo me faltou a Água neste Deserto. Só te posso dizer o que Tu sabes: elas são a própria sinceridade. E sabes também que, se estou assim esvaído de todas as energias, é porque desde criança procuro o Tesouro que sei estar por trás deste monte de penedos e entulho que me atravanca o caminho. Vem, Mãe Pequenina, dizer-me como faço para remover tão pesados penedos, tantas toneladas de entulho.

   Já estás fazendo, Meu amor. É esta a única coisa que podes fazer. Que mais querias tu fazer, meu pobrezinho?

   Queria entrar no Exército do Arcanjo Miguel e ter a honra de aprisionar a Besta, esta horrorosa Besta que já fez todo o mal que tinha a fazer.

   Não, não fez, Salomão.

   Mãe, ela não pode fazer mais estragos e mais dores neste mundo!

   Pode, sim, que lho permitistes vós todos, todas as vezes que lhe aceitastes os milagres e por eles, agradecidos, lhe prestastes culto.

   Os milagres da Besta são as realizações da nossa ciência e da nossa técnica?

   São, são esses e outros maiores que ainda vereis.

   Maiores ainda?

   Maiores ainda para os olhos desprevenidos do vosso rosto. Ah, se vísseis com o coração…!

   Mas, Mãezinha, o problema é mesmo esse: como veremos com o coração, se a Besta assim no-lo anda cercando e tentando levar à rendição por falta de Ar e Água? Não vês o que ela me está fazendo, a mim, esta Besta?

   Recorda, Salomão: Se tiverdes Fé, nem que seja só do tamanho de um grão de mostarda, direis a essa montanha Tira-te daí! e ela será reduzida a pó. Acreditai nas Palavras de Jesus.

domingo, 18 de agosto de 2013

1075 — Conhecendo melhor o Coração do Pai


   Vai ganhando vulto, neste quinto volume dos Diálogos, a revelação que Jesus lentamente me veio fazendo de Maria como Sua e nossa Mãe. Também o Pai foi Jesus que m’O mostrou como Aquele que nos ama como nós amamos  os nossos filhos-crianças  e nos empolga com a Sua autoridade e segurança. Mas é desta vez à Mãe que Jesus confia a missão de me levar a conhecer melhor o Coração do Pai.

25/10/95 3:25

   Mãezinha, ajuda-me a conhecer o Pai. Faz com que depressa eu O passe a tratar com muita espontaneidade por Papá e Lhe sinta a Ternura. Grava em mim a imagem deste Pai olhando docemente o botão da flor que desponta pela manhã, acompanhando enternecido a azáfama da aranha tecendo a sua teia, seguindo, atento, a formiguinha pequenina a arrastar para o formigueiro o gigantesco pedacinho de comida, vigiando sereno o movimento de cada átomo, o palpitar de cada célula no Universo inteiro. E para mais me maravilhar desta Ternura, imprime no meu coração também aquela outra imagem do Pai do Céu como Yahveh ordenando de Dedo estendido, fatal, a formação de uma nova galáxia, nos confins do Espaço. Explica-me, Mãezinha, porque choro eu ao vê-Lo no Seu Trono comandando as titânicas energias do Universo e não choro ainda ao vê-Lo, com aquela enorme Mão andar ensinando a voar o passarinho pequenino que mesmo agora saiu do ninho.

   Vês? Também choraste agora…

   Também, Mãe. Mas é o senti-Lo seguro, terrível, forte, inexorável, comandando a portentosa máquina do Universo que me abala todo e me faz rebentar em lágrimas. Sempre me impressionou muito o Poder de Deus! Aquela segurança! Aquele Dedo infalível apontando e tudo surgindo conforme a Sua Vontade, tudo Lhe obedecendo! Aquele Olhar fixando aos mundos as suas órbitas com precisão milimétrica! Ah, sentir-me filho de um Pai assim seguro, assim infalível, assim forte – porque é, Mãe? – abala-me todo cá por dentro e sobem-me aos olhos em torrente as lágrimas! Não será pela Paz que mantém, viva e melodiosa, no gigantesco Cosmos e que tanto contrasta com a rebaldaria que criámos neste minúsculo grão que voga no espaço e que tantas dores continuamente fabrica? Oh, Mãe! Diz alguma coisa. Porque é?

   Porque és pequenino e sabes-te pequenino…

   Às vezes esqueço-me…

   Eu vou estar junto de ti, para to lembrar.

   Isso, Mãe. Sê uma Presença muito viva e sensível em mim, a partir de agora, cada vez mais. Eu sei que, Contigo aqui dentro, toda a minha bruteza virará ternura e então sim, aprenderei a dizer Papá e chorarei de ternura ao contemplar a Sua Ternura.

   A Mãe só olha, de sorriso enternecido, perante o palrar interminável do filho-criança. Ah, quando ficará pronta a criança, em mim? Cirandar assim, por toda a casa, sair à rua sempre sob os olhares atentos e enternecidos do Pai, da Mãe, coração preso a este círculo afectivo, dependência total, segurança plena! Estou farto da Independência.

sábado, 17 de agosto de 2013

1074 — Adoração


  Adorar é uma das palavras mais banalizadas da nossa Língua, actualmente. A Bíblia diz, no entanto, que só a Deus se deve adorar. Mas também aqui a perversão se meteu e, conforme fizemos com tudo o que a Deus se refere, também a Adoração a ritualizámos e deste modo a esterilizámos. A mensagem seguinte tenta reconduzir-nos à verdadeira Adoração.

22/10/95 3:45

   Tenho uma verdadeira adoração por Jesus. Ficaria horas e horas, dias e dias a ouvi-Lo. Não sei o que é adorar. Venho de uma formação em que adorar é estar ajoelhado, prostrado, em silêncio, numa igreja em penumbra, com muitas velas conduzindo para um trono onde está uma custódia com a Hóstia. O conceito que tenho de adorar é o da antiga “Hora de Adoração”, para mim, criança, uma coisa solene, pesada, chata. A minha adoração pelo Mestre não tem nada disto: é só uma sedução irresistível, um empolgamento com tudo o que Ele fez enquanto viveu e actuou incarnado entre nós. Esta admiração, em que não há uma única sombra, isto é, nenhuma faceta de Jesus que eu rejeite ou menos admire, virou depois autêntica afeição. Jesus não é nada de abstracto, para mim é uma verdadeira Pessoa com Quem se pode conversar, que se pode ver actuando, com Quem se pode trabalhar. Tão intensa é esta sensação de Ele ser concreto, que Lhe capto a atitude, o gesto, a expressão do rosto. Quantas vezes me apetece dar-Lhe um abraço! Tão apertado que O parta todo! A sensação é a mesma que sentimos perante um filho bebé: apetece comê-Lo. Mas é aqui que se situa uma outra componente desta minha adoração: se eu O comesse, não era Ele que Se desfazia em mim, mas era eu que me desfazia n’Ele. E é isso mesmo que me apetece: desfazer-me n’Ele. Ou seja: este Homem encanta-me por ser Deus e este Deus encanta-me por ser Homem! Por outras palavras: este Homem é tão Homem, que é impossível não ser Deus! Assim, sem deixar nunca de ser em tudo um verdadeiro Homem, eu vejo n’Ele todos os Atributos de verdadeiro Deus: omnipotente, omnisciente, ubíquo, infinito, eterno. Sobretudo vejo n’Ele o Deus-Amor que Ele próprio revelou em toda a sua plenitude. Empolga-me de modo especial, no concreto da Sua actuação em mim, o sabê-Lo omnisciente e comovo-me até às lágrimas o sabê-Lo todo-poderoso.

   Acontece sempre um sismo em mim quando Lhe chamo Pantocrator!

   Mas aqui se situa o cerne daquilo a que talvez não fique bem chamar problema: eu creio que o facto de Jesus estar assim vivo em mim se deve a que Ele incarnou, falou, agiu, enfim, tem uma biografia. Mas o Pai? E o Espírito Santo? E até a Mãe de Jesus, de que se conhecem só meia dúzia de dados muito breves e leves? Recordo-me de que a primeira Presença concreta e actuante em mim no início desta última fase da minha conversão não foi tanto Jesus, mas mais o Espírito Santo. Cheguei até a escrever que gostava mais d’Ele do que de Jesus, uma formulação que só se deve à insuficiência das nossas palavras para exprimirem realidades interiores. A verdade é que a actuação do Espírito era uma autêntica Surpresa em mim: era subtil e forte, encantava, exaltava, alargava o coração. Indefinível mas avassaladora, era impossível não dar por esta autêntica Força que, por outro lado, em vez de esmagar, elevava, libertava, removia todo o peso. Acho que foi o Espírito o meu Encanto inicial. Depois veio Jesus, como Guia e Mestre, quando entrei no Deserto, até agora. Foi Ele que me conduziu à Senhora. E, tal como o Espírito, me apareceu Ela no coração, como puro Encanto. Não como alguém de quem eu admirasse os feitos, porque são muito poucos os dados da Sua vida, muito breves e leves; só como isso mesmo: Encanto. E o Pai? Ah, o Pai lá está. Lá, no Céu. Terrível e terno. Justo e bom. Inexorável nas Suas decisões e derretido de afeição pela mais frágil das Suas criaturas, uma ave do céu, um lírio do campo… Ele é a Segurança. Segurança absoluta. De lá, do Céu, Ele tudo vê e preside ao nascimento de uma nova formiguinha e de uma nova galáxia. Um simples cabelo da minha cabeça só cai depois de Ele lhe ter dado licença para cair. Quem me ensinou isto tudo acerca do Pai foi Jesus. E de tal maneira mo ensinou que ao recordar-me agora de tudo, choro. Mas o Pai, o Espírito e a Senhora não têm biografia; é preciso vê-Los com o coração. É isso que Jesus está fazendo comigo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

1073 — O Líder


   Estamos todos ainda hoje, e desde que existimos como Humanidade, à espera de um Líder que de facto lidere um avanço seguro para a definitiva Libertação desta multiforme Prisão a que chamamos “este mundo”. Até hoje todos os líderes que comandaram arrancadas para a suposta libertação ficaram na História, mas não a conseguiram. Quiseram um dia fazer de Jesus um líder destes. Mas Ele recusou de forma categórica, provocando a maior debandada de sempre entre os Seus seguidores.
   Porque líderes daquele tipo nunca nos conduzirão à Libertação com que todos sonhamos.

20/10/95 8:29

   É difícil aguentar esta situação: cabeceio de sono no café, uma devastadora aridez dentro de mim, e mais uma vez, enorme, a pergunta se todos os meus Interlocutores não serão apenas figuras de um mundo que eu criei de alto a baixo por exigência e à medida do meu sonho e como compensação para o fracasso que sempre me acompanha no plano da “realidade”. Além disso, a quem poderá interessar este biográfico disparate de duas mil páginas?

   Porque não paro agora mesmo, não meto tudo no fundo de uma mala para mais tarde recordar uma fase curiosa da minha vida? Porque um teimoso grão de mostarda, pequenininho mas vivo aqui dentro me faz, por sua vez, esta pergunta: E onde está essa outra tal “realidade” que possa substituir com vantagem este teu “sonho”? E eu concordo com ele, até sob o ponto de vista puramente racional: não vejo realidade à minha volta, não vejo obra feita onde quer que ponha os olhos que até hoje tenha solucionado ou sequer aponte para a solução do problema a que se resumem todos os outros – a falta de amor nos corações, esta gigantesca Chaga da Humanidade que, essa sim, vejo crescer, crescer sempre em tamanho e dor. E mais me diz o grãozinho pequenininho dentro de mim: o Caminho de Jesus cura, é o único que cura a Chaga gigantesca, porque é o único inteiramente original, inteiramente louco. A questão é segui-lo! Tão outro, tão radicalmente novo é este Caminho, tão contrário aos caminhos todos até hoje tentados, que os próprios discípulos de Jesus acabam por o reter na cabeça e nas palavras, mas por o deixar morrer no coração, passando a alinhar nos respeitáveis caminhos de todos os respeitáveis líderes de todas as multidões. Quem dizem os homens que Eu sou? – perguntava uma vez Jesus aos discípulos. E apesar de O compararem a figuras respeitáveis, santas até, Ele avançou até à resposta de Pedro, que O proclamava Filho de Deus Vivo, a Realidade totalmente nova sobre a terra! E o pequenininho ser vivo que aqui dentro mora na aparência de um grão de mostarda volta a falar e diz-me: pode esse teu apego a Jesus e às Personagens todas que te povoam este território aqui dentro ser fuga ou sonho, mas é a única hipótese de participares na cura da gigantesca Chaga, porque Jesus é a Única Hipótese que ainda não falhou.

   Jesus não falhou. E não vai falhar – remata a minha frágil Fé, aninhada no fundo do meu ser. E é ainda ela que de novo me fala da existência do Demónio e do cuidado que é preciso ter com ele, que se disfarça de santo para bloquear à Humanidade o Único Caminho que ele sabe a libertará das suas garras porcas e assassinas. Escrevo feito caneta só, sem coração, agora que o Puro Encanto me foi dado na Pessoa da Senhora, este inexplicável Prodígio do Amor. E é por isso que o Diabo anda aflito, desesperado, e ataca. Eu sei, senhores sábios, que vós tendes outras explicações para estas fases de letargia, má disposição, aridez, dúvida. Mas onde está escrito que a vossa explicação tem mais fundamento e mais consistência que a minha? Onde e de que modo recebestes vós a revelação de que Satanás não existe e de que Deus não Se mete nestas coisas?