Uma das grandes obsessões destes Diálogos, porventura a maior, é
encontrar a raiz da Árvore do Mal. O que habitualmente fazemos com as nossas
dores é pôr-lhes pensos, tentar curar feridas. Mas logo aparecem mais dores,
logo se abrem mais feridas noutros lugares, noutros passos da nossa vida. Foi
esta verificação que levou Jesus, outra vez agora através de mim, a desmascarar
implacavelmente as desesperadas tentativas de Satanás para que não cheguemos à
Raiz do Mal, que ele vai administrando. É que, se identificássemos a Raiz e a
arrancássemos, acabavam todas as dores.
19/2/96
– 9:13:01
O
Mestre estava-me conduzindo ao Mistério do Sofrimento de Deus e Satanás não
pode suportar que sejam assim minados de forma irremediável os alicerces do seu
reino. De facto o Sofrimento de Deus rouba-lhe toda a Dor provocada pela
solidão em que ele fez mergulhar o homem frente ao seu Criador. O Sofrimento de
Deus arrombou-lhe a gigantesca muralha que tão laboriosamente ele construíra à
roda da sua Cidade, isolando-a de Deus. E ao assistir impotente a este
autêntico dilúvio de sangue que se desprendia da Cruz em vagas sucessivas na
Igreja Primitiva inundando e corroendo todas as bases do seu Império, Satanás
entendeu que fazendo mais mártires semeava mais cristãos. E ser cristão nesse
tempo era ver Deus sem muros, porque até o muro da Morte e da Dor passou a ser
porta escancarada para o Mistério da Liberdade e este Mistério conduzia-os
directamente ao coração de Deus revelado em Jesus. E o Império de Satanás
desmoronava-se com fragor perante os seus olhos. Não era possível! –
espantava-se Satanás: A Dor libertava, a Dor estava eliminando a Dor! Então
mandou cessar o massacre no seu Império, eliminando os mártires. Depois mandou
mascarar a Cruz, cobrindo-A de prata e oiro, marchetando-A de pedras preciosas.
Em breve Jesus começou a sair dos corações e a “transcendentalizar-Se”.
Acto-contínuo e na proporção deste afastamento da Dor de Deus, começou Satanás
a sugerir o estabelecimento de leis e cada lei era um enorme bloco de pedra,
aparelhado e vistoso, recompondo a muralha que a Cruz arrombara. E assim,
pacientemente, foi Satanás acompanhando a construção da muralha, mais sólida e
vistosa ainda que antes, bem cimentada de ritos sustentando e unindo os blocos
das leis e tabus e dogmas. Dentro da Cidade assim renovada e ampliada, para que
a Cruz não irrompesse de novo nela, passou a vigorar o Sacrifício. Fora da
muralha, no Gólgota, ficou a Misericórdia de Deus, sempre sangrando, sempre
escancarando o Coração de Deus. Sempre ansiando por arrombar de novo a muralha
e resgatar todos os prisioneiros da Lei e do Dogma para a Liberdade de Filhos
de Deus com que o Pai sempre sonha.
Assim me conduziu o Senhor à interpretação
de Mateus nove, treze, que anteontem me trouxe como Seu Pão para a vida da Sua
Nova Igreja. Ouça-se de novo: “Ide aprender o que significa ‘Prefiro a
Misericórdia ao Sacrifício’. Porque não vim chamar os justos, mas os
pecadores”.
E os
pecadores não se chamam com ritos, nem com leis, nem com dogmas, nem com tabus,
nem com o sacrifício que tudo isto implica, mas com a Misericórdia que jorra,
límpida, da Cruz.
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