No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

1350 — A importância de ter fome


5/11/96 9:08:24

   Foi a imagem dos segundos que me moveu a escrever, sem que nenhum plano ou assunto esteja dentro de mim. Mas será que Deus tem um plano e um assunto para eu registar?

   Prefiro que me ensines dialogando, Mestre. Vejo que queres continuar o assunto da vigília.

   Como sabes?

   Porque estamos nele, no mesmo assunto.

   Fui Eu que te fiz enveredar por ele?

   Estou já vendo, ao longe, uma Luz…

   Revela sempre essa Luz à medida que ela se intensifica.

   Meu é que o plano não é, nem o assunto.

   Porquê?

   Porque eu não tenho nada de meu: sou todo obra moldada à Imagem do meu Criador.

   As escolhas que vêm do teu Livre Arbítrio não são tuas?

   A faculdade de escolher é um Dom de Deus e as boas escolhas também.

   E as más escolhas?

   As más escolhas são uma negação de mim.

   De ti?

   De mim, Dom inteiro de Deus. São, no fundo, negações de Deus.

   De quem são, as más escolhas?

   Desde que nascem, são também Tuas, Vossas, Trindade Criadora e Santíssima.

    Como assim?

   Elas nem sequer poderiam nascer, se Vós lhes não désseis a existência. E mal nascem, logo ficam sob o Vosso comando.

   E que faz Deus das más escolhas que Lhe fazeis nascer?

   Imediatamente faz delas energia negativa, corpo das ciclópicas energias do Abismo, que estão continuamente criando o Universo.

   – A negação do Ser cria o Ser?

   É da tensão da inacção que sai toda a actividade; é da tensão da fome que sai toda a vontade de crescer; é da tensão da ausência que sai todo o ser!

   O que é o Nada?

   É o imite de Deus, que não pode nunca estar limitado.

   O que é o Nada, Meu querido Profeta?

   É o Útero de toda a Surpresa.

   Apagou-se a Luz?

   Não! É agora um clarão tão forte, que me cega!

   O conhecimento da Verdade cega?

   Se a Verdade brilhasse toda de uma vez, os nossos corações desfaziam-se. Sinto que todo o Universo derretia e se volatilizava!

   Não consegues então escrever mais?

   Só se atenuares a Luz.

   Descansa então um pouco, agora.

domingo, 29 de junho de 2014

1349 — Introduções


   Vou passar a não fazer introduções às mensagens dos “Diálogos” aqui incluídas: talvez só compliquem… Àquilo que vai ler, por exemplo, não sei que titulo ponha, nem que introdução deva escrever.

5/11/96 1:57

   Qual é a matéria da aula, hoje, Mestre?

   Não queres escolhê-la?

   Eu? Tu não tens um plano?

   E se o Meu plano for que tu escolhas hoje a matéria da aula?

   Não tens, para cada aula, a matéria pré-fixada?

   v Já agora, porque não perguntas se tenho já as tuas respostas pré-fixadas?

   Eu, de facto, tenho escrito que Tu tens para cada um de nós um plano minucioso…

   Se tudo estivesse de antemão fixado ao pormenor, como Me surpreenderíeis? Como Me surpreenderia a flor, a ave e o sol? Como Me surpreenderia a vida? Que seria do Amor?

   Então, Mestre, não Te sei responder.

   Acreditas que Eu tenho um plano minucioso para cada um de vós?

   Acredito: está registado em várias destas páginas que não há acaso.

   Acreditas que Eu fiz o Universo para que em cada momento Me surpreenda?

   Acredito: estas páginas dizem todas que Tu és Amor e que sem surpresa não poderia haver amor.

   Então agora como conciliamos as duas coisas, Meu sábio?

   Não sei: a nossa lógica não dá para mais. Segundo ela, são, de facto, duas coisas inconciliáveis: prever significa “ver antes”; se vês as coisas acontecidas antes de acontecerem, como Te surpreenderás quando acontecerem?

   Acreditas que o Meu Plano é a felicidade de toda a criatura?

   Ah, isso acredito: lê-se várias vezes aqui que toda a perturbação e toda a dor serão completamente eliminadas da Criação.

   Não crês então que Eu tenha projectado a perturbação e a dor!?

   Não: isso seria um absurdo.

   Donde vem, então, toda a perturbação e toda a dor?

    Das criaturas dotadas de livre arbítrio: anjos e homens.

   Que é feito então do Meu plano minucioso, que não incluía a perturbação e a dor?

   O Pecado dos anjos e dos homens foi uma grande surpresa para o Teu coração.

   Foi?

   E é: cada pecado é uma surpresa para Ti.

   Surpresas não é só o Amor que as pode fazer?

   Deveria ser assim. Por isso há-de ser horrível, para Ti, o pecado: ele é uma punhalada na essência do amor. É como se, ao fazer-Te alguém a surpresa de um beijo no Rosto, mal os lábios Te tocassem, logo os dentes avançassem e te mordessem. Foi assim o beijo de Judas. Deves sentir todo o pecado como uma horrorosa traição. Por isso o pecado é uma lança cravada no âmago do Amor. O pecado é o único mal que existe: se ele for arrancado, desaparecerão todas as guerras, todas as doenças, todas as dores.

   Eu te abençoo, voz querida do Meu Coração. Pudessem os homens ouvir-te.

   Hão-de ouvir, Mestre. Hei-de repetir-lhes, até ficar completamente rouco, que o único mal é ofenderem-Te, que a única desgraça é o pecado.

   Olha: não queres então agora resolver aquela irredutível contradição?

   Quero. Gostava que nos dissesses que contradições irredutíveis só a nossa lógica as criou.

   Não há contradições irredutíveis na Minha Lógica? Trevas e Luz, por exemplo?…

   Não. Quando for a Consumação dos Séculos, todas as trevas, retidas no Abismo, estarão aí produzindo luz!

   Como pode uma coisa má produzir uma coisa boa?

   Como vou dizer isto? A coisa má, nas Tuas Mãos, vira energia negativa que, criando uma tensão com a coisa boa, provoca uma “fome” que tende a saciar-se. No Abismo, esta tensão produz uma nova galáxia, com sóis e planetas com campos cheios de lírios. Lá no Alto, o Teu Pai vai olhar esta Surpresa que Tu e o Teu Espírito Lhe acabais de fazer, e o seu Coração saltará de alegria. Estava assim previsto. Está previsto que Deus é Amor, mesmo quando nós somos ódio.

sábado, 28 de junho de 2014

1348 — A Avalanche de Deus


   Testemunham estes Diálogos uma intensa e bem especifica relação minha com o Espírito do Senhor, a célebre Ruah da Bíblia: sempre que n’Ele fixo a atenção, uma onda de lágrimas me pressiona os olhos e muitas vezes sai para fora, abundantemente. Pela sua Força inexorável. E pela sua imensa Delicadeza…

4/11/96 9:00:21

   O Nono Dia virá como uma Avalanche de Deus! Anuncia, pelo teu testemunho, a Amor do Pai – assim me fala aquele Sinal.

   E esta Avalanche – fenómeno que começa pequenino e vai engrossando – arrombará todas as fronteiras, assumindo no seu ímpeto “o resto de Edom”, isto é, os parentes e vizinhos e avançará sempre, cobrindo “todas as nações sobre as quais o Meu Nome foi invocado” – diz o Senhor, cuja Palavra nunca voltou atrás sem ter cumprido até ao fim o que um dia pronunciou! E esta Palavra pronunciou-a ele um dia, através do Seu profeta “menor” Amós. É, pois, da pequenina “cabana arruinada de David” restaurada pelo omnipotente Senhor de todos os Exércitos, habitada por gente da montanha, pobre e desprezível, que se desprenderá a Avalanche imparável, fatal. Tão prodigioso será este fenómeno à vista de todos, que o julgarão uma segunda Criação, saída do nada.

   E porquê? É aqui que de novo o Mestre me amarra ao Sinal do início da vigília. Verifico que ele é o mesmíssimo da vigília de ontem. Parece, pois, vir carregado de uma especial mensagem, tanto mais que hoje só acordei, ao que tudo indica, para o observar. Ele pede-me, com uma veemência invulgar, que insira neste contexto a Senhora da Luz.

   De Ternura será feita a Avalanche – diz-me agora de repente Jesus.

   Ahn? E de Fogo, não, Mestre?

   Eu não largo o Fogo. O Fogo de Yahveh é uma autêntica obsessão para mim. Parece-me que, se não vier o Fogo, não ficaremos a conhecer como se dilacerou o Coração do nosso Pai por causa dos nossos pecados. Mas Jesus nem me responde. Todo ele Se concentra na Sua Mãe, como se o Nono Dia fosse Ela, apenas. Ela é o Segredo que Jesus guarda, para conquistar “as nações” todas. Acho que estou adivinhando: Maria é, para Jesus, a Avalanche da Ternura, que conquistará o mundo!

   São 10: 05. Quero parar aqui a escrita, mas não consigo: o Senhor impele-me, com muita delicadeza, mas justamente por isso de forma irresistível, a inserir neste contexto também a Igreja. E ao falar de Igreja nova onda ardente me percorre o corpo. A Avalanche não conhece divisões, não há obstáculo que a trave, não sei em que órgão do meu corpo está passando: só a sinto avançar sempre, multiplicando a sua energia na proporção do seu avanço sem retorno! Mas é só Encanto que me submerge, esta prodigiosa força. E é também Fogo que me queima sem me consumir, sem deixar de me encantar. Como se me derretesse e ao derreter-me me transformasse em Ternura!

   Espantoso: não distingo se esta Ternura avassaladora se chama Maria, ou se chama Igreja! Sei que é a Noiva de Jesus e que Ele A espera do outro lado do mundo para A abraçar, quando Ela chegar!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

1347 — Como um filho


   Sinto que a Igreja vai nascer agora de novo e os seus membros amar-se-ão como os pais amam os filhos…

3/11/96 14:55:29

   Só me dá para rezar assim: “És tão querido, meu Senhor! És tão querido, meu Amigo!”. Porquê? Acho que não sei dizer. Sei apenas que aquela oração me brota do puro Encanto que sinto por Jesus, que é mais que Companheiro junto de mim: Ele é Encanto dentro de mim! Parece-me este Encanto o Corpo d’Ele crescendo dentro de mim! Não sei como é: sinto que o Corpo d’Ele pode assumir as minhas células à medida que as reconstrói e avançar até à assunção total do meu corpo n’Ele! Nestes momentos, quase sempre muito fugidios, sinto-me mais que abraçado por Ele: sinto que o meu corpo se dissolve n’Ele! Que, a continuar assim, me torno imortal, como Ele. E portanto invisível. Porque tudo o que nós vemos é mortal: está destinado à decomposição. Mas este corpo novo que fugidiamente sinto nascer em mim, não se corrompe, não se decompõe, parece feito de pura Energia omnipotente, que faz de si o que quer!

   Ah, Jesus, faz-me humilde, muito humilde, para que o que acabo de escrever seja inteira verdade. Sinto-Te hoje omnipotente em mim!

   E sentes outra coisa, não sentes, Meu amor?

   – Sinto. Há já vários dias que, ao passar ali no sítio onde me pediste que reconstruísse a Tua Igreja, eu sinto a Igreja como um bebé e enterneço-me por ela como me enternecia quando as minhas filhas eram bebés. Vejo-a muito frágil, muito pequenina, mas cheia da vitalidade e do encanto de um filho nosso acabado de nascer, por quem vamos ao alto do céu e ao fim do mundo e ao fundo do mar, se for preciso, se só nestes locais se encontrar alguma coisa de que ele precise.

   Amas a Minha Igreja como amas um filho?

   Amo.

   Mas não estás amando teoricamente? Onde está a Minha Igreja?

   Dentro de mim… Acho que és Tu!

   Eu, Aquele mesmo que há pouco disseste estar a assumir-te todas as células?

   Sim, Esse… Não sei definir esta sensação… É como se a Igreja fosse puro encanto que eu pudesse ter nos braços e ao mesmo tempo me estivesse Ela assumindo a mim, fazendo-me Corpo Seu!

   Tu és a Igreja toda?

   Sou.

   E a Igreja é ao mesmo tempo pequenina nos teus braços?

   É. É a minha Pequenina acabada de nascer, esperneando… Encanto puro!

   Sê humilde, Meu amor! Acredita sempre em Mim e pede-Me a Humildade. Se assim fizeres, é o próprio Pai que pegará em ti nas Mãos e te levantará à altura do Seu Rosto. Tu serás então, diante dos Seus Olhos felizes, a Sua Pequenina…esperneando!…

segunda-feira, 23 de junho de 2014

1346 — Quieto!


   Foi uma descoberta - melhor, muito melhor: uma revelação - que me deixou quieto de pasmo e fascinado com as perspectivas abertas a partir daí. Ora ouça-se:

1/11/96 Todos os Santos 1:24

   Desde jovem que assinalo esta data e digo: Eu quero ser santo. Repito-o hoje, com a mesma sinceridade de sempre: Eu quero ser santo. Mas só agora sei o que é preciso fazer para o ser: nada. E foi esta a radical descoberta desta última fase do meu processo de conversão. Dantes eu fazia coisas, muitas coisas, para conseguir a santidade; hoje peço muito ao Senhor que me dê a Graça de ficar quieto. O que é tremendamente difícil: a Cidade convenceu-nos à nascença de que tudo quanto quisermos que se faça terá que ser obra das nossas mãos. E nós interiorizámos este primeiro e mais importante mandamento da Cidade de tal maneira, que é ele o responsável por toda a nossa perversão. De facto o homem, ao convencer-se de que só com as suas próprias forças alcançará o que deseja e ao agir em conformidade com esta postura interior, iniciou aí um trágico processo de desprendimento da Harmonia inicial em que fora sonhado pelo próprio Autor de toda a Perfeição.

   E assim nasceu o Desequilíbrio e toda a Dor. Porque tudo antes no homem era comandado pela própria Harmonia e só nela o homem era senhor da sua irrepetível Individualidade e Independência. Como são independentes os planetas do nosso sistema solar em relação ao sol e entre si. Quem lhes dá, a cada um deles, a sua misteriosa individualidade, que os distingue uns dos outros e nos tem neles preso o olhar, amarrando-nos fortemente o espírito com a sua sedução? Não são as complexas forças cósmicas que os mantêm nas respectivas rotas e dão anéis a Saturno, fazem de Vénus a Estrela da Manhã e mantêm no nosso Planeta Azul os oceanos e as flores e as águias, apesar da nossa sanha destruidora?

   Ah se o homem não tivesse feito nada!

   Agora é preciso que o homem volte a ficar quieto. Mesmo que veja tudo desmoronar-se à sua volta, o remédio é ficar quieto. Mesmo que lhe pareça estar-se desintegrando a máquina do mundo, o que tem a fazer é ficar quietinho. E não tenha medo. Levante devagar os olhos e veja: é o Arquitecto da Vida fazendo ruir a construção de morte que implantáramos por todo o lado em que pusemos o pé, em que tocámos com a nossa mão, feita assassina.

   Ser santo é voltar lá, àquele tempo em que não tínhamos sequer feito ainda aquele maldito cinturão de folhas de figueira para cobrir a nossa vergonha. Mas quem sabe já como era esse tempo, a não ser Aquele que o está vendo ainda, neste momento? E quem se lembra de como éramos nós antes de nos termos assim mutilado e desfigurado? Só Aquele, certamente, que nos sonhou e moldou, no Princípio, à Sua Imagem.

   Ser santo é estar quieto. Só muito quieto, para não perder pitada do espectacular trabalho de reconstrução de cada uma das nossas células, dos nossos órgãos, um a um. Muito quietinhos para poder ver e pasmar: o Mestre é perfeito! Reconheceremos então a distância a que estávamos do Paraíso, de que tantas saudades temos não sabemos onde, mas que nos roem, teimosas, cá dentro. É fácil regressar ao Paraíso: é só estar quieto para não perturbar o trabalho do Artista!

domingo, 22 de junho de 2014

1345 — Bálsamo


   Depois de um qualquer momento pesado, de vazio ou solidão, nunca o Céu nos abandona e vem aliviar as nossas feridas. Muitas vezes através de Maria, a Mãe. Tirar-nos da vida vulgar de toda a gente é que Deus não nos tira.

31/10/96 2:48

   O acordar, hoje, foi povoado de elementos que julguei na altura importantes e gostaria de fixar, mas que se me varreram já todos do espírito. Restam-me aqueles algarismos e um peso enorme na cabeça, do sono. E este peso esmaga-me de impotência, de solidão e de cansaço. Apetece-me chorar, mas o sono até as lágrimas me varreu. Só os algarismos me amarram a este papel, pedindo-me que dê testemunho e anuncie a Presença atenta da nossa Mãe, um doce e breve prazer sensual ao acordar traz ao meu corpo a Presença da Humanidade de Jesus e um fugidio suspiro me diz que sou habitado pelo Sopro da Vida.

   Olho neste momento o Salmo que o Senhor ontem me deu a rezar e leio: “Deus é para nós refúgio e fortaleza, ajuda sempre pronta nas angústias”…

   Olha, Mãe, eu não consigo sair daqui, não consigo escrever. Vem falar comigo. Olha: ajuda-me a surpreender o Teu Jesus com aquele Salmo.

   Meu querido menino! Ouve: o Caminho estás percorrendo-o sem desvios e dentro em breve desembocará na Ressurreição. Jesus e Eu estamos muito contentes contigo, justamente porque sabemos que está sendo muito duro o teu Deserto.

   Isso não fazia mal, Mãe, contanto que eu Vos sentisse mais. Mas às vezes só sinto este peso e este cansaço e esta solidão.

   Essas coisas fazem parte do Teu Deserto, não vês? Como poderias conhecer as ovelhas do teu Senhor e libertá-las dos seus enredos e das suas dores, se não conhecesses bem o Grande Deserto em que elas se encontram?

   Não deverá haver nenhum caminho difícil por que eu não tenha passado?

   Não deverá haver nenhum desfiladeiro, nenhum precipício, onde te recuses a ir, por medo.

   Está-me o nosso Artista do Amor tirando todos os medos?

   Está, Meu amor. Não queres perder todos os medos?

   Quero. Quero ir sem medo a todo o lado onde for preciso ir, onde se encontrar, perdido, um cordeirinho.

   “Mesmo que a terra trema”?

   Mesmo que a terra trema.

   “Mesmo que as montanhas caiam no meio dos mares”?

   Sim, Mãe. Mesmo que veja o mundo desfazer-se à minha volta.

   – Mesmo que “as nações murmurem” e “se agitem os reinos”?

   Sim, Mãezinha. Mesmo que exércitos inteiros venham sobre mim.

   Onde está a tua força, Meu grãozinho de pó levantado da terra?

   No meu Deus, que Se meteu todo neste grãozinho de pó.

   Descansa agora, Meu menino. Eu fico vigiando junto de ti.

   E olha, Mãe: continua, por mim, a rezar o Salmo que eu não tenho alento para rezar.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

1344 — Tempos vazios


   Todos nós os temos, os tempos que dizemos vazios. Quando se dá o encontro pessoal com Jesus - o Deus Connosco - parece lógico que esses tempos deveriam desaparecer. Mas não: parece até que se multiplicam. E mais cedo ou mais tarde entendemos porquê: encontrar Jesus é incarnar na situação em que todos os nossos companheiros desta vida se encontram e o vazio, aqui, é uma boa parte do nosso alimento de cada dia…

30/10/96 3:23

   Dentro de mim há só uma espera. Parece-me muitas vezes vazia esta espera, porque a Torrente das Águas de Deus me não inunda, mas acabo por reconhecer sempre que nesta espera esteve Deus. Justamente porque é d’Ele que estou à espera. Por isso acabam por se tornar sempre fecundos os tempos em que digo que nada acontece e só espero. Acabo por verificar que caminhei muito, quando olho para trás, aqui no Deserto.

   Suspiro. E este novo Sinal que o Senhor me deu foi como se tivesse irrompido desta tensão da espera, a dizer que justamente esta procura tensa sem resultado aparente é já o Espírito de Deus em mim. Assim como o prazer com que, ao acordar, o Senhor me brindou durante vinte minutos: que fiz eu durante esse tempo? Aparentemente, nada. Nem sequer proferi palavras de agradecimento. Apenas me deixei gozá-lo, sabendo que de Deus me estava vindo. E este simples saber é o próprio Espírito de Deus em mim.

   Mas custam a passar estes tempos de aridez a que costumamos chamar tempos vazios, em que por isso nada há a exprimir e as próprias palavras não aparecem. E temos então necessidade das palavras, como se elas fossem pão, ou fizessem surgir oásis na amplidão desértica. Por isso pedi já ao Senhor que mas desse Ele, para com elas Lhe falar, porque minhas, não as tenho. Pedi-Lhe as palavras de um Salmo e ouvi “quarenta e seis”. E está-me o Mestre neste preciso momento chamando a atenção para esta pergunta óbvia: se o próprio Deus me dá as palavras para Lhe dirigir, que surpresa Lhe posso eu fazer? Na verdade nós sabemos que a oração é amor circulando entre o homem e Deus e não há amor onde não há surpresa. Concluo eu então, com esta Luz que igualmente do meu Mestre recebi, que dando-me palavras já escritas, Ele as vai fazer novas em mim. Tão novas, que possam constituir surpresa para Si próprio. Porque ao dar-mas para eu rezar, foi ao Espírito que as entregou e o Espírito é Pessoa d’Ele distinta que continuamente O surpreende, encantando de surpresa o Pai. Por isso Eles os Três são Um e o Mesmo, na contínua Surpresa do Amor.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

1343 — Caminhos únicos


   Sabemos muito bem que a Criação foi concebida e executada como uma Unidade tão diversa e diversificante, que não há, em toda ela, dois seres iguais. Por isso a Criação, se não a tivéssemos devastado, se abriria para nós em surpresas novas a cada passo que déssemos. Quando nos convertemos é, obviamente, isto mesmo que verificamos estar acontecendo connosco, à medida que as Mãos omnipotentes de Deus nos reconstroem…

29/10/96 2:54

   Creio que foi o próprio prazer sensual que me acordou hoje. E aquilo que seria visto noutros tempos como presença do Demónio desviando de Deus, foi agora a manifestação sensível da Ternura de Deus. Foi meia hora de oração muda, mas vibrante, em que o próprio prazer foi palavra agradecendo.

   E este facto está-me chamando a atenção para a individualidade do processo de conversão. Quando nos voltamos para Deus e começamos a caminhar, Ele fica tão louco de alegria, que não vê mais ninguém sobre a terra. A surpresa permanente em que Deus Se torna para nós, transforma-nos também em contínua surpresa para Deus. Também nós não vemos mais ninguém sobre a terra. E esta paixão que assim nos toma por inteiro encanta Deus. É como se, tendo-nos feito e observado desde toda a eternidade, só agora, espantado, nos começasse a conhecer. Tornamo-nos então para Ele Mistério interminável, que Ele vai percorrendo com a encantada sofreguidão de um primeiro amor. Deus enamora-Se de nós! Então dá-nos tudo o que Lhe pedirmos, a não ser que de todo em todo não possa porque vê que nos faz mal. Exactamente como os apaixonados. Se Lhe pedirmos, por exemplo, que nos faça rio para fazer brotar a vida na Desolação em que nos encontramos, Ele fica tão surpreendido, que nos molda mesmo em rio com as Suas Mãos omnipotentes e à nossa volta o Deserto vira jardim. Se Lhe pedirmos, por exemplo, que nos faça raio-xis para podermos ir ver o que se passa no interior das coisas, Ele, que não contava nada com este nosso pedido, fica tão encantado, que imediatamente as Suas Mãos fatais nos transformam em feixe luminoso e Ele passa connosco uma noite inteirinha dentro das coisas, mostrando-nos e explicando-nos com tudo aquilo por lá funciona

   Vemos então coisas que ninguém mais viu, passamos por experiências por que ninguém mais passou, só nós dois. Por isso é muito natural que, quando começamos a contar aos nossos amigos o que nos está a acontecer, eles olhem para nós desconfiados e comecem até a ver em nós indícios de maluqueira. E se encontrarmos um outro que já tenha sido também assim seduzido por este mesmo Sedutor, tudo o que lhe contarmos será novidade para ele e tudo quanto ele nos contar serão certamente histórias de encanto que nunca tínhamos ouvido.

   É este encanto e esta surpresa que faz a Igreja.

   A Igreja é feita de conversões radicalmente individuais, de processos interiores inteiramente confidenciais entre cada um e Deus. Se eu contar a alguém na Igreja que Deus me dá largos momentos de prazer físico, ele dirá Ah!, com o espanto estampado no rosto. Pedirá talvez também esse prazer a Deus. Mas quando ele vier ter comigo para me contar que Deus lhe deu o Dom da Sensualidade, eu direi Ah!, porque ele me estará contando uma completa novidade!

   Não há dois caminhos iguais na Igreja de Deus. E é por isso que ela é una e as amarras que a mantêm na unidade nem os batalhões todos do Inferno as poderão romper. Os processos do Inferno são justamente a manada, a maioria, a uniformidade, a fabricação em série. Deus não faz duas coisas iguais. Tratando-se então da nossa reconstrução, de nós que Lhe estivemos fora de Casa tanto tempo, de nós que Lhe andávamos perdidos, de nós que Ele reencontrou cobertos de quistos e de verrugas e de feridas e às vezes apodrecidos até ao coração e mesmo mortos, ah, tratando-se de nos levantar deste estado, quando vê no fundo da nossa miséria um lampejo de ternura pelo Seu Rosto, Ele paralisa o Universo inteiro para vir alterar o acto criador do homem, fazendo da criatura filho!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

1342 — Ninguém muda ninguém


   Tens que mudar! - gritamos nós muitas vezes aos outros. Por isso este mundo, em vez de mudar para melhor, afunda-se cada vez mais na sua maldade. E se acreditássemos em que só dentro de nós está a Fonte de todo o Bem e de toda a Beleza?

27/10/96 10:45

   Várias coisas me estão à porta do coração, para sair, mas não sei qual delas queres soltar, Mestre. Enquanto me não dás um ouvido mais apurado, fortalece-me o ouvido da Fé e serve-Te dele para falares comigo. Largar-Te é que eu não largo!

   Diz porquê, Meu querido companheiro. Que represento Eu para ti?

   O Céu todo, com Quem, unicamente, me sinto bem a dialogar.

   Estás-te então afastando das pessoas?

   Não sei como vai ser; até agora o aproximar-me do Céu fez-me amar a terra na mesma proporção.

   Dá alguns exemplos.

   Dói-me sempre que uma erva é pisada sem respeito, que uma flor é cortada, que uma árvore é abatida; sinto-me ainda monstro sempre que empurro a nossa gata com o pé porque não gosto que ela se me roce nas pernas, e em vez de matar as aranhas, deito-as na bouça; sinto uma afeição espontânea pelas crianças em que antes não reparava e acho que conseguiria beijar nos lábios um homem com sida.

   E sabes porque te acontece tudo isso?

   Porque todas estas criaturas são Tuas e sofrem.

   Mas não sentes necessidade de te afastares dessas criaturas todas para estares Comigo?

   Sinto. Mas aí está justamente a surpresa: Tu próprio, que eu levo destes encontros a sós Contigo, pareces estar derramado pelas criaturas todas e por isso as amo na mesma proporção em que aumenta o meu amor por ti.

   E isso tem outra consequência, não tem?

   Tem: apetecia-me ver a Cidade toda destruída! Toma-me todo uma ânsia enorme de me sentir Natureza pura: andar nu, não ter casa, arribar como as aves, à medida que o frio fosse apertando. E regressar ao sítio que deixei, para ver a Primavera seguinte toda feita por Ti, sem o homem lhe ter tocado! Acho que ficaria deslumbrado todos os anos que lá voltasse, porque todos os anos me apresentarias uma Primavera diferente.

   Mas…?

   Mas não vai ser possível durante a minha vida terrena – ia eu acrescentar, porque é o que sinto: a Civilização é tão monstruosa…

   Que sabes já de como se mudam as coisas?

   Deve ter sido esta a interrogação de todos os dias da Tua vida privada em Nazaré, nos Teus passeios mudos pelo campo… Não foi, Mestre?

   Foi. A Minha ânsia era encontrar a raiz de todos os males, para a arrancar.

   E concluíste que a raiz de todos os males era a mesma?

   Sempre a mesma. Era essa a Luz que alastrava em Mim.

   Tu estás a dizer uma heresia, Mestre: estás-Te fazendo um puro homem procurando, procurando, com nós. Tu não tinhas a percepção instantânea das coisas à medida que as desejavas?

   Também vós tendes a percepção instantânea das coisas à medida que as desejais.

   Como assim? Nós levamos tempos imensos a entender e a decidir as coisas e tantas vezes por fim tomamos as decisões erradas!

   Porque não seguis aquilo que percebeis instantaneamente. Porque vos quereis apropriar daquilo que percebeis instantaneamente.

   Ah! Seguir a Luz instantânea que surge em nós seria estar inteiramente sob a acção de Deus e desabrochar naturalmente para Ele?

   Sim.

   É essa a única diferença que Te separa de nós, como homem?

   É.

   Foi assim que descobriste a raiz de todo o Mal?

   Foi.

   Foi então, apesar de tudo, uma descoberta progressiva?

   E lenta. Demorou trinta anos. Como um feto que se forma no seio materno.

   Mas formaste-Te sem interferências…?

   Não foi assim, Salomão: houve terríveis interferências. O Demónio atacou sempre forte. Como sucede convosco sempre que tentais seguir a Luz instantânea que em vós brilha. O Meu crescimento foi tumultuoso.

   Mas foi, apesar de tudo, fulminante!

   Também o vosso crescimento será fulminante, se seguirdes sem desvios a Luz. Procurai a Luz e segui-a, sem vos enredardes em filosofias. As relacionações da filosofia são pretextos para não seguirdes a Luz, apenas.