Também eu não fazia a mínima ideia de até onde pode ir o amor de Deus
por nós.
29/2/96 – 2:58
– Desculpa, Jesus. Mais uma vez as
preocupações se sobrepuseram ao Teu Silêncio e a complicação da carne venceu a
simplicidade do Espírito. Reconduz-me ao Teu Coração e deixa-me ficar lá
ouvindo-Lhe as palpitações, sentindo o Seu ritmo. Tu sabes como eu desejo ser
um só com o Teu Coração. Fala-me, meu Senhor. Diz-me o que Te preocupa aí
dentro.
– Preocupa-Me o Meu espectáculo na escola.
– O Teu espectáculo?
– Não Mo ofereceste…pelo menos a caravela?
– A caravela ofereci; o resto não sei se Tu
o queres.
– Porque haveria Eu de querer a caravela e
não o resto? O resto não presta?
– Presta tudo igual. Mas não Te vejo a
ocupares-Te com coisas destas. Tens tanto mais que fazer…
– Tu sabes que Me ofendes, Salomão, pensando
assim. Não queres proclamar-Me a Mim, com aquele espectáculo?
– Quero.
– E não tens sofrido com as preocupações e
os trabalhos por causa do espectáculo com que pretendes anunciar-Me e portanto
Me deste?
– Tenho. Muito.
– E não sabes que te amo?
– Sei.
– E não sabes que amar é sentir os
sentimentos do amigo – as dores também?
– Sei.
– Então porque te recusas a ser Meu amigo?
– Julguei que Tu não Te interessasses por
estas coisas.
– “Estas coisas” não te estão causando
alegrias e dores?
– Estão.
– És Meu amigo?
– Sou.
– Porque Me não deixas então sentir o que
sentes?
– Eu supunha que era por amor a Ti que não
Te incomodava com estas coisas.
– Tens então um espaço teu em que Eu não
entro!?
– Ah! Julguei que não querias entrar.
– E de quem é esse espaço onde julgas que Eu
não quero entrar?
– Agora apanhaste-me, Mestre. Pois… Acho que
é meu… Eu tenho um espaço de que sou proprietário, longe de Ti!
– Regista então agora, Meu amigo, isso que
já viste.
– Tu anseias por entrar nos nossos espaços,
sejam eles quais forem. A isto se chama Incarnação. Tu assumiste toda a nossa carne. A prostituição não
era uma via que Tu apoiasses e Tu comias com as prostitutas.
– Deixa-Me trabalhar no Meu espectáculo.
– Ah como eu desejava que fosse ao contrário
e Te pudesse pedir: Mestre, deixa-me trabalhar Contigo no Teu espectáculo!
– Se desejavas, porque não deixas que seja
assim?
– Mestre querido! Eu não sabia que podia ser
assim.
– Onde está a tua “lógica”?
– Isto é: amar-Te é não ter nada de meu,
dar-Te tudo, até a tralha e a podridão da Cidade?
– Não foi dando-vos tudo o que tinha que Eu
vos amei?
– Mas Tu só tinhas coisas boas para dar.
– E haveríeis vós de Me dar apenas as vossas
coisas boas, ficando com as más para vós?
– Mas é indigno dar coisas más.
– E que fareis delas, das coisas más?
Continuareis a mantê-las como vossa propriedade privada?
– Podemos deitá-las fora…
– Podeis? Porque as não deitais?
– Ah! Até as nossas coisas más só Tu as
podes deitar fora!?
– Só Eu conheço a vossa alma até ao âmago,
Salomão. Só Eu sei lidar bem com o vosso mal.
– Ah! Tu és inultrapassável a ensinar, meu
querido Mestre!
– Dá-Me o teu espectáculo todo e Eu farei
dele todo um espectáculo de Luz.
– Mas olha, Mestre, não o deixes fracassar.
Tu às vezes tens cá uns caminhos… É por causa dos alunos, sabes?: eles são
muito tenros ainda; se os sujeitasses a um fracasso, eles não iriam
compreender. Aceita-lhes o sacrifício da aquisição e da confecção das vestes, o
esforço dos ensaios, a paciência de me aturarem e serve-Te disso para lhes
abrires o coração a Ti…talvez através daquela cruz da vela içada na caravela.
Não Te esqueças dos espectadores todos, também. Tu é que sabes, mas não deixes
fracassar o espectáculo.
Lembro-me dos algarismos do início deste
texto e vejo lá a Senhora. Há quanto tempo Lhe não registo aqui uma palavra!
Mas sei que Ela está sempre comigo e este Mistério da Sua Presença simultânea
em todos quantos A invocam no mundo inteiro ultrapassa toda a minha
compreensão. Por isso sei que Ela, com Jesus, é o grande Dom do Pai à
Humanidade, no nosso tempo. Ela é a surpresa maior do meu Senhor, no meu
coração. Lembro-me como Ela esteve na plateia, no espectáculo anterior,
protegendo-o e levando-o ao êxito – o êxito das palmas, mas também certamente o
êxito silencioso, nos corações, aquele que não podemos medir.
– Mãezinha, vem com o Teu Filho ao
espectáculo, desta vez. Ficai juntos, na plateia, ali no centro, no lugar
estratégico, donde tudo melhor se observa. Ah, se eu pudesse arranjar-Vos ali
um estrado, um trono para Vós os Dois…
– És muito tolinho, Meu filho!
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