No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

102 — Vítimas dos próprios irmãos

2/5/02 — 4:07
Nada tenho dentro de mim senão a pena de nada ter para anunciar. E no entanto aqueles algarismos são um afectuoso abraço do Céu por aquilo que sou e tenho feito justamente como Profeta. É verdade, tenho afinal também isto dentro de mim: sinto todo o Céu feliz por esta Profecia que estendo diante de mim, diante de Deus e diante dos homens, sem prazo, sem limite de nenhuma espécie. Vejo, pois, naquela imagem, um carinhoso pedido para que continue a escrever.

— Maria, preciso hoje muito de que fales comigo, porque esta página teima em ficar em branco. Diz-me: como pode Deus pedir-me que escreva, quando ao mesmo tempo me deixa assim o coração sem nada que eu possa anunciar?

— Não sabes tu mesmo responder? Achas que é para te dificultar a vida, para te fazer sofrer?

— É claro que não. Isso nunca. Fazer sofrer é uma maldade pura e Deus é o próprio Bem.

— Ele não fez sofrer o Seu Filho Jesus?

— Não. Quem fez sofrer Jesus foram os homens. São os homens a causa de todo o sofrimento na terra.

— E demónios também, não?

— Nenhuma possibilidade de nos fazer sofrer teriam os demónios, se os homens lhes não abrissem todas as portas.

— Tu abriste alguma porta aos demónios?

— Não sinto que o tenha feito. Até pelo carinho que ainda agora o Céu manifestou para comigo.

— Não sendo então Deus nem o Demónio a causa do teu sofrimento, só restam os homens. São eles que te fazem sofrer?

— São. São sempre os homens que me fazem sofrer.

— Quem ler esta Profecia há-de ficar baralhado com tantas contradições que escreves…

— Quem ficar baralhado, depressa deixa de ler. Quem chegar aqui na leitura, não estará certamente baralhado, mas estará sendo iluminado por uma grande Luz.

— Mas tantas vezes te queixas do Demónio como a causa dos teus sofrimentos… E não o vês tu tantas vezes comandando um exército e fazendo estragos sem conta na terra?

— É verdade. E continuo vendo assim. Mas sempre disse que Deus tem o Demónio sob o Seu total domínio; só não interfere nas escolhas dos homens e estes escolheram até hoje servir o Diabo: eles querem-no como seu rei e ele, naturalmente, reina. Vejo no entanto agora uma Luz mais forte incidindo na responsabilidade dos homens. Eles têm Jesus. E o pecado deles parece-me agora maior do que o pecado das Origens: ao longo destes vinte séculos o que fizeram foi calar progressivamente a Voz do seu Redentor e expulsá-Lo deste reino que entregaram ao Demónio!

— Tu já não pertences a essa gente que tal coisa fez?

— Sim, sou carne da sua carne e durante muito tempo colaborei nesta Traição universal. Mas agora Jesus mudou o meu coração…

— E já não tens nada a ver com este reino infernal?

— Tenho tudo a ver. Tenho mais ainda agora que lhe vi a perversão. Mas agora o meu sofrimento é redentor.

— És um inocente feito vítima?

— Sou um culpado a quem Jesus purificou o coração.

— E por isso te fez vítima dos homens?

— Sim, para lhes lavar o coração.

São 6:31.

domingo, 30 de maio de 2010

101 — Não encontrei medicamento nenhum

                      — 11:00

Não, não encontrei medicamento nenhum. O incómodo na cabeça aumentou, não consegui mais dormir tranquilo. É agora penosa a escrita… E penso: como é frágil o nosso corpo, como está assim dependente de qualquer contingência!

E como ansiamos por segurança! Nota-se nestas alturas, nitidamente, o que o Pecado fez de nós: desprendendo-nos do Centro, é como se ficássemos vogando no espaço, ao sabor de todas as forças que no nosso desnorteado caminho vierem ter connosco. Foi aqui que nasceu a Civilização. Toda ela é uma angustiada tentativa de readquirir a segurança que perdemos. Por isso levantámos medonhas estruturas de poder que nos dessem a ilusão da segurança. Mas elas criam maior angústia ainda, porque sempre assistimos à sua sucessiva derrocada e esta consciência de que tudo é efémero mete-nos medo. Estamos sempre à espera de um novo rombo na muralha da fortaleza para o irmos tapar. Como esta noite me veio inesperadamente a febre, assim todos os rombos na Cidade aparecem sem que o tivéssemos previsto e sempre nos falta o medicamento para curar o descalabro. E, quando o encontramos, ele sempre deixa um remendo no sítio da ferida, fragilizando e desfeando toda a construção. De vez em quando deitamos tudo abaixo e fazemos tudo novo, à procura de uma nova segurança, que em breve ruirá também.

Creio que aqui se situa o meu sonho desta noite: Satanás, o irredutível Falso Profeta tentou, mais uma vez, arrastar-me para a falsa segurança da sua Cidade, pondo em causa o caminho para a verdadeira Segurança que esta Profecia está percorrendo. E tão mergulhados no mundo da nossa insegurança vivemos, que é fácil, com qualquer ridículo argumento, fazer-nos o Demónio vacilar na nossa Fé.

O regresso ao Centro implica, de facto, um abandono total das soluções da Civilização. Mas Deus ama-nos assim como nos encontra: se para a febre só conhecemos o remédio da Civilização, Ele deixa-nos usar este remédio, enquanto nos vai restaurando o coração. Assim, quando nos acabar o remédio que temos, já não quereremos fabricar outro, porque estão já mudados os desejos e as finalidades do nosso coração. Será então a Fé toda a nossa segurança e a reconstrutora da Cidade viva, sem remendos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

100 — O poder curativo da febre

28/9/97 — 1:03

Esta noite, aí por volta das 23:30, mal me despi para me deitar, fui acometido de uma violenta tremura em todo o corpo. Estou com febre — concluí eu. Surpreendeu-me o inesperado do fenómeno, porque não tinha sentido até ali o mínimo sinal de febre.

Mas era. E é — confirmo eu agora, ao verificar todos os sintomas de uma febre vulgar. Um deles é aparecerem, neste estado, os mais esquisitos sonhos. E acordei pouco antes da hora acima registada, com um estranho sonho. Tentei manter-me alerta, para o fixar mas, conforme é costume, só os elementos essenciais me restam.

Sei que devia registar isto, mas não sei para que vai servir ao Mestre este registo. Vou, pois, falar com Ele. E pode ser que, durante o diálogo, Ele ache oportuno dar-me a razão da febre e do sonho…

— Jesus, estou nitidamente com febre. Não sei do termómetro, mas não deve ser muito baixa. Achas que vá tomar um medicamento?

— Regista a tua reacção agora mesmo.

— Senti, de repente, receio de que me pedisses para não tomar o medicamento e assim poder a minha saúde ficar afectada.

— Porque haveria Eu de desprezar o medicamento? Vês alguma razão?

— Para revelares que só Tu podes curar e para que eu me entregasse, às cegas, a este Teu poder, de modo a dar, mais uma vez, testemunho de uma Fé firme como rochedo: eu acreditaria então em que, assim como apareceu repentinamente a febre, pelo menos ao nível da minha consciência, também assim, num ápice, Tu ma poderias tirar, como fizeste, julgo eu, com a sogra do Pedro.

— E se eu assim to pedisse, tu obedecerias?

— É claro que obedeceria.

— Sem vacilar, mesmo que Me não ouvisses distintamente?

— Há neste momento, como sabes, ainda um receio em mim. A maneira como me costumas falar é, aos nossos olhos, tão falível…

— Em que circunstâncias então te deitarias sem tomar o medicamento?

— Haveria de me deitar inteiramente tranquilo, se até ao fim desta vigília ficasse escrito que eu não deveria tomar o medicamento.

— Há ainda um outro medo em ti. Expõe-no.

— Fico sempre assim quando levemente admito que Te possa estar tentando, ao julgar-me digno de que faças em mim qualquer prodígio: foi esta, justamente, a grande tentação de Satanás, durante o Teu tempo de Deserto, antes de iniciares a Tua vida pública, toda ela recheada de prodígios.

— Quem despoletou o Meu primeiro milagre?

— A tua Mãe, perante a Tua relutância.

— A Minha resistência em iniciar assim a Minha vida pública deve-se a esse mesmo medo, de estar a tentar Deus?

— É extraordinário que me ponhas a mim a dizer essas coisas! Como posso eu saber o que se passava no Teu Coração, há dois mil anos?

— Tu sabes que a Tua resposta será Minha. Não foi isso que acabaste de dizer — que o simples facto de ficar aqui gravada qualquer palavra, ela recebe o selo de autenticidade? Responde à Minha pergunta.

— Gosto tanto que sejas assim imperativo comigo!…

— Responde à Minha pergunta.

— Sim. A resposta que deste à Tua Mãe revela este mesmo medo que eu tenho.

— E é falta de Fé, esse medo?

— Não. É um medo bom. Chama-se o Santo Temor de Deus!

–– Como vais então, de tranquilidade?

–– Estou absolutamente tranquilo e feliz.

–– E ainda não sabes se Eu te vou pedir que rejeites o medicamento?

–– Não. Não faço ainda ideia nenhuma.

–– Se Eu vier a dizer que o tomes, isso é tão bom como o outro pedido, de o não tomares?

–– São exactamente boas, por igual, as duas respostas.

–– Que bondade há na segunda – a de tomares o medicamento?

–– Tu estarias assim incarnando na nossa maldade e manifestarias um inviolável respeito por nós.

–– E não estaria assim conservando a maldade?

–– Não: este é justamente o Teu processo de a tirares toda do mundo.

–– Olha: há ainda muitas coisas a conversar, não há? A interpretação dos Sinais do início, o sonho… Mas tu estás doente. Não queres deitar-te?

–– Não me importo nada de continuar. Este diálogo está tão fluente…

–– Tu sabes a que se deve esta maior fluência, não sabes?

–– Precisamente à febre! Sempre assim acontece: no início a febre parece espevitar todas as minhas faculdades.

–– Não há nenhuma sensação na cabeça que te alerte para qualquer perigo?

–– Há apenas, dentro, uma leve e permanente sensação de calor.

–– Não leste que quando os Meus discípulos actuais realizam curas físicas, os pacientes começam por sentir, muitas vezes, um leve calor no sítio do mal?

–– Ouvi.

–– Admites que seja isso o que está a acontecer em ti?

–– Admito, mas não parece nada: é só a sensação normal da febre. E porque me havias de curar a cabeça? Não a sinto doente…

–– Está inteiramente sã em ti já a cabeça?

–– Não, certamente: ela está ferida de corrupção, como o resto do corpo.

–– Achas que ela está fazendo inteiramente o seu papel no anúncio desta Minha Mensagem?

–– Acho que o está fazendo melhor que nunca, conforme referi.

–– Então foi bom não teres tomado o medicamento até agora!?

–– Claro: se mo não deste até agora, foi porque esta foi a situação óptima, desta vez, para anunciar a Tua Mensagem.

–– Estás a ficar mais cansado…

–– Estou.

–– Então, quando acabares e escrever, não precisarás mais da febre!?

–– Não.

–– Mas precisaste até agora?

–– Precisei.

–– Porquê?

–– Porque até agora a Tua Mensagem está sendo justamente sobre o poder de cura e de anúncio que pode ter uma doença, nas Tuas Mãos.

–– Olha: e o sonho? Não queres registá-lo, apenas, para que se te não varra completamente?

–– Quero: um outro profeta tentava demonstrar-me que a minha profecia era falsa, porque eu não conseguia sequer marcar a hora do início e do fim do próprio sonho.

–– E o medicamento?

–– Vou ver se há; se o encontrar, é sinal de que o devo tomar.

São 2:51!

99 — A pequena disquete e o coração do homem

                      — 9:45:40

A apreensão que inicialmente sentia ao ver acumularem-se tantas páginas, deu agora lugar a uma ânsia de que mais páginas se acumulem. De tal maneira que já interroguei o Mestre se isto não poderia ser mais uma das encapotadas intervenções de Satanás.

— Fala-me desta minha preocupação, Mestre.

— Já resolveste o problema de uma Escritura tão extensa?

— Tu Te encarregaste de mo resolver.

— E como ficou resolvido?

— Disseste-me que entregasse o problema ao Espírito Santo e eu entreguei-Lho.

— E não tens ideia nenhuma de como Ele o vai resolver?

— Não. Mas ocorreu-me agora uma possibilidade. Não sei se a deva registar.

— Regista-a, e logo veremos se a deverias registar.

— E se a não devesse ter registado?

— Não a abençoei Eu já? Não sabes que do próprio lixo Eu posso fazer Luz?

— Então é esta a possibilidade: esta e todas as Profecias actuais, juntamente com toda a Escritura, têm hoje a possibilidade de ficar registadas numa pequenina disquete de computador e de ficarem legíveis num objecto do tamanho de um dos nossos actuais livros.

— Um computador, juntamente com toda a Civilização, não é um produto da soberba humana destinado a desaparecer?

— É. Mas também os livros e tudo o que é obra das mãos do homem estão destinados a desaparecer.

— E onde ficará escrita a Minha Palavra?

— Na Tua Criação, limpa, enfim, de toda a mancha de garra humana. Ficará escrita sobretudo e para sempre no coração do Homem restaurado à Tua Imagem.

— Mas o coração do homem não é volúvel e traiçoeiro?

— O Teu Espírito lhe dará a firmeza da rocha, no Nono Dia: este Dia é o Segundo da Nova Criação em que, tal como no segundo dia da Primeira Criação, será criado o firmamento.

— Traduz “firmamento”.

— Ordem. Segurança. Alicerce da Paz.

— Desta vez o Firmamento será construído nos corações?

— Sim. E toda a nova Criação brotará dos corações.

— Estará então excluída uma nova traição dos corações, como aconteceu na Primeira Queda?

— Haverá novas arremetidas do Inferno, até à última das últimas, a mais avassaladora e brutal, que provocará a Consumação dos Séculos. Mas nunca mais Eva vacilará no Amor, nunca mais Adão conhecerá a corrupção.

— Porquê?

— Porque Eva é agora a Rainha do Céu e da Terra e Adão és Tu, o nosso eterno Príncipe da Paz.

— Quem te disse estas coisas?

— Foste Tu. Ouvi-o aqui no Deserto. Já antes mo havias dito através dos Teus pequeninos Profetas, mas eu tinha os ouvidos doentes…

— Estão curados agora os teus ouvidos?

— Estão!… Espera…

— Que foi?

— Eu ouço-Te tão bem há tanto tempo…

— Distintamente?

— Sim… Eu tenho os ouvidos curados, Mestre!

— Sempre Me disseste que não Me ouves distintamente…

— Pois disse…mas não tinha entendido…

— Que estás entendendo agora?

— Todas estas páginas estavam na Escritura, eu já as tinha lido todas, e nada tinha ouvido ainda, antes de vir Contigo aqui para o Deserto!! Tinham-me já dito o que os Teus actuais Profetas proclamam e eu não tinha ouvido. Eles tinham dito, da Tua parte, “Por fim os Nossos Dois Corações triunfarão” e eu não tinha ouvido! Mas agora ouço!!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

98 — A natureza da Segunda Vinda

27/9/97 — 3:50

— Quero ir, Mestre, por onde Tu fores.

— Estás vindo já, não notas?

— Esta afeição tão terna que estou sentindo por Ti é ir Contigo?

— Só se vai verdadeiramente com alguém quando se ama.

— Que amor é este que está crescendo em mim? É o Teu Regresso que está próximo?

— Sim: terei regressado quando todas as fibras do teu ser se transformarem em amor.

— Mas isso, Mestre, é um regresso privado, ao meu coração. Eu estava a falar da Tua Segunda Vinda.

— A ressurreição de todas as células de um corpo é a Minha Segunda Vinda a esse corpo.

— Mas esta Vinda de que falo é aquela que nos está prometida, a Vinda colectiva a todo o Teu Povo, ao mundo inteiro.

— Se ninguém Me receber no seu coração, se ninguém permitir que as suas células ressuscitem, a Minha Segunda Vinda nunca acontecerá.

— E se na terra houvesse só um justo que Te recebesse?

— A Minha Vinda aconteceria, ainda assim: Eu viria a esse único justo e, através dele, a toda a terra.

— Tu virias, conforme nos está prometido, sobre uma nuvem, com todo o Teu poder e glória, por causa de um único justo?

— Por causa de um único justo Eu teria feito tudo o que fiz na Minha Primeira Vinda.

— Mas agora vai haver uma efusão especial do Espírito sobre toda a carne…

— Haverá agora sinais e prodígios como nunca houve mas, tal como na Minha Primeira Vinda aconteceu, os corações podem permanecer fechados e endurecidos. O Meu Regresso acontecerá só quando os corações se abrirem.

— Cada coração?

— Cada coração: numa mesma casa um será ressuscitado e outro permanecerá morto.

— Então a Tua Segunda Vinda é permanente, desde o primeiro Pentecostes!

— Sim. Sempre que alguém se deixa inundar pelo Meu Espírito, Eu estou vindo pela Segunda Vez.

— Então, Mestre, quando a Grande Tribulação estiver ultrapassada e o Oitavo Dia se tiver consumado, transportando-nos ao Nono Dia, fará sentido continuar a falar da Tua Segunda Vinda!?

— Enquanto houver na terra um coração que Me não tenha recebido, continuarei proclamando: “Eis que Eu venho!”. E fará sentido que todos os corações sobre a terra Me peçam para esse único coração fechado: “Maranatha! Vem, Senhor Jesus!”.

— Ninguém se converterá então agora pelo simples facto de Te manifestares de uma forma mais espectacular!?

— Não. Ninguém se converterá por arrastamento: a conversão é amar-Me cada um como se mais ninguém existisse no mundo. É assim que tu Me amas?

— É, Mestre: eu amo-Te muito e estou sozinho Contigo neste amor! Não encontrei ainda ninguém com quem o pudesse partilhar.

— Entendes agora porque te não levei ainda aos teus irmãos que, neste mesmo Deserto, como tu Me amam?

— Acho que entendo, Mestre: o meu amor por Ti não pode depender do amor dos outros; mesmo que à minha volta todos Te odiassem, o meu amor por Ti deveria permanecer intacto e crescer sempre.

— Até quando?

— Até à Tua Segunda Vinda ao meu coração.

São 6:10.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

97 — Sempre falo de mim, só de mim

                       — 19:17:57
Uma doce e funda ternura pelo Mestre parece percorrer-me as veias e as artérias. Julgo até por momentos que ali já, ali à frente ao virar daquela esquina, todo o meu corpo ressuscitará.

Ressuscitar é tornar-se o nosso ser todo amor.

Releio estes Escritos, a par das outras Profecias do nosso tempo, e neles só vejo um Rio de Ternura espraiando-se. Ternura de Deus por mim e ternura em mim por Ele, sempre crescendo e inundando tudo. Tudo em mim, tudo no mundo…

Mas agora advirto em que sempre falo de mim e isto fez-me parar para percorrer toda a minha extensão interior: porque me sai esta Profecia assim tão centrada nesse meu mundo íntimo e daí parte para o avanço imparável a toda a volta, no Mistério de Deus? E a resposta está-ma dando neste momento o Mestre, que eu quase sempre chamo meu. E esta resposta é como se fosse uma flor abrindo-se: é só mais um pouquinho do mistério da flor que se abre; são precisas muitas outras respostas para que a flor escancare a sua inteira beleza. É assim a resposta do meu Amigo: toda a vida desabrocha de dentro, mas ao desabrochar derrama-se toda para fora, como se fossem muitas mãos e muitos sorrisos, oferecendo tudo o que tem. Quem quiser venha, e coma!

terça-feira, 25 de maio de 2010

96 — Os pastores do Bom Pastor

26/9/97 — (23:06)

Já são agora 1:12. Acordei e readormeci várias vezes durante estas duas horas. Eu tinha-me deitado às 22 horas, tendo adormecido instantaneamente, ao peso de um sono que nenhum motivo puramente biológico explica ter sido interrompido uma hora depois.

Creio, deste modo, estar sendo comandado cada vez mais exclusivamente pelo Espírito do meu Senhor. Mesmo que eu tivesse sido desta vez acordado pelo Demónio, como sugerem os algarismos, não se trataria neste caso de nenhuma cedência a qualquer tentação, uma vez que eu estava dormindo. A responsabilidade é, pois, inteiramente de Deus!

— Mestre, fala-me desta inteira dependência de Ti, do Pai, do Espírito…

— Alguma coisa em especial te preocupa?

— Não; pelo contrário, estou tão feliz, que desejaria partilhar esta felicidade com toda a Tua Igreja. Mas é ao visionar assim todo o Teu Povo comandado exclusivamente pelo Espírito, que me parece o meu coração pequeno demais para poder acreditar em tal prodígio!

— Porquê? Não pode acontecer com todos os outros Meus discípulos o que está acontecendo contigo?

— Pode, certamente. Por esta inteira dependência do Espírito se conhecerão, aliás, os Teus discípulos. Mas deixar-se conduzir um só pelo seu especial caminho, diferente de todos os outros, eu entendo; agora serem conduzidos todos os membros de um povo inteiro, cada um por seu caminho, e fazerem todos estes caminhos tão diferentes uma unidade perfeita, como se de um só corpo se tratasse — isso está querendo ultrapassar todo o meu entendimento!

— Assim como uma impossibilidade?

— Pois, Mestre! Tem em conta o tamanho do nosso coração… E se atendermos a que todos estes caminhos estarão necessariamente sempre em fases diferentes, cheios sempre, apesar da acção do Espírito, das deficiências próprias da nossa carne…como posso não me sentir perante uma impossibilidade?

— E crês nela, na impossibilidade?

— Creio. Com toda a minha capacidade de acreditar: eu sei que Tu és o Senhor do Impossível!

— Diz-Me então agora: como vês o governo de um povo assim?

— Só com pastores…

— Porque paraste? Nada mais?

— Nada mais, Mestre. Ninguém mais.

— Porquê?

— Porque são necessariamente nómadas: é a fome do rebanho que os conduz.

— Não são eles que conduzem o rebanho?

— Na verdade, não. E aqui está a característica principal do pastor: é sempre o rebanho que o faz mover, de vale em vale, de um monte para outro monte….

— Não é ele que sabe onde se encontram os novos pastos?

— Ele é sempre o que mais ama.

— Amar é saber onde se encontram as novas pastagens?

— É: todo o alimento vem do Teu Coração. Nunca é o pastor que dá o alimento às ovelhas: elas próprias o procuram e quando Tu vieres e o Teu espírito inundar de Água a terra, o que mais haverá é alimento, por toda a parte!…

— Qual é, portanto, a função do pastor?

— Vigiar. Estar atento ao possível extravio de qualquer ovelha e à aproximação do lobo.

— E de que se alimenta o pastor?

— Do próprio rebanho e dos frutos da terra, ao andar. Alimenta-se da mesma fonte do rebanho. O seu cuidado será apenas, além de vigiar, o de orar sempre.

São 3:26!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

95 — O poder de criar

                       — 14:43:17/8

Esta imagem diz-me isto, tal e qual: Escreve! Escreve o Mistério de Deus que te estava enchendo o coração; Eu, Jesus, te dou a Minha Paz e a tua Mãe te abençoa!

Note-se o especial carinho do Mestre, ao fazer-me aparecer, no lugar dos segundos, a imagem sequencial de que falei na vigília: 17-18! E note-se também o pedido exacto, segundo o código combinado, na imagem dos minutos, para que eu anuncie o Mistério de Deus, sempre presente na Sua Natureza Trinitária em qualquer dos Seus Mistérios!

Mas eu hesitava: era muito grande o que me estava no espírito… Se me aparecesse no relógio uma imagem que me permitisse escrever, eu escreveria… E a imagem apareceu, clara, dando-me a segurança da Paz do meu Mestre e da Bênção da minha Mãe.

E a revelação que estava e continua acontecendo em mim é esta: todo o sonho que eu sonhar unido aos Corações de Jesus e de Maria, fatalmente se realiza! E veio-me ao coração alvoroçado o seguinte exemplo: se eu sonhar um animal gigantesco, possuído de uma titânica energia, mais espectacular de grandeza e inocência que os antigos dinossauros, este animal surgirá, num ponto qualquer do Universo! Outro exemplo: se eu sonhar uma flor que nunca ninguém viu, nem eu sequer, e tiver este sonho adormecido no Coração de Jesus, ou no Coração da minha Mãe do Céu, esta flor acontecerá na Terra ou noutro planeta qualquer, entre os milhares de planetas que há no incomensurável Espaço. E o mesmo impulso interior me leva a dar este outro exemplo: a papoila silvestre, assim na sua inocente simplicidade encarnada, pode ter sido o sonho de um anjo ou de um santo, que Deus realizou!

E esta revelação estou vendo-a agora como inteiramente óbvia e claramente expressa na Escritura; estava, no entanto, totalmente escondida aos meus olhos! Mas onde está então, assim tão clara, na Escritura, esta Verdade? Em vários momentos da manifestação de Deus à Sua criatura entre todas amada. Mas eu encontro-a literalmente escancarada no início da Primeira Criação e no início da Nova Criação! Leiam-se de novo, naquele tremendo e fascinante Sexto Dia, as palavras do Criador: “Façamos o Homem à Nossa Imagem e Semelhança”. Levem-se a sério estas palavras: não está aqui claramente implícito o poder de criar, isto é, de tirar coisas do Nada, à imagem e semelhança do Criador? E, quando veio Jesus iniciar a Nova Criação, não O ouvimos dizer, de várias maneiras, que tudo quanto pedirmos ao Pai nos será dado? Porque não levamos a sério as palavras do nosso Irmão Deus, Jesus?

domingo, 23 de maio de 2010

94 — Uma ternura feita de lágrimas

22/9/97 — 1:58

Mas ao levantar-me para escrever eram já 4:03. Resisti, desta vez, em assinalar aqueles algarismos, registando apenas estes como início da vigília. A verdade é que, como nos dois dias anteriores, a primeira imagem surge estranhamente intensa, de modo que a fixo com muita segurança e como que fica pairando durante todo o tempo posterior em que readormeço. Desta vez tive até um sonho com ela relacionado, de que já nada me lembro, a não ser que se tratava de uma igreja não católica que, como eu, aceitava também os algarismos como Sinais. Parece haver, pois, um qualquer tipo de vigilância neste tempo em que readormeço.

Mas desta vez ainda por outro motivo fixei aqueles primeiros algarismos. É que eles mostram-me, juntos na mesma Luz, o meu Mestre e a minha Mãe. E isto enche-me de uma tranquila alegria. De facto, embora não tenha registado nenhum diálogo com a Mãe, tenho-Lhe pedido sempre nestes últimos tempos que proteja estes Escritos. Senti, portanto, aquela imagem numérica como uma simpatia do Céu, a confirmar a especial Presença de Jesus e Sua Mãe abençoando tudo quanto escrevo.

De facto, tem-me mantido o Mestre de há uns tempos para cá em “retiro”, conforme Ele chama a esta mais exclusiva intimidade com Ele, em que as mais espectaculares revelações parecem ter sido suspensas. Ora isto eu não o entendia, de início: sentia esta ausência de revelações como um tempo de aridez, em que nada de novo eu via florescer. Mas Jesus tem muito cuidado em me amparar quando assim me vê apreensivo e solitário: através dos Sinais 7-8 Ele aparecia com a sua Mãe dando-me a Sua Paz, como se viessem os Dois fazer-me uma carícia. Tem sido, de facto, surpreendente a linguagem dos Sinais: são raras as vezes em que, olhando o relógio, me não aparecem aqueles algarismos no mostrador, sobretudo seguidos, na imagem dos segundos! Outras vezes é também o conjunto 52 ou 25, a falar-me justamente desta minha união íntima com o Mestre.

Sinto, de facto, uma crescente ternura do Céu para comigo, sobretudo por causa da minha fragilidade e do difícil caminho da Fé que me foi dado, sempre dependente de mudos Sinais, de "“acasos", de “coincidências”, de subtis sensações e às vezes…de nada, pois avanço completamente às cegas, confiado apenas em que, “a posteriori”, Jesus abençoará o caminho andado. E abençoa sempre, com uma solicitude enternecedora! E tão funda é a intimidade em que às vezes O sinto envolver-Se comigo, que chego a ter receio de manchar a Sua Transcendência de Deus, esquecendo-me de que Ele é o Absolutamente Outro, Aquele que “mora numa Luz Inacessível”, o Deus Três Vezes Santo!

Mas não, nunca O senti, nem de leve, zangado comigo, nem sequer me recriminou nunca por qualquer desleixo meu. Parece apenas esperar, com muita paciência, que eu dê os meus passos de deficiente. Mas a Paciência d’Ele não é uma paciência pesadona, de quem está fazendo um frete: é uma paciência leve, terna, feliz por poder esperar por nós – há tantos filhos Seus que nem sequer Lhe querem a Mão, nem sequer querem caminhar em direcção a Ele, ou ao lado d’Ele… Mas é quando O vemos esgotado de forças, caído no mesmo caminho que nós, que a Sua Paciência faz brotar de nós uma ternura feita de lágrimas.

São 5:55!!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

93 — A deusa Razão

                      — 9:24

— Pedes-me, nestes algarismos, que escreva. Conduz então, Mestre, a minha mão por onde só a Tua Verdade seja revelada, sem mancha.

— Fala da Verdade. O que é a Verdade? Tenta responder hoje a Pilatos, que assim continua perguntando.

— Para quem acredita em Ti, é fácil responder: a Verdade és Tu.

— Mas nenhum Pilatos te aceitará essa resposta…

— E no entanto não há outra.

— E como levarás todos os Pilatos do mundo a aceitarem-Me como A Verdade?

— Talvez através dos sonhos das suas esposas…

— Que sonho sonhou a esposa de Pilatos?

— Que o marido iria condenar um inocente.

— Dá então agora outro nome à Verdade.

— Inocência.

— Eu sou a Verdade por ser inocente?

— Sim. Por não haver a mínima mancha de maldade em Ti.

— Então também a Minha imaculada Mãe é a Verdade!?

— Jesus, segura bem a minha caneta: ela vai dar uma resposta herética.

— Abre, Meu menino, mais essa porta do Mistério.

— Sim. Também a Tua e nossa Mãe é a Verdade!

— Como? A Verdade não sou Eu só?

— És.

— O Pai não é a Verdade?

— É.

— O Espírito Santo não é a Verdade?

— É.

— Nenhum Pilatos te vai entender, filhinho!

— Pois não.

— Tenta dizer porquê.

— Porque todos os Pilatos procuram a Verdade na lógica da Razão.

— E a Verdade não está lá?

— Nunca.

— Nunca?

— Nunca, Mestre! És Tu que me estás levando, com irresistível força, a responder assim.

— Podes apresentar algum motivo porque assim é?

— Porque toda a lógica da Razão foi fabricada num mundo abstracto, feito de princípios e de leis e de deduções e de sistemas, e esse mundo é pura invenção do homem, guiado por Satanás; é, por isso, um mundo donde Deus está totalmente ausente.

— Mas qual é o motivo profundo porque não pode, no mundo da lógica humana, estar presente Deus?

— Porque se trata de um sistema abstracto.

— E por ser abstracto?

— Abstracto quer dizer arrancado para fora. Para fora do ser concreto das pessoas concretas e de todas as coisas em geral. Para fora da vida. Por isso a Razão é o Grande Ídolo, frio e mudo, colocado num alto pedestal, como obra e glória das mãos do homem e que a partir daí, desse céu de zinco, desvitalizado, comanda tiranicamente os homens através dos seus sacerdotes, sugando-lhes, também, progressivamente, toda a vida.

— Disseste que esse mundo da lógica racional foi construído fora do ser concreto das pessoas concretas. Não queres explicar um pouco melhor?

— O ser concreto das pessoas concretas é todo vivo. Todos os seres em geral, aliás, são feitos de movimento e de vida; a lógica da razão é um grotesco monstro, feito de elementos mortos, parados.

— Então agora outra vez: porque é que não se pode encontrar a Verdade no mundo da Razão?

— Porque a Verdade já existia antes desse mundo existir e era Vida, apenas. A Razão é um enorme quisto no corpo da Vida: nunca ninguém aí encontrará a Verdade!

— A Verdade está num vulcão?

— Está.

— Porquê?

— Porque é uma fúria inocente.

— E está num terramoto?

— Está.

— Porquê?

— Porque é um assombroso movimento inocente.

— Inocentes um vulcão e um terramoto, se podem matar tantas vidas?

— Vulcões e terramotos são só uma espectacular, inocente vingança, que só propriamente atinge o quisto da Cidade que a lógica da Razão construiu.

— Aquele raio que no Rossão rachou de alto a baixo aquele carvalho foi também expressão da Verdade?

— Foi.

— Porquê?

— Porque manifestou a força das energias cósmicas, na sua inocente espectacularidade.

— Mas rachou a árvore!…

— A Árvore não se importa; antes, está agora, feliz, exibindo inocentemente, à sua maneira, o Poder do Criador.

— Olha: não foi com a Razão que estiveste concluindo essas coisas todas?

— Não, Mestre: vistas com os olhos da razão, todas as conclusões que tirei estão cheias de “buracos”, de lacunas lógicas, de disparates…

92 — Lição sobre a via da Fé

21/9/97 — 2:40

De novo o mesmo fenómeno: julguei que tinham passado uns breves minutos e ao levantar-me para escrever eram já 3:48! Por isso é uma nova interrogação que vou pôr hoje ao Mestre:

— Se me acordaste e eu readormeci, que sentido tem o teres-me acordado? É que eu não me sinto culpado de ter readormecido…

— Olá, Meu pequeno companheiro fiel! Recebe a Minha Paz. Diz-me o que tem andado a fazer o teu irrequieto espírito.

— A procurar hipóteses de explicação.

— Então a Minha resposta não seria outra coisa senão o fruto dessa tua pesquisa!

— Pois era!…

— E seria uma resposta Minha?

— Seria: é esta a minha Fé. Se Te ouvisse distintamente, escusava de andar pesquisando e quanto mais fácil para mim não seria!

— Como pode então ser o fruto de uma pesquisa tua uma resposta Minha?

— É que a minha pesquisa não é outra coisa senão uma tentativa de Te encontrar, já que não recebo as Tuas palavras por audição interior directa.

— E quando decides por uma das várias hipóteses que pões nessa tua busca, em que se funda a tua decisão?

— Num qualquer “toque” Teu dentro de mim.

— Não é uma simples dedução lógica?

— Pode ser. Mas tenho que sentir igualmente o Teu “toque” nessa dedução da minha lógica. Tu aceitas todos os caminhos por onde me meto para Te encontrar.

— Diz-Me então agora: em que consiste esse “toque” de que falas?

— Nestes casos, em que a Tua resposta não é imediata e às vezes avanço no meio de uma completa frieza, esse “toque” consiste apenas na Tua Paz: enquanto me não sentir tranquilo, não avanço.

— Mas não tem acontecido já manter-se a dúvida, mesmo depois de o texto ter sido gravado?

— Sim. Mas é significativo que eu nunca tenha ido emendar nada do que ficou escrito. Quando isso acontece, a Tua Paz repousa-me na esperança em que me venhas posteriormente a esclarecer o que na altura escrevi sem entender plenamente.

— Nesses casos, se não tens a certeza do que escreves, porque avanças?

— Simplesmente porque estou escrevendo e escrever é um imperativo Teu a que com muita afeição obedeço. Sinto, por isso, que não tenho que entender tudo o que me fazes escrever.

— E tenho-te confirmado sempre posteriormente o que ficou escrito?

— Sempre, de várias maneiras. E é esta uma extraordinária simpatia Tua. Mesmo quando, ultimamente, verifiquei colidirem alguns pontos desta Profecia com outras contemporâneas que vou conhecendo, logo Tu Te apressaste a tranquilizar-me, mostrando-me que tais discrepâncias são apenas aparentes.

— Queres então agora dizer-Me qual foi a conclusão que tiraste daquela tua pesquisa inicial?

— Não consegui tirar conclusão nenhuma ainda. Mas um sentido acabas Tu de dar àquela interrogação: ela despoletou este diálogo sobre a via da Fé, em que, no fundo, se baseia tudo quanto escrevo e que Tu abençoaste de forma muito especial depois da Tua Ressurreição: “Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram”.

— E, para além desta explicação, não sentes necessidade de encontrar outra para o facto de Eu te ter acordado e te ter deixado readormecer?

— Não. Se ma quiseres dar, ela há-de vir.

São 5:23!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

91 — O amor verdadeiro tem coisas estranhas

                       — 9:55:19

Dormir profundamente esta noite só dormi cerca de uma hora. Sinto-me, obviamente, cansado: as minhas faculdades estão todas diminuídas, toda a lógica me diz que este estado vai pôr em perigo a minha saúde. E porque acredito no que escrevi esta noite como vindo de Jesus, Ele é o único responsável por toda esta situação!

O amor verdadeiro tem destas coisas estranhas: fazendo sofrer o amigo, em vez de o afastar, aproxima-o ainda mais. Foi tão querido o meu Amigo esta noite! Acordou-me porque Lhe estava sendo muito difícil suportar a Sua solidão mas, em vez de pôr às minhas costas o Seu problema, só se pôs a conversar sobre o meu, que era não entender porque me acordara Ele àquela hora. E foi preciso que eu Lhe perguntasse qual era o Seu maior problema para que Ele mo revelasse, levemente, sem me sobrecarregar com nenhum tipo de dramatismo. Fui mesmo eu que naturalmente lá cheguei e é este sempre o efeito da Pedagogia do Amor. Deus, por uma via ou por outra, é sempre e só Amor. Foi assim que Ele me levou ao Seu grande problema: o andarem os Seus discípulos a querer curar o mundo com a mesma canseira e pelas mesmas vias dos que O não conhecem, dando assim perante as nações o testemunho de uma fé estéril.

De facto, o comportamento dos cristãos, mesmo dos mais bem intencionados e fervorosos, é igual ao de todos os bons homens desta terra. Onde está a sua Fé n’Aquele que diz “Haja luz!” — e houve luz; que diz “Quero, sê limpo!” — e o leproso ficou naquele instante livre da sua lepra? Assim totalmente esquecido da Sua Omnipotência estava o Povo de Deus quando Jesus veio; Jesus chegou e partiu. Muitos viram por esse tempo a própria Omnipotência de Deus perante os seus olhos e creram. Mas em breve se voltaram a esquecer. Tornou-se assim inútil esta Primeira Vinda do Filho de Deus. Hoje os cristãos, amarrados à Cidade como todos os outros homens, não vêem outra solução que não seja aperfeiçoar os mecanismos da própria Cidade para curar a dor do mundo. E neste hercúleo esforço gastam os seus dias e neles todas as suas forças.

E Deus pode curar, com uma palavra, com um gesto, com um invisível acto de vontade!

E Deus é o único que sabe como se cura sem mutilar!

E Deus é o único que sabe como éramos antes da nossa ruína!

Deus é o único capaz de nos libertar deste círculo infernal da Civilização que, para curar uma dor, cria várias outras dores. Mas nós somos terrivelmente espertos e racionais: objectamos, por isso, que, se Deus nos curasse sem nós, nos estaria pondo de lado e assim estaria desprezando a sua mais bela criatura. E eu garanto a estes todos, a esta terrível lógica da nossa Razão, que senti tudo menos desprezo quando esta noite o meu Deus me veio acordar uma hora depois de me ter deitado, no meio do meu mais profundo sono, só para estar comigo porque não aguentava mais a sua Solidão, só para estar comigo ali assim no meu quarto onde não estava mais ninguém, onde nada fiz por ninguém, onde só escrevi palavras sobre um papel, com uma caneta de plástico!

Tentei entregar-me inteiramente à Sua Omnipotência e Ele fez isto de mim: um amigo que vem acordar alta noite, só para encontrar um pouco de solidariedade e alívio na Sua inultrapassável Solidão – porque ninguém O ouve, porque ninguém acredita n’Ele, porque todos O puseram de lado e se lançaram freneticamente a fazer as coisas sozinhos. E o pior é que fazem tudo servindo-se do Seu Nome para conferirem autoridade a si próprios, cobrindo assim com uma capa de respeitabilidade este desprezo tão longo e tão fundo pela Omnipotência e pelo Amor do seu Deus! E deixaram o meu Amigo outra vez sozinho no Getsémani…

A Cruz queria mostrar que Deus nos assumiu toda a incapacidade e toda a dor e desceu ao próprio antro de Satanás, à própria central de comando do reino do sofrimento para o eliminar, fazendo-a explodir numa Nova Criação — e nós até este inconcebível espectáculo do Amor do nosso Deus conseguimos esquecer, esterilizando-o e tornando-o inútil para a salvação do mundo!

Pobre Deus! Pobre Jesus! Pobre Amigo, que não sei como consegue lidar com a nossa estupidez e a nossa maldade! Porque hei-de ter medo de perder um pouco da minha saúde para estar com Ele nesta Sua tão cruel Solidão?

terça-feira, 18 de maio de 2010

90 — Acordar um amigo a horas incómodas

20/9/97 — 2:13

Eu tinha-me deitado uma hora antes…

— Foste Tu que me acordaste àquela hora, Mestre?

— Porque perguntas?

— Porque só pode ter sido um poder que consiga contrariar as leis da Natureza: não há nenhuma lógica neste despertar, uma vez que acordei carregado de sono. De tal maneira que, ao ajoelhar, julgando terem passado apenas alguns minutos, eram já 3:33!

— E que te diz esta imagem?

— É o mais espectacular Sinal da Presença da Plenitude de Deus em mim!

— Então que concluis? Fui eu que te acordei?

— Foste, certamente… Até porque a primeira imagem numérica me pede que seja testemunha da Luz que jorra da Trindade Santíssima ou, também, da Fonte de todo o Amor — a Unidade de Deus Trino.

— E por isso não poderia ter sido o Demónio a acordar-te?

— Não: ele é o contrário do Amor.

— E que amor pode haver nesta violência de te arrancar ao sono uma hora depois de te teres deitado?

— O amor confiante de um amigo que está sofrendo muito.

— Eu sou esse teu Amigo que está sofrendo muito?

— És: Tu és uma Chaga viva! Ninguém sofre mais que Tu.

— E estava sofrendo especialmente naquele momento?

— Não sei… Mas não precisava de ser uma dor especial: ela é sempre enorme e foi como que um gesto intuitivo dizendo-me que estavas muito só – destes gestos que se têm para com um amigo íntimo…

— Olha: não há uma contradição entre a dor em que me vês e este diálogo que estou tendo contigo, que parece tão descontraído?

— Parece haver uma contradição, sim…e era essa uma sensação que estava passando por mim.

— Foi por isso que Me pediste ajuda?

— Não sei… De facto, muito espontaneamente há pouco me saiu isto: ”Jesus, ajuda-me, para que fique escrita só a Verdade!”

— O modo como falo contigo, como o sentes? A postura, a voz é a de quem não suporta as dores?

— Por acaso, não! É só a de quem, cautelosamente, procura não ser pesado ao amigo que acordou assim no mais pesado sono, como se não conseguisse suportar a solidão e precisasse só de conversar um pouco…

— Diz, diz o que estás sentindo agora, Meu amigo.

— Que Tu, de toda a Tua imensa dor, só pões às nossas costas uma pequenina gota quando assim pedes o ombro a um amigo para descansares um pouco…

— O sofrimento deste teu despertar e desta vigília é só uma pequena gota?

— É, Mestre, é! Que peso tem este sofrimento, comparado com o abandono e desprezo de biliões de filhos Teus e com a Tua dor pela miséria em que nos vês?

— Não, querido companheiro, não é tesouro pequeno ter um amigo que não se zanga quando o acordamos uma hora depois de se ter deitado e nos ouve com atenção.

— E precisas só de falar, Mestre? Não trazes hoje nenhum problema, nenhuma dor em especial que queiras partilhar comigo?

— Não… Só Me dói tanto a vossa dor e a vossa cegueira…

— Não me queres dizer nada sobre a Tua Igreja? Nenhuma recomendação para eu pôr em prática quando chegar a hora?

— A Minha Recomendação é só uma e sempre a mesma: se te mantiveres assim Meu amigo, assim vigilante…

— Só assim, Mestre? Parece-me tão raquítico ainda este amor…

— Não chames raquítico ao Dom do Pai! Olha: escreve o que estiveste pensando há pouco para a Minha Igreja.

— Que todas as insónias dos Teus discípulos fossem passadas Contigo. Que todas as noites as igrejas estivessem cheias de gente com insónias e de gente a quem chames no meio do sono, como fizeste a mim hoje, para que o Amor invada a terra como um grande rio!…

— Não é na rua, em todas as praças da Cidade, em todos os recantos de Babilónia que queres ver os Meus discípulos curando as chagas todas dos seus irmãos?

— Não há rio que não venha de uma fonte e não há fonte que se não alimente da chuva vinda do céu! Não deixes nunca os Teus discípulos saírem do Teu Coração.

— Ah, Meu querido, pequenino pastor, não esqueças nunca de dizer à Minha Igreja que só Eu curo todas as chagas e que as curo num instante e de graça!

São 5:52!

89 — Amar-se ternamente a si mesmo

18/9/97 — 3:03

Dou comigo de repente sentindo ternura por mim próprio: ao que eu me reduzi por causa do meu Mestre! Pareço uma abelha à volta de uma flor, sempre à volta da mesma flor, poisando nela agora e depois e depois, para ir buscar um néctar inesgotável, já no limite das suas forças, de tanto voar. É como se não conhecesse mais que uma flor: se se afasta, é só para ir colocar a doçura na colmeia e logo volta; se se retarda no caminho, é só porque lho enredam, ou porque precisa de descansar um pouco, mas flores não conhece mais nenhuma. E lá está ela de novo à volta da mesma flor, à espera não sei de quê, talvez do melhor jeito ou lugar para poisar, mas nem poisando descansa, porque logo parte a colocar na colmeia o tesouro que leva.

— Quando acaba, Mestre, este vai-vém, e morro, enfim, entre as pétalas da flor? E diz-me: não estou pecando ao sentir esta ternura por mim mesmo? Não é uma pieguice ridícula, a que fiquei reduzido, por não pensar em mais ninguém senão em mim?

— Em ti? Não é na flor e no néctar que sempre pensas? Não é em encher de alimento os favos?

— Sim, à primeira vista parece não haver aqui lugar a egoísmo, mas sei lá… Esta ternura por mim mesmo, donde me vem?

— De ti mesmo, não?

— Não é sinal de degenerescência? Não é uma fixação doentia em mim mesmo?

— Pobres crianças, o que o estado adulto vos fez!

— O estrado adulto?

— Sim: o caminho que percorrestes para vos afastardes de Mim!

— O que é o estado adulto, Mestre?

— É não precisardes mais de Mim.

— É por isso que complicamos desta maneira, a ponto de já não sabermos distinguir a mão direita da esquerda, o amor do egoísmo?

— Pobres crianças! Porque Me fugistes do Coração, onde tudo era claro?

— Ensina-me então de novo: donde me vem a ternura por mim mesmo, Mestre?

— De ti mesmo. Não é claro?

— Sim, parece óbvio…

— E onde tens o problema? Alguém vos proibiu de vos amardes ternamente a vós mesmos?

— Agora que assim perguntas…absurdo parece, de facto, que alguém não tenha um carinho especial pelo seu próprio ser: o nosso próprio ser é o que está mais próximo de nós, é ele que inteiramente nos acompanha no prazer e na dor, é ele que apanha com todas as perguntas que fazemos e arranja o melhor que pode todas as respostas, é ele que é massacrado desde o início com quanto o rodeia e tem que se desenvencilhar de tudo… Ah, Mestre, é bem verdade: como não havemos de sentir uma profunda ternura por este ser que, quer gozando, quer sofrendo, mais que ninguém nos ama?

— Vede o que fez de vós Babilónia, a Cidade que construístes tão longe do meu Coração!

— Então diz-me, Mestre: o que é o egoísmo?

— O egoísmo é não deixardes os outros amar-se a si mesmos.

— E quando fazemos nós isso?

— Quando pretendeis sujeitá-los ao vosso amor.

— Que acontece então ao natural amor por nós próprios quando assim pretendemos dominar os outros?

— Fica sem tempo para si mesmo e deste modo acaba por se esvaziar e destruir.

— Então o egoísta é o que menos se ama a si próprio!

— Todo o acto de egoísmo é um acto de desprezo por si próprio.

— És tão lógico, Mestre! Mas é preciso rebentar a carapaça das coisas para chegar à Tua Lógica!

— E como rebentaste a carapaça das coisas?

— Foste Tu que a rebentaste! Não foste Tu que me trouxeste para este Deserto?

— É aqui que se rebentam as muralhas que escondem a Verdade, sim, Meu amigo. E sabes porquê?

— Porque aqui há Silêncio.

— Tem assim tanta força, o Silêncio?

— Leva tudo raso à sua frente! É como uma luz que alastra e, no seu avanço, trespassa e pulveriza todo o obstáculo.

— E o amor…o que é? Já sabes? O que é amar o próximo?

— É ajudá-lo a amar-se a si mesmo.

— Descansa então agora um pouco, Minha abelhinha!

São 5:12.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

88 — Lição sobre a aridez

17/9/97 — 3:51

— Do fundo do Teu cansaço, fala comigo, Jesus. Atrevo-me a pedir-Te isto, porque sei que Tu és Palavra sempre e quanto mais a Tua Carne esmorece e se cala, mais o Teu Coração se ouve. Fala comigo, Mestre, Coração com coração. Queres saber o que tenho no meu?

— Quero.

— Frieza. Parece que toda a vida foi esterilizada.

— Não desistas de procurar. Vai sempre mais fundo. O teu coração não é onde te encontras; é mais além.

— Esta aridez gelada não é no meu coração?

— Vê bem: desejas essa aridez?

— Não!

— Desejas que ela desapareça?

— Desejo.

— Muito-muito?

— Com toda a minha capacidade de desejar.

— E crês que o teu desejo se cumprirá?

— Às vezes esmoreço na minha Fé, Mestre. Há tanto tempo me recobre esta aridez…

— E ficas aflito quando sentes a tua Fé esmorecer?

— Fico.

— E lembras-te de Mim quando assim sofres pela fragilidade da tua Fé?

— Lembro. É a Ti que me agarro sempre. Como agora, vês?

— Que estavas pensando antes de começares a escrever este texto?

— Que numa situação assim, de absoluta aridez, tudo quanto escrevo só pode ser construção minha.

— Tua – de quem?

— Como?

— De quem é essa construção – do homem da aridez, ou do homem que a deseja encher de água?

— Nunca gostei de escrever; se o faço, não é certamente a aridez que me move.

— Que te move, então?

— Tudo o que existe para além da aridez.

— Existem então coisas para além da aridez!?

— Existem; acabas de mo mostrar: o desejo de acabar com ela, a Fé, a confiança em Ti quando a Fé vacila, a permanente preocupação em que estes textos não sejam construção minha…

— E mais isso que estás sentindo agora.

— Ah! A mágoa de estar parado, sem conseguir escrever, à espera das Tuas palavras?

— Não estava isso também para lá da aridez?

— Estava, de facto.

— E essa preocupação, que agora te estava percorrendo, de vigiares ao menos duas horas Comigo…

— Ah, Mestre, mas eu estava desejando que as duas horas passassem!…

— Desejar que passe uma coisa incómoda é próprio da aridez?

— Não: a aridez não deseja nada. Mas desejar que as horas passem não é ofender-Te?

— Vês-Me desejando que se prolongassem as horas do Meu Getsémani e depois as horas todas da Minha Paixão?

— Não; vejo-Te como um de nós: desejando que tudo se consumasse depressa, mas sem forçar nunca o tempo do Pai.

— Pretendes forçar o Meu tempo em ti?

— Não. Mas desejo tanto que venhas depressa…

— Desejas agora?

— Desejo sempre. Agora também, sim.

— Vem-te da aridez esse desejo?

— O desejo não vem da aridez, mas é a aridez que o provoca… Ah, Mestre, estou vendo agora: tudo aquilo de que falámos e que está para além da aridez é, no fundo, provocado pela aridez!

— Falta só mais um pouco, Meu pequenino: preciso ainda da aridez para te moldar o teu coração novo….

São 6:17!

domingo, 16 de maio de 2010

87 — Atirar-se para o chão e deixar-se ficar

16/9/97 87 — 3:48

Tudo me pede que me atire para o chão e me deixe ficar. Mas eu sei que isso só aconteceria se Jesus também assim fizesse: já me une a Ele uma afeição demasiado forte para que eu admita sequer deixá-Lo sozinho nestas areias com a solidão que já transporta, com as chagas e a sede que ninguém já suportaria mais.

Jesus está sempre onde nós estamos. Se eu tiver lepra, Ele tem lepra, e mais vasta e funda que a minha. Se eu for um criminoso, é só olhar para o lado que O verei perseguido e condenado a pena maior que a minha. E em tudo isto que Lhe acontece à nossa beira, em todos os caminhos por onde Se mete connosco, o mais impressionante é que O reconhecemos sempre inocente. Completamente inocente. Tão puro vemos este Homem assim ao nosso lado no estado em que nós estamos, que sem darmos conta nos nasce por Ele uma misteriosa ternura no mais fundo do nosso ser.

Ele está, portanto, aqui onde eu estou: se me apetece atirar-me para o chão, Ele já lá está, caído antes de mim, porque Lhe foram abaixo as forças antes de mim, porque a carga e as dores que transportava eram um milhão de vezes maiores que as minhas. Mas Ele está-Se levantando conforme pode, sempre aquele misterioso brilho no Olhar relampejando a espaços, voltado para o horizonte.

Por isso vou também e, conforme posso, em vez de me atirar para o chão, tento ampará-Lo. E é a fragilidade d’Ele que me dá forças a mim. Sinto então pesarem também sobre as minhas costas os nossos crimes todos de todos os tempos. E mais me alastra dentro o pasmo e a afeição por este Homem.

Ora neste preciso momento o que verifico dentro de mim é um vazio de toda a afeição por quem quer que seja; o que eu quero é, talvez, meter-me na cama, mas nem disso tenho a certeza. No entanto não é falso o que escrevi. É que a minha prostração e a minha dor consistem justamente em não sentir nada dentro de mim — nem afeição!

Mas existe dor. Apenas dor. E é esta dor que me está agora mesmo arrancando lágrimas dos olhos. Que me dói, então? Dói-me o estar cansado, dói-me a minha impotência, dói-me a minha frieza. Dói-me o estar nesta hora da noite aqui a escrever ajoelhado, sem que ninguém me diga que vale a pena. Doem-me os nossos pecados todos, sem que ninguém me garanta que esta dor vai valer a pena.

Só tenho o meu Jesus aqui também assim como eu. Até a afeição vê-se que Ele não a sente neste momento por ninguém, porque Lhe está doendo muito e só precisa que Lhe aliviem esta dor. E eu faço tudo o que posso: apenas estar aqui amparando-O, sem ter consciência de afeição nenhuma, só a ver se aguento porque Ele quer chegar, Ele tem um Sonho maluco dentro d’Ele e diz que é Lá, é Lá que é preciso chegar e eu sei que Ele não vai desistir e então vou aqui porque Ele conseguiu contagiar-me com este Sonho, mas não há nada mais dentro de mim senão a dor e é só de dor que eu choro, mais nada.

São 5:53!

sábado, 15 de maio de 2010

86 — Finalmente, nós

15/9/97 — 2:20

— Eu sei que Te custa muito andar, Mestre, mas se não vieres comigo eu também não vou conseguir dar mais nem um passo.

— Vamos, então… Que sentiste agora mesmo?

— Que isto já não pode durar muito: Tu estás no limite das Tuas forças.

— Como medes tu as Minhas forças?

— É por mim que as calculo: tudo o que digo de Ti, sinto-o em mim.

— Eu tenho as tuas medidas?

— Não: sou eu que vou ganhando as Tuas.

— E são muito curtas as medidas, neste momento, não são? Não conseguimos andar…

— Há uma medida que se está alargando, Mestre!…

— Qual é?

— A do Teu Amor em mim.

— Onde notaste o teu amor alargando-se?

— No “nós”! Juntaste-nos tanto, Mestre, que agora, sem dar conta, verifico que estou sempre dizendo “nós”!…

— Só dizendo?

— As palavras que escrevo tentam sempre traduzir com a precisão possível o que se passa dentro de mim. O “nós” está acontecendo dentro de mim!

— Onde estamos então nós, agora?

— Aqui os dois nesta imensidão solitária e seca, sem conseguirmos dar passos firmes, interrogando o Pai se ainda falta muito.

— Também Eu não sei onde é o fim do Deserto?

— Ah, Mestre, o Teu Coração está-me dizendo que não… Só o Pai o sabe.

— Vá, deixa sair agora essa sombra que te tolda o coração.

— Estou com medo de me esquecer de que Tu és O Santo. Estás tão próximo de mim, tão igual…

— Igual em quê?

— Na fragilidade, na incapacidade, no sofrimento…

— Também no sofrimento somos iguais?

— Aí é que está o meu medo: Tu tens uma capacidade de sofrer infinitamente maior do que a minha.

— Então porque escreveste que somos iguais no sofrimento?

— Não sei… Senti assim. Mas deve ser só porque julgo estar chegando ao meu limite, como Tu estás chegando ao Teu limite.

— Eu também tenho um limite?

— Tens: o da Justiça. Mas ainda a Vossa Justiça, Trindade Altíssima, é Amor, apenas. A Vossa Justiça traz sempre na Ira, misturada, a Compaixão e por isso se desloca sempre para mais longe. Por isso o Pai vai adiando a Hora da Decisão até ao limite do suportável, isto é, a barreira a partir da qual a própria Justiça de Deus viraria injustiça.

— E tu, Meu pequenino, vais esperar aqui Comigo a Decisão do Pai?

— Vou, Mestre!

— Até ao limite do suportável?

— Sim, meu Amigo: é essa toda a minha ânsia.

— Que te falta então para seres igual a Mim no sofrimento?

— Falta-me tudo… Falta-me um coração igual ao Teu, que nunca poderei ter.

– Que te dizem os algarismos do início desta vigília?

— Que nas Duas Testemunhas está o Espírito Santo.

— E não chamaste já ao Espírito Santo o Coração de Deus?

— Chamei.

— Atenta outra vez no percurso das Duas Testemunhas descrito no Apocalipse: que coração precisam elas de ter?

— Ah! O Coração de Deus!?

São 4:35.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

85 — Fátima e os padres

8/6/02 – 4:30 — Fátima

— Maria, fala comigo neste lugar, que Te deve ser especialmente querido.

— Tu crês em que Eu estive aqui pessoalmente, em corpo, deixando-Me ver e falando aos pequenitos pastores?

— Inteiramente!

— Nem sempre foi assim…

— Não: houve tempo em que, como a maioria dos padres, eu dizia que “a questão das aparições é secundária”.

— E porque dizem assim os padres?

— Porque são geralmente muito cultos.

— A cultura torna secundário o que é essencial?

— Julgo que é isso mesmo: ela faz parte da riqueza da Cidade, cujo objectivo é secundarizar, ao nível do Universo, o que lhe é essencial.

— E o que é que lhe é essencial?

— O seu Criador: Deus.

— E porque pretende a Cidade secundarizar Deus?

— Para ficar ela em primeiro lugar.

— Mas os padres são, por vocação, os anunciadores de Deus; passam a vida a pregá-Lo aos outros!

— É essa a maneira mais eficaz de O secundarizar.

— Como?

— Fazendo de Deus o tema dos seus discursos, fazem d’Ele um objecto sobre o qual elaboram cuidadas obras de arte, feitas com palavras. Tornam-se assim eles próprios o essencial, pela sua sabedoria e pelas obras verbais que produzem. E já Deus está secundarizado como um simples tema, ou objecto. Quando as pessoas dão conta de si, estão admirando o padre e a peça de arte que ele produziu. E dizem: o senhor padre falou muito bem.

— E de Deus não fica nada nas pessoas?

— Fica. Vai ficando Deus como o tal objecto, porventura uma bela estátua que o padre modelou.

— Vou então pôr-te agora uma questão difícil: quando tu próprio tanto escreves acerca de Deus, não estás fazendo justamente aquilo que estás condenando nos padres?

— É muito difícil, realmente, responder à Tua pergunta, Companheira. Só tenho a certeza de uma coisa: eu não quero secundarizar Deus. Não quero cometer aqui o Pecado Original em que, no fundo, se resumem todos os nossos pecados: pormos Deus em segundo plano para ficarmos nós em primeiro lugar. Eu tenho a certeza de que o meu querer profundo é que, em tudo quanto escrevo, Deus volte ao primeiro lugar, que seja Ele o único Senhor. E mais: que seja Ele o Tudo de todos os homens e de todas as coisas.

— Então que distingue as palavras aqui escritas dos discursos dos padres eruditos que condenaste?

— Não sei. Acho que é só este profundo desejo de que seja Ele o único Senhor, a Quem todos docilmente obedeçamos.

— E não tens medo de que as pessoas, ao lerem o que aqui escreves de Deus e sobretudo o que aqui contas de ti próprio, te passem a admirar a ti, esquecendo Deus?

— Tenho. Tenho sobretudo um enorme medo de me deixar deslumbrar pelo eventual elogio das pessoas e deixar assim Deus morrer no meu coração.

— E que fazes para evitar esse desastre?

— Tenho plena consciência de que a única coisa que eu posso fazer é mesmo pedir-Lhe que nunca deixe isso acontecer. Eu sou um homem de teatro! E lembras-Te de como, logo no início, eu tinha consciência deste perigo e pedia tanto a Jesus e a Ti própria que me tirásseis do palco?

— Se deixares de estar no palco, que serão as palavras que escreves?

— Límpida Voz de Deus.

— Quando tomou posse de ti esse desejo de que Deus fosse o único Senhor de tudo quanto existe, foi aí que começaste a considerar as Minhas Aparições aqui como essenciais?

— Exactamente!

— Porquê essenciais?

— Porque elas revelam precisamente a iniciativa de Deus como único Senhor.

— A iniciativa não foi Minha?

— Todo o milagre vem de Deus. Ele é Tudo em Ti. Foi Ele que Te mostrou em corpo aos pastorinhos.

São 6:25!?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

84 — Comandados pelo que vem de dentro, apenas

                       — 10:43

Não me apetece nada escrever. Mas tenho tempo disponível e apareceu-me um 4 entre os Sinais. Os outros algarismos dizem-me que continue a gravar o Mistério de Deus Trino.

— Vamos escrever juntos, Mestre…

— Quando te peço que apenas exprimas o que em cada momento encontras dentro de ti, sabes o que pretendo?

— Agora, de repente, vi isto: se eu agarrar sempre o que está dentro de mim, evitarei ser comandado pelo que vem de fora de mim.

— E deves evitar o que vem de fora de ti?

— Devo. Sempre.

— Porquê?

— Porque eu mesmo, a minha mais pura personalidade, está dentro de mim toda, e é ela que me deve comandar, como é óbvio, sob pena de se estabelecer a divisão em mim.

— Mas diz-Me: se te fechas a tudo o que vem de fora de ti, não corres o risco de desprezar todo o Bem e toda a Beleza que há em todas as outras criaturas, fora de ti?

— Isso aconteceria fatalmente se não atendesse ao que vem de dentro de mim!

— Como? Desprezarias todo o Bem e toda a Beleza exterior a ti se não procurasses o que há dentro de ti?

— Isso mesmo, Mestre: se não procurasse com verdadeira sede e não recebesse com verdadeira reverência e carinho o que vem de dentro de mim, estaria desprezando e manchando tudo o que há de bom e belo fora de mim.

— Porquê?

— Porque só na minha funda e autêntica personalidade estão os olhos capazes de ver e o coração capaz de amar sem mancha tudo o que há fora de mim.

— Mas deixa-Me que te ponha ainda a objecção que te vai pôr muita gente: onde está a garantia de que aquilo que encontras ao procurares a tua intimidade vem mesmo do fundo de ti e que não são coisas que justamente atulham o caminho do teu coração, como tantas vezes tens visualizado a maldade que se foi acumulando dentro de ti e que lá se aninhou, vinda de fora?

— Vou seguramente ao encontro da minha alma quando oro, isto é, quando Te peço para vires comigo.

— Como fizeste neste texto?

— Isso. Exactamente isso!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

83 — Ele não era um homem a fingir

13/9/97 — 3:30

– Fala comigo, Mestre! Não tenho mesmo mais ninguém com quem falar sobre este grande Sonho que para aqui nos trouxe e aqui nos uniu.

— Escreve outra vez qual é o nosso Sonho.

— É serem todas as pessoas assim amigas como nós os dois queremos ser.

— Deixas-Me emendar-te?

— Deixo.

— Como nós os dois somos.

— Não entendo, Mestre: Tu sabes como é ainda imperfeito o meu amor.

— E querias que ele fosse perfeito?

— Queria.

— Muito-muito?

— Tanto quanto posso querer, no estado em que estou.

— Sonda bem a tua alma — até onde pode ir a sonda do teu coração: no estado em que te encontras não podes querer mais do que aquilo que queres?

— Acho que não, Mestre!

— Porquê?

— Não sei… Porque nada neste mundo verdadeiramente me seduz, a não ser vê-lo como Tu o quiseste… Porque só queria desaparecer em ti, no Mistério sem fim da Vossa Trindade.

— Traduz “desaparecer”.

— Não ser nada que se Te oponha. Não ser nada que Tu não sejas.

— Queres que Nós sejamos tudo o que tu és?

— Quero. Acho que é mesmo isso que eu quero.

— Tudo o que tu és no Sonho do Pai, ou tudo o que tu és como estás agora?

— Eu estava a falar do meu ser como o Pai o sonhou. Supus que esta disformidade em que me encontro agora nunca poderia desaparecer em Ti.

— Ias a dizer “em Vós”!

— Ia.

— Porque não disseste?

— Porque naquele momento vi presente em Ti toda a Trindade.

— Porque não disseste “no Pai”, ou “no Espírito”?

— Não sei. Acho que é porque Tu incarnaste. Ficaste tão próximo de nós…

— Então agora diz-Me de novo: não podes desaparecer em Mim assim com toda a tua carne incapaz?

— Supus que não era possível: Tu és Deus e a imperfeição não pode fazer parte de Deus. Mas agora que perguntas…

— Que estás vendo? Responde à Minha pergunta.

— Tu foste imperfeito e incapaz como todos nós quando viveste em carne há dois mil anos. E essa disformidade em que viveste, igualzinha à nossa, não era só uma veste, uma aparência… Tu não eras um homem a fingir. Nem deixaste de ser Deus para seres verdadeiro homem! Tu eras Deus assim mesmo, com essa carne igualzinha à nossa em tudo — apenas sem culpa de ser assim, enquanto nós temos culpa de estarmos assim como estamos.

— Então agora, outra vez: tu todo, assim como te encontras, podes desaparecer em Mim?

— Posso!! E desapareceria em quem, desapareceria para onde, se não há ser além de Ti?

— Como, Salomão? Também o Demónio é ser do Meu Ser?

— É! Só posso responder que é! E foste Tu que para aqui me conduziste.

— A imperfeição e a maldade existem em Mim?

— Ah, Mestre, vais obrigar-me a dizer uma monstruosidade, a maior de todas as heresias…

— Diz a maior de todas as heresias, Meu pequenino, por favor!

— Existem! E é este o horror e o absurdo do Pecado: ele é, no Teu próprio Corpo, a Agressão e a Dor! Foi isso que Tu vieste mostrar-nos: naquela Cruz, no Gólgota, não estava um homem a fingir, sofrendo a fingir! E verdadeiramente esse Homem era Filho de Deus! — foi um pagão que o disse, um oficial do exército romano, que não sabia Quem Tu eras e que Te descobriu Deus justamente ali, onde ninguém o poderia supor! Eis a Grande Heresia, Mestre! Nunca mais Te aceitamos como Tu és, pois não? Nunca mais vemos o Teu Amor, meu Irmão, meu Deus, meu Tudo!

Jesus não responde. Parece que o tumulto da Sua emoção se quedou, tenso, num indefinível sorriso. Acho que é de Esperança aquele sorriso…

São 5:52!

terça-feira, 11 de maio de 2010

82 — Ao sabor de cada onda

                     — 10:54
Há períodos neste meu caminho em que me parece estar parado, apenas porque as revelações não são tão espectaculares. No entanto Jesus pede à Vassula que faça com Ele “um retiro”, a par de “uma peregrinação”. Mas logo a esclarece: “Escolhesses o que escolhesses, peregrinação ou retiro, não terias de caminhar; Eu mesmo te levaria no Meu abraço e te aliviaria os pés…” (26/1/97).

Custa-nos muito admitir que não é obra nossa nada daquilo que de bom é feito em nós e através de nós. E custa-nos igualmente muito não vermos obra realizada, tão habituados estamos a considerar tempo útil apenas aquele em que o nosso corpo se move e faz esforço para erguer qualquer das obras de que é feita a nossa Cidade. Mas Jesus vem dizer-nos que há um tempo de parar e um tempo de andar e que ambos são igualmente tempos de avanço — um avanço, porém, que nunca é nosso, mas viagem Sua pelo Seu infindável Mistério.

Custa-me muito ainda viver apenas este amor que me agita suavemente por dentro e que tantas vezes me faz chorar, como fez esta noite. E no entanto é aqui que eu devo entrar, neste Santuário silencioso, onde só ouço o cântico das Fontes jorrando e ampliando o Grande Mar em que o meu Amigo me quer apenas como gota ao sabor de cada onda… Depois é só viver, assim como gota pequenina em cada onda, o cântico das Fontes e o avanço imparável deste Mar. Que preciso então eu de fazer, eu mesmo, senão de fazer parte da onda que vem da Fonte e avança na dança da Vida em que tudo germina e floresce? Que quero eu fazer mais do que participar neste movimento da Seiva do Universo comandada pelo Coração do próprio Deus?

domingo, 9 de maio de 2010

81 — Queria ter traços da minha Mãe

12/9/97 — 1:51

— Bem hajas por me acordares a esta hora, Mestre! Bem hajas por tudo quanto me fazes! Molda com a Tua Mão sábia o meu corpo imortal, conforme Te der mais jeito, sem atenderes nunca à minha conveniência: a minha inteira conveniência, já To disse centenas de vezes, é que Tu faças em mim a Tua exacta Vontade. Por isso não Te importes de qualquer violência que tenhas de fazer comigo neste Teu trabalho de Artista: eu sei que qualquer toque Teu nesta massa informe do meu ser arrancará dele a Tua perfeita Imagem. E a Imagem do Pai. E a Imagem do Espírito. E, se me deixasses querer alguma coisa, eu pedia-Te que gravasses em mim alguns traços da minha Mãe…

— Quais?

— A Humildade e a Ternura.

— Só?

— Não me importava de que ficassem gravados ainda outros, à Tua escolha…

— Não tenhas medo: expressa-Me esse teu desejo.

— Assim como na Vassula, em vez do dela, Tu fazes surgir o Teu Rosto, assim também em mim Tu fizesses aparecer o Rosto da Tua e minha Mãe!

— Para quê?

— Não sei bem, mas arde-me o coração no desejo de que todos os homens conheçam e amem a sua Mãe.

— Revela essa sombra que poisou no teu coração.

— É um invencível medo de Te magoar.

— Em quê?

— No pedir-Te assim este prodígio: tenho medo de que nele esteja infiltrada a vaidade e assim Te manche a obra que estás erguendo em mim. Tenho tanto medo da vaidade, Mestre! Eu acho que sou muito achacado a este mal, não sou, Mestre?

Procuro a resposta de Jesus a dizer que sim, que sou muito vaidoso, mas o que encontro é o meu Amigo e meu Deus ardendo de amor por mim. Não sei como é: Ele não diz nada, mas eu sinto-Lhe o Coração. É como se o meu coração entrasse no d’Ele e o percorresse…tal como na imagem que ontem li na Vassula: o meu coração é uma gota que cai e se mistura no grande mar que é o Seu Coração. Nunca Lhe senti este enorme Coração recriminando-me: só me ama muito e sempre este meu Amigo! A única coisa que Ele fez foi revelar-me a verdade acerca do estado em que me encontrou e me encontro ainda: disforme e incapaz. Mas Ele parece amar-me ainda mais por isso. Não encontro neste Coração nenhuma resistência, nenhuma repulsa pelo que quer que seja, em mim; antes O sinto feliz – uma felicidade que O queima e me queima a mim – como se todos estes meus aleijões fossem para Ele materiais preciosos que Ele sofregamente me aceita, se eu Lhos der, para curar não sei que feridas, imensas feridas, não sei onde…

Querido Deus! Querido Senhor de todos os mundos aqui tão perto, tão pequenino, Omnipotência reduzida ao meu tamanho! Como foi possível Ele ter-me encontrado aqui, neste ponto invisível do Universo, tão perdido e tão desfigurado!

São 3:43.

80 — O querido profeta Vassula

                      — 19:27:17

Está sempre presente em mim esta especialíssima afeição pelo profeta Vassula. Apesar de ter decorrido muito penosamente a vigília de hoje, sempre esteve presente esta estranha afeição. São muito diferentes estas duas Profecias, mas por isso mesmo há nelas uma misteriosa complementaridade: enquanto uma lavra a terra, outra lança nela as sementes; enquanto uma é água que rega, a outra é sol que faz surgir e crescer os tesouros semeados.

Recebi ontem, em excerto, as Mensagens ditadas à Vassula nos dias 26 e 28 de Janeiro deste ano e foi como se o próprio Jesus viesse falar comigo pessoalmente sobre as grandes sensações que no momento ocupam o meu coração. A Mensagem desta vigília termina, abruptamente, com uma interrogação e o meu querido Profeta veio responder-me, confirmando justamente o amor que nos une num só coração, conforme visualizavam os Sinais do início da vigília e regando a minha aridez, especialmente dolorosa na vigília, com as palavras que me trouxe do nosso comum Amigo sobre o mesmo tema que me ocupara: o coração, em especial o caminho que ele deverá seguir, incarnado sempre no nosso corpo de morte, até se conformar inteiramente com o Seu Coração. E como são aqui abertos os reservatórios deste Coração! Sobretudo me inundou de ternura e segurança aquilo que Jesus revela acerca da intimidade em que deseja envolver-Se connosco e de facto Se envolveu comigo. E, a terminar, não pude deixar de me interrogar porque repetiu aqui a Vassula a advertência por demais conhecida de que eu deveria, como todos nós, substituir o seu nome pelo meu!

sábado, 8 de maio de 2010

79 — O coração foi cercado à nascença

11/9/97 — 2:02

Neste Sinal vejo as Duas Testemunhas unidas num só coração e também que elas serão as Testemunhas do Coração.

É impressionante o número de vezes e consequentemente a importância que todos os Profetas actuais dão ao coração, em especial aos Corações de Jesus e de Maria. É como se o Coração fosse um tesouro escondido que o Regresso do Senhor está revelando. Também a mim me levou o Mestre a contemplar muitas vezes o Mistério do Coração. E a luz em que mo apresenta é muitas vezes a do contraste com a ”cabeça”, com a Razão.

— Fala antes comigo, Mestre. Vê como tenho a cabeça cansada de procurar formulações em que encerre este Teu tão grande Mistério. Ah, se o Teu Coração fosse tudo em mim!

— Que sucederia?

— Teria acabado todo o meu sofrimento da cabeça, nesta busca de palavras com que a ele conduza os meus irmãos.

— Só para os outros são necessárias as palavras que escreves?

— Acho que sim: eu não precisaria de palavras para estar Contigo.

— Como estarias então Comigo?

— Vejo neste momento que também para contactar Contigo eu tento exprimir-me procurando formular os meus desejos com palavras.

— Não funciona então ainda em ti o coração apenas, quando queres aproximar-te de Mim?

— Acho que não… Deve estar ainda em mim muito reduzido o coração, não está, Mestre?

— Como acontece com todos os outros teus irmãos, o teu coração foi cercado à nascença, justamente para que se não revelasse e não comandasse a tua vida toda.

— E quem lhe montou o cerco?

— Este mundo é, todo ele, o grande inimigo do coração.

— Então, ao virmos ao mundo, tudo o que nos foi sendo dado nos afastou cada vez mais do coração!?

— Sim: nascestes para morrer.

— Como?

— O processo em que fostes inseridos à nascença é um processo de morte.

— E o nosso coração, onde ficou ele?

— Cada vez mais enterrado debaixo do vosso corpo em decomposição.

— Então, Mestre, se fatalmente é a morte que nos espera, como podemos salvar o nosso coração e fazê-lo desabrochar, para que nos comande durante o curso da nossa vida terrena?

— Não resistindo à morte.

— Como?

— O que os homens têm feito, desde Adão, desde Caim, é agarrar-se a este processo de morte como sua glória, o verdadeiro território da sua possessão.

— Querendo fazer da morte vida?

— Sim. Por isso lhes custa tanto morrer. Repara no absurdo de todo o trabalho do homem: toda a sua canseira se resume em gerir a Morte, tentando evitar o inevitável.

— Por isso não levamos connosco o coração!?

— Sim: o coração espera justamente a morte do corpo para se poder libertar desta cercadura de matéria em decomposição. Deixai-vos morrer e o vosso coração será livre!

— Duras são estas Tuas palavras, Mestre!… Há entre nós pessoas, grupos inteiros que se suicidam, para – dizem eles – mais rapidamente se libertarem. Quase pareceu teres sugerido que façamos o mesmo.

— Não! Por favor, pedi ao Meu Espírito sempre o Dom do Discernimento! Vede até onde pode ir Satanás: também por este processo ele tenta abolir o Meu Sacrifício!

— Explica-nos, Mestre, onde está a cilada de Satanás.

— Não vedes? Ele mascara de entrega da vida um acto de rebelião contra a vida.

— Porquê, Mestre?

— Porque aqueles que assim fazem se substituem a Deus, ousando tentar a salvação por suas próprias mãos!

— Que nos queres então dizer, Jesus, ao pedir-nos que nos deixemos morrer?

— Quero dizer-vos que ameis o vosso corpo de morte no seu caminhar para o fim. Que ameis até ao fim o corpo de morte dos vossos irmãos sempre como o encontrais.

— Ah! Foi por isso que nunca mataste, nem nunca deixaste matar nenhum dos Teus inimigos?

— Sim: é preciso que cada processo de morte siga o seu caminho.

— Mesmo que seja matando outros?

— Um corpo em decomposição sempre matará outros corpos por contágio.

— É este o caminho das Tuas Testemunhas para o coração?

São 5:01.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

78 — Quiseram que Te tornasses razoável

                       — 10:21:17

— Irrompe em mim, Jesus! Deixa explodir a tensão que acumulas em mim há tanto tempo! Deixa-me ser vulcão enfim liberto do âmago da terra, ou barragem enfim cedendo à pressão das águas que me vêm de dentro, da misteriosa Fonte que Tu conheces, sempre jorrando água abundante, mas que até agora não saiu dos gigantescos reservatórios em que se esconde! Eu espero o tempo que for preciso, Tu sabes, eu não quero atrapalhar de forma nenhuma o Plano do Pai. Eu fico aqui a vida toda segurando-Te a cabeça assim só contra o meu peito, se for preciso. Mas esta ciclópica tensão que se acumula dentro de mim Tu a conheces certamente melhor do que eu e sabes que ela me está forçando todos os sucessivos limites em que se vai encerrando, porque ela se avoluma sempre e cada limite que se lhe arromba dá só passagem para outro limite mais largo, forçando-o também, e assim tenho vivido sempre à espera de que este enorme tumulto de águas, ou de fogo, ou de ternura, não distingo, se liberte enfim e invada a superfície do Teu querido Planeta Azul coberto de cinza, e o lave!… Estou-Te contemplando este rosto moribundo e sei que por trás dele, no Teu Coração que quase não ouço, está este Sonho intacto, tanto mais vivo quanto mais esgotado de vida se encontra o Teu Corpo… Ah, meu teimoso, louco Amigo, acho que é por causa desta Tua teima que eu gosto tanto de Ti! E é por nunca teres moderado o Teu Sonho que a gente começa também a acreditar nele! É verdade, nunca Te vimos reduzir o Teu Sonho para o tornares mais realizável… Nunca Te tornaste razoável, apesar da pressão de toda a gente, até dos Teus mais próximos amigos, desde há dois mil anos, meu querido Louco, meu frágil Amor! É verdade: mal ressuscitaste do primeiro Inferno, logo Te começaram a pedir que Te tornasses razoável e Tu, aflito, voltaste a pegar na Tua Cruz para tentares dizer que o Teu Sonho estava de pé e que era possível realizá-lo assim puro como ele era… Então voltaste de novo a ficar cada vez mais sozinho com o Teu Sonho…e com a Tua Cruz… E agora aqui estás, caído no meu regaço, meu inocente Sonhador! Não Te vejo neste rosto tão frágil e tão sereno o mínimo Sinal de quereres desistir! Ninguém entende onde queres chegar com este absurdo, mas eu acho que adivinho: foi justamente o Teu Sonho que andaste semeando na terra assim sozinho arrastando a Tua Cruz, há dois mil anos; Tu acreditas em que todas estas sementes do Teu Sonho, regadas de sofrimento, estão vivas, enterradas, esperando o seu tempo de germinar; aposto que este momentâneo ar sereno do Teu rosto inocente é porque estás vendo já com o Coração estas sementes germinando ao mesmo tempo por toda a terra… Tu estás vendo o Espírito pairando, inchado de Raiva e Ternura, sobre o Teu querido Planeta Azul, a toda a volta, à espera só de um aceno do Pai desencadeando a Hora! A Hora de entregares o Teu espírito de novo, neste segundo Inferno, muito mais largo e fundo que o primeiro: quando o Espírito receber a Tua última respiração, um misterioso, fascinante e terrível Silêncio se fará sobre toda da terra. E mesmo os que não Te conheceram passarão a acreditar no Teu Sonho!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

77 — Ele chegou a este ponto

8/9/97 — 4:24

— As minhas fontes estão secas, Mestre! O Teu Mistério está encerrado em mim e parece ter cristalizado: não jorra, não obedece ao pedido que me fazes naqueles Sinais… Porque é, Mestre? Não mo podes dizer nesse Teu esgotamento de vires há tantos anos caminhando nesta Desolação? Faz um pequenino esforço e diz-me uma só palavra, Mestre: eu sei que, ela só, pode arrombar todos os diques e comportas do Céu e encharcar toda esta extensão sedenta!… Fala comigo, Redentor!

— Eu amo-te muito.

Pus-me à escuta e foi só isto que ouvi. Parece que o meu Companheiro não consegue dizer mais nada. Mas eu insisto, porque sei que, falando com Ele, O animo… Não, Ele prefere que eu só O abrace, que O deixe ficar assim de cabeça encostada no meu peito, rosto voltado para o meu rosto, como se só este gesto assim Lhe fosse necessário e Lhe bastasse…

É tão querido este Deus, tão pequenino, tão nosso!… Tem os lábios a arder e apetece-me beijar-Lhos, humedecer-Lhos com os meus, mesmo que todo o mundo me declare homossexual, eu não me importo, eu perdi os medos todos perante este Homem… Nunca me apeteceu beijar os lábios de nenhum homem, mas se calhar devia ter-me apetecido, às tantas está tudo desarranjado dentro de nós, estão as nossas fontes todas estancadas, o Mistério da nossa alma está todo reprimido…

Este Homem assim frágil, assim ardendo de sede, está-me rasgando todos os reposteiros, arrombando todas as portas que nunca se abrem, arrasando com misteriosa força montanhas de pedregulhos e entulho por trás destas portas que sempre me disseram ser proibido abrir… Este Homem é tão inocente… Não há sombra de maldade n’Ele, nem pode haver maldade em nada que se Lhe faça… Ele é tão frágil, tão indefeso…tudo o que se Lhe faça só pode sair puro de dentro de nós… Não sei que sedução é a d’Ele, que só desperta amor em nós e por isso torna inocente tudo o que Lhe façamos!…

Este Homem ninguém percebe bem porque é que Ele chegou a este ponto, mas toda a gente percebe que Lhe devem ter feito muito mal, por causa do contraste: não se Lhe vê maldade em nada; só uma inocência que nos esmaga. Não, não é uma sensação má esta de nos sentirmos esmagados perante Ele. Ele não nos intimida de forma nenhuma; é só uma impotência que sentimos, por não nos acharmos capazes de Lhe responder assim com o mesmo amor, com a mesma espontaneidade inocente. Sentimos só que tudo nos é permitido perante Ele, porque tudo o que Lhe fizermos só pode provir do amor, mas sentimo-nos incapazes de fazer o que quer que seja, porque nem sabemos o que nos apetece, não estamos habituados a que nos aconteçam coisas espontâneas, é um mundo inteiramente novo aquele que se nos está abrindo.

Basta uma palavra deste Homem para nos curar de todos os medos!

Não estou conseguindo largar esta imagem do meu Jesus esgotado neste Deserto, feito fragilidade e inocência pura. A gente quer fazer-Lhe tudo o que nos apetece, mas nem sabe o que nos apetece, nem o que Lhe há-de fazer…

Soube há pouco tempo uma coisa: que a Igreja celebra hoje o nascimento de uma Menina que viria a ser a Mãe deste Homem. A Igreja diz que Ela também é assim inocente. E eu acredito!

São 6:21.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

76 — Presença intermitente de Deus

31/8/97 — 5:32 — Faro

Mais uma vez se realça a minha condição de Testemunha do Mistério de Deus revelado em Jesus. Significativamente, contudo, o sentimento que me perpassa é o de uma inultrapassável fragilidade. A Presença de Deus em mim assemelha-se a uma leve nuvem que ora me envolve, ora paira, ora se afasta, para voltar de novo e por momentos penetrar o meu corpo até me atingir o coração. Pareço-me, de facto, uma criança que tanto ri como logo chora, que em tudo fixa a sua atenção distraída e por isso facilmente se perderá dos pais, se não forem eles a manter a sua atenção vigilante.

É verdade que noto, em relação ao tempo anterior àquele Agosto de há três anos, uma diferença muito grande: nesse tempo eu dependia só de mim e os meus êxitos atribuía-os eu aos meus talentos e ao meu empenhamento; agora é sempre esta sensação de fragilidade e inteira dependência que me domina. E é toda nova a Paz que me inunda, agora. Mas não me conformo com estas tão frequentes incursões infantis para fora das vistas dos meus Pais…

— Jesus, diz-me se vou bem, se é assim que queres, se é assim que tem que ser.

— Porque te admiras de o caminho percorrido Comigo te ter feito criança? Não venho Eu repetindo desde há dois mil anos que é este o caminho do Céu e não há outro?

— Mas não entendo uma coisa, Mestre: porque desapareces Tu, porque desaparece todo o Céu tão facilmente de dentro de mim?

— Não está menos presente o Céu em ti nesses momentos que julgas vazios. Não redobra a atenção dos pais quando o filho criança se afasta deles?

— E posso continuar tranquilo nestes momentos em que me enredo nas solicitações e nas montras da Cidade?

— Não há um alarme que dá sinal em ti quando assim te pareces perdido dos teus Pais?

— Há. E toca bem forte, às vezes!

— É esse o medo que tens – o de te perderes?

— É. É mesmo só esse o medo que me resta na vida: se me sentir bem junto dos meus Pais, de Ti, envolvidos nós todos pelo subtil e doce e omnipotente Espírito, não há medo que me pegue!

— Que estavas sentindo por Mim agora?

— Uma ternura tão intensa….

— Que significa essa ternura?

— Que Te sinto meu Amigo. Que Tu de nada me censuras; só me amas muito.

São 7:20.

terça-feira, 4 de maio de 2010

75 — A Perfeita Alegria

20/9/00 — 5:01

O sofrimento é sempre um mal, onde quer que se encontre. É sempre uma mancha e uma ferida no corpo cósmico. Por isso procurar o sofrimento pelo sofrimento é procurar o mal.

Mas Jesus diz muitas vezes que o Seu maior tesouro é a coroa de espinhos e são os cravos da Sua crucifixão. E é uma grande alegria para o Seu Coração quando Lhe aceitamos este tesouro, porque - diz Ele - não é possível entrar de outra maneira no Reino dos Céus. Por isso temos notícia de que muitos santos se deixaram verdadeiramente seduzir pelo sofrimento. Nele — dizia Francisco de Assis — está a Perfeita Alegria.

É esta, pois, a maior loucura do Evangelho de Jesus. É, como não podia deixar de ser, o grande Escândalo de todo o percurso do nosso Mestre. Parecia que a Cruz era o grande objectivo da Sua Vida. Mas isto ninguém o podia aceitar. Por isso quando Ele referiu este Seu Objectivo, ninguém acreditava que Ele estivesse a falar a sério. Pedro protesta em nome de todos e é repreendido. Mas o silêncio a que se reduziram não significou aceitação: pensaram, talvez, que as palavras do Mestre seriam simbólicas, apenas, talvez Ele quisesse só dizer que era preciso sofrer muito até chegar à vitória, como o general diz aos soldados antes da batalha, como qualquer um de nós sabe que nada na vida se consegue sem sacrifício. E estavam todos à espera do momento em que Jesus arrancasse definitivamente para a vitória, uma vitória suada certamente, porventura até com o sacrifício de uma vida ou outra, mas enfim, uma arrancada que fosse até ao esmagamento do Inimigo e à conquista do poder. Foi, portanto, perfeitamente coerente e lógica a atitude dos Apóstolos na noite em que Jesus Se deixou prender: aquilo era a mais vergonhosa derrota e por isso eles não podiam solidarizar-se de forma nenhuma com uma atitude daquelas, que quase lhes pareceu uma traição frente às suas expectativas.

Só depois entenderam. E tão a sério levaram o Caminho do Mestre, que o reproduziram fielmente em si próprios e levaram muitos a segui-lo com inteira fidelidade: os cristãos morriam aos milhares e não matavam ninguém. Tinham compreendido, finalmente, que a Vitória completa passa pela completa derrota. E que não há vitória verdadeira senão a do Amor louco, que dá a vida por aqueles que ama. E Jesus dissera que são todos. Até os próprios carrascos é preciso amar, porventura com maior amor ainda - uma outra loucura que até aí ninguém tinha entendido.

Jesus repetiu-o várias vezes já, nestas páginas: é este o único Caminho que libertará o mundo de toda a Dor, porque o Pai não viu outro! Recebamos, portanto, o sofrimento como um enorme Tesouro que o Céu nos dá. Assumi-lo como uma obra nossa é um pecado muito grande.

São 7:29!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

74 — O Profeta e o futebol

                      — 20:23:28/9

— Maria, aqui no café está muito barulho; estão a ver um jogo de futebol.

— Tu também vieste para o café à espera de ver futebol…

— Pois vim. Mas não era este clube que eu queria ver jogar; era o meu, que está jogando ao mesmo tempo que este…

— Então escreves só porque não podes ver o teu clube jogar! Presumo que não escreverias se tivesses na televisão o que querias ver.

— É verdade: eu vim para ver o jogo.

— Vejo, no entanto, que trouxeste a folha, onde resta um pequeno espaço para preencher. Se não tivesses aqui a folha, também não escreverias!?

— Não; veria este jogo, mesmo não sendo o meu preferido. Não iria a casa propositadamente buscar a folha.

— Parece então claro que o interesse pelo futebol está em ti acima do interesse pela escrita!…

— Assim parece, de facto. Mas estranhamente eu não sinto que Te esteja magoando: o teu ar, neste diálogo, continua sempre bem disposto e não seria essa a Tua disposição se eu estivesse ofendendo o nosso único Amor.

— Crês então em que Jesus continua sendo a Palavra de Deus que estás escrevendo!?

— Creio, sim, de todo o meu coração: Ele sabe que é mesmo o meu único Amor; o futebol é só uma distracção que nos proporciona este mundo, de que Ele nunca nos quer ver separados.

domingo, 2 de maio de 2010

73 — O Espírito não é uma Força abstracta

                      — 11:49:39/40

Seria suposto que nesta altura já a visão de Deus Trino me não deixasse baralhado: afinal eu sempre admiti em Deus Três Pessoas distintas. Ensinaram-me assim desde criança, é verdade, mas o conhecimento que hoje tenho não é de armazém: eu senti assim, de forma brutal quando, depois de abandonar toda a teologia que aprendi, reencontrei Deus pela via do coração. A esta revelação interior de Deus como Trindade chamei-lhe agora mesmo “brutal”, porventura inadequadamente, porque me fartei de procurar e não encontrei melhor forma de caracterizar aquilo que naquele Setembro de há doze anos me aconteceu: a revelação foi intensíssima e completamente inesperada, nomeadamente a Presença do Espírito como Pessoa com um espectacular recorte individual, que O distinguia do Pai e do Filho a tal ponto, que me achei confrontando-O com o próprio Jesus, chegando a senti-Lo mais pessoal, mais concreto, próximo, mais fascinante, mais…querido do que o meu antigo Herói e Mestre!

Julgo agora que assim foi porque assim era necessário que fosse: o Espírito era para mim ainda uma força abstracta que poucas vezes ocupava o meu espírito e era, ao que agora vejo, manifestamente prioritário logo no início do meu reencontro com Deus que aparecesse claramente como Pessoa distinta Aquele que eu e muitos vemos como uma vaga e diluída Presença da Vontade actuante e eficaz do Pai. Estranhei esta noite, por isso, esta súbita dificuldade em ver, nas Três Pessoas, a Unidade Indivisa que Deus é, em todas as Suas manifestações. Mas a Senhora tranquilizou-me, mostrando-me que justamente no meu pedido eu me estava dirigindo às Tres Pessoas, mas a Um só Deus.

sábado, 1 de maio de 2010

72 — A Voz inexorável e doce de Deus

13/9/06 — 6:36

— Maria, vê como estava eu orando…

— Sim, Eu vi. Diz como estavas orando.

— Meu querido Deus, faz descer a Tua Palavra à terra!

— Agora diz que achaste tu de estranho nessa oração. Eu acho-a tão bonita…

— É que estava iniciando um diálogo Contigo e agi como se aqui não estivesses, como se nada tivesses a ver com a minha oração.

— Já vamos falar nisso. Mas houve uma outra estranheza em ti, enquanto oravas…

— Sim: ao dizer Deus, eu estava vendo as Três Pessoas distintas e não sabia a qual delas me estava dirigindo.

— E ainda outra estranheza…

— Pois, é que não sei porque fiz aquela oração: quando dei conta, estava dizendo aquelas palavras, meio distraído.

— Vamos então agora examinar as tuas estranhezas começando por esta última. Vê: se estavas distraído, mais verdadeira é a tua oração. Concordas?

— Pois, sim… Se, distraído, disse aquelas palavras e não outras, o conteúdo que a oração revela era mesmo o que se realçava em mim – ele corresponde ao meu mais saliente desejo naquele momento, uma vez que o acaso não existe.

— Assim como não há acaso quando advertiste em que te estavas dirigindo a Três Pessoas e ficaste algo baralhado. Vamos só precisar melhor a que se deve tua baralhação. Foi o teres-te dirigido a Um só Deus e terem-te aparecido Três Pessoas? Foi o pensares que te deverias ter dirigido a Uma só das Três Pessoas? Foi o não estares conseguindo mais ver em Deus Um só?

— Pois… Foi talvez isso tudo junto. Foi talvez o ter advertido de repente em que a Palavra é Jesus, uma das Pessoas e…e talvez devesse então dirigir-me ao Pai…

— Excluindo da oração o Espírito?

— Não, também não me sentiria bem excluindo-O.

— Mas ao pedires ao Pai e ao Espírito que enviassem a Palavra, estavas excluindo o Verbo Eterno desse pedido…

— Não: eu sinto que, mesmo dirigindo-me apenas ao Pai, o próprio Verbo estaria implicado na resposta que Ele desse.

— Agora vamos ver outra coisa: ao fazeres aquele pedido, estavas pensando apenas em Jesus como a Palavra que querias ver descida à terra?

— Não; eu estava pensando na força da Palavra, por nela estar presente toda a Plenitude e Omnipotência de Deus.

— Então ao pensares em Jesus estás a ver n’Ele mais a “Palavra traduzida” em linguagem, em atitude, em gesto, enfim, em todo o movimento da Carne humana!?

— Sim, estou vendo Deus falando em toda a fragilidade e deficiência da nossa natureza.

— Mas hoje o que o teu espírito distraído queria mesmo era que Jesus Se tornasse a omnipotente e terrível Palavra de Yahveh, o Altíssimo Senhor!?

— Sim, na minha frágil oração o que eu intimamente desejava era que todos os ouvidos se abrissem à voz inexorável e doce de Deus.

— E achas tu que Eu não estive contigo orando!?

São 9:40!