– Não tens pena de Mim, ao pedires-Me ajuda numa situação destas?
– Tu és puro Dom sempre, e é dando-Te que nos falas. Justamente a Tua vida que assim se está extinguindo em Ti, é o Teu máximo Dom. Se tenho pena? Pois tenho, meu Senhor omnipotente. Mas a sensação é tão estranha… Eu não posso, nem devo, tirar-Te desse estado e desse caminho, porque sei que tudo o que Tu fazes é uma escolha Tua e é sempre a escolha do mais perfeito Amor; no entanto sinto que a minha pena me aproxima de Ti e Te alivia. Ela faz-me desejar sofrer assim Contigo.
– Não é um sofrimento inútil o teu, se Me não tira daqui?
– Não entendo ainda, certamente, o Mistério do Sofrimento, mas sei já que sofrer é como se fosse uma obsessão Tua.
– Cuidado, Profeta, que fogem já todos de ti e de Mim! Eu estou obcecado pelo sofrimento?
– Estás!
– Porquê?
– Porque o queres arrancar do mundo.
– Como? Sofrendo não amplio o sofrimento? Não é mais um que sofre? Como posso tirar o sofrimento sofrendo?
– O sofrimento tira-se amando. Não estou vendo nada que possa tirar o sofrimento, a não ser o Amor.
– E é Amor o Meu sofrimento?
– Só Amor. Um Amor tão puro, tão forte…
– Onde está a pureza do Meu Amor?
– Em ser totalmente de graça.
– E é forte porquê, o Meu Amor?
– Porque vai até à morte.
– Não corre o risco de ser inútil sendo de graça, nada exigindo das pessoas?
– Tu sabes que as pessoas, no estado em que se encontram, só têm miséria e dor para Te dar. É tão puro o Teu Amor, tão de graça, que nada mais quer e pede senão que demos isto que temos.
– E não é inútil? Com coisas dessas o que pode fazer o Meu Amor?
– Nada; apenas ter o que nós temos.
– Miséria e dor?
– Isso.
– E isso que adianta?
– Isso é Amor apenas, sem nada misturado, Amor puro.
– E que utilidade tem, esse Amor puro?
– Quando as coisas se começam a tornar óbvias, não consigo explicar mais nada… Amor puro é utilidade pura! É tudo aquilo de que nós precisamos – que alguém esteja connosco exactamente onde nós estamos, mesmo que mais nada sejamos senão dor e impotência… Tu estás exactamente aqui onde nós nos encontramos. E foi a primeira vez que a gente viu um Amor assim…acho que foi a primeira vez que na terra se viu, na verdade, o Amor.
– E indo assim até à completa indigência, a ponto de ficar carregado com a miséria e a impotência e a dor da Humanidade toda, sem mais nada senão coisas destas que para nada prestam senão para carregar, para fazer peso – se só destas coisas estou cheio, onde está a força do Meu Amor?
– Outra vez a mesma sensação, Mestre: porque é óbvio, não o consigo explicar… O Amor que vai até este ponto tem uma força completamente impossível de traduzir em palavras!…
– Mas se vai até à morte…
– Tinha que ir, Mestre! Não está claro? Se não fosse até à morte, não seria omnipotente!
– Mas a morte…que resultados pode dar a morte?
– A morte de um grão dá uma espiga, a de uma maçã dá uma macieira; a morte de Deus o que há-de dar senão o esplendor de uma Nova Criação?
São 4:45!