Não sei ainda o que Jesus me quer com este Salmo. Ele é uma “súplica contra os maldizentes”, segundo diz o título, na minha Bíblia. É que maldizentes, neste momento… não os tenho ainda. Nem o Grupo Promotor o considero propriamente maldizente, gente de “lábios mentirosos”, de “língua enganadora”: eles apenas me rejeitam e fazem-no às claras.
– 15:40
Dentro de dez minutos tenho que ir para a escola, onde estive toda a manhã. Peso na cabeça, secura interior. Ainda não sei o que me quer hoje o meu Guia com este Salmo. Não tenho a sensação de viver entre inimigos, como o texto sugere: eu, de facto, não “vivo entre os de Mesek”, nem “habito nas tendas de Cedar”. Numa palavra: eu, neste momento, não me sinto “no meio da angústia” nem é neste momento saliente em mim a sensação de que “a minha alma viveu tempo demais com aqueles que odeiam a paz”. Porque me dá então o Senhor assim este alimento, se o meu organismo não está predisposto para o saborear regaladamente? Uma oração de agradecimento seria até mais adequada. Que me quer o Mestre?
– 19:01
Cheguei agora da escola. À vinda , na minha bicicleta, pedi ao Senhor que me tornasse ágil e expedito o corpo, de modo a servir com docilidade e presteza a nova construção que dentro de mim está crescendo. Falei para dentro, onde sei que está o Espírito, minha Felicidade e minha Força, pedindo-Lhe que tornasse cada vez mais viva e mantivesse em plena sensibilidade esta massa placentária que protege e canaliza para o interior o alimento material de que também lá dentro sou feito e vou crescendo: o meu novo ser é também feito de corpo, que no dia da Ressurreição da Carne irá associar-se em personalidade una à visão e à felicidade deste filho de Deus e irmão de Jesus que eu sou, sinto que estou sendo cada vez mais. Não sei porque me surgiu hoje esta oração. Talvez porque o meu corpo se sinta pesado, com a sua energia vital bloqueada por um motivo qualquer. Mas não sinto qualquer tipo de angústia. Apenas esta perplexidade meia anémica de não saber ainda porque me deu Jesus a ler este texto.
Uma das explicações que me ocorreu foi o poder ser este mais um meio de que o Senhor Se está servindo para purificar e robustecer a minha Fé. É que a indicação parece ser perfeitamente aleatória e portanto mesmo a calhar ao Diabo para mais uma vez me insinuar que o meu ouvido é falível, que no fundo não existe ouvido nenhum, que todo este volume de Escritos não passa de construção da minha fantasia activada por um espírito carente de afectividade, refinadamente egocêntrico.
– Mestre, ainda não sei o que me queres… Olhei agora o relógio. Foste Tu que para lá me levaste os olhos?
– Que viste no relógio?
– 19:44.
– E que te diz o que viste?
– Além do Pai e da Transcendência, diz-me que escreva, que escreva.
– Não te basta saber do Meu Desejo de que escrevas, escrevas?
– Às vezes, como agora, o que me custa é saber o que hei-de escrever.
– Quando isso acontecer, escreve que não sabes o que hás-de escrever. Fica sempre Comigo!
Julguei que fosse para acabar aqui. Mas um impulso fez-me abrir estes próprios Escritos. O maço das folhas abriu em 12/5/95: Os temas são exactamente os do anúncio, da ressurreição da carne e da Fé cega no Senhor, necessária à nossa reconstrução a partir de dentro. Jesus mostra-Se aqui quase irado. E neste momento uma luz está iluminando o meu coração: enquanto o meu corpo amodorrado, pesado, lhe apetece deitar-se, dentro dele o Espírito quereria elevar a súplica deste Salmo ao Pai. Se for o Espírito de Jesus a rezar, repare-se no sentido novo que estas palavras adquirem: “A Minha alma já viveu tempo demais com aqueles que odeiam a paz. Sou todo pela paz, mas, quando Eu falo, eles estão sempre pela guerra”!