No jardim da casa
Escrevendo ...
Breves dados biográficos

O meu nome é Salomão. De apelido Duarte Morgado.

Nasci no ano de 1940 em Portugal, na aldeia do Rossão, da freguesia de Gosende, do concelho de Castro Daire, do distrito de Viseu.

Doze anos depois, 1952, entrei no seminário menor franciscano: eu queria ser padre franciscano.

Doze anos depois, 1964, fiz votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores de S. Francisco de Assis seguidos, ao fim desse ano lectivo, da ordenação sacerdotal: eu era o padre que tanto queria ser.

Doze anos depois, 1976, pedi ao Papa dispensa dos votos que era suposto serem perpétuos e do exercício do sacerdócio, que era suposto ser para sempre, casei e tornei-me pai de quatro filhas.

Doze anos depois, 1988, fiz uma tentativa extrema para salvar o meu casamento, saindo de casa. Mas o divórcio de facto consumou-se.

Doze anos depois, 2000, surgiu na minha vida o mais inesperado acontecimento, que começou a ser preparado, sem que eu disso tivesse consciência, no meio deste ciclo, 1994. Foi aqui que comecei a escrever a longa Mensagem que senti Deus pedir-me que escrevesse em Seu Nome e a que Ele próprio deu o título de Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo. Os textos agora aqui publicados são excertos desta vasta Profecia preparando a sua divulgação integral, no tempo oportuno, que desconheço.


Moro há 30 anos em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, distrito do Porto.


Não são estas palavras mais do que um testemunho daquilo que vi, ouvi, senti, toquei. Não estão por isso sujeitas a nenhuma polémica. Todos os comentários que se façam, ou pedidos que se queiram ver satisfeitos, sempre serão respondidos apenas com novos textos: de mim mesmo não tenho respostas.




Observações


Muitos e verdadeiros Profetas têm surgido nos nossos dias. Um deles é Vassula Ryden, cuja profecia, "A Verdadeira Vida em Deus", teve um decisivo relevo no meu chamamento a esta missão e revela uma estreita complementaridade com esta Mensagem que escrevo.

Os algarismos desempenham nesta Profecia um papel muito importante como Sinais. Foram adquirindo progressivamente significados diversos. Assim:

   0 – O Sopro da Vida. O Espírito Santo.

   1 – A Luz. A Unidade. O Pai.

   2 – A Testemunha.

   3 – O Deus Trino. A Diversidade.

   4 – O Mensageiro. O Profeta. O Anúncio. A Evangelização.

   5 – Jesus.

   6 – O Demónio.

   7 – O Sétimo Dia. A Paz. A Harmonia.

   8 – O Oitavo Dia – O Dia da Queda e da Redenção. O Homem caído e redimido. Maria de Nazaré.

   9 – A Plenitude de Deus. A Transcendência. A Perfeição. O Regresso de Jesus. O Nono Dia.

Alguns agrupamentos de algarismos adquiriram também um significado próprio. Os mais claramente definidos são estes:

   10 – Os Dez Mandamentos. A Lei. A Escritura.

   12 – O Povo de Deus. A Igreja.

   22 – As Duas Testemunhas de que fala o Apocalipse.

   25 – A Alma humana.

   27 – Salomão, o meu nome que, derivando do termo hebraico Shalom, significa o Pacífico, a Testemunha da Paz.

terça-feira, 29 de junho de 2010

131 — O Profeta não é um contentor

17/8/06          — 11:21:40 — Rossão

Lentamente vou compreendendo porque é que Deus, nas fases mais decisivas do curso da Sua Mensagem, me desactiva toda a emoção e parece servir-Se apenas das minhas capacidades mais vulgares, aquelas que no trabalho da Cidade mais intensamente exercitamos, como sejam a clareza formal da linguagem, a possível diversificação do vocabulário, a estruturação mais ou menos lógica dos conteúdos, a possível precisão dos conceitos; a Vida eterna que a Sua Palavra contém, essa só muito nebulosamente a pressinto, ao escrever. Por isso me parece muitas vezes verdadeiramente absurda a situação em que escrevo.

Maria apontou-me mais uma vez esta noite o motivo profundo porque assim procede Deus comigo: é necessário que o Verbo incarne onde a nossa Carne está. Por outro lado, o próprio Profeta não é apenas um invólucro em que venha embrulhada ou encaixada a Palavra de Deus, muito menos um grande e pesado contentor que apenas a guarde, para que as pessoas vão buscá-la; ele é sempre Testemunha da eficácia da Palavra que transporta e portanto todo ele se torna palavra viva testemunhando o que viu, o que ouviu, o que nele próprio aconteceu. Mas o seu testemunho não pode ser outro senão o da absurda vivência do seu Mestre que, sendo a própria Palavra Omnipotente, teve que a derramar na terra, na impotência do Seu testemunho humano.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

130 — À espera da Chuva

                      — 11:04:37

Dirigindo-se ao Espírito Santo, fala assim a minha companheira Vassula, numa página que esta folha marcava: “Vós sois Aquele de Quem as Escrituras dizem: Não haverá mais noite e não precisarão de lâmpadas, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus os iluminará (Ap 22, 5)” (17/7/96).

A última imagem que me ficou do pequenino santuário da Senhora da Guia dos Arciprestes foi a da absoluta Devastação que cobre a terra: nem uma gota aquela fonte deitava: era uma bica ressequida sobre um pequeno tanque de pedra escaldante! Disseram-me que a água voltará, quando chover. Exactamente aquilo que eu espero para este imenso Deserto. A sensação de secura é agora avassaladora, mas é por isso sempre maior a Esperança de que a Chuva caia, enfim, do Céu e encha todos os veios da terra até à boca das fontes. Quando isso acontecer, o próprio Céu terá abraçado a Terra e serão os dois uma Luz só. Por isso não precisará a terra nem de lâmpadas, nem de sol; não haverá mais Noite e sempre a Luz estará fazendo desabrochar a Vida. Maria, assunta ao Céu, é já a realização plena deste Sonho de Deus. E todos nós, d’Ela renascidos, seremos com Ela um só. Vede-o no meu próprio testemunho, para que Ela própria me chamou a atenção, na vigília: mediante a Fé da minha mãe terrena, Ela própria me trouxe bem cedo o Alimento do Céu, levado ao auge do prazer, mais tarde, na visão da Luz!

domingo, 27 de junho de 2010

129 — O prazer sensual da Luz

15/8/06 — 6:53 — Rossão

— Tu és feita de Luz, Maria! Deixa-nos ver, por um pouco que seja, a Luz!

— Sim, haveis de ver a Luz, muitos de vós, ainda antes que desça à terra a vossa Carne corruptível.

— Eu sei que haveremos de ver as obras da Luz. Mas eu falo da Luz em si mesma, aquela que eu vi na árvore, na longínqua visão da minha juventude.

— Também Eu falo dessa Luz. Muitos conhecerão a natureza e o poder da Luz.

— Não só nos milagres materiais!?

— Não, não só nos milagres de ver com os olhos da cara. E será esse o maior de todos os milagres.

— Então já aconteceu em mim o maior de todos os milagres!?

— E não foi? Chamaste ao seu fruto uma “felicidade insuportável”. Ainda não entendeste porquê?

— Sim, eu sentia que ele não poderia durar muito mais tempo, porque me faria explodir: os limites do meu corpo não aguentariam aquele tão gostoso ardor. Já o comparei a um orgasmo que durasse meia hora.

— E a comparação favorece o quê? O orgasmo, ou a Luz?

— Indubitavelmente a Luz: a felicidade é maior.

— Mas no orgasmo falas de prazer.

— Também a Luz é prazer, prazer físico, que abala todos os nervos. Mas ultrapassa o prazer físico, como, de certo modo, o orgasmo também o ultrapassa.

— Então quando as pessoas puderem ver e unir-se à Luz, tornar-se-á supérflua a relação sexual!?

— Não sei. Não sei como será quando o Novo Céu cobrir toda a Terra. Sei que nesse Dia terão todos consigo a Carne de volta e que a sua felicidade será indizível.

— Tens que apontar duas excepções, não?

— Sim: os que ressuscitarem para a ignomínia e os que ainda estiverem vivendo a sua vida terrena: os primeiros só serão felizes quando aceitarem ser Luz, mesmo no Inferno; os outros terão já formas várias de serem felizes, porque não terão mais o coração prisioneiro, poderão conviver com os ressuscitados e de todos será Jesus a única Lei.

— Uma dessas vias de ser feliz já a podes tu testemunhar, não?

— Sim: na minha relação Contigo e com Jesus, dois Corpos ressuscitados, já esta carne corruptível vibra em toda a sua capacidade de ser feliz.

São 8:49!

sábado, 26 de junho de 2010

128 — Na Senhora da Guia dos Arciprestes

                      — 19:49:53 — Lamego

Acabo de visitar, pela primeira vez na minha vida, a Senhora da Guia dos Arciprestes, depois de, quando eu tinha seis meses de vida, a minha mãe comigo ali se ter deslocado a pé, debaixo de uma fortíssima tempestade, a pedir à Senhora que lhe fizesse vir ao peito o leite que lhe faltava para me alimentar. Todos testemunham que o leite voltou, em abundância, depois de ela ali ter estado.

— Maria, fala comigo sobre este facto.

— Acreditas em que foi assim como as pessoas testemunham?

— À letra: a minha mãe tinha ficado sem leite, e depois de ter estado naquele lugar o leite voltou, em abundância, de modo a que eu, que estava a ficar “muito magrinho”, depressa fiquei de novo um bebé “muito gordo”, conforme as pessoas daquele tempo testemunham.

— Foi feito nesse tempo, portanto, a teu favor, um verdadeiro milagre!?

— Foi. Não tenho dúvida absolutamente nenhuma.

— E quem fez esse milagre?

— Todos os milagres são feitos por Deus. Mas Ele pode fazê-los a um pedido Teu, cheio de alegria.

— Achas que foi o que aconteceu?

— Foi. Não tenho dúvida absolutamente nenhuma.

— Porque estás respondendo assim, tu, o homem de todas as dúvidas?

— Não sei. Talvez porque já outros milagres incontestáveis aconteceram na minha vida. Talvez porque me sinto objecto de uma especial ternura por parte de Deus. Talvez por viver agora no Deserto Contigo há seis anos e este tempo me ter confirmado a especialíssima relação que Tu tens comigo. Talvez…talvez porque eu sou o Ungido do Senhor neste Tempo Novo. Talvez, enfim, porque todos os elementos se congregam numa espectacular harmonia e coerência quando penso na missão ou missões em que fui investido.

— E como viveste aqueles momentos que passaste na capelinha solitária, perto de Castanheira do Ouro, a caminho de Gouviães?

— Ninguém no Rossão sabia onde ficava a capelinha. Mas logo, ao entrar num supermercado aqui em Lamego, a primeira pessoa a quem perguntei me deu todas as indicações para lá chegar. A capelinha estava fechada, mas logo alguém se prontificou a chamar quem a pôde abrir. Lá estavam, ao lado, dois enormes arciprestes. E lá dentro, no costumado nicho atrás do altar, no alto, lá estava a Tua imagem. Muito feiinha, diga-se. Enterneci-me. E muitos outros sentimentos juntos me atravessaram. Depois fui à fonte onde dizem que a minha mãe bebeu, tendo sentido logo no peito o leite. Senti vagamente que ali estavas Tu e a minha mãe terrena, muito felizes. Mas lá estava o Sinal da Devastação: a fonte estava seca…

sexta-feira, 25 de junho de 2010

127 — O Êxito nasce do Silêncio

14/8/06 — 3:59 — Rossão

— Maria, abençoa tudo o que me acontece… Poderá esta minha actual vida parada e impotente ter tanta força como um testemunho empolgado que provoque a conversão de milhares de pessoas de uma só vez?

— E quando deres esse tal testemunho, donde achas que terá vindo a sua força e a sua eficácia?

— Destes momentos de imobilidade e impotência?

— Donde vinha a Jesus a força e eficácia do Seu testemunho público?

— Daqueles trinta anos de silêncio, de imobilidade e de impotência?

— Donde vem à árvore a espectacular força de uma primavera?

— Do silêncio, da imobilidade e da impotência do Inverno?

— Porque perguntas ainda? Não sabes que a Ressurreição e o Pentecostes foram só consequências naturais da longa, lenta e dolorosa Incarnação de Deus na imobilidade e na impotência da vida que o homem fabricou?

— Saber, eu sei. Mas custa tanto manter fechados e calados no peito todos os tesouros que do Céu recebi…

— Ah recebeste? Assim tantos tesouros? Quando?

— Tens razão, como sempre: foi neste tempo parado e impotente do Deserto.

— Quanto tempo?

— Doze anos. Ou talvez a minha vida toda.

— Tinhas recebido muitos tesouros mesmo antes de teres encontrado pessoalmente Jesus, há doze anos?

— Sinto agora que foi um tempo extraordinariamente fecundo, justamente pelas tentativas sempre frustradas de mudar este mundo.

— Onde está o grande tesouro desse tempo?

— No conhecimento directo deste mundo, da sua força destruidora, da sua impotência para se salvar.

— Mas não foi nesse tempo que tomaste consciência de tudo isso !?

— Não; foi justamente ao longo destes doze anos de caminhada no Deserto Convosco, os meus Amigos do Céu.

— Vês? Os acontecimentos já estão em marcha há muito tempo quando tomamos consciência deles e mais ainda quando se manifestam.

— É verdade! Ontem de repente dei comigo a pensar que o Regresso de Jesus exigiria justamente este acumular de sementes nos celeiros e de água nas barragens, para que, quando a Hora chegar, tudo aconteça com o fulgor e a rapidez de uma Primavera nunca vista.

— Tem em conta que se trata, conforme tu dizes, do maior Acontecimento de toda a História. Não admira, portanto, que a sua preparação seja a mais dilatada de sempre e até proporcionalmente a mais silenciosa relativamente à grandeza do que vai acontecer.

— Ah, Maria, está-me custando tanto escrever este texto… Parece que só repito lugares-comuns…

— E porque o escreves então? Poderias escrever muito menos, ou mesmo não escrever nada…

— É que não consigo deixar de expor o que me vai na Alma, seja qual for o momento que atravesse. Foi isto que Jesus me pediu.

— Mesmo que seja repetindo lugares-comuns?

— Pois… Talvez desta forma eu esteja assumindo mais um elemento do nosso Deserto: o lugar-comum, donde já toda a Novidade desapareceu…

São 6:41!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

126 — Nem uma fibra do meu corpo vibrou

                      — 11:19:29

É domingo e fui à Missa, aqui no Rossão. Os textos falavam de alimento para a Alma, de Jesus como Pão vivo descido do Céu. Foi como se aquelas palavras passassem rasando os meus ouvidos sem terem entrado, ou como se estivessem já dentro de mim, adormecidas ou insensibilizadas e por isso eu achasse supérfluas as que vinham de fora. Fui à Comunhão, depois de ter ouvido com atenção as palavras transubstanciadoras. Nem uma fibra do meu corpo vibrou ao receber o Pão vivo descido do Céu!

E eu, que creio com quanto coração tenho em que é o Corpo de Deus aquele pão transubstanciado, tenho muita pena desta minha indiferença, ou frieza, mas nada faço para alterar esta situação: continuo tranquilo e apenas espero que acorde em mim o tremendo e fascinante Mistério de que até já gravei sedutoras paisagens nestas páginas. Conforme o testemunho que deixei registado na vigília, prefiro correr o risco de chegar ao fim da minha vida terrena sem ter vivido de maneira correspondente este Mistério, a resignar-me a uma participação insensível nesta Comunhão ritualizada. Estou fazendo isto com todos os outros Mistérios: tento ouvir o que Jesus deles me quer mostrar, registo as palavras que contemplo, tantas vezes de coração reduzido a caneta que nada sente do que escreve, mas nada mais faço para viver aquilo que me foi dado. Por agora continuo correspondendo ao único desejo verdadeiramente vivo que me vem das profundezas da Alma: ouvir Deus e registar o que ouço; se nada mais desejar, só farei isto até à minha morte.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

125 — Vivemos continuamente chantageados

13/8/06 — 5:31 — Rossão

— Maria, diz-me: ficar sempre assim à espera de impulsos interiores para fazer as coisas é o caminho certo?

— Tens já desenhada no espírito uma objecção muito grande a uma resposta afirmativa, não tens?

— Pois… Se eu disser que nada devemos fazer contrariados, respondem-me logo que uma grande parte dos homens deixaria de trabalhar.

— E não é uma objecção lúcida e válida?

— Sim, é uma objecção sensata. Ela tem em conta a realidade em que vivemos: grande parte dos nossos actos não são desejados; são-nos impostos sob uma qualquer ameaça.

— Por exemplo?

— Se não trabalhares, não comes.

— Então as pessoas vivem continuamente chantageadas pelas exigências da vida!?

— É verdade: a maior parte dos nossos actos são forçados; é exercida sobre nós, vinda de fora, uma contínua violência.

— Então está dada a resposta à tua questão: agir sempre e só em obediência a impulsos interiores é impossível e portanto não seria o caminho certo, já que desorganizaria toda a vida e provocaria contínuas frustrações.

— Assim é, se eu partir do princípio de que o Sistema em que vivo é intocável.

— Tens então a consciência de que obedecer exclusivamente a impulsos interiores põe todo o Sistema em causa!?

— Tenho. Sem dúvida que a Ordem estabelecida seria toda arrasada.

— Então a Ordem em que a vida decorre é o grande obstáculo à realização dos desejos mais profundos e genuínos das pessoas!?

— Claramente: ela funda-se e mantém-se com leis que uniformizam e uniformizando destroem toda a variedade que necessariamente se manifestaria se cada um obedecesse exclusivamente aos seus desejos.

— Mas tu, segundo dizes, nunca expões teorias; tu falas do que vives. Diz então o que te levou a colocar aquela questão.

— Foi, mais uma vez, a situação em que vivo: fora das estritas obrigações que a Cidade me impõe, eu vivo à espera de desejar para avançar para uma qualquer acção, por mais importante e nobre que todos a considerem, por mais que todos condenem esta minha atitude.

— E não tens medo de seres tocado simplesmente pela preguiça, de cair no desleixo?

— Tenho. Mas eu corro todos os riscos para que a Liberdade volte à terra.

São 7:44!

terça-feira, 22 de junho de 2010

124 — O conhecimento ensinado gasta-se

                      — 10:43:06

Tenho de me concentrar muito para recordar o que escrevi na vigília, há apenas algumas horas. Poderia, é claro, pegar na folha escrita e relê-la. Mas creio que nunca o fiz. E estou vislumbrando neste meu comportamento uma paisagem nova no Mistério do convívio entre Deus e homem.

Há sempre em mim uma sensação clara de que o Ensinamento de Deus difere radicalmente daquele que nós ministramos aos outros: nós tentamos enfiar nos outros aquilo que sabemos e temos a tendência para acabar o “assunto”. Deste modo, pretendemos que os outros fiquem com a mesma riqueza que nós temos, na dose que achamos conveniente e transmitimos, quanto possível, conteúdos completos, fechados. Isto é, só ficamos satisfeitos quando tiramos conclusões e levamos os outros a tirá-las. E por esta via o nosso ensinamento molda os outros à nossa semelhança, esterilizando-lhes as suas fontes originais. E sentimo-nos muitas vezes inferiorizados quando eles colhem junto de outras pessoas ensinamentos mais vastos de que aqueles que nós lhes transmitimos. É como se eles nos aparecessem com uma propriedade muito mais rica do que a nossa e com ela nos esmagassem. O nosso conhecimento é riqueza acumulada que ministramos com maior ou menor perícia, como fazemos com o dinheiro ou com outra qualquer riqueza material. É por isso também que este conhecimento “ensinado” se gasta: depois de várias vezes transmitido, ninguém mais no-lo quer, porque perdeu todo o valor, ultrapassado por outros conhecimentos mais actualizados, como acontece a qualquer mercadoria numa feira. Este tipo de conhecimento “ensinado” de tal maneira se tornou assim obra humana, património típico e exclusivo da nossa Cidade, que quando aparece uma qualquer originalidade, a primeira reacção que nos ocorre é rejeitá-la como uma ameaça, ou pelo menos como uma incomodativa perturbação. Rodeamos o fenómeno e, das duas, uma: ou conseguimos assimilá-lo, depois de transformado em novo conhecimento ensinável, ou perseguimo-lo até o fazermos desaparecer do nosso horizonte.

Por isso não tenho dúvidas nenhumas de que a Igreja, uma vez refundada e aparecida na sua frescura original, será inicialmente um verdadeiro fenómeno, isto é, uma inesperada Aparição, para logo depois começar a incomodar, a seguir a alarmar fortemente toda a estrutura de poder deste mundo, desencadeando por fim uma violenta perseguição.

Porque desta vez o mundo não conseguirá assimilar o Fenómeno, isto é, transformá-lo em doutrina que possa fazer património seu, transmissível como conhecimento esterilizado, como riqueza materializada. E não conseguirá o mundo desta vez assimilar e dominar a Igreja justamente por causa da natureza do Ensinamento que recebe e do Conhecimento que transporta. É verdade que já assim era na primitiva Igreja. Mas não estava ainda o mundo ensopado no Sangue do Cordeiro, agora correndo, vivo, nos corpos de uma multidão ressuscitada. Agora o Conhecimento surgirá em fontes inesperadas, aqui, ali, de repente além e depois mais longe, onde ninguém suporia que rebentasse nada de original. Cada Alma que Jesus abrir tornar-se-á uma fonte livre, desentulhada de todo o ensinamento com que o mundo a havia obstruído. E todas estas fontes engrossarão um enorme Rio que, este sim, absorverá e purificará todo o Ensinamento original fossilizado, fazendo-o voltar à Vida.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

123 — Nenhum director espiritual

21/5/02 — 4:25

Ao observar a imagem 2:42 sabia que, se me não levantasse logo, voltaria a adormecer. E foi o que aconteceu. Concentro-me então bem dentro de mim, à procura dos sentimentos de Jesus perante este meu comportamento. É vital para mim saber se desgostei ou não o meu grande, único Amor.

Isto é, eu tenho que ouvir Jesus, que Lhe conhecer o Coração, para avançar. Não vou perguntar a nenhuma autoridade eclesiástica se fiz bem ou se fiz mal. Nenhum director espiritual me pode resolver o meu problema. Só o próprio Jesus me poderá dizer se O ofendi ou não, uma vez que as vigílias é por Ele que as faço, elas pertencem ao foro da nossa mais pura intimidade. Eu estou admitindo, portanto, que o levantar e o deixar-me readormecer possam igualmente ser atitudes sãs, santas e é por isso sobretudo que nenhum director espiritual pode decidir nada, neste caso. Eu diria, em caso nenhum: sempre-sempre é a Voz e Jesus que deveremos por todos os meios tentar ouvir, sempre-sempre é o Seu Coração que deveremos procurar sentir. É claro que pode uma outra pessoa despertar-nos o ouvido interior, levar-nos a sentir as batidas do Coração do nosso Deus. Mas isso uma criança o pode fazer. Ou mesmo uma borboleta. Ou uma mosca. Ou o luar de uma noite tranquila.

Precisamos sempre é de chegar à Voz de Jesus, que nos fará penetrar e discernir os Seus Sentimentos. É que estamos falando de uma relação de apaixonados. Ora numa paixão ninguém pode orientar ninguém no conhecimento do coração do seu enamorado: são tão loucos, tão inesperados, tão exclusivos nestes casos os sentimentos, que nenhuma norma, nenhuma prudência poderá ditar, ou sequer saber qual a atitude a tomar, muitas vezes nem mesmo poderá dizer onde está o bem e onde está o mal. São tão únicos os caminhos de Deus com cada um dos Seus apaixonados, que chegam a escandalizar outros igualmente Seus íntimos amigos.

Veja-se: o que eu sinto neste momento é Maria feliz por aquilo que está sendo escrito; se Ela abrir a boca, eu sei que vou ouvi-La distintamente, uma vez que estou navegando já nos sentimentos do Seu Coração.

— Por isso fala, Senhora, minha frágil Companheira, para que finalmente, sabendo as pessoas que o Céu fala, tenham uma ânsia viva de o escutar.

— Tu disseste até agora que é necessário ouvir Jesus. Mas acabas de te dirigir a Mim e falaste em ouvir o Céu. Não sei se as pessoas entenderão…

— Pois… Trata-se do Mistério da Unidade, que também eu só muito lentamente fui penetrando e estou certamente ainda no seu limiar. Nós estamos tão condicionados pela vida no reino do Divisor… Quero dizer que foi e é sempre em Jesus que se estabelece toda a comunicação com o Céu. É pelo prodígio da Sua Incarnação que eu posso estar neste momento dialogando Contigo.

— E sabes então já se magoaste o teu Jesus, deixando-te readormecer?

— Já: na imagem que registei ao acordar para a vigília, no conjunto 25, Sinal da nossa Alma, Ele disse-me que o Seu desejo foi justamente que eu proclamasse o poder que a nossa Alma tem de chegar ao Seu Coração.

São 6:22!

domingo, 20 de junho de 2010

122 — Tenho medo das palavras

                    — 10:20:55

Jesus é a Verdade. Ele é toda a Luz descida à terra. Quando Ele regressar, é a Verdade que regressará, é a Luz que tudo há-de iluminar.

Tenho medo das palavras. Parecem todas repetidas e dão por isso a sensação de se estarem destruindo sucessivamente umas às outras. A nossa experiência diz-nos que uma palavra, à medida que se repete, se vai resfriando, até perder toda a sua força. Assim, tenho medo de que, escrevendo outra vez que Jesus é a Verdade, as pessoas larguem o livro, saturadas de ouvir tantas vezes a mesma coisa. E, mais do que isso, tenho medo de que nelas esta Palavra não mais volte a adquirir a vida e a força originais.

Mas eu não sei o que possa fazer. Posso, eventualmente, procurar um sinónimo de Verdade, de Luz. Posso dizer, por exemplo, Sinceridade, Claridade… Ou Pureza, Inocência… Mas julgo que o resultado não seria melhor: apenas estaria entretendo as pessoas com um colorido diferente, à superfície, durante, talvez, um tempo mais longo. Adiaria, assim, apenas um pouco a saturação. Como posso, então, manter vivas as palavras nestes tantos milhares de páginas já escritas e durante outras tantas que eventualmente venha a escrever?

E mais uma vez reconheço que as palavras em si não têm vida nenhuma; é o nosso coração que lhes dará toda a vida que elas possam ter. Vejo isto em mim próprio: quando na vigília a Senhora me levou a escrever que a nossa mais grave doença é a cegueira, uma nova onda de vida encheu as palavras Verdade e Luz. E, apesar de tantas vezes repetidas, elas ampliaram o Mistério do próprio Jesus e assim m’O revelaram mais necessário e urgente para a vida do mundo. Ao identificar outra vez Jesus como A Verdade, Ele apareceu no meu coração como o Fogo que queimará toda a Mentira estabelecida como norma no mundo. E ao voltar a contemplá-Lo como A Luz, logo vi n’Ele todo o Remédio para a nossa cegueira.

E é por isso que eu tenho medo: tão evidente é o remédio e tão urgente é a cura da nossa cegueira que, ao ter que repetir as palavras para proclamar aquilo que vi, eu posso estar a produzir o efeito contrário ao meu desejo: eu posso contribuir para cegar ainda mais as pessoas!

É claro que pode estar aqui oculto um outro pecado meu: eu posso estar a assumir-me como responsável pala salvação do mundo, esquecendo-me de que só Deus salva. Sou assim também eu um cego, a quem custa entregar-se à condução do Espírito, justamente porque ainda não viu que Ele é o único que conhece todos os possíveis caminhos de libertação, nomeadamente o meu próprio caminho.

— Maria, pede comigo ao Espírito que prepare o nosso coração para O deixar actuar a Ele só.

— Talvez libertando-te a ti do medo que sentes, não?

— Não achas que é um medo bom?

— Sim, se sempre o ofereceres ao teu Jesus para que Ele o ilumine.

— E, iluminado, o que poderá acontecer a este medo?

— Ele tornará as tuas palavras mais consistentes, mais pontiagudas, mais luminosas na Noite.

— Como setas?

— Sim, como poderosos Sinais

— Deixa-me então viver sempre nesta proximidade Contigo. Torna-me inteiramente disponível para mostrar Jesus. Serve-Te de todos os meios, adopta os mais eficazes, mesmo que me façam doer muito. Sinto agora tão urgente que a evidência das coisas substitua as explicações…

— É a isso que chamas ver?

— É. As explicações são como as fábricas: sempre esterilizam o que mostram.

sábado, 19 de junho de 2010

121 — Evidentemente cegos

18/5/02 — 2:34

— Maria, não estou conseguindo controlar a minha atenção…

— Queres ver as horas?

— Sim, tenho curiosidade de saber há quanto tempo estou tentando recolher-me no nosso Silêncio.

— Só por isso?

— E também espero que os algarismos me apontem uma explicação para este meu estado de espírito, ou simplesmente me indiquem um caminho para o nosso Silêncio.

— Já cá estamos, não?

— Sim, agora os meus pensamentos vagabundos estão desaparecendo…

— Mas vê. Vê as horas. Agora!

— No preciso instante em que olhei, alterava-se toda a imagem do mostrador. Os algarismos passaram a ser 4:00!

— Como lês todo este pequeno acontecimento?

— Disse-me duas coisas muito importantes.

— Sim? Um tão leve episódio?

— É verdade! E estou confirmando que basta um instante tão breve e leve como este para despoletar uma mudança espectacular numa vida.

— Estás pensando no subtil Toque do Espírito!?

— Sim: a Vinda de Jesus pode ser despoletada em milhares de corações numa fracção de tempo tão insignificante como esta.

— Diz então qual foi uma das coisas muito importantes que acabaram de te acontecer.

— Um Sinal inequívoco da Tua presença e da veracidade do diálogo que estávamos tendo: acabei de escrever a palavra “Agora!”, olhei imediatamente para o relógio e nem cheguei a ver a imagem anterior, que não podia ser outra senão 3:59; o que vi foi exactamente o momento da formação da imagem 4:00!

— E porque é que isso é um Sinal inequívoco da Minha presença, de que estávamos realmente dialogando os dois?

— Para mim é tão óbvio, que não consigo explicar porquê. A nossa própria ciência concluiu já que não há explicação para o que é evidente.

— Então toda a gente terá que ver a mesma coisa que tu viste!?

— O fenómeno é estranho, mas acontece a todo o momento: nem todos vêem o que é evidente! Parece até que é a evidência que cega muitas vezes as pessoas.

— Estavas a pensar num exemplo. Escreve-o.

— Recentemente, ao contemplar o meu neto mais pequenino, que só tem oito dias de vida, considerava eu como é possível que a maior parte dos homens não vejam imediatamente Deus como o Autor daquele espectacular milagre! Como é possível não se ver Deus na magnitude e nos infinitos prodígios do Universo!

— E as pessoas tentam dar explicações para os prodígios da Natureza?

— Sim, enchem livros de explicações.

— Então são cegos!?

— Claramente.

— Claramente? Mais outra evidência, portanto!?

— Sim, a essa Luz estou agora chegando: a nossa principal doença é a cegueira!

— E tudo quanto até agora no nosso diálogo viste e escreveste foi despoletado numa fracção de segundo!?

— Sim! E como eu desejava que isto mesmo acontecesse a todos os homens!…

— Mas havia uma outra evidência…muito importante…

— Havia: a imagem 4:00 veio dizer-me que mesmo naquela minha teimosa dispersão eu não deixei de ser um autêntico Profeta, cheio do Espírito do Senhor, eu que estava julgando aquele tempo vazio e inútil.

São 4:57!!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

120 — As fontes vivas de Deus silenciado

15/5/02 — 6:40
Às vezes, para iniciar a escrita, tenho que recordar o ensinamento do Mestre de que a minha Alma é inesgotável porque nela mora Deus inesgotável. É que nada encontro em todo o meu horizonte interior, senão a vontade de sair desse momento, metendo-me na cama, ou atirando-me a uma actividade qualquer.

Mas Jesus insiste de forma muito especial nestes momentos em que me pede para escrever, através de Sinais, exteriores e interiores, mas sobretudo através da Fé, muito arreigada e firme, em que da minha missão faz parte importantíssima o escrever. É particularmente claro dentro de mim que este é o tempo oportuno para reescrever o Mandamento do Senhor, de modo a avivar em linguagem actual a memória das antigas palavras que o mundo sabe e proclama serem de Deus, mas que esterilizou por completo, tornando-as banais, ineficazes, mortas.

A par deste silenciamento de Deus à superfície de toda a terra, não há hoje um único canto do globo onde não chegue a voz da Cidade berrando, impondo os seus caminhos e as suas soluções, quantas vezes embrulhadas no próprio som da Palavra de Deus, tornada vazia, mas mantendo, como um ídolo, o seu ar de respeitabilidade e de autoridade, que muito convém a todos os pregadores de doutrinas. É por isso necessário ouvir-se de novo a Voz viva de Deus revelando a Luz interior das Suas palavras antigas, de modo que fique posta a nu a perversão generalizada do mundo actual, quando justamente ele próprio proclama ter conseguido a “globalização” completa de tudo quanto nele acontece.

— Maria, eu não quero ser um teórico analista de acontecimentos, ou da situação global do mundo. Continua, pois, velando para que eu sinta tudo quanto escrevo.

— Diz o que sentiste agora.

— Uma Presença Tua muito forte dentro de mim.

— Dentro?

— Sim. Tentei ver-Te fora, diante, ou ao lado de mim, mas foi como se tu, atravessando rapidamente o meu corpo, o invadisses depois todo, a partir do próprio coração.

— Se, portanto, até Eu, que tu nunca viste em carne, sou agora viva dentro de ti, quanto mais o mundo, que te rodeia e avança para o teu interior por todos os sentidos, não estará vivo em toda a sua verdade dentro de ti!

— Queres dizer que é sempre exacta a minha visão do estado em que se encontra o mundo em cada momento?

— Se Jesus te entregou a missão de fazeres descer a Sua Voz ao mundo em que vives, como não haveria Ele de te dar sempre a visão clara dos Seus caminhos e das Suas chagas?

— É por isso que eu vejo até o que não está à vista, por exemplo a movimentação das forças de Satanás?

— É sobretudo a visão dessas coisas que não estão à vista que Jesus te está dando, clara e intensa, porque é essa a mais exacta Verdade acerca do mundo que pisas.

— E me quer impor outras visões?

— Claro. Eu te abençoo.

São 8:13.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

119 — A Indiferença Universal e os suicidas

                     — 10:11:34

É tão grande e tão outro o mundo que Deus nos mostra quando começamos a ouvir a Sua Voz, que aos ouvidos deste mundo o testemunho do que passamos a ver soa como um chorrilho de fantasias. De facto, esse Outro Mundo face a este que pisamos começa a aparecer-nos inteiramente situado no território do Impossível. Como não há-de este mundo considerar as palavras que usamos como ingénuas e fantasiosas?

E inofensivas. Mas só num primeiro momento. Se, porém, a nossa conversão se revelar sincera e firme, aquilo que parecia pura, inofensiva quimera, passa a tornar-se facto concreto naquilo que chamamos a “vida real”. E toda a relação do mundo connosco começa alterar-se: nós tornamo-nos escândalo em que a rotineira normalidade necessariamente vai tropeçar. E uns, ao tropeçarem, serão acordados para o Mundo Novo que transportamos; outros, provavelmente a maioria, sentir-se-ão apenas incomodados com a pedra de tropeço. Mas se a pedra permanecer firme contra o fluxo da rotina e sobretudo se outras pedras se lhe juntarem, atrapalhando gravemente o curso do preguiçoso rio, a surpresa inicial virará fascínio nuns e raiva noutros.

Se estas pedras de escândalo começarem a aparecer aqui e ali, disseminadas em todo o planeta, o que deixará de haver na terra é certamente a indiferença.

Hoje é a indiferença o estado de espírito mais comum em toda a Humanidade. Parece que todo o mundo vive anestesiado. Permanece indiferente perante os milagres mais espectaculares e perante os crimes mais vastos e violentos. Uma arrepiante resignação está tomando conta dos corações. Deve-se a esta impotência resignada a atitude de alguns, hoje tão frequente, caracterizada por um espectáculo exibicionista a todo o custo, mesmo com o sacrifício da própria vida. Eles pretendem, a todo o preço, acordar o mundo.

Mas são os discípulos de Jesus que verdadeiramente o vão acordar, num futuro muito próximo. Os suicidas actuais incomodam, mas não vão conseguir acordar o mundo: rapidamente os milagrosos meios de comunicar hoje em acção e todos de goelas abertas, os vão publicitar, até os vulgarizarem e os fazerem desaparecer de moda. Porque eles fazem, no fundo, o que todos os desesperados até hoje fizeram: matam, muitas vezes juntamente consigo próprios, uma série enorme de culpados e inocentes, indiscriminadamente. E o mundo continuará mergulhado na violência de milénios, em verdade desde que existe, e por isso, de tão cansado de não encontrar a porta deste Labirinto da Crueldade, continuará deixando-se arrastar no rolo resignado da impotência.

Foi de todo diferente o Caminho de Jesus. E vai ser de todo diferente hoje de novo, porque não mais foi percorrido, de forma que o mundo o visse, desde os tempos do próprio Jesus histórico e da primitiva Igreja. O mundo, desta vez, não vai conseguir desacreditar este Caminho, arrumando com ele como fantasia infantil, quimera inofensiva, ou até mesmo como utopia respeitável, mas irrealizável na prática. O dinamismo de Jesus e da Igreja primitiva não vai morrer, desta vez. O Caminho será o mesmo de outrora: nem os discípulos de Jesus se suicidarão, nem matarão ninguém; antes se deixarão eles próprios morrer às mãos dos seus perseguidores, como cordeiros entre lobos. Mas desta vez Jesus vem para tornar vivo e inamovível o Seu Caminho de Libertação. Porque a Igreja viverá do Coração e a sua única Lei será Jesus.

118 — Um Êxodo sem precedentes

14/5/02 — 5:19

Sei que não vou desistir, mas tenho outra vez medo de desistir. Sinto-me exausto. Aquilo que espero nunca mais chega e o Deserto queima-me todas as forças.

Dizer que não vou desistir é fácil. Mas eu repito-o agora, nesta situação difícil. Ajoelharei aqui todas as noites até ao fim da minha vida clamando ao Céu que não posso mais, mas esperando sempre, até cair, sem já ter força nos dedos para mover esta caneta.

Porque aquilo que espero sei que salva o mundo. É a única coisa que o pode salvar.

E tenho este Segredo aqui gravado. Mas, mais do que estar gravado aqui, nunca ele murchou sequer no meu coração; antes se tem tornado cada vez mais vivo e firme. O que às vezes desfalece são só as minhas forças. Mas se eu morrer antes de ter anunciado a todo o mundo, de viva voz, o meu Segredo, morrerei escrevendo que não pude falar. E a caneta na mão caída sobre a última página destes Diálogos ficará apontando a palavra Jesus. E, feita seta, tornar-se-á luminosa na noite. Tão luminosa, que também de dia se realçará, na própria luz do sol. E o milagre fará convergir todos os olhares para a palavra Jesus. E esta palavra tornar-se-á uma porta abrindo-se para todas as paisagens percorridas ao longo dos milhares de páginas destes Diálogos.

Verdadeiras multidões entrarão por esta Porta, porque terá chegado para a Humanidade o dia da entrada no Reino da Paz. Pode demorar muitos anos a ser descoberto o Tesouro que estas páginas contêm. Mas quando o for, fontes puras rebentarão por toda a terra, juntando-se num verdadeiro rio humano, engrossando sempre, imparável, até desaguar no oceano onde moram, impolutos, todos os sonhos bons da Humanidade. E a nossa Pátria natural havemos de a reconhecer mesmo aí, na Terra dos Sonhos. Tudo então se tornará possível, exactamente como nos sonhos. E descobriremos pela primeira vez o tamanho real e a força verdadeira do nosso Coração.

— Maria, podias, talvez, ter evitado que eu escrevesse aquelas palavras… Elas parecem tão fantasiosas…

— Não, já não serão tomadas por fantasia estas palavras quando as pessoas chegarem aqui na leitura desta Profecia; elas saberão que a sua natureza verdadeira são os sonhos que a revelam.

— Mas é tão difícil as pessoas crerem na realização dos seus sonhos… A Cidade tem-nos esmagado todos, um a um. Ela chega a tirar-nos o próprio tempo do sonho e a própria capacidade de sonhar.

— A Cidade abre brechas a todo o momento. Por elas sairão muitos à procura de ar puro. E quando esta passagem dos nossos Diálogos for lida, já um enorme rombo terá deixado escancaradas as entranhas da Cidade. E muitos, cansados e enojados do ar fétido da vistosa Masmorra, hão-de precipitar-se pela abertura gigantesca, num Êxodo sem precedentes em toda a História!

São 7:34!

terça-feira, 15 de junho de 2010

117 — Não mais o homem controlará a Palavra de Deus

                      — 9:58:22

Finda a escrita da vigília, fui levado directamente a estas palavras de Jesus, escritas pela minha companheira Vassula: “Eu mesmo seduzirei muitos corações, para que sejam como vasos sagrados, portadores da Minha Palavra” (20/12/96).

E deste modo me é confirmada a revelação dos últimos dias: a força viva da Palavra de Deus ver-se-á não nos livros que a têm gravada, mas nos corações que se deixarem seduzir por Jesus. Deste modo, também a manhosa armadilha de Satanás, aqui tão bem dissimulada, será desfeita: não mais os livros, sejam eles quais forem, serão absolutizados e assim transformados em ídolos.

Desde há muito que Jesus me vem dizendo que a escrita, seja em rocha, seja sobre papel, é provisória, até ao tempo em que Ele mesmo possa ser transportado vivo nos corações. E quando isto acontecer, não será mais possível alguém agarrar-se a um livro chamando-o seu e servi-lo aos outros como A Verdade, retalhando deste modo o Corpo de Jesus, Verdade viva e única.

Dir-se-á que a Verdade, guardada assim, não em livros, mas em corações como em “vasos sagrados”, se transformará num vulcão, ou numa avalanche incontrolável. Justamente: o que Jesus hoje nos está revelando, pela Mão delicada e luminosa da Rainha do Céu, é o fim do controle do homem sobre a Palavra de Deus! Este é o tempo do triunfo do Coração sobre toda a obra da Razão montada com tanta dor e sofreguidão ao longo de todo o tempo de existência do homem e intensificada com rapidez fulminante nos últimos tempos, mercê dos sofisticados meios técnicos reunidos e das espectaculares descobertas assim conseguidas pela ciência. Jesus vem agora pôr fim à euforia da presunção humana, permitindo-lhe avançar de vitória em vitória, até ao seu colapso final.

A vitória de Jesus virá assim pela mais inesperada das vias. De facto, o coração sempre foi considerado pelo bom senso reinante como frágil, instável, inseguro. É verdade que, por outro lado, sempre se atribuíram ao coração poderes misteriosos, capazes de espectaculares feitos, tanto para o lado do Bem, como para o lado do Mal. Mas por isso mesmo dizia a prudência e o senso comum que era necessário ter o coração controlado, caso contrário este mundo regressaria ao caos, irremediavelmente, seja pela fragilidade e portanto ineficácia do coração, seja pela sua imprevisível, potencialmente explosiva energia, que tudo pode destruir num momento. Por isso está longe o homem de acreditar em que do coração possa vir a Salvação para o mundo.

Mas é daí, desse Centro único de Deus, do Homem e do Universo que surgirá, como de um novo “Big-Bang”, a Ordem da Filiação que Jesus trará à terra em substituição da antiga Ordem da Criação. Ninguém controlará o nascer e o desabrochar desta Nova Ordem senão só o Espírito. O Homem, esse, será apenas chamado a deixar-se morrer para esta Ordem Velha, agora transformada em Ruína que o Tempo rapidamente fará regressar à terra donde o homem a levantara. Ora, morrendo assim juntamente com a Construção que levantara, como poderia o homem controlar o que quer que fosse? Ele vai, por isso, deixar agora o Espírito agir. Até que o seu novo coração de Filho de Deus comece a palpitar em harmonia com o Coração do seu Pai e com o Coração da sua Mãe. E quando isto acontecer, ninguém mais terá medo do Coração, porque ele será o seguro e tranquilo propulsor da Vida e da Harmonia. Por fim o Coração triunfará!

domingo, 13 de junho de 2010

116 — Ressuscitados por transfiguração e por revitalização

13/5/02 — 5:12

Também a imagem 3:12 um instante se mostrou, brilhando intensamente. E neste dia de Fátima a mensagem da Senhora é surpreendente: a Igreja vai nascer como Deus presente, como Jesus vivo em carne humana!

Já ontem para aqui me estava dirigindo os passos a minha Companheira do Deserto, através do Salmo que me trouxe da parte do Senhor, levando-me a aproximar “os Santos que há sobre a terra” do próprio Jesus. Tão vivo será o Mestre nos Seus discípulos, que os tornará imortais: “Vós não me entregareis à mansão dos mortos, nem deixareis que o Vosso amigo veja o sepulcro” – assim fala o salmista no v. 10 do mesmo Salmo 16.

— Maria, vem antes dizer as coisas do Céu juntamente comigo em diálogo, que me tornas tudo mais fácil e claro.

— Alguma coisa te está sendo particularmente difícil de entender?

— Até não. Mas a imortalidade que aqui tão claramente se anuncia parece nem sequer pressupor a morte e a subsequente ressurreição…

— E poderá isso acontecer em alguém?

— O nosso Paulo diz ter recebido a revelação de que, quando chegar a hora da Ressurreição, nem todos precisarão de morrer previamente, mas num instante serão apenas transformados.

— Mas não é necessário que todos sigam o caminho de Jesus, morrendo?

— Sim, mas a morte de Jesus, violenta e cruel, pode não ser pedida a todos os Seu discípulos, antes será um Dom, apenas concedido a alguns. Todos, porém, terão que passar por uma outra morte, essa sim, absolutamente necessária.

— Qual?

— A morte para as coisas do mundo. Aquela morte que consiste em abandonar todos os tesouros e seduções do mundo, até que Deus Se torne o único Senhor dos corações e portanto de toda a vida do espírito e da carne.

— E se isso acontecer pode não ser necessária a morte da carne?

— Assim entendo, com base no que Paulo escreveu.

— Espera: então sempre a Palavra de Deus está, viva, na Escritura!

— Claro. Mas antes de estar na Escritura, aquela Palavra estava, viva, quente de ter vindo directamente de Deus, no coração de Paulo. E para que esta Palavra, guardada na Escritura, se torne viva, é necessário que ela seja de novo colhida e vivida pela Fé de um coração. Só nos corações é viva toda a Palavra de Deus.

— Tu estás acreditando na possibilidade da Ressurreição sem a prévia morte da carne, sem que, conforme diz o Salmo, a carne “veja o sepulcro”?

— Sim, eu creio em tudo o que os Mensageiros de Deus transportaram no coração e deixaram escrito.

— Esta outra forma de Ressurreição também está na Bíblia?

— Está. Mostrou-a Jesus, na Sua própria Transfiguração.

— A Igreja será feita de ressuscitados por transfiguração e por revitalização?

— Veremos, conforme está escrito, prodígios nunca vistos, agora, quando Jesus regressar. Mas sempre a Igreja terá a carne cansada e dorida de todos os homens. Nunca será formada por anjos ou santos pairando, impassíveis, por sobre a dor humana.

São 7:17!

115 — A Bíblia pode tornar-se um ídolo

                      — 12:31:25
— Maria, vem guiar-me para a Luz do Salmo que me foi dado esta noite.

— És capaz de dizer qual é o tema daquela oração?

— Julgo que está expresso no v. 2, quando o salmista se dirige a Yahveh, dizendo: “Vós sois o meu Senhor, sois o meu bem, nada há fora de Vós”. Deus é, pois, o Senhor, o único Bem, Ele próprio é Tudo para o homem.

— Lembraste-te de S, Francisco…

— Sim. Em especial no início da sua conversão, ele exclamava, orando: “Meu Deus e Meu Tudo!”.

— Parece-te então que o Salmo confirma o que escreveste esta noite sobre a Palavra de Deus escrita?

— Sim, de forma muito clara: nada, fora do próprio Deus como Pessoa, se deve absolutizar, nem sequer a Bíblia, caso contrário até a Escritura se pode tornar um ídolo.

— O Salmo fala nos ídolos…

— Justamente. Logo no v. 4: “Os poderosos multiplicam os seus deuses e vão atrás deles”.

— Podes explicar agora um pouco melhor como pode a Bíblia tornar-se um ídolo?

— Quando ela, por exemplo, é usada como factor de divisão.

— E isso acontece quando?

— Quando cada grupo, cada igreja, se apropria dela ao assumir-se como sua única intérprete fiel e assim a usa como bandeira para excluir e condenar os outros.

— Então a Bíblia tem sido mais ídolo do que Lugar onde Deus fala!

— Exactamente. É isso que agora se está iluminando diante dos meus olhos com intensa Luz!

— Tenta apresentar outro caso em que se faz da Bíblia um ídolo.

— Fazem dela ídolo todos os doutores da Lei e todos os que com eles a manipulam com rebuscadas investigações, reduzindo-a a doutrinas e a leis que impõem aos outros. A Bíblia torna-se assim uma obra sua, que eles usam para lhes conferir autoridade e assim oprimirem os outros, sem que a sua perversão seja descoberta.

— Vamos agora mais directamente ao versículo que te foi expressamente apontado. Que te chamou nele em especial a atenção?

— A importância que Deus dá aos Santos.

— Quem são os Santos?

— São justamente aqueles para quem Deus é Tudo.

— Mas há nele sobretudo uma palavra que te impressionou…

— Sim, por ser a mesma que se diz do próprio Jesus, aquando do Seu Baptismo e da Sua Transfiguração: que Deus tinha posta n’Ele “toda a Sua complacência”.

— Os Santos, aqueles para quem Deus é Tudo, são então…

— O próprio Jesus! São a Igreja, cujo Sinal me apareceu inesperadamente ao fim da vigília, feita uma só Pessoa, agindo e falando como Jesus!

sábado, 12 de junho de 2010

114 — A Bíblia não contém, em exclusivo, a Voz de Deus

12/5/02 — 3:05

Depois de uma longa e penosa insistência em romper a barreira que me separa do Silêncio em que ouço a Voz do Céu, tentei socorrer-me de um Salmo e logo ouvi: “Salmo dezasseis”. E agora mesmo, ao querer saber se me deveria fixar em algum versículo em especial, instantaneamente ouvi “três”.

Já há muito tempo que não sou conduzido à Bíblia. E uma insistente força interior me vem dizendo desde há dias que também ela não pode ser absolutizada em si mesma, sob pena de se tornar um ídolo. Sabemos, de facto, que a idolatria é uma contínua tentação do homem, em especial do Povo de Deus, tantas vezes denunciada pelos Profetas. Mas não contém a Bíblia a própria Palavra revelada de Deus? Como pode ela tornar-se um ídolo, coisa que, como sabemos, é toda a obra humana a que prestamos culto e por isso nos afasta de Deus o coração, levando-nos à apostasia?

Por isso logo um tremor me percorreu: não será esta uma insinuação diabólica? Se também a Bíblia eu a relativizo, não estou a retirar-lhe a sua importância única entre todos os livros da terra? Não estarei eu a deixar levar-me pela tentação do escândalo e portanto pelo puro sensacionalismo?

Não queria, de modo nenhum, cair neste pecado. Mas ressoou aos meus ouvidos a confissão de Pedro ao seu Mestre: “Só Tu tens palavras de Vida eterna”. E passei em revista o meu caminho pessoal: a minha conversão iniciou-se com uma nítida intervenção de Deus. Uma intervenção directa, embora servindo-Se de aparentes coincidências, ou acasos. Recordo a forma como fui conduzido, em Faro, a uma casa onde me deram a ler os livros do padre Tardif e depois os da Vassula, em que eu imediatamente reconheci Jesus vivo falando e agindo, como se estivesse vivendo os tempos da Sua vida terrena e o nascimento da Igreja, há dois mil anos. Depois fui efectivamente levado à Bíblia e dela fui alimentado com especial insistência nos primeiros tempos, conforme estes próprios Diálogos documentam. Mas simultaneamente nos Profetas actuais também eu ia bebendo a Água da Vida. E com o tempo foi-Se tornando o próprio Jesus, pessoal e directamente, a Fonte donde ia recebendo a Água que me matava a sede a mim e que me jorrava por este longo Rio de palavras para a Vida do mundo.

Compreendi então: é preciso encontrar Jesus como Pessoa viva falando connosco, agindo em nós, seduzindo-nos e apaixonando-nos o coração. Sempre que quaisquer palavras, sejam as da Bíblia, sejam as destes próprios Diálogos, não conduzirem a este enamoramento pessoal com Deus Incarnado, estarão sendo transformadas em ídolo pelo coração que as lê e portanto em fonte de glória pessoal. É claro que Jesus pode guiar-nos às palavras já escritas e servir-Se delas para nos alimentar, particularmente as da Bíblia. E geralmente é isso que faz, conforme o testemunho de todos os convertidos. Mas tem que ser Ele a fazê-lo, como aconteceu comigo próprio. Ele pode falar connosco de muitas maneiras; a Sua Palavra escrita não é a via exclusiva pela qual Ele contacta connosco. Se absolutizarmos a Bíblia ou um qualquer Profeta como O Caminho exclusivo de chegar a Deus, estamos já a distorcer o Evangelho, onde Jesus claramente diz: O Caminho sou Eu!

Não sei se as palavras do

                                                     Sl 16 (15)

irão confirmar o que escrevi. Diz assim o versículo três:

Aos santos que há sobre a terra, o Senhor os honra; neles tem toda a Sua complacência”.

E, antes mesmo que eu leia o resto do Salmo, Maria diz-me que descanse, por agora.

São 6:12!?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

113 — Origem e natureza da Apostasia

11/5/02 — 5:03

Se esta minha dor de viver continuamente no Deserto curar o mundo da Apostasia, então bendita dor. Que seja assim até ao termo da minha vida!

Porque vale a pena todo o sacrifício para encher a terra de Deus. Eu sei da felicidade que seria para os corações, se o reino de Satanás desaparecesse daqui. Toda a vida andei à procura da Causa das causas, da Origem das origens. Nunca nenhum homem nem nenhuma doutrina me fez fixar em lado nenhum. Fui sempre um caminhante, à procura de um misterioso, longínquo Lugar, donde jorrasse a Água pura de que eu e toda a terra temos sede. Porque nunca vi ninguém ficar saciado com as águas que temos bebido, antes mais e mais nos parecem envenenar todo o corpo e provocar a morte de todas as células, uma a uma. Acreditei, como toda a gente, em que o Desenvolvimento, o Progresso, enfim, a Civilização, acabasse por ultrapassar as sucessivas frustrações que a História regista. Mas esta minha Fé acabou por esbarrar numa dramática descoberta: é justamente a Civilização a causa de toda a nossa Dor! E a causa da Civilização sabia eu vagamente que era o Pecado. Mas estava ainda longe de ter entrado na verdadeira natureza e dimensão do Pecado. O reconhecimento de que ele consiste na tentativa de eliminar Deus, construindo um mundo alternativo à Criação, levou-me à visão da Apostasia.

Costumamos chamar apóstata àquele que já foi praticante fervoroso de actividades religiosas e depois as abandonou, aquele que foi dedicado na Fé e depois deixou de crer. Mas Jesus alterou-me e alargou-me esta visão: todos nós já nascemos com o vírus da Apostasia inoculado no nosso corpo. Herdámo-lo dos nossos pais-criaturas Adão e Eva: eles foram os primeiros apóstatas. Mas trazemos todos também no nosso coração a memória inapagável da Harmonia cósmica, onde originariamente fomos sonhados e onde chegámos a viver, numa solidariedade genética com os nossos primeiros progenitores, antes do Pecado. Seria possível eliminar o vírus maléfico, se quiséssemos recolocar-nos na Harmonia original. Mas nós fomos tentados através dos tempos a desenvolver aquele Vírus, entusiasmados com a ilusão de força que ele nos dava. E foi assim que passámos a desenvolver a nossa obra, fazendo sobrepor a energia negativa do Vírus às forças saudáveis da Harmonia. Foi assim o mundo afastando-se da sua Origem até à orgia actual do Progresso, até que a Civilização se estabeleceu, de facto, sobre toda a terra, sugando todas as atenções, direccionando todos os passos, distorcendo, anestesiando e às vezes quase destruindo completamente na nossa memória a recordação da nossa Origem. Agora já não procuramos soluções fora da nossa própria Obra. E quando nos lembramos de Deus, também já Ele está distorcido e desfigurado dentro de nós, transformado em nosso servo. Esta é a verdadeira natureza e dimensão da Apostasia.

São 7:24!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

112 — A opinião da minha filha sobre estes Diálogos

10/5/02 — 6:05

A minha própria filha que no início escreveu estes Diálogos a computador dizia-me ontem que as respostas de Jesus são as respostas que ela esperaria de mim próprio se fosse ela a fazer a pergunta. Isto é, nem ela aceita facilmente que estes Diálogos sejam verdadeiramente com Deus. Deus seria, portanto, sobretudo um artifício literário para dar maior vivacidade à expressão das minhas próprias ideias. Não, não é mentira o que está escrito: ela vê lucidez e verdade em tudo quanto leu. Mas a lucidez está em mim próprio e a origem da Verdade não a coloca ela em Deus, mas em mim mesmo. Eu próprio sou, portanto, segundo ela, a única fonte desta Mensagem. É por isso que ela me augura uma grande fama como filósofo!

Diz por outro lado esta minha filha que eu teria mais êxito, se não falasse logo de início em Deus, que o apresentar-me à partida como mensageiro de Deus me tira credibilidade. Não que ela duvide da minha Fé em Deus, ou da consistência das minhas palavras por se fundarem na Fé. Pode até este anúncio das minhas descobertas e das minhas convicções levar as pessoas à Fé. Mas teria que ser feito com maior prudência. A Fé é ainda para ela, como para a grande maioria do homem civilizado, manifestamente uma questão filosófica de adesão intelectual a uma descoberta feita. E Deus, se existe, é portanto Aquele que está lá em cima, majestático e transcendente no Seu poder e onde naturalmente se poderá chegar através de sucessivas descobertas pessoais, mesmo que estimuladas por descobertas de outrem. Jesus é para esta, como para as minhas outras filhas, um homem admirável, muito querido até na Sua proximidade com as pessoas mas, justamente por causa desta ideia vulgarizada de um Deus longínquo, têm ainda dificuldade em ver n’Ele Deus.

E eu não forço. Só testemunho perante elas a minha afeição por Jesus, mesmo assim ainda de forma leve e algo encoberta, justamente para não as violentar. E julgo ser este meu comportamento que as faz ter também uma admiração empolgada pelo Homem de Nazaré. O mesmo acontece relativamente a Maria, por Quem elas manifestam uma especial ternura. Isto é, também aos meus mais próximos não consegui fazer ver Deus diante dos olhos, diante do nariz. Tal qual como O não viram os contemporâneos de Jesus. Nem os Apóstolos. Só no Pentecostes, cinquenta dias depois de Ele ter morrido, O reconheceram como Deus. Estou assim, também relativamente às minhas próprias filhas, à espera do Toque do Espírito.

Mas Jesus, quando chegou a Sua Hora, mostrou-Se logo de início, com afirmações, com atitudes, com prodígios, como o Messias esperado, como Deus. Frontalmente. Parecia até que o fazia com muito maior intensidade do que as pessoas poderiam suportar. Também aqui Ele aparece sem disfarce, logo de início. Tão próximo, que pareço eu falando. Mas ninguém ainda O vê.

São 8:26!?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

111 — Quando serão lidos estes Diálogos

                      — 11:13:29

Eu bem repito, para dentro de mim: Vive o momento presente, apenas! Deixa de te preocupar com o que acontecerá no futuro! Que as desgraças do passado também te não ensombrem o momento presente!

Mas acontece que, sem eu dar por isso, me acho invadido por apreensões baseadas no que experimentei no passado, por medos do que poderá suceder a toda a realidade acumulada no meu passado e que tantas vezes me ocupa todo o presente. Ora Jesus já me explicou que fugir do que acontece em cada presente é perder esse segmento da minha vida; e é grave esse comportamento, porque a minha vida, como a de todas as pessoas, é preciosíssima, tão preciosa que por ela deu a Sua Vida toda o próprio Deus.

Deste modo, também não devo fugir das apreensões e dos medos relativos ao passado e ao futuro, se eles fizerem parte, sem que eu os tenha chamado, do meu momento presente. E isto não só pode, mas é natural e saudável que aconteça. Não há corte de nenhuma espécie no tempo. Também o tempo é necessário que se torne para nós um rio único, nascido na Origem e desaguando na Eternidade. Não nos censura, portanto, Jesus, da presença de passado e futuro no nosso presente; o que Ele denuncia como perigoso é a preocupação que exprime e conduz à tentativa de controlar os acontecimentos. É fácil identificar a região onde sempre se esconde e engorda a Maldade: é no território da Ambição que ela sempre se encontra. Também no que se refere ao tempo, o mal está em querer substituir Deus; uma vez entrados neste viscoso caminho, é mais que certo que o nosso coração será envenenado pela Apostasia pura, que na sua forma última e mais cruel consiste em negar simplesmente Deus.

Como devemos então lidar com o peso do passado e do futuro quando ele por vezes nos chega a encher e a esmagar o momento presente?

— Ajuda-nos, Maria. Pelo que nos tens dito, nomeadamente esta noite, Tu tiveste uma experiência muito intensa deste tipo de sofrimento…

— É verdade: desde que o Arcanjo de Deus Me anunciou aquela impossibilidade, toda a Minha vida ficou inundada de um futuro que tinha tanto de pesado como de exaltante.

— Então diz-nos como lidavas com esse futuro em cada presente.

— Tu sabes que Deus nunca nos põe às costas um peso que não possamos suportar. Ele ama-nos muito. Foi este Amor que sempre acabou por sobressair em cada momento.

— Mesmo nos momentos em que, como já várias vezes e ainda esta noite nos disseste, só a escuridão e a dor parecem encher o nosso coração?

— Em ocasiões dessas é que se nota com maior clareza como Deus nos protege e nunca deixa esmagar aqueles que O amam.

— Então a única preocupação da nossa vida deverá ser a de encontrar o Coração de Deus!

— Sim, é claro. Mas vê se não é justamente aí, nas grandes dores, que mais se agarra o nosso coração ao Colo do nosso Pai, ao Caminho do nosso Jesus, ao empolgante Poder do nosso Consolador.

— É verdade, Companheira. Recordo justamente agora como a surdez do mundo frente aos Diálogos me foi compensada com a Tua Presença completamente inesperada junto de mim, no Deserto.

— Então diz como tens ultrapassado a sensação dos últimos dias, como chaga novamente aberta, de que os nossos Diálogos não têm hipótese nenhuma de virem a ser lidos com sofreguidão.

— Olha: neste momento acho que disseste muito bem! Só quando as pessoas forem invadidas por uma autêntica sofreguidão de Deus, poderão ler estes Diálogos. Acabas de me robustecer a Fé nesse Dia e de me dar coragem para o esperar tranquilamente.

terça-feira, 8 de junho de 2010

110 — Eu sou o dobro de Deus

7/5/02 — 5:43

Estes Sinais mostram-me envolvido pela Presença de Deus. Mas uma outra imagem, 6:06 revela-me a sensação que me domina: a Besta querendo esmagar-me o coração. Uma nova vaga de Solidão me envolve, povoada de cansaços e medos.

— O cansaço é natural a quem muito trabalha. Mas os medos? Que medos são os teus ainda, Meu pequenino? — intervém Maria.

— Medo de todo o meu cansaço ter sido inútil. O fracasso dói, não?

— Sim, o fracasso dói. Eu sei o que é o fracasso.

— Também alguma vez desconfiaste de que a Tua espera fosse em vão?

— Sim, também se desenhava diante de Mim muitas vezes o fracasso.

— Eu não queria escrever “muitas vezes”.

— Mas é essa a verdade. Deus isentou-Me do Pecado, mas não Me isentou das consequências. E a Minha carne era fraca como a de toda a gente.

— Mas repara: Jesus tinha-Te a Ti e Tu tinhas Jesus. Mas eu sou sozinho a transportar o meu Segredo, maior que o mundo.

— E quantas vezes também Eu não Me senti só, com o Meu Segredo?! Lembra-te de que o caminho de cada um é único.

— E sentias esses Teus momentos de prostração como vindos do Demónio?

— Há momentos em que não sentimos nada, senão a dor; ela não nos deixa ver a sua causa, nem a sua finalidade.

— E como Te reerguias desse poço fundo e escuro?

— Como Tu fazes: partilhando a Minha dor com Deus.

— Mas Deus tinha-Lo Tu em carne e osso na Tua própria casa!

— Quem Eu tinha em casa era só o Meu Filho, que desabrochava na escuridão deste mundo, como qualquer homem, até Se revelar a Si próprio na Sua total identidade. Ele tinha um caminho próprio a seguir. E Eu tinha, no Meu caminho, o Meu próprio peso a transportar.

— Mas que peso! Imagino!…

— Também o teu peso é maior que o mundo, Eu sei. Mas não é um peso morto, pois não?

— Às vezes até parece… Repara neste montão de volumes já escritos.

— E quando os livros deixam de ser de papel e passam a ser feitos de sonhos?

— Sim, aí tornam-se um peso vivo que, ao mesmo tempo que pesa, fascina e arrebata. Às vezes, no entanto, só vejo mesmo o montão de papel… E tudo o que lá está escrito fica mesmo sem peso nenhum.

— É muito duro, sim, Meu pequenino companheiro, o Caminho. Mas vê como continuas escrevendo!

— Sim, sempre Alguém do Céu me vem amparar em momentos assim.

— E sabes porque é necessário que assim seja?

— Continuamente Vós mo estais dizendo: é preciso incarnar.

— E vês agora como as palavras que vêm do Céu nunca são ocas?

— Mas diz-me: o Demónio não anda aqui metido?

— Com todo o seu peso. Está na hora de ele se mostrar maior que Deus. Se escutares bem, hás-de ouvi-lo dizer: Eu sou o dobro de Deus! Eu sou 666!

São 7:52!!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

109 — 666

                     — 10:16:11

O Sinal 16 exprime uma luta. Fala da eterna oposição entre Luz e Trevas, entre Unidade e Divisão. E, desde o fim da vigília, apareceu-me já várias vezes, inclusivamente como título deste texto.

— Continua guiando esta caneta, Maria. Que ela seja a Luz firme do Mistério de Deus.

— Quando assim falas, sempre costuma haver um receio em ti…

— Sim, sinto estar prestes a dar um passo para um terreno mal iluminado, mas que ao mesmo tempo me está seduzindo.

— Se te seduz, porque hesitas?

— Porque também o Diabo pode seduzir.

— E como costumas sair da tua hesitação?

— Fazendo o que fiz agora: pedindo ajuda ao Céu e entregando-me à sua Luz.

— Eu sou a Luz do Céu neste momento?

— Sim. Uma Luz muito intensa e firme. Contigo tudo se torna simples e claro.

— Por exemplo a Harmonia de que falávamos esta noite?

— Precisamente. É agora fácil ver que a Harmonia é o fluido vivo que, unindo todos os seres, favorece toda a Diversidade e assim me possibilita conhecer o coração dos outros e ao mesmo tempo deixar-me surpreendido pela contínua novidade que jorra de cada um.

— E estás vendo já outra coisa…

— Sim. Compreendo agora melhor que Diversidade não só é diferente de Divisão, mas é mesmo contrária a ela: a Divisão, cortando, separa; a Diversidade, surpreendendo, une.

— E outra coisa ainda se te iluminou mais claramente…

— Vi também que a Harmonia, mantendo cada ser no seu lugar natural, personaliza; e que a Divisão, pretendendo autonomizar separando, acaba por cortar o fluxo da vida, uniformizando na morte e assim despersonalizando.

— É então mais difícil conhecer os outros, na Divisão?

— Claro! A Divisão, pretendendo autonomizar, desfigura e esteriliza. E a personalidade fica enterrada na uniformização. O que transparece da divisão não é a individualidade, mas uma reacção, quase sempre caótica, contra a violência da uniformização.

— Da discussão nunca então nasce a Luz!?

— Nunca: a discussão apenas revela a revolta da personalidade única de cada um contra o processo de despersonalização que o consenso final irá revelar.

— Os consensos são o contrário da Luz?

— São!

— Não sei se irás conseguir manter essa afirmação tão rotunda!…

— Também não sei se a vou conseguir manter mas, se ela corresponde à Verdade, tenho a certeza de que ma irás confirmar e deste modo ela aqui ficará registada como Verdade inabalável.

— Diz então porque viste os consensos como o contrário da Luz.

— Eles constroem o senso comum, tantas vezes nesta Profecia rejeitado pelas revelações que Jesus me fez registar.

— Então os consensos encaminham as pessoas para as trevas!?

— Assim estou vendo: cada novo consenso é um degrau descendo para as trevas profundas.

— Está escrito que Jesus discutia…

— Mas não está escrito que as discussões de Jesus levassem a consensos; pelo contrário, elas acentuaram a divisão radical entre Luz e Trevas e por isso O levaram à morte.

— Então Jesus também dividiu!

— Pois dividiu: era necessário dividir claramente o caminho da Luz do caminho das Trevas, para que não mais o Diabo se mascarasse de Deus.

— Qual é o número de Deus?

— 333.

— E o do Diabo?

— O dobro: 666!

São 11:36:05!!!

domingo, 6 de junho de 2010

108 — Uma congénita sede de Deus

6/5/02 — 5:32
Esta imagem inclui o conjunto 52, Sinal da união íntima de Jesus comigo. Surpreendentemente, foi logo assim que li toda a imagem: o 3, Sinal da Trindade, em vez de separar, estava unindo com maior intensidade ainda.

É em Deus que tudo é Um. Por isso a nossa Alma tem sede do Deus vivo. Pode o movimento frenético e a vozearia da Cidade abafá-la, distorcê-la, esmagá-la. Mas ela mantém-se latejando em todos nós a vida inteira.

— Vem, Maria, dar o calor do Teu Coração às palavras que estou escrevendo.

— Porquê? Não estás exprimindo uma certeza, dentro de ti?

— É das convicções mais firmes dentro de mim. Mas eu não posso saber o que se passa no coração dos outros…

— É então só uma suspeita!?

— Não. É mesmo uma certeza.

— Então chegaste a ela só especulando!?

— Não… Acho que não poderia ser. Muitos, especulando, foram dar a outras conclusões. Por isso é que eu queria que viesses tornar vivas estas palavras. Não queria que elas aqui ficassem apenas como a reflexão de um filósofo.

— Se Eu te perguntasse de novo se tens a certeza de que Deus é a sede mais funda de toda a Alma humana, outra vez responderias que sim?

— Sim. E se outra vez perguntasses, julgo que com mais funda convicção eu responderia que sim.

— E se outra vez perguntasse…

— Estranho: mesmo quando dizes “se”, eu sinto que estás mesmo fazendo a pergunta e todas as vezes que a fazes a minha certeza parece tornar-se sentimento vivo.

— Se a certeza se tornar sentimento, torna-se menos sólida?

— De modo nenhum: torna-se muito mais viva!

— Pergunto se se torna mais sólida.

— Claro!

— A solidez está na vida?

— Está.

— Uma árvore é mais sólida que uma rocha?

— Árvore e rocha fazem parte da mesma vida, quando convivem harmoniosamente sobre a montanha. Como o nervo e o osso e o sangue são igualmente vivos no mesmo corpo, ainda que ao osso chamemos sólido e ao sangue chamemos líquido.

— Pareceu-Me teres dito que tudo é vivo quando convive em harmonia…

— Sim, surgiu-me essa afirmação sem dar conta…

— A solidez então está na harmonia!?

— Sim, é para aí que a Luz me está encaminhando…

— Repara então: quando dizes que a Alma humana tem uma original, funda sede de Deus, por que via chegaste a esse conhecimento?

— Pela harmonia?

— Porque interrogas? Não estás já vendo?

— Sim… A névoa está-se dissipando e vejo agora que conheço os outros pela força da Harmonia!…

— Como?

— É que tudo nasceu um! À medida que me aproximo de Jesus, entro na Fonte da Unidade, que é Deus Trino.

— E a Variedade não impede o conhecimento dos outros?

— Não. Justamente porque a Unidade não é uniformidade; é Harmonia!

São 8:16!?

sábado, 5 de junho de 2010

107 — Os psicólogos e os outros sábios

                      — 10:42:09

— Olá, Maria! Quando passo um dia sem dialogar Contigo, fico com a sensação de que já não conversamos há muitos dias. Diz-me porquê, diz!

— Isso são fenómenos que os vossos psicólogos explicam, não?

— Coitados! Eles são como todos os outros nossos sábios. Agora deu-lhes para endeusarem a ciência “exacta”: põem-se a fazer medições, comparações, gráficos, listas. E tiram conclusões…

— O que são as conclusões dos sábios?

— São verificações de cegos: eles apalpam, tacteiam os contornos e dizem: é uma mesa!, é uma cadeira! Muitos acham que fizeram a última descoberta no reino das mesas e das cadeiras. E concluem, isto é, fecham este reino e chamam-lhe seu. E ficam muito desiludidos, atrapalhados e às vezes muito furiosos quando, passados uns tempos, vêm outros cegos dizer que o reino das mesas e cadeiras tem outros modelos, outras “texturas”, enfim, é muito mais vasto…

— Sim. E não é por esse caminho que se chega à Verdade?

— Sim. À verdade a que podem chegar olhos físicos cegos. Algumas maravilhas da Natureza se descobriram por esta via.

— Mas os psicólogos dedicam-se a descobrir coisas, fenómenos não físicos…

— Eles pretendem entrar pelo mundo do Invisível. Mas fazem-no agora, como os outros sábios, a partir do comportamento do mundo físico. Os sábios vivem hoje, mais que nunca, agarrados ao Barro de que fomos feitos. Revelam-se, assim, os mais cegos entre os cegos.

— Tu já não és um sábio desses?

— Acho que nunca o fui, inteiramente. Sempre gostei de fazer excursões para fora do mundo físico, para as regiões que depreciativamente os sábios chamam da fantasia, do sonho…

— E as descobertas…espera: fizeste nesses passeios alguma verdadeira descoberta?

— Sempre. Nunca larguei essas longas caminhadas, justamente porque nunca nessas zonas fiquei verdadeiramente frustrado. E se o fiquei, isso nunca me fez convencer de que só no mundo físico eu poderia fazer verdadeiras descobertas.

— Mas, ao que vi e tu próprio tens até aqui escrito, nunca pudeste arranjar provas convincentes das tuas descobertas, a ponto de “obrigares” as pessoas a crer nelas, como os sábios conseguiram, por exemplo, “obrigar” as pessoas a crerem na força da gravidade, a ponto de as levarem a alterar toda a sua visão do espaço cósmico.

— É verdade: nada consigo provar! E no entanto aquilo que descobri provocaria, se as pessoas o aceitassem, uma revolução muito maior nas suas convicções do que a descoberta da força da gravidade.

— Vê se és capaz de apontar, ainda que só levemente, em que consiste essa revolução.

— Em os homens rejeitarem, de alto a baixo, toda a Civilização que ergueram, desde que eles próprios existem.

— Inclusivamente os dados da ciência?

— Pois claro!

— Inclusivamente a lei da gravidade?

— Inclusivamente essa lei.

— Como? A força da gravidade é uma mentira? Não existe?

— Aquilo que hoje entendemos por força da gravidade é uma descoberta de cegos; se ela tivesse sido descoberta a partir desse mundo que os sábios chamam da fantasia e dos sonhos, pressinto que seria uma realidade tão diferente, que aquilo que hoje dela conhecemos nos apareceria quase como mentira!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

106 — Ele não morreu por um ideal

5/5/02 — 3:24

Acordei às 2:27. E tamanha ternura de Jesus por mim li neste Sinal, que logo acendi a luz, para não readormecer. E quando agora me levantei, na convicção de que tinham passado uns segundos, verifico que estive quase uma hora de luz acesa dormindo. Mas em vez de me recriminar, Jesus chama-me, naqueles Sinais, Testemunha e Profeta do Altíssimo!

E mais me enterneceu o meu indescritível Herói. Deus é verdadeiramente Amor. Está isto na Bíblia e toda a gente o prega. E mais uma vez me impressiona a nossa capacidade de destruir. Desta vez vejo-o na forma com esvaziámos as palavras. Se aquela palavra estivesse cheia do respectivo conteúdo, este mundo só poderia ser já de novo o Paraíso, uma Casa cheia de filhos felizes à volta do seu Pai. Mas do antigo Paraíso podemos dizer que já não resta um único vestígio, sem o risco de estarmos a pronunciar palavras falsas, ou vazias, desta vez. Manifestamente, Deus não é para nós, de modo nenhum, Amor.

Também eu, que preguei tantas vezes aquelas palavras, só agora, depois deste encontro com Jesus, passei a navegar em toda amplitude do seu assombroso Mistério. Porque pela primeira vez Deus Se me fez Homem habitando o mesmo mundo que eu, arrastando a mesma incapacidade que eu arrasto, tornado como eu insignificância, perante o mostrengo triturador da obra que fizemos. Por isso repito que só em Jesus pude reconhecer verdadeiramente que Deus é amor. Por causa da Sua Ternura concreta, no momento exacto. Isto é mais que vê-Lo suspenso na Cruz: aí todos O admiram como um Herói extraordinariamente corajoso e coerente. Mas é ainda possível Ele manter-Se-nos longe. Podemos ainda ver em Jesus um sonhador que morreu pelos Seus ideais. Apesar do concretismo e da força gritante daquela morte, Ele pode manter-Se-nos ainda abstracto, afastado no tempo. E muitos, de facto, mesmo entre aqueles que se dizem Seus discípulos, O vêem mais como um Homem que morreu por ideais e não por pessoas.

E assim Ele teria permanecido, mesmo na memória dos Apóstolos e seus seguidores, se não tivesse acontecido um outro Facto, verdadeiramente decisivo: a Descida do Espírito à nossa carne. Julgo mesmo que nem a Ressurreição teria provocado, por si só, o efeito do Pentecostes. Foi aqui, cinquenta dias depois da Ressurreição, que Jesus Se pôde tornar um Amigo concreto e íntimo de cada pessoa concreta. Sempre. Em qualquer lugar. Em qualquer tempo. Só quando, mercê da acção do Espírito, Jesus Se torna concreto e vivo no coração de cada um, é que é possível reconhecer Deus como Amor.

Mas outra vez tive receio de manter ainda Jesus abstracto, ao falar do coração. É que nós estamos habituados a considerar concreto só aquilo que vemos com os olhos, que agarramos com os sentidos. Mas eu estou falando mesmo de Jesus, presente em corpo. Em corpo físico mesmo. Vendo, abraçando, falando. Alguns podem mesmo ver-Lhe a cor dos olhos; a mim foi-me dado sentir-Lhe a vibração sensual de todo o corpo.

São 5:15!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

105 — Amados pelo que somos

4/5/02 — 5:04

Sou agora rodeado do carinho de todo o Céu como Profeta. Há momentos em que pareço ser o centro das atenções de toda a Corte celeste. Momentos destes todos os hão-de ter, logo que o coração se centra em Jesus.

Jesus é o Centro para onde converge todo o movimento da terra e é também o Centro através de Quem todo o Céu se revela à terra. É, portanto, em Jesus que eu sinto por vezes estar todo o Céu concentrado em mim. E sinto que não se trata agora de um egocentrismo vaidoso e cego: quando encontramos Jesus, deixamos de ser cidadãos anónimos, por mais apagada que tenha sido a nossa vida no meio do fragor confuso da nossa Babel; sentimo-nos agora verdadeiramente amados pelo que somos, sem para isso termos que realizar qualquer obra que dê nas vistas do mundo. E sentimo-nos únicos, porventura pela primeira vez na nossa vida. Descobrimos isso um dia de repente e esta sensação de estarmos sendo centro de atenções intensifica-se de tal maneira, que chegamos a assustar-nos e por vezes o nosso coração fica suspenso, duvidoso, incrédulo. Não entendemos como pode uma insignificância destas despertar tamanho interesse em alguém. Estamos, já, portanto, contemplando a distância que separa o lugar onde nos encontrávamos das alturas a que fomos elevados no Coração de Deus. E conheceremos aqui, pela primeira vez, a Graça: toda a nossa grandeza é puro Dom do Céu.

Mas nunca nos sentiremos numa situação falsa, como se tivéssemos sido violentamente desapossados do que era nosso, para recebermos de Quem assim se interessou por nós uma personalidade postiça, artificial, conforme aos Seus gostos; sentimos, pelo contrário, que a nossa pequenez era devida justamente ao facto de este mundo ter esmagado a nossa natureza original, reduzindo-nos a uma peça insensível de uma monstruosa engrenagem sem coração para reparar em nós. A nossa conversão vai-nos recolocando no nosso lugar original e a pouco e pouco começamos a ter a visão da nossa genuína grandeza. Por fim compreenderemos porque com tamanha loucura nos ama Deus.

São muitos os caminhos para chegarmos aqui. Tantos quantas as pessoas cujo coração se converteu, isto é, se voltou para a sua Origem. Mas todos estes caminhos desembocarão necessariamente em Jesus. Enquanto Ele não se tornar o centro da nossa vida, não houve ainda uma conversão segura; pode, portanto, sempre o caminho iniciado sofrer desvios que levem a verdadeira Luz a apagar-se e o ardor puro do coração a degenerar. Se, por exemplo, a devoção a Maria não conduzir a Jesus, em breve tal devoção se tornará piegas e será factor de divisão na Igreja. Pode não ser Jesus a descoberta inicial do nosso coração. Mas depois de um caminho inicial, terá que ser Ele a descoberta decisiva. Porque é n’Ele que depois todos os Mistérios se nos abrem.

São 7:27!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

104 — Eu é que sei!

                      — 9:57:32/3

Ao registar a passagem do segundo 32 para o 33, esta imagem mostra a Testemunha inundada da Presença de Deus. Do mesmo modo o conjunto 57 é um carinhoso Sinal de Jesus a dizer que Se sente muito feliz e sinto que é desta vez pelo que na vigília ficou escrito. Pela oração inicial. E pela revelação do papel de escravo que verdadeiramente Satanás desempenha.

A oração é um murmúrio do Espírito em mim, resistindo a toda a precipitação e dando ânimo a todos aqueles que inteiramente se entregam ao Tempo de Deus, para que a Vinda de Jesus seja um Acontecimento decisivo, firme para sempre. São de facto muitos os que hoje tentam dar respostas imediatas aos gemidos da Humanidade. Muitos o farão de espírito bem intencionado, mas também estes estão no fundo engrossando a multidão dos que se entregam ao projecto humano de substituir Deus. No mundo de hoje são muito pouquinhos os que param para ouvir Deus. E recordo, neste passo, aquilo que no início estranhei, mas agora me encanta na Senhora quando, em Medugorje, todos os meses, invariavelmente, nos pede para orarmos. Sempre e só a Sua Voz humilde e quente repete: oração, oração, oração. Ela sabe muito bem onde está a chave para abrir a porta do Rio da Paz. A Sua Mão leve é seguríssima a conduzir-nos pelos caminhos da eficácia plena. Enquanto até muitos dos amigos de Jesus se esfalfam e gritam por mais e sempre maiores obras, obras, obras, Ela murmura na Sua Voz que parece tão frágil, mas não cede um milímetro, um segundo: Orai! Vigiai e orai! Orai sempre, sem nunca parar. Como se dissesse: Aceitai o Tempo de Deus. Ouvi-O, para não cairdes em tentação. E a Tentação é sempre a mesma; ela leva sempre o homem a dizer, como adolescente em fase de afirmação: Eu é que sei! É a mim que pertence fazer a hora! O meu destino sou eu que o hei-de construir! E repare-se que esta voz, ridícula no seu pigarrear adolescente, está, no fundo, dizendo isto: o meu Pai está desactualizado! Não preciso de Deus para nada!

Ouvir Deus! Está aqui a chave da nossa Salvação.

É isto que Satanás não suporta: se o homem ouvir Deus, desfaz-se todo o seu reino. Porque o seu poder depende inteiramente do homem. Sinto que foi a revelação deste seu estatuto de servidor do homem, a que fui condizido pela Mão discreta mas firme de Maria, que o exasperou e isso mesmo ele mo fez sentir, servindo-se de tentativas, no fundo ridículas, de travar a escrita e a edição destes Diálogos e criando-me uma série de problemas miúdos, todos ao mesmo tempo como é costume, numa demonstração confrangedora de impotência. É nestes momentos que ele se revela como um pobre lacaio às ordens do pobre do homem quando assim se empertiga na sua rebeldia.

Por isso me levou Maria à visão do meu sofrimento neste Deserto como uma situação causada não pelo Demónio, mas pelo próprio homem — por mim também, é claro. E estou vendo agora a uma Luz nova o porquê da insistência de Jesus em manter os Seus discípulos no seio do mundo, em insistir tanto comigo para que não saia da Cidade: é aí mesmo, efectivamente, que se encontram os homens, de coração amarrado à construção da sua monstruosa Torre, expressão e causa de todo o seu sofrimento.

terça-feira, 1 de junho de 2010

103 — Satanás, servo dos homens

3/5/02 — 5:17

— Meu querido Príncipe da Paz, eu espero. Esperarei a Tua Vinda no mais ignorado canto da terra, até que a morte me feche os olhos da carne. E se até esse momento Tu não tiveres regressado, eu continuarei a esperar por Ti, mesmo que tenha que passar pelo Vale das Sombras. E aceito permanecer aí, se for necessário, até que Tu voltes à Terra em todo o Teu Poder, no esplendor imortal da Tua Glória. Vem, meu Amor, Esperança única da pobre Humanidade desde que existe. Vem muito depressa, mas vem só quando tudo estiver pronto, quando os tempos estiverem perfeitos. Desta vez vem na Hora Irreversível, Pantocrator! Ámen.

Sinto-me agora envolvido por uma nova onda de perseguição de Satanás. Está escrito que ele nada pode naqueles que vigiam e oram, porque Deus é o seu absoluto Senhor. Ele está portanto activo à roda de mim só porque os homens lhe entregaram o governo do mundo que construíram. E misteriosamente sinto que são os homens os verdadeiros mandantes desta repetida tentativa de calar em mim a Voz de Deus; Satanás apenas lhes forneceu os seus olhos de gigante, para que eles vissem onde os olhos da carne não conseguem ver. Satanás é o olhar perscrutador da ambição humana, que sempre se está precavendo contra todas as ameaças. É através dele que os homens atacam os perigos longínquos, para continuarem, assim protegidos, a devastar a Criação.

Sei que parecerá muito estranho e louco isto que digo, mas teremos em breve a prova da sua autenticidade: quando o Espírito descer para tocar os corações, haveremos de ver todos os construtores impenitentes da Cidade perseguir o Profeta como uma ameaça mortal, até de facto o matarem. Não será uma qualquer força invisível, mas serão homens bem concretos que o levarão à morte e por este feito se felicitarão mutuamente e “mandarão presentes uns aos outros”, por julgarem ter assim acabado “ o tormento dos habitantes da terra” (Ap 11, 10). Ver-se-á nesse dia que Satanás, enviado dos homens para atacar os perigos na sua origem, não tendo sido capaz de os suster, logo é substituído pela acção concreta de homens concretos, mesmo que os mais directos responsáveis pelo assassínio se escondam: todos serão identificados, como foram identificados aqueles que levaram Jesus à morte e martirizaram a indefesa Igreja primitiva.

Mais uma vez, gentes todas, ouvi: Satanás só pode porque nós lhe damos poder. A sua própria ambição já nada poderia fazer de mal neste mundo. Ele é o tentador de serviço ao projecto humano de se elevar sobre as nuvens, dispensando Deus. Só por isso é preciso ter muito cuidado com ele. Entendo agora eu próprio muito melhor porque tem ele sempre tanta lógica quando nos tenta: ele é o enviado da nossa Cidade; quando nos aborda fala, por isso, a mais requintada linguagem do nosso reino, é sempre o mensageiro dos mais caros valores da nossa Civilização. É por esse motivo que ele se torna extremamente perigoso. Por isso é preciso orar e vigiar sempre.

São 7:13.