— 9:24
— Pedes-me, nestes algarismos, que escreva. Conduz então, Mestre, a minha mão por onde só a Tua Verdade seja revelada, sem mancha.
— Fala da Verdade. O que é a Verdade? Tenta responder hoje a Pilatos, que assim continua perguntando.
— Para quem acredita em Ti, é fácil responder: a Verdade és Tu.
— Mas nenhum Pilatos te aceitará essa resposta…
— E no entanto não há outra.
— E como levarás todos os Pilatos do mundo a aceitarem-Me como A Verdade?
— Talvez através dos sonhos das suas esposas…
— Que sonho sonhou a esposa de Pilatos?
— Que o marido iria condenar um inocente.
— Dá então agora outro nome à Verdade.
— Inocência.
— Eu sou a Verdade por ser inocente?
— Sim. Por não haver a mínima mancha de maldade em Ti.
— Então também a Minha imaculada Mãe é a Verdade!?
— Jesus, segura bem a minha caneta: ela vai dar uma resposta herética.
— Abre, Meu menino, mais essa porta do Mistério.
— Sim. Também a Tua e nossa Mãe é a Verdade!
— Como? A Verdade não sou Eu só?
— És.
— O Pai não é a Verdade?
— É.
— O Espírito Santo não é a Verdade?
— É.
— Nenhum Pilatos te vai entender, filhinho!
— Pois não.
— Tenta dizer porquê.
— Porque todos os Pilatos procuram a Verdade na lógica da Razão.
— E a Verdade não está lá?
— Nunca.
— Nunca?
— Nunca, Mestre! És Tu que me estás levando, com irresistível força, a responder assim.
— Podes apresentar algum motivo porque assim é?
— Porque toda a lógica da Razão foi fabricada num mundo abstracto, feito de princípios e de leis e de deduções e de sistemas, e esse mundo é pura invenção do homem, guiado por Satanás; é, por isso, um mundo donde Deus está totalmente ausente.
— Mas qual é o motivo profundo porque não pode, no mundo da lógica humana, estar presente Deus?
— Porque se trata de um sistema abstracto.
— E por ser abstracto?
— Abstracto quer dizer arrancado para fora. Para fora do ser concreto das pessoas concretas e de todas as coisas em geral. Para fora da vida. Por isso a Razão é o Grande Ídolo, frio e mudo, colocado num alto pedestal, como obra e glória das mãos do homem e que a partir daí, desse céu de zinco, desvitalizado, comanda tiranicamente os homens através dos seus sacerdotes, sugando-lhes, também, progressivamente, toda a vida.
— Disseste que esse mundo da lógica racional foi construído fora do ser concreto das pessoas concretas. Não queres explicar um pouco melhor?
— O ser concreto das pessoas concretas é todo vivo. Todos os seres em geral, aliás, são feitos de movimento e de vida; a lógica da razão é um grotesco monstro, feito de elementos mortos, parados.
— Então agora outra vez: porque é que não se pode encontrar a Verdade no mundo da Razão?
— Porque a Verdade já existia antes desse mundo existir e era Vida, apenas. A Razão é um enorme quisto no corpo da Vida: nunca ninguém aí encontrará a Verdade!
— A Verdade está num vulcão?
— Está.
— Porquê?
— Porque é uma fúria inocente.
— E está num terramoto?
— Está.
— Porquê?
— Porque é um assombroso movimento inocente.
— Inocentes um vulcão e um terramoto, se podem matar tantas vidas?
— Vulcões e terramotos são só uma espectacular, inocente vingança, que só propriamente atinge o quisto da Cidade que a lógica da Razão construiu.
— Aquele raio que no Rossão rachou de alto a baixo aquele carvalho foi também expressão da Verdade?
— Foi.
— Porquê?
— Porque manifestou a força das energias cósmicas, na sua inocente espectacularidade.
— Mas rachou a árvore!…
— A Árvore não se importa; antes, está agora, feliz, exibindo inocentemente, à sua maneira, o Poder do Criador.
— Olha: não foi com a Razão que estiveste concluindo essas coisas todas?
— Não, Mestre: vistas com os olhos da razão, todas as conclusões que tirei estão cheias de “buracos”, de lacunas lógicas, de disparates…
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