8/9/97 — 4:24
— As minhas fontes estão secas, Mestre! O Teu Mistério está encerrado em mim e parece ter cristalizado: não jorra, não obedece ao pedido que me fazes naqueles Sinais… Porque é, Mestre? Não mo podes dizer nesse Teu esgotamento de vires há tantos anos caminhando nesta Desolação? Faz um pequenino esforço e diz-me uma só palavra, Mestre: eu sei que, ela só, pode arrombar todos os diques e comportas do Céu e encharcar toda esta extensão sedenta!… Fala comigo, Redentor!
— Eu amo-te muito.
Pus-me à escuta e foi só isto que ouvi. Parece que o meu Companheiro não consegue dizer mais nada. Mas eu insisto, porque sei que, falando com Ele, O animo… Não, Ele prefere que eu só O abrace, que O deixe ficar assim de cabeça encostada no meu peito, rosto voltado para o meu rosto, como se só este gesto assim Lhe fosse necessário e Lhe bastasse…
É tão querido este Deus, tão pequenino, tão nosso!… Tem os lábios a arder e apetece-me beijar-Lhos, humedecer-Lhos com os meus, mesmo que todo o mundo me declare homossexual, eu não me importo, eu perdi os medos todos perante este Homem… Nunca me apeteceu beijar os lábios de nenhum homem, mas se calhar devia ter-me apetecido, às tantas está tudo desarranjado dentro de nós, estão as nossas fontes todas estancadas, o Mistério da nossa alma está todo reprimido…
Este Homem assim frágil, assim ardendo de sede, está-me rasgando todos os reposteiros, arrombando todas as portas que nunca se abrem, arrasando com misteriosa força montanhas de pedregulhos e entulho por trás destas portas que sempre me disseram ser proibido abrir… Este Homem é tão inocente… Não há sombra de maldade n’Ele, nem pode haver maldade em nada que se Lhe faça… Ele é tão frágil, tão indefeso…tudo o que se Lhe faça só pode sair puro de dentro de nós… Não sei que sedução é a d’Ele, que só desperta amor em nós e por isso torna inocente tudo o que Lhe façamos!…
Este Homem ninguém percebe bem porque é que Ele chegou a este ponto, mas toda a gente percebe que Lhe devem ter feito muito mal, por causa do contraste: não se Lhe vê maldade em nada; só uma inocência que nos esmaga. Não, não é uma sensação má esta de nos sentirmos esmagados perante Ele. Ele não nos intimida de forma nenhuma; é só uma impotência que sentimos, por não nos acharmos capazes de Lhe responder assim com o mesmo amor, com a mesma espontaneidade inocente. Sentimos só que tudo nos é permitido perante Ele, porque tudo o que Lhe fizermos só pode provir do amor, mas sentimo-nos incapazes de fazer o que quer que seja, porque nem sabemos o que nos apetece, não estamos habituados a que nos aconteçam coisas espontâneas, é um mundo inteiramente novo aquele que se nos está abrindo.
Basta uma palavra deste Homem para nos curar de todos os medos!
Não estou conseguindo largar esta imagem do meu Jesus esgotado neste Deserto, feito fragilidade e inocência pura. A gente quer fazer-Lhe tudo o que nos apetece, mas nem sabe o que nos apetece, nem o que Lhe há-de fazer…
Soube há pouco tempo uma coisa: que a Igreja celebra hoje o nascimento de uma Menina que viria a ser a Mãe deste Homem. A Igreja diz que Ela também é assim inocente. E eu acredito!
São 6:21.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário