20/9/00 — 5:01
O sofrimento é sempre um mal, onde quer que se encontre. É sempre uma mancha e uma ferida no corpo cósmico. Por isso procurar o sofrimento pelo sofrimento é procurar o mal.
Mas Jesus diz muitas vezes que o Seu maior tesouro é a coroa de espinhos e são os cravos da Sua crucifixão. E é uma grande alegria para o Seu Coração quando Lhe aceitamos este tesouro, porque - diz Ele - não é possível entrar de outra maneira no Reino dos Céus. Por isso temos notícia de que muitos santos se deixaram verdadeiramente seduzir pelo sofrimento. Nele — dizia Francisco de Assis — está a Perfeita Alegria.
É esta, pois, a maior loucura do Evangelho de Jesus. É, como não podia deixar de ser, o grande Escândalo de todo o percurso do nosso Mestre. Parecia que a Cruz era o grande objectivo da Sua Vida. Mas isto ninguém o podia aceitar. Por isso quando Ele referiu este Seu Objectivo, ninguém acreditava que Ele estivesse a falar a sério. Pedro protesta em nome de todos e é repreendido. Mas o silêncio a que se reduziram não significou aceitação: pensaram, talvez, que as palavras do Mestre seriam simbólicas, apenas, talvez Ele quisesse só dizer que era preciso sofrer muito até chegar à vitória, como o general diz aos soldados antes da batalha, como qualquer um de nós sabe que nada na vida se consegue sem sacrifício. E estavam todos à espera do momento em que Jesus arrancasse definitivamente para a vitória, uma vitória suada certamente, porventura até com o sacrifício de uma vida ou outra, mas enfim, uma arrancada que fosse até ao esmagamento do Inimigo e à conquista do poder. Foi, portanto, perfeitamente coerente e lógica a atitude dos Apóstolos na noite em que Jesus Se deixou prender: aquilo era a mais vergonhosa derrota e por isso eles não podiam solidarizar-se de forma nenhuma com uma atitude daquelas, que quase lhes pareceu uma traição frente às suas expectativas.
Só depois entenderam. E tão a sério levaram o Caminho do Mestre, que o reproduziram fielmente em si próprios e levaram muitos a segui-lo com inteira fidelidade: os cristãos morriam aos milhares e não matavam ninguém. Tinham compreendido, finalmente, que a Vitória completa passa pela completa derrota. E que não há vitória verdadeira senão a do Amor louco, que dá a vida por aqueles que ama. E Jesus dissera que são todos. Até os próprios carrascos é preciso amar, porventura com maior amor ainda - uma outra loucura que até aí ninguém tinha entendido.
Jesus repetiu-o várias vezes já, nestas páginas: é este o único Caminho que libertará o mundo de toda a Dor, porque o Pai não viu outro! Recebamos, portanto, o sofrimento como um enorme Tesouro que o Céu nos dá. Assumi-lo como uma obra nossa é um pecado muito grande.
São 7:29!
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