13/9/97 — 3:30
– Fala comigo, Mestre! Não tenho mesmo mais ninguém com quem falar sobre este grande Sonho que para aqui nos trouxe e aqui nos uniu.
— Escreve outra vez qual é o nosso Sonho.
— É serem todas as pessoas assim amigas como nós os dois queremos ser.
— Deixas-Me emendar-te?
— Deixo.
— Como nós os dois somos.
— Não entendo, Mestre: Tu sabes como é ainda imperfeito o meu amor.
— E querias que ele fosse perfeito?
— Queria.
— Muito-muito?
— Tanto quanto posso querer, no estado em que estou.
— Sonda bem a tua alma — até onde pode ir a sonda do teu coração: no estado em que te encontras não podes querer mais do que aquilo que queres?
— Acho que não, Mestre!
— Porquê?
— Não sei… Porque nada neste mundo verdadeiramente me seduz, a não ser vê-lo como Tu o quiseste… Porque só queria desaparecer em ti, no Mistério sem fim da Vossa Trindade.
— Traduz “desaparecer”.
— Não ser nada que se Te oponha. Não ser nada que Tu não sejas.
— Queres que Nós sejamos tudo o que tu és?
— Quero. Acho que é mesmo isso que eu quero.
— Tudo o que tu és no Sonho do Pai, ou tudo o que tu és como estás agora?
— Eu estava a falar do meu ser como o Pai o sonhou. Supus que esta disformidade em que me encontro agora nunca poderia desaparecer em Ti.
— Ias a dizer “em Vós”!
— Ia.
— Porque não disseste?
— Porque naquele momento vi presente em Ti toda a Trindade.
— Porque não disseste “no Pai”, ou “no Espírito”?
— Não sei. Acho que é porque Tu incarnaste. Ficaste tão próximo de nós…
— Então agora diz-Me de novo: não podes desaparecer em Mim assim com toda a tua carne incapaz?
— Supus que não era possível: Tu és Deus e a imperfeição não pode fazer parte de Deus. Mas agora que perguntas…
— Que estás vendo? Responde à Minha pergunta.
— Tu foste imperfeito e incapaz como todos nós quando viveste em carne há dois mil anos. E essa disformidade em que viveste, igualzinha à nossa, não era só uma veste, uma aparência… Tu não eras um homem a fingir. Nem deixaste de ser Deus para seres verdadeiro homem! Tu eras Deus assim mesmo, com essa carne igualzinha à nossa em tudo — apenas sem culpa de ser assim, enquanto nós temos culpa de estarmos assim como estamos.
— Então agora, outra vez: tu todo, assim como te encontras, podes desaparecer em Mim?
— Posso!! E desapareceria em quem, desapareceria para onde, se não há ser além de Ti?
— Como, Salomão? Também o Demónio é ser do Meu Ser?
— É! Só posso responder que é! E foste Tu que para aqui me conduziste.
— A imperfeição e a maldade existem em Mim?
— Ah, Mestre, vais obrigar-me a dizer uma monstruosidade, a maior de todas as heresias…
— Diz a maior de todas as heresias, Meu pequenino, por favor!
— Existem! E é este o horror e o absurdo do Pecado: ele é, no Teu próprio Corpo, a Agressão e a Dor! Foi isso que Tu vieste mostrar-nos: naquela Cruz, no Gólgota, não estava um homem a fingir, sofrendo a fingir! E verdadeiramente esse Homem era Filho de Deus! — foi um pagão que o disse, um oficial do exército romano, que não sabia Quem Tu eras e que Te descobriu Deus justamente ali, onde ninguém o poderia supor! Eis a Grande Heresia, Mestre! Nunca mais Te aceitamos como Tu és, pois não? Nunca mais vemos o Teu Amor, meu Irmão, meu Deus, meu Tudo!
Jesus não responde. Parece que o tumulto da Sua emoção se quedou, tenso, num indefinível sorriso. Acho que é de Esperança aquele sorriso…
São 5:52!
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