16/9/97 87 — 3:48
Tudo me pede que me atire para o chão e me deixe ficar. Mas eu sei que isso só aconteceria se Jesus também assim fizesse: já me une a Ele uma afeição demasiado forte para que eu admita sequer deixá-Lo sozinho nestas areias com a solidão que já transporta, com as chagas e a sede que ninguém já suportaria mais.
Jesus está sempre onde nós estamos. Se eu tiver lepra, Ele tem lepra, e mais vasta e funda que a minha. Se eu for um criminoso, é só olhar para o lado que O verei perseguido e condenado a pena maior que a minha. E em tudo isto que Lhe acontece à nossa beira, em todos os caminhos por onde Se mete connosco, o mais impressionante é que O reconhecemos sempre inocente. Completamente inocente. Tão puro vemos este Homem assim ao nosso lado no estado em que nós estamos, que sem darmos conta nos nasce por Ele uma misteriosa ternura no mais fundo do nosso ser.
Ele está, portanto, aqui onde eu estou: se me apetece atirar-me para o chão, Ele já lá está, caído antes de mim, porque Lhe foram abaixo as forças antes de mim, porque a carga e as dores que transportava eram um milhão de vezes maiores que as minhas. Mas Ele está-Se levantando conforme pode, sempre aquele misterioso brilho no Olhar relampejando a espaços, voltado para o horizonte.
Por isso vou também e, conforme posso, em vez de me atirar para o chão, tento ampará-Lo. E é a fragilidade d’Ele que me dá forças a mim. Sinto então pesarem também sobre as minhas costas os nossos crimes todos de todos os tempos. E mais me alastra dentro o pasmo e a afeição por este Homem.
Ora neste preciso momento o que verifico dentro de mim é um vazio de toda a afeição por quem quer que seja; o que eu quero é, talvez, meter-me na cama, mas nem disso tenho a certeza. No entanto não é falso o que escrevi. É que a minha prostração e a minha dor consistem justamente em não sentir nada dentro de mim — nem afeição!
Mas existe dor. Apenas dor. E é esta dor que me está agora mesmo arrancando lágrimas dos olhos. Que me dói, então? Dói-me o estar cansado, dói-me a minha impotência, dói-me a minha frieza. Dói-me o estar nesta hora da noite aqui a escrever ajoelhado, sem que ninguém me diga que vale a pena. Doem-me os nossos pecados todos, sem que ninguém me garanta que esta dor vai valer a pena.
Só tenho o meu Jesus aqui também assim como eu. Até a afeição vê-se que Ele não a sente neste momento por ninguém, porque Lhe está doendo muito e só precisa que Lhe aliviem esta dor. E eu faço tudo o que posso: apenas estar aqui amparando-O, sem ter consciência de afeição nenhuma, só a ver se aguento porque Ele quer chegar, Ele tem um Sonho maluco dentro d’Ele e diz que é Lá, é Lá que é preciso chegar e eu sei que Ele não vai desistir e então vou aqui porque Ele conseguiu contagiar-me com este Sonho, mas não há nada mais dentro de mim senão a dor e é só de dor que eu choro, mais nada.
São 5:53!
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