— 11:00
Não, não encontrei medicamento nenhum. O incómodo na cabeça aumentou, não consegui mais dormir tranquilo. É agora penosa a escrita… E penso: como é frágil o nosso corpo, como está assim dependente de qualquer contingência!
E como ansiamos por segurança! Nota-se nestas alturas, nitidamente, o que o Pecado fez de nós: desprendendo-nos do Centro, é como se ficássemos vogando no espaço, ao sabor de todas as forças que no nosso desnorteado caminho vierem ter connosco. Foi aqui que nasceu a Civilização. Toda ela é uma angustiada tentativa de readquirir a segurança que perdemos. Por isso levantámos medonhas estruturas de poder que nos dessem a ilusão da segurança. Mas elas criam maior angústia ainda, porque sempre assistimos à sua sucessiva derrocada e esta consciência de que tudo é efémero mete-nos medo. Estamos sempre à espera de um novo rombo na muralha da fortaleza para o irmos tapar. Como esta noite me veio inesperadamente a febre, assim todos os rombos na Cidade aparecem sem que o tivéssemos previsto e sempre nos falta o medicamento para curar o descalabro. E, quando o encontramos, ele sempre deixa um remendo no sítio da ferida, fragilizando e desfeando toda a construção. De vez em quando deitamos tudo abaixo e fazemos tudo novo, à procura de uma nova segurança, que em breve ruirá também.
Creio que aqui se situa o meu sonho desta noite: Satanás, o irredutível Falso Profeta tentou, mais uma vez, arrastar-me para a falsa segurança da sua Cidade, pondo em causa o caminho para a verdadeira Segurança que esta Profecia está percorrendo. E tão mergulhados no mundo da nossa insegurança vivemos, que é fácil, com qualquer ridículo argumento, fazer-nos o Demónio vacilar na nossa Fé.
O regresso ao Centro implica, de facto, um abandono total das soluções da Civilização. Mas Deus ama-nos assim como nos encontra: se para a febre só conhecemos o remédio da Civilização, Ele deixa-nos usar este remédio, enquanto nos vai restaurando o coração. Assim, quando nos acabar o remédio que temos, já não quereremos fabricar outro, porque estão já mudados os desejos e as finalidades do nosso coração. Será então a Fé toda a nossa segurança e a reconstrutora da Cidade viva, sem remendos.
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