O
Caminho de Jesus é de uma radicalidade que ultrapassa as fronteiras do impossível
e do absurdo. Isto, por exemplo: Eu vos envio como cordeiros para o meio de
lobos. Mas a Igreja primitiva entendeu isto e cumpriu-o à letra. O resultado
foi uma expansão vertiginosa no meio de um mar de sangue. Se nos tivéssemos
mantido fiéis a esta radicalidade, nunca a Igreja-instituição teria sequer nascido
e com ela a marginalização e silenciamento dos Profetas…
28/4/96 – 4:39
A primeira Carta de Pedro trouxe-me
recentemente uma Mensagem (3, 15-19) de que só ainda contemplei uma parte: a
descida de Jesus ao “cárcere”, onde foi “pregar” (v 9). E o que então me foi
dado ver – e o que verei ainda! – é de tal forma novo, que provocará a rejeição
da Mensagem e do mensageiro. E foi por esse motivo que juntamente com este
versículo, me deu o Senhor também os anteriores a ler. Aí fala o Apóstolo
daqueles que “dizem mal”, daqueles que “caluniam”, para vincar qual deverá ser,
perante eles, a conduta do discípulo de Jesus. E sempre a Escritura dirá o
mesmo: o discípulo de Jesus deverá reproduzir em si a atitude do seu Mestre
perante os que O rejeitaram, caluniaram, perseguiram, mataram: o absoluto
“respeito” pelo inimigo. Tão inaudito foi o comportamento de Jesus em situações
destas, de tal maneira se devia lembrar o Apóstolo daquilo que acontecera no
Getsémani, de como Jesus o repreendera por ter tentado defendê-Lo à espada, tão
fundo deve ter calado este comportamento de Jesus no coração do príncipe dos
Apóstolos, que ele vai agora mais longe e fala em “responder com doçura” a todo
aquele que nos perguntar a razão da nossa “esperança”. Ele sabe que é esta
atitude que deixa “confundidos” os que nos perseguem. Ele viu o seu Mestre ir
como um cordeirinho para o matadoiro, numa atitude que lhe pareceu na altura de
incompreensível cedência e fraqueza e talvez também por isso O tenha negado,
dessolidarizando-se daquele absurdo do fracasso voluntariamente procurado. Ah
Pedro, como são estranhos os Caminhos do nosso Mestre, não são?
Mas Jesus não muda: continua hoje ensinando
os mesmos Caminhos através dos Seus pequeninos e pobres Profetas, conferindo,
justamente nessa teimosa recusa a entrar no jogo do Maligno, autenticidade à
Sua Voz. Ouça-se o que Ele diz através da Vassula, aonde me guiou logo após
aquele texto de Pedro (23/12/93): ”Os ungidos do Meu Espírito Santo podem
parecer-vos frágeis, mas estão bem enraizados em Mim (…). Continuarão a revelar
o Meu Poder, ainda quando os trateis com rudeza. Suportarão humildemente
insultos e calúnias, para vos salvar. Não abrirão a boca para vos contradizer,
à vista de todas as nações (…). E, embora venham a ser rejeitados e desprezados
por muitos, eles suportarão com dignidade os seus sofrimentos”.
Chama-se a isto amar os inimigos. E é este o
inaudito Mandamento do Senhor: amar como Ele amou. Só assim se rompe o infernal
círculo da violência e do ódio. Responder a um mal com outro mal é duplicar o
mal, é, portanto, alargar o reino de Satanás. Mas o príncipe deste mundo é
terrivelmente democrático: ele governa sempre com a maioria. Acena por isso
sempre àqueles que se querem safar desta roda infernal com o fantasma da
solidão. Toda a gente assim faz – sugere ele. – Se vou fazer diferente, quem me
seguirá? Serei considerado palerma. Serei esmagado.
E é verdade: o discípulo de Jesus será
esmagado. Nunca prometeu o Mestre outra coisa aos que O seguissem. É para o
meio dos lobos que Ele nos envia e não como caçadores mas como cordeiros.
“Melhor é padecer – diz Pedro – praticando o bem, se é essa a Vontade de Deus,
do que fazendo o mal”. A nossa Esperança está toda para lá do sofrimento e da
morte. Como ensinou Jesus, dando o exemplo: “Também Cristo morreu uma vez pelos
nossos pecados – o Justo pelos injustos”. Não há outro caminho: só morrendo se
ressuscita.
Sem comentários:
Enviar um comentário