Ao
dizer que Jesus, logo no início, me conduziu ao Deserto, onde me mantém até
agora, seria mais exacto se tivesse dito apenas que Ele me abriu os olhos…
23/4/96 – 0:59
– Então vem Comigo, Salomão: Eu dialogo com
o Demónio ou não?
– Jesus, porque me manténs nesta conversa tão
árida?
– Sabes porque te mantenho há tanto tempo na
aridez deste Deserto?
– Creio que sei: porque nele vivem os meus
irmãos todos, porque nele vivia já eu próprio também. Ah! O Deserto é onde
vivemos todos; Tu mais não fizeste do que um dia, neste Deserto, mostrar-me a
Tua Face, por um momento.
– Foi aí que sentiste que estavas no
Deserto?
– Foi. Não foste Tu, afinal, que me
conduziste ao Deserto; eu já cá estava. O que Tu fizeste foi vir ter comigo.
Não me impuseste esta aridez; vieste dar-me a consciência dela e convidar-me a
percorrer todo o caminho para sair daqui!
– Então agora: Eu dialogo com o Demónio ou
não?
– Tu fazes mais do que isso, Redentor: Tu
caminhas no território da sua devastação, Tu vens assumir-lhe a Cidade, este
Deserto que o ajudámos a construir.
– O Deserto é construção?
– Ah! O Deserto é o lado negativo do Ser; o
Deserto é, em verdade, destruição.
– Diz, diz dessa outra maneira.
– O Deserto é a construção da Ausência.
– Escreve, escreve essa pergunta que tens no
espírito.
– Para quem escrevo, Jesus?
– Para o Deserto. Só para o Deserto Eu
escrevo. Quando sairmos do Deserto, deixarás de escrever.
– Este tipo de conversa, assim árida, é uma
forma de dialogares com o Demónio?
– É assumir a aridez toda do Deserto.
– A aridez da Razão?
– Sim. Estamos caminhando em direcção à raiz
do Mal, Salomão.
– Para a destruir?
– Sim. Para lhe queimar os próprios
fundamentos.
– Eva pecou porque raciocinou?
– Que sentiste agora?
– Medo. Medo de me estar a meter onde não
sou chamado. Medo de estar a fazer exactamente aquilo que originou o Pecado:
compreendê-lo raciocinando.
– Não tenhas medo. Vim aqui contigo
justamente para que palpasses com o coração a raiz do Mal: a Dúvida. Foi
justamente a Dúvida que a Serpente conseguiu introduzir no coração de Eva.
– Então explica, Jesus, o que me disse a Tua
Mãe: “A Fé sem dúvidas é morta”.
– Não queres perguntar-Lho a Ela?
Foi muito nítida e doce a sensação da
Presença da Mãe junto de mim, aliás a expressão é imprópria: deveria talvez
dizer antes dentro de mim. Foi como
se, ao nomeá-La, Jesus A tivesse feito resplandecer em mim. Devo acrescentar
que esta, como todas as outras sensações que refiro, são sensações no Deserto:
nítidas, mas leves, muito leves. Creio que só a Fé as pode captar.
– Mãezinha!”
– Olá!
– Vê onde o Teu Filho me trouxe!
– Não gostaste?
– Fez-me doer a cabeça.
– Não gostaste?
– Tu sabes que o Teu Jesus é todo o meu
Encanto. Eu sei que Ele faz tudo bem.
– Então? Acho que tens aí um problemazito,
não?
– Mãezinha, porque estás hoje tão bem
disposta?
– Acabámos de chegar às Origens, não?
– Parece que sim.
– E não é de fazer uma festa?
– Pois…não sei…. É?
– É, sim, Meu tolinho. Não vês como o
Demónio se afasta, desmascarado?
– Explica-me então aquela célebre frase Tua
que me encantou.
– Explica tu, vá, Meu sábio; a Mim custa-Me
muito explicar o que vejo. Gostar de explicar é contigo.
Jesus e Sua Mãe riem-se, aqui, no Deserto!
Estão felizes. E eu também, feliz, até acho que nada há que explicar: está
claro que, sem dúvidas, estaríamos já no Céu!
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