É
muito frequente na Bíblia, particularmente no Novo Testamento, a expressão
“este mundo”. Trata-se claramente não do mundo que Deus criou, mas do mundo
edificado por nós em oposição à Criação. Chamamos-lhe às vezes “o Sistema”.
Nestes Diálogos é chamado prevalentemente “a Cidade” ou “a Civilização”. Em que
relação quer Jesus que os Seus discípulos vivam com “este mundo”?
20/4/96 – 3:50
O meu espírito vagueia por sítios vários.
Parece não haver evolução nenhuma na sua caminhada para Deus. Mas estou
considerando agora que talvez tenha que ser assim: é a forma que esta carne
placentária tem de se agarrar ao útero, uma espécie de tentáculos com os quais
o feto se agarra à terra, de que também tem que viver enquanto não nasce. No
entanto – diz-me agora o Mestre com aquele Seu ar sereno – também estas
ligações à terra terão que ser comandadas a partir de dentro: é o próprio feto
em formação que deve manter vivo todo este complexo processo de contacto com a
terra, pois por ele o feto selecciona e canaliza até si os alimentos que à
terra vai buscar. Não é, pois, possível nem conveniente cortar todas as
ligações à terra; parece até pelo contrário: elas devem ser estimuladas à
medida que o feto cresce, porque de mais alimento precisa. Apenas uma coisa é
necessária: que seja o novo ser em construção a comandar tudo a partir de
dentro. Até a ligação à terra deve ser feita sob as ordens de um só centro!
Por isso o discípulo de Jesus não foge do
mundo; pelo contrário, cresce dentro dele e de tal maneira se agarra, que é o
responsável por todos os incómodos desta gravidez. Creio mesmo que não há
ninguém que mais se agarre ao mundo que o cristão. De tal maneira que o mundo
se sente progressivamente incomodado com esta presença avançando sempre. Até
que o rejeita e dele assim se separa. É isto o parto. O cristão tem que ser
rejeitado pelo mundo como o bebé é rejeitado pelo corpo da mãe no tempo
oportuno. Só o discípulo de Jesus nasce verdadeiramente: perfeito, sadio, com
garra. A maior parte dos homens nasce enfezada, raquítica. Muitos não chegam a
nascer.
Foi justamente em direcção ao mundo naquilo
que ele tem de mais retintamente seu que avançou Jesus, através de todos os
tentáculos da Sua carne placentária. Mas de tal maneira era Ele de dentro que
tudo comandava, que a carne Lhe ficou inteiramente reduzida à sua função
protectora e canalizadora de alimento: a Carne de Jesus esteve radicalmente e
sempre ao serviço do feto que dentro avançava, pujante de vida. Nasceu no
Calvário. Mas de tal maneira a Carne O serviu, que toda foi absorvida e
transformada no Corpo glorioso que ao terceiro dia ressuscitou.
Eu quero seguir os passos de Jesus. Eu quero
ser como Ele. Eu quero reproduzir em mim a Imagem perfeita do meu Mestre e
Senhor. Sei que pode estar aqui assolapada a suprema vaidade, mas sei também
que é este o único caminho da minha salvação e da morte de toda a vaidade. O
Caminho é Jesus, apenas Jesus. Só seguindo-O par e passo até ao Calvário,
poderei nascer com Ele. Por isso quero que as minhas divagações vão só por
territórios que Ele escolha, que o terreno dos meus interesses seja sempre Ele
que o seleccione. Enfim, eu quero amar o meu Mestre até à paixão e quero amar o
mundo como Ele amou.
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