Mas houve neste caso um elemento novo que me fez manter-me agarrado a este registo: o Mestre não me indicou o Seu Desejo, mas perguntou-me pelo meu! Isto é, Ele disse-me que o Seu Desejo era, também desta vez, executar o meu. Disse-mo de forma muito clara, mas que eu não saberei exprimir: foi dentro de mim que mo disse, através de uma intensa Luz, quando me preparava para abrir o profeta Vassula, pedindo-Lhe que através dela mo dissesse. Foi neste momento que Ele me manteve o livro fechado e daquela forma especial me fez conhecer o Seu Desejo.
Mas continuava ainda o meu problema por resolver, porque eu hesitava e não sabia dizer-Lhe qual era o meu desejo: se por um lado havia em mim uma ânsia latente de partilhar o Pão eucarístico…
– Partilhar com quem? – interrompe Jesus, inesperadamente, neste preciso momento.
E uma súbita consciência de uma realidade que já conhecia, me desceu de repente ao coração: o Pão e o Vinho da Ceia de Jesus perdem todo o seu sentido se não forem partilhados! E o Mestre, vencendo a minha hesitação, quis que ficassem sublinhadas aquelas exactas palavras que sublinhei. De facto, aquele Pão é Corpo Seu entregue, aquele Vinho é Sangue Seu derramado por todos nós que os recebemos. Prendeu-me, no entanto, a súbita sensação de que esta partilha tinha que ser necessariamente não só com Jesus que assim nos daria a Sua Carne e o Seu Sangue para que se tornassem nossos, mas do mesmo modo com todos aqueles que estão ali ao meu lado recebendo o mesmo Pão e o mesmo Vinho! Como se também o meu corpo e o meu sangue devessem ser entregues por cada um dos meus irmãos que ali comigo recebem aquele Pão e aquele Vinho!
E neste momento me está dizendo Jesus, sob esta forma especial de contactar comigo, esta coisa estranha: as Suas palavras “Fazei isto em memória de Mim” devem ser entendidas no seu sentido profundo… Assim: a palavra “memória”, na boca de Jesus, não tem o significado vulgar de simples recordação desprovida de qualquer realidade concreta e presente; fazer uma coisa “em memória” de Jesus é ser agora e aqui o que Ele foi quando viveu em carne entre nós! Entendo agora, de surpresa, o que Jesus quer significar quando à Vassula dita muitas vezes esta misteriosa declaração: Eu não venho trazer nada de novo, agora; Eu venho apenas ser a Memória da Minha Palavra! Isto é, Ele vem apenas convidar-nos a ser, n’Ele, a Palavra que Ele é desde toda a eternidade, Palavra incarnada e viva em todos os momentos da História dos homens. Também o meu corpo e o meu sangue terão que ser hoje em verdade entregues para a vida do mundo. Por isso nenhum sentido tem a Ceia do Senhor, se eu nada tiver a ver com aqueles que estão ali ao meu lado recebendo comigo o Corpo e o Sangue do Senhor. A Palavra não estará ali incarnada, se cada um não partilhar com o outro o seu corpo e o seu sangue, isto é, se o amor que ali nos une não for o de Jesus, aquele justamente que constitui o Mandamento Novo – o Amor até ao corpo entregue e ao sangue derramado, o Amor Maior, Aquele que dá a vida pelo amigo.
Compreendo assim como deve ofender o nosso Redentor o transformar-se a Sua Ceia num rito vazio! E compreendo também a Sua admirável Pedagogia que assim me satisfez os dois desejos que tinha: estar na Missa ficando aqui escrevendo!
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