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Confeitaria “Márcio”, 17/9/94 DL
– Se soubesses! Ah, Salomão, quão pouco sabes de Mim!
– Como é possível, Jesus, se há tanto tempo Te procuro? Desde que me conheço que me sinto atraído, empolgado com o meu Herói. Tu foste sempre o meu Herói.
– Mas Eu não sou um Herói que se admira.
– Pois... Mas no fundo eu não Te admirava apenas. Eu gostava de Ti. Por vezes muito-muito!
(Silêncio. No café há muito barulho. A presença de Jesus é débil, fluida...) Responde às minhas perguntas, Jesus!
– Sempre gostaste de Mim, desde pequenino. Era já amor quando sozinho guardavas as vacas no Brejo e me – escreve maiúscula! – ME rezavas aqueles Terços todos! Que querido!
– Era bom estar sempre assim, nestas declarações de Amor! Mas eu gosto mais de acção. Não sei que me deu.
– Se é bom, fui Eu que to dei.
– Que bom! Deixa-me dizer: de há uns tempos que me não dou parado. Acção. Quero agir! Uma vontade enorme de fazer, fazer coisas! Aborrecem-me os discursos, eu que me comprazia em longas reflexões! Não gosto de teorias! “Faz !” – digo eu a toda a gente. E só depois teorizo, isto é, olho a seara semeada e rejubilo com a descoberta!
(Ao aproximar-me do fim desta minha fala, uma Voz dentro de mim dizia insistentemente:)
– Para quem estás a falar? Para Mim? Eu já conheço isso tudo!
(Embaraço)
– É verdade, Jesus! Estou contando isto a quem? Quem tem interesse no que eu sou ou não sou, no que se passa dentro de mim?
– Eu, claro. Tu sabes.
– Sei. Sei sim, Jesus. E sinto uma grande afeição por ti, por esse facto! Admirável Deus! Interessas-Te por mim como se ninguém mais existisse no mundo! Como se cada homem, cada mulher fosse único sobre a Terra! Não sei como exprimir este estranho sentimento. Assombro. Esmagamento. Pasmo. Felicidade. Nada disto exprime nada. Exprime Tu!
– Amor.
– Um amor ainda frágil, imperfeito, misturado...
– Amor, apesar de tudo. Basta-Me.
– Eu quero que purifiques o meu Amor, que o laves, que me cures por completo.
– Assim será. Ninguém se torna adulto de repente!
– Olha, Jesus: aquilo de estar a falar de mim... a quem me dirigia eu? Era vaidade? Era outra vez esta mania de me revelar para que as pessoas me admirassem?
– Não te massacres com isso. Vigia, apenas. Atentamente.
– Fala comigo mais alto, Jesus! Tenho inveja da Vassula! A ela Tu moves a mão, a ela Tu ditas exactamente as Tuas palavras! A ela Tu mostras-Te! Ela vê-Te!
– Tu não és a Vassula. O teu nome é Salomão!
– Interessante: a minha inveja da Vassula é uma inveja boa: gosto muito dela sem ainda a ter visto!
– Vais vê-la amanhã.
– É verdade! Desde que soube da vinda dela vivo na ânsia de a ver, contando os dias.
– Vá, diz o teu problema...
– Ando com este problema, esta dúvida há dias: mostro-lhe estes escritos?
– Que te disse Eu?
– Que mostrasse.
– Como te disse Eu isso?
– Quando senti que movias a minha mão. Havia uma estranha semelhança com a Vassula.
– Mas houve outro sinal. Eu disse-te de outra maneira.
– Pois. Foi uma noite destas... Repetias muitas vezes várias frases. Uma delas, à minha pergunta: “Tiro fotocópias?”, Tu respondeste: “Tira fotocópias! Tira fotocópias! Tira fotocópias!...” Talvez dezenas de vezes! E posteriormente, de vez em quando, outra vez: “Tira fotocópias! Tira fotocópias!...”
– E tiraste?
– Tu sabes que tirei. Não descansei enquanto não tirei. Porque me fazes escrever aquilo que Tu sabes?
– Para mim – emenda! – Para MIM tu és um livro aberto. Para MIM não precisas de escrever nada!
– Então para quem escrevo?
– Tu sabes. Quero-te para dar!
– Gostei desta, Jesus! Dá-me! Dá-me! Mas dá-me puro!
– Dou-te como eu quiser, quando Eu quiser! Eu não dou nada de impuro!
– Boa, Jesus!
(Jesus sorriu-se)
– Não será impressão tua? Viste-Me sorrir?
– Estás a gozar-me, Jesus? E não vi?
– Fica tranquilo. Eu não te deixo escrever asneiras.
– Mas olha: eu ainda tenho dúvidas.
– De quê?
– Ando com as fotocópias muito guardadinhas na pasta, mas... e se nem sequer tenho oportunidade de falar com a Vassula? Fala-se assim com a Vassula como se fala com um pedinte qualquer? Ela é um Profeta! Um Profeta, caraças!
– Diz o que tens no espírito agora.
– Devo dizer Profetisa?
– Vocês é que se prendem com minhoquices dessas.
– Minhoquices? Nós temos masculino e feminino. Tu criaste-nos Homem e Mulher! A culpa das nossas minhoquices é tua, Tua, Tua! E não te rias! (Jesus sorria. Ia a escrever “Pareceu-me que Jesus sorria”, mas senti que deveria tirar o “pareceu-me”. Já não é a primeira vez!) E não te rias! (Outra vez com minúscula!) E não TE rias! Por causa desta coisa do sexo, o problema que Tu nos criaste!
– O sexo não é “esta coisa” e não fui Eu que criei problemas nenhuns!
– Como escrevo então?
– Diz como quiseres! Desengonha!
– Digo Profeta! É mais másculo! É mais forte! Tu és muito forte ao falares na Vassula!
– E muito terno, Salomão! Muito terno!
– Pois és. E ela também é muito frágil, muito querida. Mas digo Profeta, prontos!
– Isso. Nunca percas tempo com minhoquices. Eu não sou mesquinho.
– Mas entrego ou não?
– Se continuas assim, Eu chateio-Me!
– Vou-Te chatear mais: se escrever o Teu Pronome com minúscula, nunca mais emendo!
– Que chato tu estás hoje!
– A culpa é Tua! Porque não me dás já a Simplicidade?
– Assim de bandeja!?
– Pois. Era tão bom! Tudo assim como que por magia!
– Vai ser assim. Enquanto viveres na Terra, porém, comerás o pão com o suor do teu rosto!
– Outra coisa, Jesus: porque não me moves a mão, agora?
– Não movo?
– Sou eu que a movo.
– Ai és?
– Quando és Tu, a caneta revira-se toda.
– E querias escrever sempre com a caneta revirando-se?
– Eu não me importava.
– Vá, diz isso.
– Era mais variado.
– Com o tempo passava a ser monótono. O reviramento da caneta interessa pouco.
– Mas sentia-te!
– Na caneta? Não é melhor sentires-Me no coração?
– Oh, sim! Queria que o meu coração ficasse todo incendiado!
– Diz isso.
– Estou com medo de que estes diálogos se tornem monótonos e pouco interessantes.
– Estes diálogos não te interessam a ti. São entre Mim e as Minhas criaturas humanas. Deixa lá os teus gostos.
– Parece-me que Tu estás aborrecido.
– Parece-te! Quando saímos do “parece-me”?
– Agora já, Senhor. Por mim...
– Diz isso.
– Se acaba aqui a escrita, fica uma página de papel desperdiçada. Eu gosto de aproveitar bem o papel. Nos outros textos até nas margens escrevia!
– Dás-Me tanto trabalho, Salomão!
– Queria só mais uma coisa... enquanto temos espaço: queria aprender a agradecer-Te. Só sei pedir, pedir, pedir.
– Dás-me tanto trabalho, Salomão!
– Ensina-me a agradecer! Não sais daqui sem me ensinares!
– Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor, Honra e Glória a Ti só devemos dar, porque só Tu, Altíssimo, as mereces! Indignos todos nós de Te invocar.
– Isto é de S. Francisco!
– Isto é Meu!
– Também é tudo Teu! Nós não prestamos para nada?
– Para nada, Salomão, para nada!
– Se não me ensinas a entender isto, eu perco a fé, a pouca fé que tenho! Como queres Tu que os homens entendam uma coisa destas? Nós não prestamos para nada? Nós queremos ser, ser, SER! Ser nada é horrível!
– Eu sou a Verdade. E esta é a verdade: se não vos fizerdes nada, nunca sereis Tudo!
– Preenchi a página toda! Bem feito!
(São 11 horas em ponto. É sábado. É preciso ir arrumar a casa).
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