Ver nota no início da mensagem anterior (521)
– Que Te soubesse escutar.
– E que mais?
– Que me ensinasses a ser pequenino.
– E a outra coisa que pediste?
– Que Te amasse muito. Muito-muito-muito!
– Pediste bem. E agora mesmo, que leste tu na Escritura?
– Ecli...
– Não sabes de cor!
– Não.
– Fraca memória tens tu!
– Toma a minha memória, Senhor, e fortalece-a.
– Faz um esforço.
– Ecli, 6, 18-23.
– Verifica.
– Fantástico! Está certo!
– A respeito do “Fantástico!” que te ensinou o Meu Espírito?
– Sempre que eu dizia “Fantástico”; Ele emendava: “Real, Salomão! Real! Não Fantástico!”. Jesus, porque é que agora já escreves direito?
– Porque já sabes que sou eu...
– Emenda.
– Emenda o travessão (hesitei, sem saber como emendar). Vá. Escreve a frase toda novamente: “Porque já sabes que sou EU que escrevo”![1]
– Sei, Senhor. Sinto-o na mão.
– Diz como o sentes.
– A minha mão inclina-se para a esquerda, na direcção do papel e a caneta avança como disparada para a frente, nem para cima nem para baixo. Horizontal! Escreves mais feio do que eu!
– Ai sim?
– Desculpa, mas é verdade.
– E agora?
– Agora quê?
– Fala de como a mão escreve agora!
– Virou-se ao contrário, isto é, inclinou-se para a direita, sobre o papel, e a esferográfica toda inclinadinha também para a direita como puxando, arrastando a escrita!
– Faz uma pausa. Onde íamos?
– No Ecli 6, 18-23.
– Que leste tu aí?
– Sobre a Sabedoria.
– Queres a Sabedoria?
– Oh sim! Sim! Sim!
– Como escreve agora a caneta?
– Direita, “normal”, mas veloz!
– Que aconteceu?
– Depois da “minha” última fala não me deixaste escrever mais.
– Fiz o travessão e a caneta fugia-me do papel, para a esquerda. Tentei pousá-la sobre a folha, mas ela não pousava.
– E depois?
– A Tua mão levantou-se.
– A Minha mão?
– Sim, sim, porque se elevou até ao meu rosto, acariciando-me a barba... Entretanto a caneta caiu. Depois Tu acariciaste-me o pescoço com as costas da Mão, subiste depois para a cabeça, colocaste a Mão sobre ela e aí eu recordei-me do texto do Ecli sobre a Sabedoria!... Mas Tu não paraste! Desceste a Mão pelo meu peito, como que acariciando-me. Fizeste depois funcionar a minha mão esquerda. Senti-a como Tua e com as duas mãos acariciaste-me o corpo todo até aos pés! Eu estou num café! À minha frente, mesmo à minha frente está a M., a minha mulher, noutra mesa, a falar com umas senhoras vizinhas...
– Isso! Pára! Como escrevi Eu?
– Mudando a direcção da caneta, a espaços, ora para a direita, ora para a esquerda, ora para baixo... e agora, neste momento, está completamente virada para cima, uma posição completamente incómoda para escrever!
– Incómoda para ti!
– Claro, Mestre. Mas o mais engraçado é que, de repente, a frase “Incómoda para ti!” a escreveste em posição perfeitamente normal, como neste momento, carregando muito na caneta. Como neste momento!1 Dirão que é sugestão!
– Deixa-os dizer!
– Ama-los muito, aos que dizem isso?
– Amo, sim! Amo todos os homens de ciência!
– Mas a ciência... a ciência mata o Teu Espírito... (tive um toque de vaidade, imaginando cientistas examinando este escrito).
– Não...
– Tira o travessão! Sou eu que continuo a falar! Que professor és tu?
– Estou embaraçado!
– Mas haverá algum professor que não seja um embaraçado?
– Explica, Mestre!
– Eu sou o Mestre! O único! Não chames Mestre a NINGUÉM! Vá lá, muda de página!
– Esta foi tão violenta, que eu fiquei especado!
– Tendes mestres a mais! Deixai as pessoas SER!
– Matamos as pessoas?...
– Matais. Matais tudo com a vossa sabedoriazita!
– Gostei desta, Mestre! Jesus, Meu MESTRE! Meu querido Mestre! Gosto tanto de ti!, perdão, TI!, tanto, tanto!
– Queres gostar mais?
– Mais, muito mais!
– Vai com calma!
– Não queres escrever mais, Jesus?
– Deixa-me descansar! (Jesus esteve um momento com a caneta parada, apontando para fora do papel).
– Também te cansas, Jesus?
– Canso-me. Fico muito cansado. Vocês são uns trambolhos! É preciso fazer-vos a papinha toda!
– Oh, Jesus, e como faríamos sem Ti, para sair deste atoleiro em que nos metemos? Tem paciência connosco! (Divaguei) Vês? Fujo-te com uma facilidade espantosa! E novamente estava eu, vaidoso, imaginando-me a mostrar isto a gente, muita gente.
– E as pessoas olhando para ti!
– Pois! O pessoal todo olhando-me, espantado! Comigo, Jesus! Comigo! Sou um ladrão da Tua Glória.
– Ah, vaidoso! Conseguiste escrever a tua frase! Refinada vaidade tu tens! “Sou um ladrão da Tua Glória!” A tua grande frase! Por quanto tempo te estiveste comprazendo na tua grande frase?
– Tantas vezes, Senhor! Nesta e nas outras todas! Tantas vezes reli os textos que escrevi antes, imaginando-lhes o efeito nos corações dos outros, admirando a sua profundidade teológica! Teológica, imagina! Teo-logia! Palavra de Deus!
– Se continuas por este caminho, ainda me vais dar uma lição de grego!
– Só estudei um ano de grego.
– Mesmo assim presumes!
– Jesus, estou tão feliz! Apetece-me chorar de felicidade. No café!
– Porque não choras?
– Não sei se é por vergonha. Mas penso que não é só. É também porque não consigo chorar, porque para tão grande alegria pequeno seria o choro!
– Grande frase!
– Lá estás tu, outra vez.
– Escreveste tu com letra minúscula!
– Não deixas passar nada.
– Eu deixo passar tudo. Não me lembro de nada que os homens fizeram de mal. Só me lembro do bem que fizeram. Só os amo muito, muito, muito! Só tenho perdão no coração!
– Coração! Considerava a expressão “Sagrado Coração de Jesus” piegas.
– E agora?
– Ainda a não entendo.
– E?...
– E sei já que é muito importante. É vital. Quem mo disse foste tu através da Vassula!
– Ah, a minha Vassula! Gostas dela?
– Posso gostar dela?
– Da minha Vassula? Porque não? É tão querida, não é?
– É. Querida, querida, querida!
– Ias escrever asneira!
– Ia? Eu ia escrever que ela é a Sarça Ardente onde Yahveh fala.
– Porque escreveste, até emendando, Yahveh assim?
– Não sei. Gosto muito mais ... Não sei... É mais hebraico, a língua do Teu povo.
– Meu Povo! (Um milhão de coisas deve ter passado no espírito de Jesus ao escrever Meu Povo!)
– Mas vamos à asneira. Eu ia escrever asneira porquê?
– A Sarça Ardente é única. O que lá se passou foi, é único. Não se repetirá mais! Nunca mais! Os Meus mandamentos não passarão! Nunca! Nunca! Nunca! Nunca! Foi lá que eles, escreve maiúscula, ELES foram dados aos homens. O Amor que aquele momento representou!
(Emoção tremenda de Jesus, que se nota na caligrafia).
– Mas posso chamar à tua Vassula Profeta?
– Sim, profeta. Um grande profeta! (Jesus parou. Não sei o que significa esta paragem. Palpita-me – não sei que palavra hei-de aplicar! – que Ele está chorando neste momento, chorando muito, por os homens não aceitarem os seus profetas, hoje, como sempre! Enterneço-me também!).
– Jesus, não chores! ( Tive que limpar o nariz, a disfarçar. Eu chorava também. Se estivesse sozinho, eu gritava, eu chorava convulsivamente!). Não chores, Jesus! É horrível como nós nos bloqueámos frente ao nosso Deus! Não chores! Não chores! Se eu pudesse acabava-te com todas as lágrimas! Vá, Jesus, vá!
– Meu querido Salomão!
– Até tremo, Jesus! Querido, eu?
– Querido, querido, querido!
– Não é vaidade minha?
– Não. Fui eu que escrevi; querido, querido, querido! Chega?
– Queria tanto amar-Te como Tu me amas!
– Limpa o nariz!
– Já limpei. És tão humano, Jesus!
– Sou. Humano. Incarnei. Gosto muito da Minha Carne. Vós sois a Minha Carne. E o Meu Sangue! E dentro de vós anda o Meu Espírito Criador.
– Calma, Jesus! Estamos num terreno em que se podem dizer heresias... E eu tenho medo!
– Que medo? Sou eu que falo, palerma!
– Gosto muito que me chames palerma!
– Então, palerma! Burro! Estúpido![…]
– A maneira como tu chamas estúpido é diferente. Tão diferente que a gente gosta! Tu dizes tudo por amor e a gente sente-o. […]
(Quando dei conta, tinha atirado a caneta para cima da mesa. Estava cansado. Tenho a certeza – ainda é com temor que escrevo este “tenho a certeza” – de que Jesus não quer escrever mais. É que ele fez-me ver as horas. São quase onze. É sábado. Tenho que ir arrumar a casa. Jesus quer que executemos os nossos deveres com eficiência e perfeição. O amor que Jesus quer é um amor muito concreto).
[1] Nestes primeiros tempos do nosso encontro com Jesus como Pessoa, Ele envolve-Se literalmente connosco nestas coisas, que depois achamos ridículas, como sucede entre dois enamorados, nos primeiros tempos da sua paixão.
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