Foi àquela hora que olhei o relógio, mas o sono não me deixou levantar logo. Devo ter ajoelhado às 2:45, sete minutos em que me debati com o sono e com o chamamento do Senhor, que me havia dito ontem: “Esta noite quero falar contigo”. E foi nesta expectativa que abri o Livro.
II Rs 9
O dedo apontava o v. 26, que precisa de ser contextualizado e só se entende no conjunto do capítulo. Li, pois, todo o cap. 9, mas não pude deixar de me fixar no que, no fim do capítulo, acontece a Jezabel, que o v. 22 diz praticar “a prostituição e a magia”. E interrogo-me: porquê mais uma vez uma mulher? […] Mas neste momento dentro de mim anda isto:
– Na Lei antiga era assim que se fazia; a Nova Lei é a Lei do Perdão e da Graça!
– Meu Jesus – gemo – eu creio em Ti, mas tudo isto é tão estranho…
– A fé que quero de ti também é estranha: quero-a muito forte.
– Que se faça em mim a Tua Vontade, Senhor. Aumenta e robustece a minha fé!
São 3:41. Vou deitar-me sem ver, mas acreditando.
Na confeitaria. Regressei há pouco do hospital, onde estive com o Gaspar. Estava lá muita gente. Todos olhando sem saber o que dizer. Era o que a mim me acontecia também. Então resolvi-me:
– Olha, Gaspar, não tenho palavras, não tenho nada que possa fazer. Mas o que tenho, isso te dou:
Coloquei-lhe a mão sobre o peito e ele agarrou a minha mão. Eu continuei:
– Jesus, Tu podes tudo. Se for da Tua Vontade, cura o Gaspar, que a gente precisa muito dele.
E vim-me embora. Estive, ao todo, dez minutos? Talvez nem tanto. Pelo caminho de regresso, a sensação era contraditória: eu acredito que Jesus pode curá-lo, se quiser. Nisto acredito do fundo do coração. Mas acho que tenho muito pouca fé. Ter fé, neste caso, seria dizer como Pedro: “Não tenho oiro nem prata, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus de Nazaré, levanta-te e anda”. E eu não tenho coragem, não me sinto capaz, parece-me que seria grande presunção dizer como Pedro. Não sinto dentro de mim que o possa ou deva fazer. Pedro deveria sentir dentro de si a certeza de que o paralítico iria ser curado. Por outro lado, também por aqui andava misturado o medo da vaidade: estava lá muita gente; se o Gaspar ficasse curado, as pessoas certamente atribuiriam isso à minha intervenção! Tenho um medo tremendo da vaidade. E pedi ao Senhor que não olhasse à minha vaidade mas só à Sua Glória, fazendo o prodígio: seria, de facto, um espectacular milagre, porque o cancro está em fase terminal. Vou abrir de novo a Bíblia à procura de qualquer palavra de Jesus que responda a esta minha situação interior. São 18:02 (ou 03, esqueci-me de confirmar). O dedo apontou entre duas colunas do cap. 15 da I Carta aos Coríntios. Na da esquerda estava: “O último inimigo a ser destruído será a morte” (v. 26); do outro lado o dedo apontava o fim do v. 40, por isso penso que a mensagem está no v. 26. O v. 40 diz assim: “Há corpos celestes e corpos terrestres, mas um é o esplendor dos corpos celestes e outro o dos corpos terrestres”. A parte sublinhada é aquela que o dedo apontava. Não tenho a certeza do que Jesus me quer dizer. Mas rezo:
– Sabemos, Jesus, que o esplendor dos corpos terrestres é muito débil, nada é, em comparação com o esplendor dos corpos celestes. Mas mesmo assim é no corpo terrestre que aqui vivemos e até este corpo decaído manifesta a Tua Sabedoria e a Tua Glória. Revela, por isso, mais uma vez, o Teu Poder e a Tua Graça, curando o frágil corpo do Gaspar! Que a morte seja mais uma vez destruída, agora diante dos nossos olhos, como o foi quando viveste incarnado no meio de nós. Como os homens daquele tempo, também nós precisamos de uma ajuda Tua, precisamos dos Teus Sinais para acreditarmos! Nós somos assim, Senhor! Tem pena de nós, que vivemos num mundo difícil, racionalista, incrédulo, apóstata, e ajuda-nos a ver-Te de novo, para que Te possamos descobrir outra vez como Amor!
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