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Confeitaria “Márcio”, 8/10/94 DL
– Há muitas vozes falando ainda forte em ti. Porque me chamaste Mestre?
– Porque Te sinto Mestre, o único Mestre. És o único que sabe dar aulas. És o único que sabe ensinar. (Confusão interior. Sentimentos contraditórios. Assuntos vários se entrecruzaram.) Jesus, dá-me a Tua Paz!
– A Minha Paz não é pasmaceira. Não se constrói sem guerra.
– Sê original, Jesus! Isto já eu sei! (Tenho a sensação de que Jesus sorriu.) Tu não Te zangas com estas impertinências!?
– Eu sou muito diferente do que vós pensais.
– És Tudo novo!
– TUDO NOVO.
– Está para vir Tudo Novo? Anda muita gente a dizer que vem aí o fim do mundo.
– O princípio do mundo. Vem aí um Mundo Novo. Eu não destruo. Eu estou sempre construindo. Vem aí TUDO NOVO. Eu sou o Deus da Vida. Sou vivo sempre. Nunca durmo. Velo e actuo sempre. Actuo sempre e velo. Não sou surdo nem mudo. Eu escuto tudo! Eu falo sempre! Abri os vossos ouvidos e escutareis, bem nítida, a Minha Voz!
– Tremo, Jesus: saiu-me esta grande frase, estas frases todas na Tua Primeira Pessoa: EU. Como pôde isto ser? Se isto não é Teu, eu sou o maior dos pecadores!
– Porque duvidas? Não pediste a Minha Presença no início deste escrito?
– É verdade.
– E não sabes que “tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome” vos será concedido?
– Eu propriamente não pedi ao Pai.
(Jesus fala enérgico).
– Ai não? Relê o que escreveste!
(Vou reler. Reli.)
– Eu digo “Vem, Jesus”, eu falo directamente para Ti.
– E que pedes?
– A Tua Presença.
– E estarei Eu alguma vez presente sem o meu Pai?
– Ah! Pois... “Eu e o Pai somos Um”.
– E que mais, que mais pedes tu?
– Que todo o meu ser faça a Tua Vontade.
– Lembra o Pai Nosso.
– Ah, pois... “Pai,... seja feita a Tua Vontade”!
– Mas pediste mais.
– Sim. Que fales com a Voz que fez surgir a Criação.
– Diz o início do Credo.
– “Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra!” Ah!
– E mais! Mais! Que pediste mais?
– Não pedi mais nada. Só que falasses.
– “Eu creio-Te vivo” - pediste tu.
– Mas isso não é pedir.
– Então que é? Já tens a fé toda que podes ter?
– Não.
– Não queres mais fé?
– Quero, quero, quero!
– Pediste ou não?
– Ah... Então pedi... Fazer um acto de fé é pedir?
– Que sois vós senão pedintes? Que outra coisa podeis fazer senão pedir?
– Podemos agradecer.
– Agradecer é ainda pedir.
– Ah... quando agradeço é porque foi bom o que me deste e desejo mais, mais, mais.
– E Eu tenho sempre mais para dar.
– É verdade, Senhor. Tens sempre uma coisa nova para me dar. De há uns tempos para cá...
– É sincero isso?
– É. Tu sabes que é. Às vezes não Te sinto, pareces-me longe, mas Tu sabes que no fundo eu sei, eu creio que Tu nunca me abandonas, que Tu estás sempre aqui. E agora. Em cada momento. Eu é que fujo por longos momentos. Eu é que vagueio por sítios vários...
– Não tenhas medo. A Imagem de Deus em ti não está ainda completamente restaurada.
– Mas vai estar?
– Vai.
– Jesus... até tremo com a energia e determinação com que escrevi aquele “Vai”! Se não foste Tu que o disseste, eu sou o maior pecador sobre a Terra!
– Porque duvidas?
– Porque ... porque... não sei... tenho medo... aqui não há certezas absolutas... eu sei, eu sinto aquele olho esquadrinhando... Eu sei que o Demónio existe! Prontos! E é muito mau. Muito manhoso. Infiltra-se onde menos se podia esperar...
– Não hesites: diz isso que te está no espírito [Apresentei aqui o caso de X, em que me parecia haver uma possessão do Demónio].
– Ah ! Agora é que Tu me apanhaste ! Bendito sejas. Já estava a atirar pedras a outros !
– É a grande Tentação de todos os homens: acusar, acusar, acusar! Culpar, culpar, culpar! Ver, nos olhos dos outros, o mais pequenino argueiro!
– É verdade. Quer dizer que é mentira aquilo do Demónio em X?
– É tão verdade como em ti!
– Não pode ser! Eu...
– Não te mostrei Eu a subtileza e grandeza do teu pecado nos últimos tempos?
– Sim. Mas em mim é pecado; em X é Demónio !
– Como?!!! Que confusão é essa?
– É verdade, Mestre! Pára aqui a aula! Cria silêncio dentro de mim! Esclarece-me com a Tua Sabedoria!
– Então vá. Com calma. Quando tu estás continuamente imaginando-te no palco rodeado de gente, de multidões suspensas dos teus lábios, da tua atitude (humilde!!!) dos teus gestos (teatrais!!! ), o que é isto?
– É um pecadorro!
– Já desapareceu o pecadorro?
– Não. Frequentemente lá estou eu no palco, impressionando a assistência.
– Tens dificuldade em ver-te livre disso!?
– Ui! É horrível. É uma autêntica mania. É uma obsessão!
– É uma possessão!
– Ah! Pois![…]
– Estás tão cego como X, Salomão!
– Pois! Quando eu me ponho no palco, desviando para mim a glória que Te pertence, eu estou a impedir as pessoas de Te conhecerem, de conhecerem o Pai, de serem movidas pelo Espírito. Eu estou a enganá-las! Eu estou a levá-las à frustração! Eu estou a “secá-las”, como já me disse a M.! Eu estou a matá-las! Eu estou a agredi-las, a fazê-las sofrer!
– Isso, Salomão. Até talvez tivesses exagerado, não? (Jesus está com um sorriso maroto na cara. É muito querido).
(Pausa. Vejo as horas: são 10:15. É sábado. Não sei se Ele quer que eu escreva mais... Interrompeu:)
– Escreva... quem?
– Agora é que Tu me lixaste, Jesus! (Fiquei aflito com o calão que empreguei) Esta intimidade Contigo, Mestre... não sei... eu nas minhas aulas marco bem as distâncias e acho que deve ser assim! Eu sou ali o professor e tenho o meu lugar e eles são os alunos e têm o lugar deles. Lugares diferentes. Muito diferentes! É o que eu digo também em casa: eu sou o pai! Vós sois as filhas! Não estais ao mesmo nível que eu! Não admito discussões ao mesmo nível! A mim foi-me entregue a missão de mandar, de ordenar em todos os sentidos: de mandar, de pôr ordem, de coordenar; a vossa situação é de educandas: deveis obedecer. Mesmo depois de mais crescidas e autonomizadas, exijo-lhes respeito de filhas. Disse isto com toda a clareza à B. há pouco tempo. Ela ficou muito admirada, talvez chocada e até creio que zangada.
– Tirano! (Jesus fez uma – falsa – carranca).
– Não ponhas essa cara, Jesus! Há uns tempos atrás Tu ensinaste-me uma coisa que eu nunca tinha visto: a Ordem! Há uma Ordem cerrada no Universo! Há uma Ordem que Tu sonhaste para as Criaturas superiores – anjos e homens. Só que aqui a Ordem foi violada porque Tu, Surpreendente Amor, incrivelmente nos criaste LIVRES! E é esta a grandeza que nos esmaga! E é este o Formidável Amor que para sempre nos há-se seduzir!... Olha, Jesus, se não me interrompes, eu falo sempre... Tu sabes que eu me sinto literalmente esmagado e absorto por aquele MOMENTO em que Tu, Trindade Omnipotente, decidiste criar-nos livres! Nasceu aí a possibilidade de Te amarmos como Tu nos amas. E nasceu aí a dor, o sofrimento que ensopa toda a Terra!... Trava-me, Jesus! Manda-me parar, senão... sei lá, eu ainda vou dizer alguma asneira.
– Não tenhas medo, meu querido Salomão!
– Bem hajas, Jesus, meu querido Mestre! É bom estar Contigo! “Façamos aqui três tendas...” O Tabor deveria ter sido isto, multiplicado por mil, por milhões... sei lá! A Tua Presença, o Teu Mistério é arrasador! Seduz e esmaga. Mas é bom! É tão bom, Jesus!
– Faz pausa. Tem calma! (Sinto Jesus contente. E o Pai muito contente. E o Espírito muito vivo e feliz) Onde íamos?
– Na Ordem.
– Eu disse “Tirano!” Essa tua mania dos lugares marcados não te pode levar à tirania?
– Tu é que sabes, Mestre. Mas queres que seja eu a dizer? Está bem: olha, eu descobri (Tu descobriste-me!) que onde há anarquia não pode haver vida.
– An-arquia quer dizer “sem cabeça”, como tu sabes...
– Pois. Já sei o que queres dizer, onde queres chegar: Cabeça só há uma – a Tua e mais nenhuma! (Jesus deu uma gargalhada bem disposta, muito bem disposta!)
– (ainda a rir-se:) E não é verdade?
– É! Eu sei que é. Oh, como eu queria que fosse já aqui e agora absoluta verdade! Mas essa relação cabeça-corpo, mandar-obedecer, cérebro-músculos está reproduzida na Tua Criação. Contemplei há pouco tempo uma aranha, quando estava a pintar a casa: ela tem umas pernas enormes, várias, perfeitamente comandadas a partir do proporcionalmente pequeníssimo corpo, que por sua vez há-de ser comandado por um incrível pequeníssimo cérebro que constrói, comandando tudo “aquilo”, a incrivelmente perfeita e bela teia. É assim com a aranha, hás-de querer que seja assim com a família, com a escola... não?
– É melhor que fiques com dúvidas.
– Olha que esta! Que jeito de ensinar! Intrigante, querido Mestre!
– Diz o que tens na cabeça.
– Que nestas páginas nunca escrevo aquilo que planeio escrever.
– Explica.
– Às vezes, muitas vezes, quando falo Contigo, imagino-me escrevendo a conversa. Tão giros são os diálogos, Tão surpreendentes são as descobertas, que tenho pena que não fiquem registadas.
– Só por isso querias vê-las escritas?
– Não. Por vaidade. Descubro que é sobretudo por vaidade. Mais uma vez, quando dou por mim, imagino-me lido, admirado, louvado pelos eventuais leitores, milhões deles. Vaidade. Este monstro horrível.
– Vês quanto falta ainda? É tão difícil reconstruir em vós a Imagem de Deus!
– Porquê, Senhor? Não és todo-poderoso?
– A Liberdade, Salomão. A tal Liberdade que te esmaga, que te empolga, que te seduz. A origem do Amor e da Dor. Vai trabalhar. São 11 horas. (Choro. Jesus é Deus. E é muito BOM!).
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