– Então o que tens dentro de ti?
– Um espaço vazio.
– As coisas em que estiveste a pensar até agora não te encheram esse espaço?
– Não. Foi só como se por ali tivessem andado esvoaçando e assim como entraram, assim saíram: sempre voando, como penas.
– E não te interessa fazê-las regressar?
– Não. Não tenho por elas o mínimo interesse.
– Novamente te deixaste distrair…
– Foi.
– E não tens interesse no que acabas de pensar?
– Nenhum.
– E mais outra vez te acabas de distrair!
– É verdade!
– E não te interessa o assunto da tua divagação?
– Nada.
– E mais outra vez!
– Sim! Acode-me, Mestre! Porque não tenho neste espaço a única coisa que me interessa?
– E qual é?
– És Tu.
– Não estás falando Comigo?
– Estou.
– Tens a certeza?
– Não pode ser com mais ninguém… Eu estou falando e não quero falar com mais ninguém senão Contigo.
– Pode ser só imaginação, não?
– E levantava-me eu a esta hora para falar com uma “imaginação”?
– Quem sou Eu, então, mais do que as coisas por onde divagaste, já que, pelos vistos, também Me não consigo fixar nesse espaço vazio dentro de ti?
– A diferença é que eu às outras coisas não as quero e a Ti quero-Te lá, enchendo-me todo por dentro.
– Mas também Eu não Me fixo lá!…
– É verdade! Explica-me este enigma, Jesus: as coisas que não quero vêm-me sem as procurar; a Ti, que eu procuro, é preciso fazer esforço para Te agarrar e fixar dentro de mim! Até parece que a Tua Presença é contra a minha natureza!
– Desejas mesmo que Eu preencha todo o teu espaço interior?
– Desejo, Mestre. Disso tenho a certeza.
– Então esse desejo não vem da tua natureza, uma vez que, “naturalmente”, aparecem lá outras coisas!?
– Ah, Mestre, como faço? Eu não Te sei responder.
– Vamos tentar os dois arranjar uma explicação para o teu enigma, queres?
– Vamos, Mestre. Acho que precisamos todos de entender este diabólico maquinismo que assim nos desagrega, nos divide de nós mesmos.
– Porque lhe chamaste “diabólico maquinismo”?
– Nem sei… Acho que foi porque me dá a sensação de um automatismo programado para manter sempre vazio o cerne do nosso ser.
– Já foram mais consistentes em ti essas coisas que agora apenas te distraem e rejeitas. Já dessas coisas tiveste o “cerne” do teu ser cheio, lembras-te?
– Não foi assim, Mestre. E é isso o que este maquinismo tem de diabólico: ele mantém o nosso interior vazio atafulhando-o do que em verdade lá não queremos.
– Mas aquelas coisas enchiam-te a vida, não?
– Aí é que está: ocupavam-me a vida, mas não a enchiam. Era essa a permanente sensação que eu tinha.
– Então há um progresso: ao menos agora essas coisas já só esvoaçam…
– Isso quer dizer que eu estou quase preparado para Te receber?
– Sim. Quando menos esperares.
São 6:36!
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