São 8:23.
domingo, 29 de abril de 2012
761 — A dilacerante divisão no Coração de Jesus
11/2/96 – 6:10
Deitei-me já depois das duas, porque estive
na escola a trabalhar e depois fui buscar a L. a uma festa. Por isso uma voz em
mim dizia que não fizesse hoje a vigília, que não se justificava, que as coisas
também não podem ser assim com este rigor todo que às tantas vira rito. Muito
lógica, esta voz. Mas a verdadeira Lógica não quis assim ao acordar-me quatro
horas depois de me ter deitado. E não foi uma violência que me fez: ficou
combinado já há muito tempo com o meu Mestre levantar-me e vigiar escrevendo ou
rezando à hora em que eu acordar, seja ela qual for. Também o fim da vigília é
só quando o Mestre quiser. Considero, pois, que todo eu, nestas vigílias,
dependo da Vontade do meu Senhor. E como é possível saber assim a Vontade do
Senhor? – é este sempre o argumento fatal dos sensatos e razoáveis. E como lhes
hei-de explicar que estão a chamar mentiroso a Deus? Toda a Revelação, de
facto, se funda nesta Verdade primordial: Deus manifesta-Se ao homem. E como se
manifestaria, se não fosse possível conhecermos a Sua Vontade a nosso respeito?
Mas eles objectam: está na Bíblia e na Tradição tudo o que Deus revelou e é lá
e só lá que se deve procurar a Vontade de Deus. A Bíblia e a Tradição –
insistem – interpretadas pelo magistério da Igreja e nunca pela cabeça de cada
um! E eu, fraco a argumentar, só me ocorre responder-lhes assim: a Bíblia e a
Tradição são só palavras que, interpretadas pelo magistério da Igreja, levaram
já ao massacre de milhões de filhos de Deus e à asfixia do Espírito através de
instituições e leis e tabus e dogmas que outra coisa não são senão uma outra
forma de massacre. E foi ao escrever esta afirmação final que senti de forma
muito intensa Jesus pedindo-me primeiro que a não escrevesse, mas depois que,
escrevendo-a, a explicasse. Foi a primeira vez que isto me aconteceu. Jesus
pedia num tom impressionante, aquele tom de quem está dividido no coração entre
duas gigantescas forças: era, por um lado, indescritível a Dor de Jesus perante
o que eu estava escrevendo e pedia-me que o não escrevesse; mas era, por outro
lado, a Verdade daquelas palavras como que impondo-se-Lhe no Coração sobre o
mar de Dor a exigir ficar escrita. É indescritível este comportamento de Jesus:
apetece-nos só ter um coração do tamanho do d’Ele para O podermos consolar. Tão
homem e tão Deus este Jesus! E foi ainda com este Coração assim possuído de
titânica emoção que Ele me pediu, como um amigo muito querido, com uma simpatia
que não posso explicar, que eu não deixasse as coisas assim. Que desse a
explicação mais que justa. Que proclamasse a Verdade inteira: esta Igreja,
assim coberta de aleijões e chagas, é o Corpo de Jesus, em que nunca faltou o
Espírito, este Piloto de Olhar penetrante guiando-A, sem um único desvio, pela
rota que o Pai lhe traçou.
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