– Maria, prende-me a atenção apenas Tu, para que todas as vozes à minha volta se calem.
– São várias, as vozes?
– São, cada uma puxando para seu lado…
– Há alguma coisa de comum que elas estejam dizendo ou fazendo?
– Há: além de me inquietarem, todas contêm uma ameaça velada.
– És capaz de concretizar algumas dessas ameaças?
– Que vou perder o Céu, que vou perder o Z. D. e ainda outra, mais tarde, diz que vou perder a N.…
– Fazer ameaças é próprio do Céu?
– Não; o Céu faz avisos.
– Qual é a diferença?
– O aviso informa; a ameaça oprime. O aviso previne; a ameaça desnorteia. “Quem me avisa, meu amigo é”, conforme diz o meu povo; quem ameaça, é certamente meu inimigo.
– Dá, como exemplo, esse célebre aviso do Céu em que estás pensando.
– “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Aqui não há nenhuma ameaça, mas só um magoado aviso ao homem, para lhe mostrar a consequência do seu acto rebelde.
– Também tu fizeste algum acto rebelde, uma qualquer asneira pelo menos, que justificasse um aviso do Céu?
– Não sei. É por isso que recorro a Ti.
– Diz-Me uma coisa: a que propósito veio a insinuação de que estavas perdendo a N.?
– Não lhe vejo relação nenhuma com as outras coisas.
– Então foi só mais uma carga, em cima daquela que já tinhas às costas!?
– Sim, apenas me sobrecarregou.
– E achas que é esse o procedimento do Céu?
– Não. Mas parece-me que Deus permite às vezes a acumulação de problemas e dores em determinados momentos da nossa vida.
– Aconteceu isso já contigo?
– Já. Várias vezes.
– E sentias estar junto de Deus, em toda a união possível com Ele, nessas alturas?
– Sim, às vezes em intensos momentos de busca sincera de Deus.
– Se Deus, não fazendo, permite que alguém faça, tem certamente uma intenção…
– Sim, sempre uma intenção de Amor: Ele ama sempre, em tudo quanto faz.
– Recorda outros momentos da tua vida em que houve assim acumulação de problemas e vozes ameaçadoras. Era Deus avisando-te de algum mal que tenhas feito?
– Acho que nunca isso aconteceu.
– E entendeste porquê?
– Sinto que não é esta a forma de avisar que Deus utiliza: o acumular problemas sem nexo uns com os outros só cria confusão e Ele é o Deus da Paz.
– Que pretendeu Ele então, naqueles casos em que permitiu ao Diabo que acumulasse problemas?
– Justamente chamar-me a atenção para os métodos de actuação do Maligno, para que em mim se desenvolvesse o Dom do Discernimento.
– Apenas isso?
– Quis certamente também sujeitar a estas provas a minha Fé, para ela se habituar a ultrapassar obstáculos e assim ficar forte.
– Nunca te chamou a atenção desse modo para um qualquer defeito ou pecado?
– Não me recordo de que o tivesse feito…
– Mas, neste caso, aquelas situações que apontaste são efectivamente preocupações tuas!?
– Isso são.
– E não quererá Deus também por este meio dizer-te alguma coisa sobre elas?
– Julgo que apenas pretende manter viva em mim a vigilância.
– Não estás então perdendo culpavelmente ninguém!?
– Continuo sem saber.
– Mas isso não te deixa angustiado?
– Não: a actuação de Deus sobre nós nunca nos leva à angústia – foi esta uma das mais firmes lições que recebi de Jesus.
– Que foi então que o Céu te mostrou hoje?
– Que situações de acumulação de problemas díspares só podem vir do Demónio. Que por isso nunca devo agir com base numa qualquer pressão exterior violenta. Que devo apenas recolher-me no Silêncio e manter a vigilância.
São 7:49!
Sem comentários:
Enviar um comentário