Tenho tantas saudades desse corpo de Luz, eu que de resto nunca tenho
saudades do que deixei! É que esse meu corpo desde sempre existiu, no Sonho do
seu Criador, na Ânsia do seu Redentor, na Palpitação do Princípio da Vida que
nunca o abandonou. Guardo dele uma memória que se me aviva a todo o instante e
o alimenta à medida que ele vai sendo restaurado, como se fosse o seu coração.
É também esta memória que continuamente ronda a escuridão envolvente à
procura de alimento, como um feto no útero materno. É a esta sonda que eu chamo
ouvido. Levou-me ele desta vez a
Mc 10, 9 |
onde encontrei este alimento:
“Aquilo, pois, que Deus uniu, não o separe o homem”.
- Diz então o que sentes em cada momento, mesmo que te
pareça nada ter a ver com estas palavras.
- O que sinto é essa memória lúcida do meu ser
original?
- É. Ela nunca te engana, se a não tiveres sujeita a
nenhum outro dono senão ao seu Criador.
- Ela não é permeável a sujeições más?
- Ela pode ser abafada pelo estrondo da Cidade, mas
basta que se lhe dê um instante de silêncio para ela logo se reorientar para a
Verdade.
- Olha, Mestre: aquelas Tuas palavras vêm no contexto
do matrimónio, mas já me ensinaste que elas são para entender em si mesmas, como
um dos Teus grandes Princípios: o homem não pode nunca desunir nada do que Deus
uniu.
- E que uniu Deus?
- Tudo. A Unidade faz parte intrínseca de cada ser.
Perde todo o sentido, por exemplo, um estômago retirado do seu lugar e da sua
função.
- É o lugar e a função que fazem a Unidade?
- Lugar e função fazem de tal maneira parte de cada
ser, que o ser se desagrega e morre, caso seja removido do seu lugar e da sua
função. Cada ser, para subsistir, tem que estar no seu lugar e executar a
função que do Criador recebeu ao nascer.
- Volta de novo às tuas sensações interiores…
- Eu estava justamente sentindo que se me esvaía a vida
ao falar assim friamente da Unidade.
- Sentiste que alguma coisa em ti não estava ocupando o
seu lugar, cumprindo a sua função?
- Sim… Quando raciocino, parece resfriar a vida.
- O raciocínio desune?
- É essa a sensação que eu tenho. Parece que as batidas
do coração vão ficando cada vez mais longe…
- Mas sem raciocinar, como chegarias ao conhecimento
das coisas?
- Creio poder dizer que nunca me veio do raciocínio o
Conhecimento que me tens dado.
- Veio de onde, então?
- De um fluxo de vida que me vem do âmago do ser.
- Mas já várias vezes nestes Diálogos te queixaste de
Eu te deixar enveredar pela via do raciocínio…
- Sim. E Tu explicaste-me que o fazias por causa do
Princípio da Incarnação: é preciso ir buscar as pessoas onde elas estão.
- Por amor às pessoas Eu sujeito-Me à desunião? Deixo
de ocupar o Meu lugar e de exercer a Minha função?
- É verdade, meu Amigo! O Teu lugar era no Céu, no Seio
do Pai e a Tua função era a de ser Rei da Paz. Ora Tu vieste ocupar um lugar na
terra, assumindo uma função de escravo!… De Rei da Paz passaste a Servo da
Desordem!
- Diz então agora que alimento estás colhendo daquelas
Minhas palavras fixadas por Marcos.
- Por causa da dureza do nosso coração Tu Te fizeste
Desordem, como Moisés permitiu o divórcio. Mas o Teu Caminho dirige-se para lá,
para o Princípio, em que tudo saía das Mãos do Criador com um lugar e uma
função. Tu eras Rei e o Pai fez de Ti Caminho para restaurar o Teu Trono!
São 3:32.
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