Não sei qual será o conteúdo da minha oração, mas, sejam quais forem as palavras do Salmo, o conteúdo surgirá sempre da minha Alma; as palavras que vou ler apenas o acordam. Perguntei já se nalguma palavra especial me deveria fixar e ouvi: “versículo nove”. Vou, pois, realçar à maneira costumada, para que se saiba que foi através do ouvido da Fé que recebi este Salmo e assim melhor se vejam os caminhos do Senhor e os tesouros que nele se encontram.
Sl 7 |
− Mestre, vem ajudar-me. Que queres que esta oração desperte em mim? São bem estranhos os Teus caminhos! A situação que o Salmo descreve parece nada ter a ver comigo…
− Não importa, apenas, que ele desperte a tua Alma?
− Sim, mas para a despertar bastaria uma palavra, apenas. Para que me deste um Salmo tão longo?
− Sabes porventura quantas fontes estão prontas para brotar, na tua Alma? E não são precisos às vezes muitos beijos para despertar uma criança que dorme? Chamas-Me tantas vezes Surpresa e quando assim venho ter contigo não Me reconheces?
− Ao achar que o Salmo deveria encaixar-se na minha situação do momento, eu estava a fazer a minha vontade e a desprezar a Tua?
− Não estavas a querer impor-Me até a maneira de te despertar? Uma criança que dorme escolhe porventura o modo como quer ser despertada?
− Eu não estava a ser criança?
− Não vês que não? Muito menos uma criança dormindo.
− Mas para Te pedir que me enchesses esta vigília, eu precisei de estar acordado, não?
− Sim, mas a entrega plena é aquela que depois de fazer o pedido adormece no Meu Colo, sabendo que o terá satisfeito ao acordar.
− Jesus! Isso que dizes é tão estranho para os nossos ouvidos!… Uma entrega assim não pressupõe a absoluta inacção?
− Como ?! Não é uma acção mais viva e eficaz depois de um sono bem dormido?
− Está-me a querer parecer, Mestre, que estás já a interpretar-me aquele Salmo.
− Sim? Verifica.
− Começa logo assim: “Senhor, meu Deus, em Ti me refugio”… Assim como alguém que se aninha no Teu Colo…
− E em mais algum ponto do Salmo vês esse abando no ao Meu Colo?
− Aqui, por exemplo: “O meu escudo reside em Deus” (v. 11). E em todo ele, afinal! O coração que aqui ora revela uma entrega total à Tua protecção.
− Havia no Salmo uma coisa que especialmente parecia não encaixar na tua situação…
− Sim: este coração vê-se perseguido e eu não tenho ainda inimigos. Ainda nem sequer saí à rua…
− Não tens inimigos? Esses constantes queixumes são de quê, de quem?
− Da secura, do deserto, da ausência…
− E isso são coisas boas?
− São más!
− E donde vieram? Nasceram assim más diante de ti, à tua volta?
− Perguntas se foi alguém que as fabricou?
− Sim, por exemplo.
− Secura e deserto e ausência fui também eu que as fabriquei.
− A vaidade, por exemplo, de que tanto medo tens, como aparece ela dentro de ti?
− Essa também sou eu que a deixo nascer e crescer quando me deixo levar pela tentação.
− Tentação? O que é isso?
− É uma força…
− Quem a acciona? Ninguém? Vive por si? E tem intenções e objectivos?
− Queres dizer-me, Mestre, que não há forças abstractas, energias por aí perdidas, descomandadas, situações que não tenham sido dispostas pela vontade de alguém?
− Os teus inimigos, Salomão, há muito que te perseguem e não têm tido descanso, a ponto de te levarem frequentemente às situações de verdadeira prostração e impotência que tu próprio aqui tens registado. Não precisas de inimigos futuros para provares a tua Fé. Não te queixas tantas vezes de que ela é sujeita a duras provas? Achas que sou Eu que te faço sofrer?
− Não… Tu já me explicaste que basta permitires por um pouco que os meus inimigos actuem.
− Eles estão sempre actuantes, Meu querido pequenino!…
− Porque empregaste este termo tão carinhoso?
− Pedi-te que te fixasses especialmente no v. 9. Que te chamou nele a atenção?
− Aqui eu peço-Te que me julgues “segundo a inocência que possuo”.
− E não entendes a razão da Minha ternura por ti?
− Vês-me inocente?
− Tão indefeso, tão pequenino, no meio de tantos inimigos!…
− Tu és um espectáculo, Mestre! A volta que Tu deste a este Salmo! Como podia eu imaginar que nele me visses criança indefesa, provocando a Tua Ternura?
São 3:17!
Sem comentários:
Enviar um comentário