− Porque referiste o Sábado?
− Tu bem sabes que as coisas me ocorrem sem eu saber de onde vêm…
− Tinhas em vista falar do Sábado quando te dispuseste a escrever?
− De maneira nenhuma!
− E queres parar um pouco a contemplar o Sábado?
− Quero, Mestre. Tu vês o ardor que me sobe no peito todas as vezes que contemplo coisas relacionadas com os Teus irmãos judeus. O Sábado é uma dessas coisas que conserva uma estranha sedução.
− Não sabes porquê?
− Talvez porque grandes coisas nele realizou Deus.
− Por exemplo.
− A Libertação do Egipto. A Tua Descida aos Infernos.
− Vês alguma relação entre a Libertação do Egipto e a Minha Descida aos Infernos?
− A Tua Descida aos Infernos foi a descida à mais funda escravidão em que nos pudéssemos encontrar. Neste dia desceste Tu à própria escravidão da Morte, donde era suposto não mais se poder regressar.
− E que levei Eu aí, à Morte?
− A Luz. A partir daqui ficou aberta a porta para o regresso ao Paraíso, mais ainda, à intimidade da Casa do nosso Pai.
− Diz porque referiste o Paraíso.
− Porque de repente me lembrei do aviso de Deus ao Homem: se comessem daquele fruto, morreriam. O Homem comeu e cumpriu-se o aviso de Deus. Foi esta a mais negra escravidão a que o Homem poderia ter descido e de facto desceu. Ora foi justamente aqui que Tu desceste.
− Por esse simples facto libertei o Homem dessa escravidão?
− Claro, Mestre. Todos os factos da Tua vida terrena têm um poder fatal: são definitivos, irreversíveis.
− A Descida aos Infernos pertence à Minha vida terrena?
− Foi assim que quiseste escrito: eu hesitei, mas Tu insististe em que escrevesse assim.
− Sabes porque quis assim escrito?
− Porque esta Descida faz parte integrante da Tua Incarnação, que consistiu na assunção de tudo aquilo em que o Pecado transformou o nosso barro. É esta a situação terrena em que vivemos, de que faz parte mais radical a escravidão da Morte.
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