– Queria, por isso que me falasses ainda um pouco sobre esta minha apreensão, Maria.
– Exprime então claramente qual é o teu problema.
– Ficar assim duas horas na cama nesta modorra tem todo o ar de preguiça e de desleixo.
– Já reparaste em que agora acordas sempre mais tarde?
– Sim, dormia quase sempre só três horas por noite e agora sempre vou até às cinco, ou mais…
– Vá, não tenhas esse outro medo. Deita-o cá para fora, para que se veja.
– Tenho também ainda o medo de Te fazer dizer aquilo que me convém.
– E é ainda forte esse medo?
– Dói-me particularmente. Parece que me estou sempre desculpabilizando, para não ter que fazer coisas difíceis, para não ter que me desinstalar daquilo que me é agradável. E isso, a ser verdade, esconderia uma perigosa tentação.
– Qual?
– A de passar a escrever aqui não a Palavra de Deus, mas a minha encapotada perversão.
– Se passasses a escrever a tua perversão, sabes o que aconteceria a estes milhares de páginas que escreveste?
– Sei: iriam parar à lixeira.
– Não poderiam elas ter um êxito perverso, alimentando a perversão de muitos?
– Julgo que não: se isto fosse uma falsa profecia, ninguém teria paciência para ler tão triviais e ridículas coisas para chegar àquilo que seria aproveitável, para mais espalhado por uma tão longa extensão.
– E já agora diz-Me: se isto for uma autêntica Profecia, se aqui estiver gravada a expressão de um verdadeiro diálogo entre homem e Deus, estas páginas deixarão de ser maçudas e as pessoas não se vão assustar com uma escrita tão extensa?
– Não tenho dúvidas: se aqui estiver, viva, a própria Palavra de Deus em estreito convívio com a voz humana, estas páginas serão literalmente devoradas por multidões.
– E as trivialidades e a extensão não serão obstáculo?
– Pelo contrário, as trivialidades trarão Deus bem para a nossa beira e a extensão será só imagem da Infinitude inesgotável de Deus continuamente seduzindo.
– Vamos então agora aos problemas deixados lá atrás por resolver. Diz outra vez quais são.
– O possível desleixo na Fé, por não me levantar prontamente e a dúvida se me não estarei desculpabilizando para não me desinstalar do bem-bom, fazendo-Te dizer o que me convém.
– Olha: se Eu te dissesse claramente que a partir de agora te deverias levantar imediatamente quando acordasses, tu executavas?
– À letra!
– Então concentra-te bem dentro de ti… Pronto. Já me tentaste sentir bem no teu íntimo?
– Já.
– Viste-Me dando-te uma ordem daquelas?
– Não.
– Concentra-te de novo e tenta imaginar-me assim.
– Dando-me aquela ordem?
– Isso… Que viste?
– Foi impossível ver-Te assim.
– Impossível?
– Sim. Todas as vezes que tentava formar uma imagem Tua assim, ela não se formava, ou desfazia-se antes de se formar.
– Agora observa só o que naturalmente aparecer de Mim no teu coração.
– És só a minha Companheira, abraçando-me com uma ternura indizível, por ver que a minha carne está, de facto, perdendo as suas forças.
São 8:32!
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