Às vezes, como esta noite, para escrever duas páginas, demoro quase três horas − e vulgarmente diz-se que isto se deve ao facto de eu não estar “inspirado”; outras vezes escrevo as mesmas duas páginas em menos de meia hora − e as pessoas dizem que, nestes casos sim, eu estava “inspirado”. Parece, portanto, que as pessoas entendem por inspiração uma mais ou menos longa libertação do peso da carne.
Estes Diálogos pareciam, no início, estar de facto libertos do peso da carne, pela fluência com que jorravam. Não tardou muito, porém, que começassem a ressentir-se daquele peso, ficando progressivamente prisioneiros das mais variadas situações inibidoras. De tal maneira que parecia serem justamente aquelas situações a ditarem os textos que iam ficando escritos. Poderia dizer-se, portanto, que passei a escrever quase sempre condicionado pelas minhas deficiências e por todo o agreste ambiente exterior. A escrita tornou-se assim por vezes tão lenta e pesada, que mais parecia tratar-se de uma penosa construção erguida apenas à custa de esforço humano, com todas as limitações de uma carne esvaída de forças. A sensação era a de que estava, eu próprio, forjando toda a obra que se ia erguendo.
Mas Jesus conseguiu sempre manter-me firme a Fé em que era Ele próprio, através do Seu Espírito, o Autor, misterioso mas extremamente eficaz, da Construção. Deste modo, esta Profecia foi crescendo como se fosse um corpo de carne igual à carne de todos nós, com todas as suas limitações e sujeita a todas as condições concretas de uma vida inserida nas mais variadas e vulgares situações.
Esta Profecia é, pois, em verdade, Jesus incarnado no nosso tempo.
E são justamente afirmações como esta que atestam a origem divina destes Diálogos. Foi assim, numa carne igualzinha à nossa, que Jesus naquele tempo fez afirmações inauditas como aquela, correndo o risco de escandalizar todo o mundo e provocar assim a rejeição de Si próprio e de toda a Sua doutrina, o que veio, de facto, a acontecer, de forma trágica, naquela Páscoa última da Sua vida junto de nós.
É esta uma característica do nosso Irmão Jesus que desde adolescente me fascinou: Ele diz sempre a verdade, correndo todos os riscos! Ele revela os Seus mais longínquos Sonhos sem Se importar do ridículo a que Se sujeita! Ele proclama os mais chocantes Impossíveis sem Se importar que todos Lhe fujam, como de um louco! Ele anuncia tudo só com a autoridade de um homem de carne como nós. Apenas com a Autoridade luminosa, invencível, da Verdade!
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