Mas depois, não sei se por desconfiar do meu
ouvido, apareceu dentro de mim esta outra citação: “Génesis quatro, vinte e
oito”.
– Diz-me, Jesus, como faço agora.
– Porquê? Há algum problema em ti?
– Há dois: primeiro, admito uma qualquer
falta minha ao não confiar na primeira citação; segundo, não sei se deva
desprezar a segunda citação, se as deva considerar as duas.
– Não são, as duas, Palavra Minha?
– São.
– Porque havias então de desprezar uma
delas?
– Leio-as seguidas?
– Transcreve-as seguidas.
– Como um todo?
– Como uma só Palavra.
“Vê: ao Senhor, teu
Deus, pertencem os céus e os céus dos céus, a terra e tudo quanto nela se
encontra…”
A minha suspeita confirmou-se: não há
versículo vinte e oito no quarto capítulo do Génesis; vai só até ao vinte e
seis!
– E agora, Mestre? Estás certamente vendo a
situação ridícula em que me colocaste. Repara bem no que ficou escrito como Voz
Tua: “Transcreve-as seguidas. Como uma só Palavra”. Vejo toda a gente a rir-se
de mim!
– E custa-te muito, isso?
– De mim podem rir-se à vontade; de Ti é que
eu não queria que se rissem. E acho que no fundo é de Ti que se vão rir e Te
vão ofender, ao achincalharem a minha Fé na Tua Presença.
– Tens Fé na Minha Presença, tu?
– Não devo ter toda a que Tu desejarias, mas
tenho. Não tenho fé em mais nada, em mais ninguém, nesta vida.
– Que te diz então a tua Fé, num caso
destes?
– O mesmo que me diz a respeito da caravela:
deitaste-ma ao chão e ainda lá está, no chão, sem que eu tivesse atinado ainda
como a ponha de pé.
– Sou mau, Eu!?
– Até escrever esta Tua pergunta-sondagem me
dá um calafrio! É claro que não és mau, Jesus!
– Como explicas então estas “maldades” que
te faço?
– Não explico: aceito-as como Bem. Um Bem
tanto maior, quanto mais mal a nossa Razão as considera.
– Queres tentar dizer onde está o Bem das
Minhas “maldades”?
– Na Tua Cruz. A Cruz foi uma terrível
“maldade” que o Pai fez Contigo!
– E onde está o Bem dessa “maldade” do Meu
Pai?
– Na Salvação do mundo. Há Bem maior?
– E onde achas que pode estar o Bem desta
Minha “maldade” agora para contigo?
– No…
Eu tinha várias coisas para escrever, vários
“Bens”, mas não sabia qual escolhesse. Incompreensivelmente deu-me vontade de
olhar o relógio, à procura de não sei quê, talvez de alguma coisa que me
ajudasse a decidir. Mas eu hesitava, também não sei porquê, talvez porque
achasse isso sintoma de pouca Fé. Então ouvi dentro de mim, de forma muito
intensa, isto: “Olha. Não tenhas medo. Porque não olhas?”. Era esta Voz um
impulso apenas, um impulso de extrema simpatia dentro de mim. Olhei. No relógio
estava esta imagem: 5:55! E sinto neste momento percorrer-me todo um fluxo de
pura Afeição…não sei explicar: é Afeição com maiúscula, é um rio de afecto que
tanto corre do Mestre para mim como de mim para Ele. Deve ser isto – é isto,
diz-me agora o Mestre! – o Espírito Santo, esta doce Torrente que circula e
une!
– Já sabes agora responder qual é o Bem da
Minha “maldade”, Meu querido escrivão?
– Sei cá dentro. Escrever isto que sei é que
me parece difícil.
– E há-de ser-te cada vez mais difícil.
– Bem hajas, meu Senhor. Pela escrita agora
e por quando deixar de escrever.
– Tenta então, agora que ainda é possível,
escrever o que sabes dentro.
– A Tua “maldade” é sempre o puro Encanto:
se acreditarmos em Ti, a Fé torna-se forte, a Esperança vira força invencível,
o Amor sentimo-lo mais forte que a morte. E outra coisa ainda: os que se riem
de nós ficam tão ridículos…
– Que vamos fazer então com o versículo
vinte e oito, que não existe?
– O mesmo que temos feito até agora:
escrevê-lo, não?
– Sim, Meu querido amigo, vamos acrescentar
à Escritura tudo o que for preciso para que os corações se voltem para o Pai.
Que diz o final do capítulo quarto do Génesis?
– “Set também teve um filho, ao qual chamou
Enós. Foi então que se começou a invocar o Nome do Senhor”.
– Não achas que é tempo de o mundo se voltar
de novo para o Pai, invocando o Seu Nome?
– É tempo, sim, Mestre. É tempo de voltar a
ter Fé em toda a Tua Palavra. É tempo de que a Esperança não seja uma palavra
oca. É tempo de que todos os muros se arrombem e o Amor surja no horizonte como
um Sol novo, límpido, saído de trás da espessa névoa que até agora nos
envolveu. É tempo, meu Amor. É o Teu Tempo. Vem. Vem, Filho do Homem, vem sobre
a nuvem, poisa na terra o Teu Pé de Príncipe da Paz e deixa que Te cantemos
como está no Deuteronómio dez, catorze: “Vê: ao Senhor, teu Deus, pertencem os
céus e os céus dos céus, a terra e tudo o que nela se encontra”! Maranatha!
São 6:47.
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