− E é necessário que escrevas agora mais um diálogo entre nós?
− No princípio achava sempre muito o que ia ficando escrito; agora já nada me preocupa essa questão.
− Porque escreves, então?
− Só porque não consigo já viver sem Ti.
− Não consideras má, essa dependência assim tão completa de Mim?
− Eu não dependo de Ti como um pobre depende de um rico, como um escravo depende do seu dono; dependo de Ti como um amigo depende do seu amigo.
− E que diferença há entre esta dependência de amigos e a outra que referiste?
− A outra humilha; esta exalta. Uma diminui-nos e esmaga-nos; a outra amplia-nos sucessivamente os horizontes e liberta-nos.
− Como amplia?
− Tudo o que descobrimos no amigo começa a fazer parte de nós como semente viva que por sua vez acorda em nós próprios potencialidades de que o nosso amigo vai aproveitar.
− E como liberta? Esta dependência do amigo não é, mesmo assim, uma sujeição?
− Não: esta dependência gera amor e o amor inclui; não exclui.
− Se o amor inclui, aprisiona o amigo, não?
− Não. Só a exclusão aprisiona: quem exclui, reduz-se, corta os canais da vida, morre por asfixia.
− Diz então porque é que o amor inclui.
− Porque no princípio tudo era uno e não existia senão o Amor. A Liberdade consistia exactamente em fazerem todos os seres parte este Corpo universal crescendo harmoniosamente, criando sempre que o desejasse, ampliando-se sempre para o lado do Não-Ser. Amar, agora, é voltar a ser assim grande, assim vivo, assim criador, assim livre:
− Diz-Me agora: este próprio diálogo que estamos tendo deve-se a essa dependência de Mim?
− E a essa dependência Tua de mim!
− Ai também Eu dependo de ti?
− Pois dependes, meu Amor! O Amor é justamente isso: receberem todos a Vida uns dos outros.
− Também Eu, teu Deus?
− Também Tu, meu omnipotente Senhor! Não recebeste Tu de Maria, minha Irmãzita de Nazaré, o Teu Barro, que hoje é a Tua maior glória de Segunda Pessoa da Trindade, de Verbo eterno?
Um santo Natal, Paz e Bem
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