Jesus insiste muitas vezes em que se deve retribuir à Cidade o que ela nos dá. Mas ela não pode dar o que não tem. Ora a Cidade é, de cima a baixo, o edifício da Rebeldia, é, toda ela, uma construção perversa. Não tem, portanto, nada para nos dar, a não ser os frutos da sua perversão. A verdade, no entanto, é que ela nos mantém prisioneiros dentro do seu labiríntico reino e temos, portanto, que nos sujeitar às exigências básicas e às comodidades que ela nos vai dando para a podermos continuar a servir. Na sua lógica de rejeição do Sopro da Vida, o que ela tem para nos dar são, obviamente, apenas as coisas próprias do Barro, coisas apenas materiais.
São estas coisas com o prazer a elas inerente que Jesus quer que retribuamos com generosidade. Se gozamos os prazeres de César, mesmo sendo os prazeres de uma prisão, é justo que por isso lhe paguemos tributo. Sem constrangimento nem qualquer tipo de oportunismo. Sem qualquer mancha de hipocrisia.
O que César, porém, não pode proibir é que tenhamos saudades da nossa Pátria, porque a nossa alma é inviolável frente a estranhos e ao nosso coração ele não tem acesso enquanto lho não concedermos nós próprios. Podemos, é claro, deixar a Cidade com a sua perversão tomar conta até da nossa intimidade, conspurcando-a e desvitalizando-a até à completa esterilização. Mas isto só acontecerá se o nosso Livre Arbítrio o permitir. Todo este nosso mundo interior é possível, portanto, mantê-lo inviolável, vivo, crescendo. É possível mesmo resgatá-lo e expulsar dele tudo quanto indevidamente lá entrou e o manchou. Descobrimo-lo enorme, este nosso mundo interior e nele podemos viver harmoniosamente com todos os outros assim libertos, em obediência feliz ao seu Criador e verdadeiro Rei.
A isto chamou Jesus dar a Deus o que é de Deus. Se, portanto, todos os momentos que a Cidade nos deixar livres, os ocuparmos com as coisas do Reino dos Céus, nossa Pátria, o nosso Rei nos há-de conduzir, não só à nossa libertação individual, mas à destruição final do próprio Labirinto.
São 5:01.
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