Intriga-me cada vez mais fortemente o facto de me parecer ausente a minha Mãe. Porque é que quando tento falar com Ela, um estranho bloqueio mo impede? E se Lhe dirijo alguma palavra, como se compreende que nunca ouça resposta nenhuma?
Mas igualmente estranho é que eu não considere isto que me está acontecendo como uma interferência má de Satanás; antes o venho sentindo como uma situação que, por um qualquer motivo que desconheço, tenha que ser assim.
− Meu Amigo desta Solidão, vem esclarecer-me isto que me está acontecendo e que parece tão estranho.
− Gostas muito da tua Mãe?
− Gosto. Ela é o Encanto maior desta minha conversão.
− E desapareceu esse encanto?
− Parece ter desaparecido, sim. Resfriou. É a isto que venho chamando ausência.
− Que te ocorreu agora mesmo?
− Foi uma pergunta: será que A terei magoado muito, ofendido gravemente?
− E obtiveste já alguma resposta?
− A sensação foi a de que aquela própria interrogação, essa sim, poderia ser uma ofensa grave à minha Mãe.
− Porquê?
− Porque faria d’Ela uma Mãe vingativa, que a uma ofensa responderia com um castigo.
− Uma mãe não castiga?
− A nossa Mãe do Céu é como o nosso Pai do Céu: nunca castiga. Pode é deixar que a nossa asneira recaia um pouco sobre nós. Mas é nesse momento que Ela está mais próxima de nós para nos acolher o primeiro queixume ou o primeiro pedido de auxílio. Virar-nos costas simplesmente, por ficar ressentida connosco, é que a nossa Mãe nunca faria.
− Diz o que sentiste agora.
− Que Ela chorou. Mas foi uma sensação tão leve…
− Chorou porquê?
− De ternura por mim. Como se dissesse: Tem que ser, Meu pequenino. Como se a Ela Lhe doesse mais do que a mim esta ausência.
− E não sabes ainda qual é o motivo desta ausência?
− Não. Sei, pelo Apocalipse, que Ela nos será retirada por um tempo determinado, mas não sei se se trata desta ausência.
− Não pode ser a tal interferência de Satanás, de que falaste há pouco?
− Não! De modo nenhum!
− Porquê?
− Não sei, Sinto só que não poderia ser: Ela nunca permitiria que Satanás me separasse d’Ela.
− Diz como estavas a querer escrever.
− O Pai já teria mandado o Arcanjo Miguel que o teria espatifado!
− E o Arcanjo Miguel pode espatifar assim Satanás?
− O Arcanjo Miguel pode tudo o que o Pai do Céu quiser que ele possa. Miguel pode reduzir Satanás à pura impotência, se Yahveh, o Senhor dos Exércitos, quiser.
− Já há muito tempo que te não lembravas do teu Arcanjo…
− Sim, era a Rainha que Se me realçava como Comandante dos Exércitos Celestes.
− E como vês agora Miguel?
− Como o fiel servidor da Rainha no comando dos Seus Exércitos.
− Ainda te sentes empolgado com a espada do teu Arcanjo?
− Sinto. Vejo-a de uma precisão milimétrica e de uma eficácia espectacular no cumprir as Ordens do Céu.
− Já disseste o que são Ordens do Céu. Diz outra vez, diz!
− São Desejos. No Céu ninguém é obrigado a nada. Nunca ninguém obedece contrariado. No Céu poder executar um Desejo de Deus é a maior honra e a maior felicidade que se pode ter. Por isso sinto o meu empolgante Arcanjo ansioso por que a Batalha comece. Ainda mais por desta vez estar às ordens da Rainha.
− Vamos então agora voltar ao princípio. Que sentido poderá ter esta ausência do Encanto da Tua Mãe e tua Rainha?
− Não sei. Mas pelo menos um efeito já produziu: está criando em mim uma enorme sede de estar de novo com a minha Rainha, de Lhe executar os mais insignificantes desejos.
− Estás então certo de que não se trata de cedência a uma qualquer tentação ou cilada de Satanás!?
− Estou: enquanto sentir dor por causa desta ausência, nunca Satanás conseguirá fazer mal ao meu coração.
− A dor da ausência equivale, neste caso, à felicidade da presença?
− Sim, enquanto o coração estiver vivo, nunca Satanás lhe pode fazer mal.
− Um coração cheio de ódio não está vivo?
− Não: está em estado de acelerada desagregação. Se não inverter esse processo, rapidamente estará morto de todo.
− Estar vivo, então…
− É amar. É ter sede de união.
− Olha: gostas de Mim, Salomão?
− Porque perguntas, Mestre? Não sabes que gosto? Não conheces o tamanho do meu amor por Ti?
− É que está muito próxima a Refundação da Minha Igreja e quero que guies o Meu Povo para o Meu Coração.
− Fica tranquilo, Mestre. Por mim, o Coração será a única Lei do Teu Rebanho.
− E não esqueças de revelar à Minha Igreja o Coração da Sua Mãe.
− Sossega, Mestre. Por mim, os Vosso Dois Corações triunfarão!
São 5:03.
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