− Regista a tua preocupação neste momento.
− Eu estava preocupado em que me não saísse um diálogo vulgar, cheio de coisas já ditas.
− E isso é uma preocupação da Cidade?
− Não era a este tipo de preocupações que me referia, mas no fundo esta também é uma preocupação da Cidade, sim.
− Porquê?
− Porque ainda não confio inteiramente em Ti. O receio de não fazer obra vistosa é uma preocupação típica a Cidade, onde julgamos que tudo depende de nós.
− Quanto mais confiares em Mim, menos vulgares te saem as palavras e os conteúdos?
− É assim que sinto. Até aquilo que parece várias vezes repetido o leio todas as vezes como se fosse novo.
− Estás a referir-te a estes Diálogos?
− Sim.
− Foram todos escritos sem a mínima preocupação de fazer obra vistosa? Foi hoje a primeira vez que te preocupaste em que o diálogo não fosse vulgar?
− Já não sei. Mas o estar com esta preocupação depois de tantas provas me teres dado de que és a pura e permanente Novidade…
− Magoa-te?
− Sim, aflige-me.
− Escreve o que te aconteceu agora.
− Não me agradou a continuação deste diálogo que me veio à cabeça e disse: Jesus, ajuda-me.
− O não te agradar o que ias escrever consideraste-o um mal?
− Não…
− Não estavas preocupado em escrever um diálogo com interesse, segundo o teu conceito?
− Estava. Mas ao pedir-Te ajuda pus nas Tuas mãos o meu conceito.
− E Eu altero o teu conceito?
− Ao oferecermos-Te as coisas, Tu purificas o nosso coração. Também o conceito de bem e de mal se torna puro em nós. Nós regressamos à Harmonia do Paraíso, à Casa do nosso Pai do Céu, onde todos somos um só.
− Paraste de novo. Porquê?
− Porque nada me ocorreu para continuar esta nossa conversa.
− E estás à espera de que Eu intervenha?
− Estou. Se Tu não intervieres, eu vou dar cabo da cabeça para encontrar novidades.
− É verdade: aquelas dores de cabeça, aquela preocupação de outros tempos em que achavas que poderias ficar maluco, tudo isso desapareceu?
− Creio que foi este um dos Teus milagres em mim. Nunca mais me doeu a cabeça. Agora, para chegar à expressão mais exacta, em vez de esforçar a cabeça, espero serenamente por Ti.
− Como neste diálogo, por exemplo?
− Exactamente como neste diálogo. Ele parece uma manta de retalhos. Ora naqueles outros tempos eu fazia esforço para me manter sempre no mesmo assunto.
− Mas aqueles primeiros Diálogos…
− Ah, esses são um caso à parte… Esses eram verdadeiras cartas de amor, em que a única preocupação era estar ocupado Contigo, ouvir-Te, responder-Te, não importava o assunto nem as palavras; o que importava era viver aquela afeição nova, viva.
− Já Me disseste que a tua afeição por Mim não diminuiu a partir daí. Que foi então que a fez aprofundar-se?
− Foi justamente o Deserto para onde me trouxeste.
− Como aumentou o Deserto a tua afeição por Mim?
− No Deserto levaste-me a viver, em toda a sua crueza, a devastação a que a terra está reduzida, a distância a que os corações se encontram do Amor. No Deserto aumentaste terrivelmente a minha sede de Amor.
− Terrivelmente?
− Saiu-me assim. Talvez porque passei a sofrer muito… Agora todo o chão que piso, todo o horizonte que avisto é mesmo deserto e viver aqui foi-se-me tornando cada vez mais difícil de suportar. Agora o desejo da minha Pátria arde-me terrivelmente no peito.
− Não tens ainda uma missão a cumprir?
− Tu disseste-me que já a estou cumprindo e é por isso que vou aguentando. É talvez por isso que não me dói agora a cabeça…
− Sabes ainda por onde começámos este diálogo?
− Eu pedi-Te que abençoasses o tempo em que ando à Tua procura e só encontro a Cidade a prender-me a atenção a cada passo que dou.
− Também o quereres fazer um diálogo vistoso faz parte dessa força que a Cidade tem para prender a atenção?
− Acho que faz, Mestre. Vivo enredado nela a maior parte do meu dia e até para a noite ela estende as suas amarras, como ficou demonstrado.
− Não acabaste de dizer que estas amarras estão aumentando o teu amor por Mim? Não tenhas medo: Eu vou desfazê-las todas!
São 9:26!
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