Depois de um qualquer momento pesado, de vazio ou solidão, nunca o Céu nos
abandona e vem aliviar as nossas feridas. Muitas vezes através de Maria, a Mãe.
Tirar-nos da vida vulgar de toda a gente é que Deus não nos tira.
31/10/96 – 2:48
O acordar, hoje, foi povoado de elementos
que julguei na altura importantes e gostaria de fixar, mas que se me varreram
já todos do espírito. Restam-me aqueles algarismos e um peso enorme na cabeça,
do sono. E este peso esmaga-me de impotência, de solidão e de cansaço.
Apetece-me chorar, mas o sono até as lágrimas me varreu. Só os algarismos me
amarram a este papel, pedindo-me que dê testemunho e anuncie a Presença atenta
da nossa Mãe, um doce e breve prazer sensual ao acordar traz ao meu corpo a
Presença da Humanidade de Jesus e um fugidio suspiro me diz que sou habitado
pelo Sopro da Vida.
Olho neste momento o Salmo que o Senhor
ontem me deu a rezar e leio: “Deus é para nós refúgio e fortaleza, ajuda sempre
pronta nas angústias”…
– Olha, Mãe, eu não consigo sair daqui, não
consigo escrever. Vem falar comigo. Olha: ajuda-me a surpreender o Teu Jesus
com aquele Salmo.
– Meu querido menino! Ouve: o Caminho estás
percorrendo-o sem desvios e dentro em breve desembocará na Ressurreição. Jesus
e Eu estamos muito contentes contigo, justamente porque sabemos que está sendo
muito duro o teu Deserto.
– Isso não fazia mal, Mãe, contanto que eu
Vos sentisse mais. Mas às vezes só sinto este peso e este cansaço e esta
solidão.
– Essas coisas fazem parte do Teu Deserto,
não vês? Como poderias conhecer as ovelhas do teu Senhor e libertá-las dos seus
enredos e das suas dores, se não conhecesses bem o Grande Deserto em que elas
se encontram?
– Não deverá haver nenhum caminho difícil
por que eu não tenha passado?
– Não deverá haver nenhum desfiladeiro,
nenhum precipício, onde te recuses a ir, por medo.
– Está-me o nosso Artista do Amor tirando
todos os medos?
– Está, Meu amor. Não queres perder todos os
medos?
– Quero. Quero ir sem medo a todo o lado
onde for preciso ir, onde se encontrar, perdido, um cordeirinho.
– “Mesmo que a terra trema”?
– Mesmo que a terra trema.
– “Mesmo que as montanhas caiam no meio dos
mares”?
– Sim, Mãe. Mesmo que veja o mundo
desfazer-se à minha volta.
– Mesmo que “as nações murmurem” e “se
agitem os reinos”?
– Sim, Mãezinha. Mesmo que exércitos
inteiros venham sobre mim.
– Onde está a tua força, Meu grãozinho de pó
levantado da terra?
– No meu Deus, que Se meteu todo neste
grãozinho de pó.
– Descansa agora, Meu menino. Eu fico
vigiando junto de ti.
– E olha, Mãe: continua, por mim, a rezar o
Salmo que eu não tenho alento para rezar.
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