Todos nós os temos, os tempos que dizemos vazios. Quando se dá o
encontro pessoal com Jesus - o Deus Connosco - parece lógico que esses tempos deveriam desaparecer. Mas não: parece
até que se multiplicam. E mais cedo ou mais tarde entendemos porquê: encontrar
Jesus é incarnar na situação em que todos os nossos companheiros desta vida se
encontram e o vazio, aqui, é uma boa parte do nosso alimento de cada dia…
30/10/96 – 3:23
Dentro
de mim há só uma espera. Parece-me muitas vezes vazia esta espera, porque a
Torrente das Águas de Deus me não inunda, mas acabo por reconhecer sempre que
nesta espera esteve Deus. Justamente porque é d’Ele que estou à espera. Por
isso acabam por se tornar sempre fecundos os tempos em que digo que nada
acontece e só espero. Acabo por verificar que caminhei muito, quando olho para
trás, aqui no Deserto.
Suspiro. E este novo Sinal que o Senhor me
deu foi como se tivesse irrompido desta tensão da espera, a dizer que
justamente esta procura tensa sem resultado aparente é já o Espírito de Deus em
mim. Assim como o prazer com que, ao acordar, o Senhor me brindou durante vinte
minutos: que fiz eu durante esse tempo? Aparentemente, nada. Nem sequer proferi
palavras de agradecimento. Apenas me deixei gozá-lo, sabendo que de Deus me estava vindo. E este simples saber é o próprio Espírito de Deus em
mim.
Mas custam a passar estes tempos de aridez a
que costumamos chamar tempos vazios, em que por isso nada há a exprimir e as
próprias palavras não aparecem. E temos então necessidade das palavras, como se
elas fossem pão, ou fizessem surgir oásis na amplidão desértica. Por isso pedi
já ao Senhor que mas desse Ele, para com elas Lhe falar, porque minhas, não as
tenho. Pedi-Lhe as palavras de um Salmo e ouvi “quarenta e seis”. E está-me o
Mestre neste preciso momento chamando a atenção para esta pergunta óbvia: se o
próprio Deus me dá as palavras para Lhe dirigir, que surpresa Lhe posso eu
fazer? Na verdade nós sabemos que a oração é amor circulando entre o homem e
Deus e não há amor onde não há surpresa. Concluo eu então, com esta Luz que
igualmente do meu Mestre recebi, que dando-me palavras já escritas, Ele as vai
fazer novas em mim. Tão novas, que possam constituir surpresa para Si próprio.
Porque ao dar-mas para eu rezar, foi ao Espírito que as entregou e o Espírito é
Pessoa d’Ele distinta que continuamente O surpreende, encantando de surpresa o
Pai. Por isso Eles os Três são Um e o Mesmo, na contínua Surpresa do Amor.
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