Foi esta uma das grandes obsessões de Jesus: estar sempre inteiramente
incarnado na situação em que nos encontramos em cada momento, seja ela qual
for. Não sair do “mundo”, a que aqui se chama quase sempre a Cidade ou a Civilização.
23/10/96
– 9:37
Tenho a Bíblia aberta diante de mim, na
página onde está escrito o Mandamento que o Senhor me trouxe no passado dia 8
(Dt 16, 19-21) e realça-se-me nele agora o v. 20: “Deves procurar a justiça e
só a justiça, se queres conservar em teu poder a terra que o Senhor, teu Deus,
te dá”.
Neste momento, porém, sem lógica aparente,
como uma maldosa interferência, fui ao bolso buscar o meu horário escolar para
resolver o problema do ensaio geral do pequeno espectáculo que tenho em
preparação na escola… E fiquei por momentos perplexo ao advertir no que acabara
de fazer. Não estava o Espírito explicitando-me o Mandamento do Senhor para a
Sua Igreja? Como me fui lembrar, num contexto destes, tão sério, tão
importante, de uma coisa tão trivial, tão deste mundo, como sejam os afazeres
que a Cidade me impõe? A não ser que…
– Espírito do meu Senhor, Raio subtil e
infalível do meu Deus que estás gravando nestas páginas o Mandamento da Paz
sobre o qual a Igreja de Jesus deverá ser refundada, vem dizer-me porque me
comportei eu assim.
– Porque é na Cidade que vives e nela
deverás morrer, como o teu Mestre, conforme Lhe tens pedido.
– É esta “a justiça e só a justiça” que
devemos procurar?
– É. Se Me deixardes entrar em vós, Eu vos
amarrarei sempre mais à Cidade, até que ela se torne a vossa permanente paixão.
– Diz-me, meu Senhor: a Igreja apostatou
porque saiu da Cidade?
– Sim. Esse foi o grande pecado da Igreja.
– Mas como, se ela se conformou inteiramente
com o espírito e as leis da Cidade?
– Por isso se tornou inútil para a Cidade,
onde estão todas as ovelhas perdidas.
– E tornou-se, também ela, um rebanho de
ovelhas desgarradas e perdidas?
– Isso. Vê, Salomão, se conseguirás entender
como Me sinto suportando na existência sozinho tanta devastação e tanta dor,
porque todos fugiram daqui.
– “Daqui”, de onde, meu querido Senhor?
– Daqui do coração da Cidade. Todos fugiram
para a superfície e por isso tudo é seco à minha volta, à volta do coração.
– Tu és o Coração da Cidade?
– Sou.
Sou e aprisionastes-Me aqui debaixo, aqui dentro! Sinto-Me morrer de asfixia.
Quem quererá vir desimpedir-Me as veias e as artérias deste corpo que se fez um
enorme quisto?
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