Ele disse-o várias vezes e de várias maneiras: para ganhar a vida é
preciso perdê-la. Porque esterilizámos nós as palavras do nosso Mestre?
20/10/96 - 5:05
No mesmo instante em que olhei esta imagem,
suspirei. E começou também aí a vivência de um doce prazer físico. O meu
Companheiro do Deserto tem feito tudo para me dar ânimo nesta interminável
caminhada no seio da aridez e da escuridão. É Jesus que se me realça naqueles
algarismos, chamando-me a atenção para o Seu Coração. Mas, em contraste, o meu
é um grito de sede e de libertação.
- Em contraste? Porquê? O Meu Coração não
sofre de sede e de solidão?
- Eu vejo-O sempre pujante e forte, inchado
da Seiva da Vida, ao passo que o meu sempre o sinto mirrado. O Teu concebo-O
sempre cheio de emoções, ao passo que o meu o sinto quase sempre como um lago
onde toda a água secou. O meu coração parece filho das areias deste Deserto. A
sensação neste momento é a de que ele me vai morrer aqui, de secura e de
cansaço, depois de tão longa caminhada, sem ter visto ainda nenhum sinal da
Terra que procura.
- Acabas de fazer o retrato do Meu Coração.
- Como? Também Tu não vês nenhum sinal da
Terra que buscamos?
-
Nenhum. E sinto-Me morrer aqui, de secura, de cansaço e de solidão.
- Se é assim, Mestre, como sairemos daqui?
Se o meu próprio Guia jaz desfalecido como eu…
- E como poderia guiar-te, se não
percorresse os caminhos que, do local onde te encontravas, precisas de
percorrer para chegares à Casa do teu Pai?
- Ah! Mas como podes, assim desfalecido,
continuar caminhando?
- A Casa do Pai é por aqui.
- Mas assim morremos os dois!
- Justamente. Não há outro caminho. Só
morrendo se chega à Casa do Pai.
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