Perante as contrariedades da vida, porque são isso mesmo, contrariedades,
coisas que contrariam os normais, festivos ciclos da Vida, podemos ter duas
reacções: ou esperamos que o mau momento passe, ou enfrentamo-lo e procuramos
entendê-lo nas suas causas, no porquê de nos terem acontecido. Se estivermos
atentos, talvez encontremos uma Causa primeira - o autor de todo o Mal.
24/10/96 – 3:20
Se eu não acreditasse na existência do
Demónio, diria que estou com azar: estão-me acontecendo várias coisas
desagradáveis, todas seguidas. E, para além disso, atravesso uma fase de
saturação a todos os níveis. Sobretudo me dói esta sensação de que o Mistério
de Deus se esgotou e de que nada mais tenho para dizer. Mas, porque eu insisto
em continuar a escrever, torna-se então a escrita mais penosa. É sobretudo
nestas ocasiões que com maior radicalidade ponho em causa tudo quanto escrevo:
parece-me tudo forçado, tudo obra das minhas mãos, tudo produto da minha
ambição, ou da minha credulidade fácil, ou de um qualquer equívoco.
Era esta ontem a paisagem que me dominava
quando, de olhos fechados, enfiei o dedo numa das páginas da Vassula, a pedir auxílio
ao único Confidente que tenho. O dedo estava muito espetado sobre esta
expressão: “Satanás segue-vos” (21/2/87). Era Jesus confirmando a minha
suspeita – assim o senti. O nosso racionalismo condena este tipo de crença,
chamando-lhe simplismo ou obscurantismo. E eu não sei que maior lucidez ou
objectividade exista em chamar-lhe azar, ou acaso ou, mais eruditamente,
“condicionalismos pontuais”. E começo a ter pena dos meus irmãos sábios. Como
são secos e vazios! Como estão reduzidos na sua dimensão humana! E como reduzem
os outros! Sobretudo me dói vê-los meter os seus semelhantes nestes sucessivos
becos sem saída. Poder-se-á objectar que, ao dizer “condicionalismos pontuais”,
eles estão a ajudar o seu próximo, porque é como se dissessem: Isso passa! Mas
reduziram o homem a um ser inerte e incapaz, cuja dimensão humana nada mais vê
nos “condicionalismos” senão que eles passam. E senta-se o homem à borda da
estrada aguardando que passem, mesmo que os sábios digam que não é assim, que
dos condicionalismos se pode aproveitar o homem para se “construir”: construir
para onde, se perante novos condicionalismos se senta de novo à espera que
passem?
Para quem crê, os condicionalismos são
transformados em factores vivos acordando no seu corpo novas células, desobstruindo
novas veias pela tensão da luta. Tudo é vivo para aquele que crê e se
transforma nele em agente de vida. É que o senhor das Trevas manipula os
condicionalismos e dá-lhes assim movimento, torna-os agentes. Serão agentes do mal, destruindo apenas, se formos apenas
propriedade de Satanás. Mas se formos, inteiros, propriedade de Deus, o próprio
Satanás construirá o bem, apenas!
Sem comentários:
Enviar um comentário