Há
por aí uma grande confusão no que respeita à Fé. Julga-se, por exemplo, que ela
é uma adesão intelectual a uma qualquer “verdade”, ou uma esperança
interesseira num qualquer benefício implorado ao Céu. E não é isto a Fé. Ela é
sempre a entrega do coração ao Impossível. É por isso que ela tem que ser cega.
15/10/96 – 2:04
Havia em mim uma excitação muito grande ao
acordar. Entendo-a como uma Presença especialmente sensível do Mestre.
Recordo-me ainda de que era para a Escritura que Ele me conduzia e ficaram-me
pairando os nomes Esdras e Neemias. Mas não está ainda de todo iluminado o
Mandamento que o Senhor recentemente me trouxe (Dt 16, 19-21) e eu não costumo
passar a um novo texto da Escritura sem ter digerido o anterior…
– Mas tu é que sabes, Mestre. Diz-me como
devo fazer, desta vez.
– Crês em Mim, Salomão?
–
Creio. Tu sabes que creio, mas não tenho certamente ainda a Fé que Tu gostavas
de ver em mim…
– Sabes qual é a Fé que Eu quero em ti?
– Sei. Tu queres que eu acredite às cegas.
– Não te sentes ofendido com este pedido que
te faço?
– Não! É esse todo o meu desejo.
– Então acredita ÀS CEGAS[1],
Meu amor: preciso de um autêntico rochedo para nele refundar a Minha Igreja.
– A Fé é um rochedo?
– É o mais firme dos rochedos. Queres
escrever porquê?
– Porque no homem que tenha uma Fé cega, és
Tu que inteiramente tudo comandas.
– Até o Livre Arbítrio dele?
– Não. Nunca comandarás o Livre Arbítrio de
ninguém, anjo ou homem, porque assim decretastes Vós, Trindade Santíssima, no
Princípio.
– Então como posso confiar naquele que em
Mim crê?
– Predestinando-o ao Céu.
– E como continua livre o Arbítrio do homem?
– Como continua livre o Arbítrio dos anjos e
dos santos que habitam já o Céu e eles não mais se afastarão de Ti.
– O que é então a Predestinação, Meu menino?
– É uma promessa Tua ao coração do Teu
amigo.
– Em que consiste essa promessa?
– Essa promessa é a maior Prenda Tua que se
pode receber sobre a terra. Consiste em antecipares a um homem o Céu, segundo
as Tuas infalíveis palavras de que o Reino dos Céus já está entre nós e é dado
a quem o quiser receber.
– Isto é…
– Deixa-me dizer, Jesus: é possível morarmos
já no Céu enquanto pisamos ainda a terra.
– Como chama a Escritura aos predestinados?
– “Assinalados”
– E qual é o Sinal de todos os assinalados?
– Uma Fé cega.
– Sobre a tua Fé, que te disse Eu já?
– “A Fé é o Meu Sinal em ti”.
– Expõe agora a tua dúvida que te está
manchando a Minha Paz.
– A dúvida é esta: ficou já aqui escrito que
enquanto pisarmos a terra há sempre a possibilidade de voltarmos às trevas.
– E há, enquanto não receberdes o Meu Selo.
Vê o caso de Judas: era Meu amigo e traiu-Me. Vê o caso de Pedro: era Meu amigo
e negou-Me.
– Porque não tinham recebido ainda o Teu
Selo, o Teu Sinal?
– Sim.
– Que condição é necessária para receber o
Teu Sinal?
– O meu Selo é gravado no coração que Me
ama.
– Ah! Por isso a pergunta que fizeste ao
Pedro antes de lhe entregares a condução do Teu Rebanho! E o Teu Selo e que é?
Como o conhecemos?
– O coração conhece-o. Chama-se Espírito
Santo.
– Ah! Foi no Pentecostes que puseste o Teu
Selo em todos os que estavam no Cenáculo!?
– Sim. Um Selo de fogo!
– Mestre! É esse o Teu baptismo!?
– É. É este o Meu Baptismo.
– Então como o receberemos?
– Pela imposição das mãos: quem for digno
ficará marcado com o Meu Sinal.
– E como reconheceremos os baptizados?
– O próprio reconhecer-se-á assinalado no
coração. E vós é pelos frutos que os reconhecereis.
– Então, Mestre, só os assim baptizados e predestinados
fazem parte da Tua Igreja?
– E que vos importa saber quem faz parte da
Minha Igreja? Preocupai-vos em que a Minha Igreja seja pura. Tudo o que o Pai
Me deu faz parte de Mim! Faz parte de Mim o Universo inteiro! Também Judas
fazia parte de Mim e entregou-Me à morte. Também Pedro fazia parte de Mim e
deu-Me um golpe profundo!… Não julgueis! Não julgueis! Nunca! Não vos pertence
a vós determinar os limites da Minha Vinha! Nunca mais façais isso! Nunca mais!
Jesus fala com inaudita veemência, gritando!
Vê-se que Lhe saem as palavras de um Coração magoado em extremo.
[1] Impressionou-me o facto de, ao passar este
texto a computador, ter ficado justamente esta expressão em maiúsculas, sem que
disso tivesse dado conta, quando no manuscrito a expressão se encontra em tipo
de letra normal. Vi nisto um Sinal de que Jesus queria que deixasse ficar
assim.
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